Director: Marcelo Mosse

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sexta-feira, 26 junho 2020 07:15

Maputo não é Hamburgo

Tenho um amigo que me decepcionou redondamente, um homem que o tomava até certo ponto como meu paradigma, pelas intervenções lúcidas que sempre fez e a  forma serena com que abordava os assuntos do quotidiano e do futuro, embora na verdade o futuro não lhe peretencesse. Ele sempre abriu margens nas suas abordagens, para que o tempo se encarregasse de esclarecer as dúvidas, havendo. Nunca assumiu a verdade como absoluta, mas socorria-se dos factos para intervir, no sentido de evitar que amanhã houvesse desmentidos nos jornais.

 

Hoje porém ele entristeceu-me ao dizer que todo aquele trabalho há muito esperado e dirigido pela sensatez e pela honestidade, que o ilustre Eneas Comiche está a realizar em Maputo, não vai dar  em nada. Olhei para o meu amigo, uma figura ponderada, e senti que alguma coisa podia estar a mudar nele, ou eu é que não estava a compreendè-lo. Perguntei se era aquilo mesmo que pretendia dizer-me ou era uma mensagem velada, e ele respondeu-me que Maputo não é Hamburgo ( cidade alemã classificada em primeiro lugar entre as dez mais limpas do Mundo). Ou seja, o que o meu amigo queria fazer-me entender é que os africanos são incapazes, por isso Eneas Comiche não chegaria longe.

 

Fiquei revoltado perante tamanho vilipêndio moral aos meus sentimentos, e aos sentimentos dos maputenses de boa fé,  dos moçambicanos num todo. Era um insulto à grandeza de um homem que põe Maputo a sonhar como nunca. Um desprezo injusto à uma pessoa que nos recorda que em Moçambique existe boa gente interessada em puxar a carroça para frente, e Eneas Comiche, que desafia de dia e de noite um ecossistema por demais degradado, faz parte dessa boa gente. O ilustre edil de Maputo está metido num desfiladeiro íngreme, como se ele próprio fosse as bombas usadas no Afeganistão, que quanto mais duras forem as rochas que fazem as grutas onde se escondem os jahidistas, mais raiva elas ganham e furam aquelas fortalezas naturais.

 

Maputo é uma cidade com chagas abertas, feridas gangrenadas, e já precisava de um cirurgião competente e corajoso, capaz de arrancar com as mãos o coração de pedra que já não batia, e colocar outro, de carne, para os batimentos voltarem a dar vida a “Cidade das Acácias”, e esse cirurgião é Comiche, ao qual o meu amigo lança farpas, no lugar de harpas, “isto não é Hamburgo”!

 

Infelizmente os tempos que passaram, educaram muita gente a pensar que toda aquela desordem e vergonha e repugnância fossem o nosso destino. Uma situação do tipo “não temos onde ir”, mas Eneas Comiche, um cidadão moderno, competente, responsável, revoluionário, veio a terreiro dizer que a nossa vida merece dignidade, e não pode contar com gente resignada. Pessoas que não acreditam em nada, nem neles próprios.

 

Comiche faz-me lembrar Edward  Sechwarzenegger, governador de Califórnia entre 2003 e 2011. O fisioculturista americano desafiou o território árido e o mais seco dos Estdos Unidos, e não queria terminar o mandato sem dar água canalizada às populações locais. E Eneas Comiche quer deixar uma cidade “txunada” quando sair, ignorando completamente os que dizem, como o meu amigo, que “isto não é Hamburgo”. Parabéns, ilustre!

quarta-feira, 24 junho 2020 08:06

Sobre o asfalto do tio Vahanle

Se o asfalto do tio Vahanle está ou não fora do prazo, eu não sei. Se é o asfalto ou ele próprio que está deteriorado, eu também não quero saber. Se, cientificamente, alcatrão apodrece ou não, também é outro debate. O que posso dizer agora é que tio Vahanle está a tapar os buracos da urbe com um composto escuro viscoso, misturado com sarrisca aquecida em combustão de troncos de madeira... e as estradas estão a ficar mais ou menos circuláveis.

 

Se tivermos todas as estradas da urbe assim durante uns quatro anos, iremos respirar de alívio. Acredito que depois desta empreitada tio Vahanle vai pegar as estradas de pavê e as de terra batida que estão igualmente uma lástima. Depois será a vez do lixo e dos jardins. A machadada final será com os vendedores e mercados informais que vão nascendo às catadupas no pulmão da cidade. Como, por exemplo, aquele mercado Estrela Vermelha de mariscos que nasceu ali em frente ao restaurante Sporting.

 

Na verdade, isso é um "woooooo" a todos vocês que diziam que tio Vahanle só iria acordar em 2023 para fazer campanha eleitoral. É um "Kê-Ó" para vocês que chamavam tio Vahanle de dorminhoco. Estamos a subir com tio Vahanle nós! Até Dezembro vocês vão ver como vai ficar a cidade. Ahhh porque antigamente, ahhh porque val'apena Tocova, ahhh porque what what. Agora vão ver! Quero vos olhar bem nos olhos quando Nampula começar a brilhar de novo. 

 

Seus fala baratos!!! Quer dizer, um gajo já nem pode descansar um pouco que já começam a dizer que é dorminhoco. Ahhh porque Vahanle é incompetente, ahhh porque até peido dele não cheira, ahhh porque aquele só respira, ahhh porque asfalto dele está fora do prazo... mas é assim mesmo?! Quem está fora do prazo são essas vossas bocas afiadas! Esse alcatrão só vai ficar podre hoje que tio Vahanle comprou?! Mas vocês são assim "pur-kâ-de-kê"? 

 

Estamos a subir com tio Vahanle. Não sei quantos degraus mais vamos subir, mas estamos a tentar subir. Tio Vahanle já acordou. Acordou, sim! Uns vão dizer que só acordou para mijar. Outros, é sonambulismo isso aí! Epah, tanto faz... todo o tipo de acordar val'apena. 

 

Mando cinco vezes "inglês de Doppaz" para vocês que mandam indirectas para o meu cota!

 

- Co'licença!

quarta-feira, 24 junho 2020 07:44

Por uma “Nova Pérola” no discurso de Nyusi

Amanhã, 25 de Junho de 2020, o Estado moçambicano completará 45 anos de independência. Na data o Presidente da República (PR) Filipe Jacinto Nyusi, o 4º do jovem Estado moçambicano, fará o seu habitual discurso de ocasião e desta vez num contexto agravado de problemas e de enormes desafios sociais, humanos, económicos e políticos, fora os de ordem mundial. O que dirá de novo o PR que não tenha dito até ao momento, sobretudo num ano, ainda a meio e a meio gás, em que ele e por várias vezes já se dirigiu à nação, entre outros, por conta da pandemia da Covid-19. Por acaso, o discurso de amanhã antecede a um outro a ser feito no âmbito do términus, a 29 de Junho, da segunda prorrogação do estado de emergência cujo seguimento começa a gerar alguma ansiedade na sociedade, mormente por força do aumento dos casos positivos de Covid-19 e da sua forma de contágio comunitária em algumas regiões do país.    

 

A História prova de que é em tempos difíceis – e o país vive esses tempos – que brotam os grandes líderes que fazem a diferença, convocando, com o seu perfil e projecto político, a população para as mudanças requeridas e por melhores dias. Foi assim com Franklin Delano Roosevelt, 32º presidente dos Estados Unidos da América (EUA), diante da crise dos anos 20/30 do século XX. Nessa altura, concretamente em 1936, Roosevelt proferiu um discurso no dia 27 de Junho cuja dimensão e repercussão agradecem a transformação social e económica dos EUA. Nesse discurso e diante da crise enfrentada pelos EUA, Roosevelt, plenamente consciente da sua responsabilidade perante a história e o povo americano – que o confiara para um mandato extraordinário - não hesitara em iniciar uma nova política - o New Deal - na qual buscaria as soluções para combater a crise num percurso de avanços e recuos.

 

É este espírito e vontade que espero amanhã nas palavras de Filipe Nyusi e que elas no futuro também sejam recordadas como as que geraram mudanças e as condições adequadas para que Moçambique enfrentasse os problemas e os desafios de cada época e em que cada moçambicano usufruísse uma vida de acordo com padrões aceitáveis para a satisfação das suas aspirações. Dito e feito nesta perspectiva, acredito que o PR, no final do seu mandato, não recorrerá aos mesmos problemas e desafios como uma pauta de desculpas para que nada tivesse sido feito. Na verdade eles constituem uma oportunidade para que o PR deixe a sua marca de liderança e um rumo em que o país possa avançar em terra firme. E por mais que não os supere (os problemas e os desafios), em todo ou em parte, mas que ao menos fique a coragem, a necessária e em dose dupla, de os ter enfrentado de peito aberto, incluindo as resiliências de ordem partidária, de grupos de interesses ou de outra índole o que é normal num processo de mudanças.

 

Por outras palavras, esta é uma oportunidade para o PR fazer diferente, sobretudo num ano em que se celebra o centésimo aniversário natalício de Eduardo Mondlane, o arquitecto da unidade nacional. Uma outra oportunidade, e desta com um potencial de energia e entusiasmo como o de 25 de Junho de 1975, só em 2025 por ocasião da passagem do quinquagésimo aniversário da independência de Moçambique. Até lá, e já com uma outra liderança, ter-se-á perdido muito tempo e este tem o péssimo hábito de não favorecer quem esteja atrasado e por culpa própria. Em tempos que correm, e de crise, antecipar, é emancipar. Por enquanto, a fechar, vou aguardando expectante pelo discurso presidencial de amanhã, 25 de Junho de 2020, cujo enfoque e alcance político espero que resulte uma “Nova Pérola”, a de um outro e novo Moçambique.

quarta-feira, 24 junho 2020 07:06

Um outro "ponto de vista"

Quem é condutor em Maputo sabe dos reais problemas de estacionamento que aqui enfrentamos. Creio eu que os cidadãos compreendem a boa vontade e empenho do Conselho Municipal em estabelecer uma ordem, especificamente no que diz respeito à organização dos automóveis na via pública. Ora vejamos, muitos dos lugares que seriam para o estacionamento comum, são ocupados por empresas, ou seja, as empresas que tenham as suas instalações em uma determinada zona, normalmente ocupam o lugar que seria utilizado pelos cidadãos comuns na sua mobilidade normal do dia-a-dia. Assim o espaço fica reduzido e as pessoas acabam colocando os carros em locais impróprios, inseguros e que colocam em risco a normal circulação do trânsito, pois muitas vezes carros obstruem a visibilidade por terem sido estacionados a menos de 5 metros de distância dos cruzamentos e isso cria um verdadeiro caos. Na minha opinião, o Conselho Municipal, podia aproveitar espaços abandonados, que até nem são poucos e fazer a construção de parques de estacionamento. Porque dar multas a alguns automobilistas de manhã e de noite observarmos carros estacionados nos mesmos lugares e isentos de multas é acima de tudo uma grande injustiça. E vou mais longe na minha observação, muitos desses jovens que fingem controlar os nossos carros em troca de 5 ou 10 mt e que quando não damos o tal “oriento” revoltam-se, poderiam ser empregues e serem guardas dos possíveis parques de estacionamento, pois não fazem nada além de atrapalhar os condutores e até fomentar roubos. Eu creio que o Conselho Municipal está a altura de criar esses planos e mecanismos que minimizem o problema da nossa cidade.

Minhas lágrimas secaram de tanto chorar. Minhas pernas estão nas mãos de tanto andar e correr. Meu corpo de menino transformou-se num quadro de pinturas, devido às feridas e cicatrizes que contém. A nossa memória está entupida de imagens negras de sangue e morte.

 

Cabo Delgado!

 

Nossas casas, donde fugimos, tornaram-se ruínas que acolhem fantasmas dos nossos “deuses”. Herança incendiada. Riqueza saqueada. A guerra trouxe a fome, doenças, desgraça e morte. A guerra arrancou-nos a esperança, a felicidade, o amor e a vontade de sonhar a beleza do amanhã!

 

Quem nos acude?

 

Quando a escuridão aparece sobre os olhos de tanta fome e dor de não poder receber o amor e carinho a que nos havíamos habituado. Vivemos diante de incertezas e medo de voltar a regar a terra com nossas lágrimas inocentes. A guerra matou a nossa familiaridade e hoje vivemos com ela instalada na memória.

 

Quem nos devolve a paz?

 

A paz é um bem supremo que todos nós merecemos ter. A paz é pressuposto necessário para que nossa vida ganhe ânimo. A paz é um delicioso que ergue o futuro de qualquer criança. Não queremos ser crianças-soldados ou futuros soldados do mal, como estes que hoje trouxeram luto, dor e destruição nas nossas aldeias, localidades e vilas.

 

Esta guerra tirou-nos tudo que merecíamos e hoje vivemos em tendas e casotas, onde para ter uma refeição digna é quase impossível. Onde a comida é partilhada mesmo “quando a fome é tanta que as lombrigas dançam tango”.

 

Quem nos salva?

 

Desta guerra maldita que nos tirou tudo e deitou fora nosso sorriso e deixou secar a nossa inocência, porque dia pôs dia, nossas irmãs são sequestradas para alimentar a insanidade sexual dos terroristas.

 

Cabo Delgado! Até quando teremos de continuar a chorar?

 

Omardine Omar

terça-feira, 23 junho 2020 07:21

Olá Mondlane!

Em um dos dias do final de semana vi, à hora do telejornal, no canal STV,  passe a publicidade, um vídeo de uma intervenção (em Londres)  de Eduardo  Mondlane, o 1º Presidente da FRELIMO, dado como o arquitecto da unidade nacional.  Na mesma notícia também passou excertos de  uma entrevista de Mondlane. No mesmo dia e no programa  “Pontos de Vistas”, do mesmo canal, um dos painelitas (Silvério Ronguane, académico e deputado da AR) falou de Mondlane para além do que se está habituado. Na sexta ou quinta passada, ainda no mesmo canal, o filósofo Severino Ngoenha, debruçara sobre um outro Mondlane. Deste académico, caiu no meu whtasapp, uma sua  entrevista, creio que a parte escrita que passara na TV,   na qual ele confessa o  seu fascínio por um outro (escondido) Mondlane e que em breve irá apresentá-lo (em livro) aos moçambicanos. Dias antes , vira no Programa “Quinta à noite”, da televisão pública, a TVM, um outro académico , cujo nome não pude fixar,  a referir que urge saber mais de Mondlane, em particular das suas lições e reflexões enquanto professor universitário nos Estados Unidos da América. Estes são alguns exemplos e que constituem uma lufada de ar fresco sobre  as ideias de Eduardo Mondlane.  

 

No meu último texto (Luther King falou, Mondlane ainda)  voltara a reclamar da presença (da voz) de Mondlane em público, sobretudo, e não só,  nos momentos de exaltação do seu papel   na construção do Esatdo moçambicano. No final de semana, embora de raspão/timidamente, finalmente Mondlane apareceu. Foi algo, e por empréstimo da linguagem do futebol, como lança-lo para o jogo no período de compensação e assim, com o seu talento, mudar o rumo da partida no tempo regulamentar. Neste, e um pouco por toda a imprensa e depoimentos, o foco, para além do habitual sobre os ideias de unidade de Mondlane, a velha necessidade da sua  divulgação. No dito período de compensação, fora o perfume da fala de Mondlane, registar, para o caso do presente texto,  a mudança do título ( e do conteúdo) que  passou de “Centenário de Mondlane - Um aniversário sem o aniversariante” para o “Olá Mondlane”. O “Olá” como a tradução da sensação do momento em que alguém, estando num  elevador, que iniciara a subida e com a porta a fechar,  ouve/vê Mondlane  a passar, às pressas,  pelo corredor. Um  instante, curto e rápido, mas o suficiente para um  “Olá Mondlane!”.

 

Espero que em próximas ocasiões, cada moçambicano depare com  Eduardo Mondlane dentro do elevador e a caminho do seu encontro no futuro, pois,  e tal como afirma o filósofo Severino Ngoenha,  na entrevista retro mencionada, “Mondlane não esteve na primeira República, Mondlane não esteve em 1975 quando nos proclamamos Estado Socialista, mas Mondlane não esteve em 1992 quando assinamos os acordos de paz e nos encaminhamos para uma República Pluralista. Na senda daquilo que chamei a Terceira via, Mondlane não está atrás de nós, nos 50 anos da sua morte e no Centenário do seu nascimento, mas me parece alguém que está em frente de nós a nossa espera para que quando nós estivermos prontos como país, como povo e como nação vamos iniciar a intimar um diálogo necessário com ele, com seu pensamento e suas ideias”. Esse diálogo/futuro urge e, quiçá,  a recente aparição pública de Mondlane, no seu centenário  natalício, fique registado como o ponto de (re)partida. 

 

PS1: PS2: O 25 de Junho, o dia da independência, está à porta. É normal nessa data as televisões e as rádios passarem a leitura da declaração de independência feita por Samora Machel, o 1º Presidente de Moçambique. Se não for nessa data, o da Independência, provavelmente em Setembro, o mês do início da luta armada,  seria interessante que o áudio ou o vídeo, caso exista,  da declaração do início da luta, que conduziu Moçambique à Independência, também fosse passada.

 

PS2: Na esteira da necessidade de ouvir Mondlane e em  conversa com um amigo, a propósito da comparação que Severino Ngoenha, na dita entrevista,  fizera de Mondlane com o Amílcar Cabral, o pai das independências de Cabo Verde e Guiné-Bissau, dando conta de que passa na cabeça dos moçambicanos a noção de que Amílcar Cabral tenha sido um grande  intelectual e que Mondlane não fora. Para Ngoenha tal noção é impelida pelo facto de  Cabo Verde e Guiné-Bissau realizaram, há mais de 30 anos, congressos a volta de Amílcar Cabral e que Moçambique, nesses anos, apenas  fez o contrário com Mondlane,    escondendo um   grande intelectual. O meu amigo corroborou e enfatizou  que até já ouvira discursos de Amílcar Cabral, incluindo os da passagem de ano, e de que de Mondlane nunca ouvira. Na sua comparação, o amigo ainda disse que se sentiu diminuto quando,  numa das suas visitas a Cabo Verde,  visitara a Sala-Museu sobre Amílcar Cabral que é um autêntico arquivo-vivo sobre a vida e obra de Amílcar Cabral.  No final da conversa ficamos com a seguinte interrogação-proposta: E porque não um Sala-Museu sobre Eduardo Mondlane? A Universidade Eduardo Mondlane até que podia tomar a vanguarda nesse empreendimento.