Pico de infecções da Covid-19 no Malawi atinge níveis históricos.
Em menos de dois dias, os casos confirmados de Coronavírus no Malawi atingiram 273. Na passada quinta-feira, 92 malawianos regressados da África do Sul testaram positivo para o Coronavírus. No dia seguinte, Malawi registou outros 70 novos casos, dos quais 66 dos regressados da África do Sul.
Cerca de 50 mil moçambicanos vivem e trabalham no Malawi. Malawi faz fronteira com províncias moçambicanas nomeadamente, Tete, Zambézia e Niassa, sem nenhuma vedação. As três províncias estão em risco pela negligência do Malawi em relação à propagação do novo coronavírus.
À excepção dos repatriados via aérea, às expensas do governo sul-africano ou da Organização Internacional das Migrações, todos os malawianos regressados da África do Sul via terrestre passam pelo território moçambicano e entram no seu país através das fronteiras de Zobwe e de Calomwe, na província de Tete.
Na sua última comunicação, o presidente da República, Filipe Nyusi, apelou para o reforço do controlo fronteiriço, mas no caso da fronteira terrestre e fluvial Malawi/Moçambique é quase impensável.
O governo do Malawi admitiu a sua incapacidade para lidar com mais de dois mil malawianos que regressaram ao país provenientes da África do Sul depois das restrições impostas na RSA devido ao novo coronavírus.
O plano inicial era de 700 regressados. No entanto, o número aumentou à medida que algumas pessoas que não estavam previstas se juntaram usando rotas desconhecidas.
A comissão governamental de combate à pandemia vai-se desdobrando em desculpas para justificar a sua incapacidade na mitigação do novo coronavírus depois de críticas da opinião pública por não ter conseguido gerir mais de quatrocentos malawianos regressados da África do Sul e que fugiram do Estado Kamuzu em Blantyre.
Os 400 malawianos repatriados da África do Sul estavam no Estádio Kamuzu em quarentena, mas devido à desorganização da comissão governamental acabaram abandonando o local antes de receber os resultados dos testes.
E como se não bastasse, Malawi está em campanha eleitoral, num cenário em que não há distanciamento social e muito menos “ficar em casa”.
De acordo com o Ministério da Saúde, o número inicial de regressados da África do Sul era de 700, mas de repente disparou para dois mil.
“Algumas pessoas estão a chegar sem nosso conhecimento. Outras estão usando rotas clandestinas. Então, isso está a criar grandes desafios”, disse Andrew Likaka, do Ministério da Saúde.
Tudo isto acontece numa altura em que o número de infecções do novo coronavírus está atingindo níveis históricos no Malawi.
No entanto, o director-adjunto dos Serviços de Saúde Preventiva do Malawi, Mathews Kagli, disse que haverá custos se as pessoas não aderirem deliberadamente às medidas preventivas contra a Covid-19.
Sobre aqueles que fugiram do Estádio Kamuzu em Blantyre, Kagli disse que as autoridades têm como rastreá-los. O comité governamental decidiu que o Ministro da Saúde não pode dar actualizações sobre a propagação do novo coronavírus para evitar qualquer conotação política.
Quatro pessoas diagnosticadas com Covid-19 morreram no Malawi. Malawi registou o seu primeiro caso a dois de Abril e agora contabiliza mais de 270 maioritariamente entre os repatriados da África do Sul.
Malawi corre o risco de uma tragédia humana se não houver uma mudança de comportamento por parte dos dezoito milhões de malawianos, dos quais apenas onze por cento lavam as mãos com água e sabão.
“Os malawianos não têm cultura de lavar as mãos. Normalmente lavamos as mãos quando queremos comer massa cozida de farinha de milho. Caso contrário as pessoas entram e saem da casa de banho sem lavar as mãos”, disse uma fonte do ministério da Saúde.
Igualmente está iminente no Malawi o colapso do serviço de saúde se os casos do novo coronavírus continuarem a disparar.(F.I)