O Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou, esta terça-feira, que a Rússia se tornou no primeiro país do mundo a registar uma vacina contra a Covid-19. O anúncio surge depois de a vacina ter sido testada durante dois meses em humanos e de ter sido administrada a uma das filhas do Chefe de Estado russo. Foi baptizada como “Sputnik V”, em referência ao satélite enviado para o espaço pela União Soviética, em 1957, o primeiro satélite artificial que inaugurou a corrida ao espaço.
Tarik Jasarevic, porta-voz da OMS, afirmou esta terça-feira que a organização liderada por Tedros Adhanom Ghebreyesus está em conversações com Moscovo, mas alertou que “acelerar o progresso não deve significar comprometer a segurança”. “A pré-qualificação de qualquer vacina inclui a revisão e avaliação rigorosas de todos os dados de segurança e eficácia necessários”, afirmou Jasarevic, citado pela Reuters.
Numa conferência de imprensa esta terça-feira, Putin congratulou-se com o que considera ser “um passo muito importante para o mundo”, apesar das reservas de especialistas a nível internacional e da própria Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto à possibilidade de se estarem a saltar etapas que garantam a segurança da vacina.
A vacina, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, em Moscovo, não passou pela fase 3 de ensaios clínicos, um momento fundamental, em que a vacina é testada em larga escala e onde são detectados efeitos secundários e é comprovada a eficácia da mesma.
Putin, no entanto, garante que a vacina desenvolvida em Moscovo passou “por todos os testes necessários”. “Eu sei [que a vacina] funciona de forma bastante eficaz, permite uma forte imunidade e, repito, passou por todos os testes necessários”, afirmou Putin.
Para comprovar a eficácia da vacina, o Presidente russo revelou que a mesma foi administrada a uma das suas filhas que tinha uma temperatura de 38ºC antes de ser inoculada. Depois da vacina, disse Putin, a temperatura baixou para os 37ºC no dia seguinte. “Ela sente-se bem e tem um número elevado de anticorpos”, garantiu o Presidente russo.
No início do mês de Agosto, Kirill Dmitriev, director do Fundo de Investimento Directo Russo, afirmou que o país ia entrar na fase 3 de ensaios clínicos e revelou que vários países já haviam manifestado interesse em produzir a vacina russa, dando como exemplo a Índia e o Brasil. Já o Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, afirmou ter “grande confiança” na vacina russa e ofereceu-se como voluntário. Agora, Dmitriev revelou que a Rússia já recebeu pedidos para a produção de mais de mil milhões de doses.
O registo da vacina foi apresentado por Putin como uma prova do poder científico de Moscovo, mas, conforme escreve o The Guardian, é pouco provável que a vacina desenvolvida pela Rússia acelere o desenvolvimento no Ocidente, onde o cumprimento das várias fases de segurança é mais rígido.
No entanto, abre a porta à inoculação em massa na Rússia, um dos países mais afectados pela pandemia de covid-19 a nível mundial – segundo os dados da Universidade Johns Hopkins, o país regista mais de 890 mil casos de infecção e cerca de 15 mil pessoas morreram devido à doença.
Nas últimas semanas, o Governo russo já tinha anunciado a intenção de produzir a vacina em massa e que planeia lançar uma campanha de vacinação a nível nacional em Outubro. Os grupos de risco, nomeadamente a população idosa, os profissionais de saúde e os professores serão os primeiros a ser vacinados.
Transformada numa autêntica arma de geopolítica a nível mundial, vários países têm intensificado os esforços para serem os primeiros a conseguir uma vacina contra o SARS-CoV-2, o que tem gerado preocupações na OMS e na comunidade científica, que temem que as vacinas entretanto surgidas possam ser apenas parcialmente eficazes.
Um dos riscos é que a inoculação em massa, com uma vacina que não seja totalmente eficaz, possa pôr em causa outras medidas em vigor, como o distanciamento físico, para conter a disseminação do vírus.
Neste momento estão a ser desenvolvidas mais de 100 vacinas no mundo. Pelo menos quatro estão na fase 3 de ensaios com humanos, segundo a OMS. (Público.pt)