Em Xinavane, onde há poucos dias o sol não raiava, já há alguma luz. Os cerca de quatro mil trabalhadores que se manifestavam pelo aumento salarial e pelo pagamento de bónus referentes aos últimos dois anos, já retomaram aos seus postos de trabalho para produzir cana-de-açúcar e alimentar a Açucareira de Xinavane, sob gestão da empresa sul-africana, Tongaat Hulett.
A luz é titubeante porque não houve o aumento salarial esperado, mas o determinado pela empresa. O Secretário do Comité Sindical, Orlando Chume, em conversa telefónica com “Carta”, foi quem confirmou já haver luz no fundo do túnel, na Açucareira de Xinavane, mas não daquelas brilhantes.
As declarações de Chume acontecem dias depois de a Tongaat Hulett comunicar que “entre as Comissões Negociais da Empresa e do Comité Sindical, foram realizados, de 28 de Fevereiro a 02 de Março de 2022, encontros de negociações salariais dos trabalhadores das categorias A1 a B5 a vigorar do dia 01 de Março de 2022 a 31 de Março de 2023”, tendo surtido efeito positivo.
Do comunicado consta que o aumento salarial, nas oito categorias, variou de 315 Meticais a 940 Meticais. Assim, o salário mínimo, na categoria A1, na Açucareira de Xinavane passará de 5.870 Meticais para 6.200 Meticais. Na oitava categoria, o salário subiu de 17.080 Meticais para 18.020 Meticais.
Comentando sobre esses aumentos, o Secretário do Comité Sindical disse que o aumento do salário mínimo (categoria A1) não correspondeu às expectativas da maioria dos trabalhadores. Assinalou que a classe esperava que o salário mais baixo da empresa rondasse os 6.600 a 6.800 Meticais.
“O aumento do salário mínimo não satisfez as nossas expectativas, mas é o que a empresa estipulou. Só nos podemos conformar”, disse, Chume.
Apesar da insatisfação, a nossa fonte assegurou que grande parte dos trabalhadores, até semana passada, tinha retomado os seus postos de trabalho, depois da paralisação provocada por manifestações que levaram à vandalização na Açucareira e arredores da fábrica, no Bairro Sambo, no Posto Administrativo de Xinavane, distrito da Manhiça, província de Maputo.
O aumento salarial, ainda que insatisfatório e a retoma de grande parte dos trabalhadores-manifestantes, pode ser o culminar da tensão entre a massa laboral e a Tongaat Hulett, em Xinavane. As manifestações, lembre-se, aconteceram de 31 de Janeiro a 10 de Fevereiro deste ano.
Por causa da detenção de alguns manifestantes tidos como cabecilhas, no dia 23 de Fevereiro, os residentes do referido bairro partiram para a vandalização exigindo a soltura dos seus vizinhos. Este facto aconteceu porque a Tongaat Hulett terá ignorado uma carta encaminhada em Agosto, à Direcção da empresa, em que os trabalhadores pediam o reajuste salarial e pagamento de bónus pelo facto de, nos últimos dois anos, terem atingido metas na produção de cana-de-açúcar. (Evaristo Chilingue)