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sexta-feira, 20 março 2020 07:18

Economia moçambicana não está a gerar emprego suficiente e satisfatório para universitários – diz estudo

A economia moçambicana não está a gerar postos de emprego suficientes e satisfatórios para absorver o capital humano gerado nas universidades de todo o país. Esta é a conclusão a que chegou o primeiro “Inquérito à Transição Ensino-Emprego dos Finalistas Universitários”, realizado, em 2017, por pesquisadores do United Nations University World Institute for Development Economics Research (UNU-WIDER), do Grupo de Pesquisa em Economia do Desenvolvimento (DERG) da Universidade de Copenhaga (UCPH) e do Centro de Estudos de Economia e Gestão (CEEG) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM).

 

O Inquérito, que visa dar resposta às preocupações do Governo, da sociedade e parceiros de cooperação sobre o emprego jovem no país, compreendeu duas etapas de elaboração, sendo que a primeira decorreu entre Março e Novembro de 2017, em seis universidades das cidades de Maputo e Beira, onde foram inquiridos mais de 2.000 estudantes finalistas, tendo-se focalizado na transição dos jovens, da formação até ao mercado de trabalho. A segunda etapa compreendeu seis rondas de seguimento da amostra inicialmente inquirida, através de inquéritos telefónicos, que decorreram trimestralmente entre Março de 2018 e Setembro de 2019.

 

De acordo com o relatório de pesquisa, finalizado em Novembro de 2019 e divulgado há dias, até a conclusão do estudo, apenas 61% dos finalistas inquiridos é que revelaram ter conseguido emprego, enquanto 39% ainda se encontravam desempregados.

 

Segundo os pesquisadores – Sam Jones (UNU-WIDER), Ricardo Santos (UNU-WIDER), Gimelgo Xirinda (UEM) – perto de 40% dos inquiridos conseguiram obter um “bom emprego” (principalmente nos ramos de serviços públicos, tecnologia, finanças e construção), em que auferiam salários, relativamente altos e tinham condições contratuais melhores (ex., Contrato fixo). Segundo o estudo, a maioria dos inquiridos formaram-se em Medicina, Ciências Naturais, Engenheira e Educação.

 

Já o segundo, constituído por quase um em cada três inquiridos, apenas conseguiu obter um “mau emprego”, tendo um salário relativamente baixo e condições mais precárias (ex., sem contrato). “Muitos destes maus empregos encontram-se no ramo de serviços comerciais (ex., comércio) e são mais ligados a algumas áreas de estudo específicas, tais como Letras e Humanidades, Ciências Sociais e Agricultura”, refere o estudo.

 

Já o terceiro grupo, de aproximadamente 30%, não conseguiu um emprego durável. Até a última ronda, revela a pesquisa, 23% estavam desempregados e 7% não estiveram no mercado de trabalho. Também 10% dos estudantes nunca conseguiram emprego e apenas um em cada três trabalhou por menos de seis meses, durante o período de seguimento.

 

“Pouco mais de metade dos participantes [inquiridos] que encontraram um emprego, continuavam a procurar uma outra posição laboral e, nas suas posições actuais de trabalho, apenas metade exige formação a nível de ensino superior. Assim, este resultado sugere que a economia moçambicana não está a gerar postos de emprego suficientes e satisfatórios para este nível”, considera a fonte, acrescentando que origina “tempos de espera para o primeiro emprego, que não são negligenciáveis percentagens significativas de finalistas empregados em sectores e tipos de trabalho onde não é evidente que as suas qualificações tenham o maior impacto”.

 

De acordo com o estudo, as estimativas do valor monetário do ensino superior (medido em termos do incremento salarial), são muito elevadas para as áreas de Engenharia e Saúde, reflectindo os altos salários realizados por finalistas destas áreas, comparativamente com outras áreas.

 

“Há disparidades notáveis entre homens e mulheres nas suas experiências de transição para o mercado de trabalho, sendo as mulheres as que enfrentam mais dificuldades relativamente aos seus pares masculinos. Menos mulheres conseguiram um emprego de imediato e tiveram de procurar emprego durante mais tempo, quando comparado com os seus pares homens com a mesma área de formação. Até a última ronda, o salário mediano por sector era geralmente menor para as mulheres (2.000 MZN menor)”, acrescenta o estudo.

 

Os pesquisadores sublinham que os finalistas preferem permanecer nas grandes cidades urbanas (com destaque para Maputo), sendo que apenas 10% dos finalistas inquiridos residiram fora de Maputo Cidade, Maputo Província ou Sofala.

 

“As estratégias de procura que resultaram em emprego são principalmente as informais (ex., contactos pessoais). Os canais formais (ex., media, jornal) são menos eficazes; mas a Internet está a ganhar alguma importância principalmente para participantes com experiência laboral”, revela a fonte.

 

Por essa razão, os pesquisadores entendem que o estudo revela também a necessidade de completar a imagem da transição pós-educação dos estudantes universitários, percebendo melhor a procura de trabalho qualificado e o processo de diálogo entre as entidades empregadoras e as universidades. (Carta)

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