Treze famílias, compostas por um total de 108 pessoas, oriundas do distrito de Mocímboa da Praia, norte da província de Cabo Delgado, estão “acampadas”, há quase três semanas, na praia de Paquitequete, na cidade de Pemba, devido à falta de abrigo. A realidade foi testemunhada pela nossa reportagem, no último fim-de-semana.
Até ao último sábado, as referidas famílias, na sua maioria constituídas por mulheres e crianças, passavam a noite debaixo de cabanas, construídas na base de bambus e cobertas com restos de lonas e sacos, escapando, desta forma, aos raios solares, mas não à chuva e ao frio que se faz sentir durante a noite.
Segundo os nossos entrevistados, algumas famílias conseguiram sair do local, depois de terem sido localizadas pelos seus familiares. Porém, há aquelas que não conhecem ninguém naquele ponto do país, pelo que optaram por ficar no seu local de desembarque.
Ibrahimo Amisse, de 40 anos de idade, está na praia de Paquitequete há três semanas, proveniente do distrito de Mocímboa da Praia, onde nasceu, cresceu e construiu a sua vida, antes de os terroristas lhe tirarem a sua alegria, menos a sua vontade de viver.
Acompanhado pelas suas pastas e panelas, Amisse contemplava o mar, pensando no que comer, pois, a noite está assegurada naquele local, famoso pelos elevados índices de criminalidade, assim como pelas deficientes condições de saneamento, pontificando o fecalismo a céu aberto, como o expoente máximo.
“Não nos admire. Vivemos assim mesmo. Estamos prontos para nos darem trabalho, pode ser no quintal [empregado doméstico] ou da machamba, havemos de trabalhar e ter sustento, porque aqui não temos como”, disse a fonte.
Por seu turno, Mariamo Bilal, uma das chefes de família que se encontrava no local, assegurou que o maior problema dos deslocados é conseguir alimentação, havendo dias em que conseguem alimentar-se graças às ofertas feitas por pessoas de “boa vontade”. À “Carta”, Bilal sublinhou que teve de abandonar tudo que tinha conseguido ao longo da vida e atravessar o mar em busca de segurança, neste caso, na capital provincial, porém, o dia-a-dia não tem sido fácil.
Os ataques terroristas já causaram a deslocação de cerca de 250 mil pessoas, na sua maioria nos distritos de Mocímboa da Praia, Macomia, Quissanga e Muidumbe. Por sua vez, os distritos de Palma, Ibo, Mueda, Metuge e a cidade de Pemba, na província de Cabo Delgado, e o distrito de Meconta, na província de Nampula, são os locais preferidos pelos deslocados.
O reverendo Dom Dinis Matsolo, do Conselho Cristão de Moçambique, pediu, no último domingo, em Nampula, a solidariedade das comunidades hospedeiras para com as vítimas do terrorismo, em Cabo Delgado. O pedido foi feito depois da visita que o religioso efectuou ao Centro de Acolhimento de Namialo, no distrito de Meconta. (O.O. & Carta)