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Carta de Opinião

segunda-feira, 13 fevereiro 2023 06:54

As chuvas na zona Sul de Moçambique recriam Domoina!

Adelino Buqueeeee min

“Passados trinta e nove anos, desde que a Depressão Tropical Domoina se abateu sobre a região Sul de Moçambique, com destaque a Província de Maputo, depois que as famílias se reergueram, comprando e criando novo gado, quer Bovino, Suíno, Caprino e Aves, hoje, a água volta a levar essa produção. As lições da passagem de Domoina não serviram para absolutamente nada! As Populações transferidas da zona de Mazambanine para se criar a Aldeia de Campoane sabem da lição, mas, hoje, teremos outras populações por reassentar, constituídas por aqueles que reocuparam as terras antes ocupadas por aqueles que estão em Campoane, com o olhar impávido e sereno de quem de direito e esse de direito não é o Município porque a Aldeia 25 de Setembro foi criada antes do Município”

 

AB

 

A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique, para a região Sul de Moçambique, está a materializar-se em forma, em alguns casos, de “dilúvio”, lembrando os acontecimentos do remoto ano em que a região de Maputo Província foi atingida pela Depressão Tropical Domoina que aconteceu no mês de Janeiro de 1984. Passam exactamente 39 (trinta e nove anos), com a diferença do mês em que o fenómeno se deu.

 

Lembro-me como se fosse hoje, na altura trabalhava no Umbeluzi, Mazambanine, como Técnico e tinha sob minha responsabilidade a produção agrícola (Hortícolas) e Criação de Porcos e Patos que, com a depressão, a água tudo levou. Nunca mais voltamos aos níveis de produção de então, em relação à criação de Suínos e Patos. Pura e simplesmente a empresa desistiu, não recomeçou com o negócio, que não era negócio na altura, mas servia para abastecer o Centro Social.

 

Este episódio lembra-me também que foi no ano de 1983 que conheci o Dr. Hélder Muteia, na altura Director da Pateira, ali onde hoje cresce um condomínio imponente. Aquele espaço, para quem não sabe, foi o centro de produção de patos. A Pateira tinha uma máquina de chocar ovos a que muitos produtores recorriam para a sua produção de aves. Creio que Hélder Muteia deixou de ser Director e a Pateira esfumou-se, não tenho certeza. Tenho certeza que naquele lugar não se produz mais patos e tenho a certeza que jamais se produzirá patos por conta do Condomínio que ali nasceu.

 

Triste é saber que, desde Janeiro de 1984, altura em que se deu a Depressão Tropical Domoina, que assolou o Sul de Moçambique, com realce nos Distritos de Matutuine, Boane, Moamba e Magude nada se fez para alterar ou prevenir os próximos eventos, para além da recepção, claro, dos donativos resultantes de apoio dos parceiros de Moçambique. Digo isto com tristeza, por exemplo, a ponte de Mazambanine, de que se fala quase sempre nos princípios de ano como intransitável, poderia ter beneficiado de elevação, não é uma ponte cumprida, localiza-se numa zona vital para a Cidade de Maputo e Matola, que é o Centro de Tratamento de Água, para além de empreendimentos agrícolas e pecuárias na zona.

 

Estou em crer que a situação piorou, ali no Bloco 2, onde se produzia Citrinos e tinha o Centro de empacotamento de Citrinos para a exportação. Virou uma garagem de viaturas e os campos de Citrinos “retalhados” a pedaços que não sei quem tira maior benefício daquilo. Para piorar, ergue-se por ali residências e/ou outros empreendimentos de cimento que hoje devem estar submersos na água, tal como se deu há 39 anos. Infelizmente, sempre que passo por ali olho com tristeza, como uma zona eminentemente agrícola pode ser transformada em tudo menos em lugar de produção agrária!

 

Devido às condições meteorológicas, não sei ainda como estará a zona de Umbeluzi. Ali, antes da entrada da vedação dos pequenos Libombos, uma zona igualmente agrícola por excelência, lembro-me que nos tempos áureos de produção de Citrinos, aquele bloco era reservado à produção de hortícolas pela mesma Empresa de Citrinos de Maputo. Hoje, há ali algumas residências que, na minha opinião, constituem um autêntico atentado às zonas de produção alimentar para alimentar as cidades de Maputo e Matola e isto mostra uma coisa muito simples, que nunca tivemos um plano claro e objectivo de zonear as áreas de produção, de habitação, para indústria, Pecuária e outros serviços, qualquer espaço serve para qualquer coisa.

 

Devo recordar também que, por causa da Depressão Tropical Domoina, nasceu a aldeia de Campoane, com os préstimos da Helvetas, na altura, o Director era o meu amigo Dinis que liderou o projecto da mesma Organização para o empoderamento das famílias através da criação de patos e de burros, os burros mais para a zona de Matutuine e Namaacha, na altura, o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades sob direcção de Mahanjane identificaram, com outras estruturas claro, aquele espaço e não propriamente a zona do Belo Horizonte e havia razões fortes para isso.

 

Uma das razões é que a zona denominada hoje de Belo-Horizonte comporta áreas de passagem natural de água. Para o conhecimento de muitos, Belo-Horizonte não era o lado esquerdo para quem vai de Boane a Maputo, na verdade esse lado não oferece um Belo-Horizonte, o Belo-Horizonte é o lado direito na mesma direcção e era simbolizado pelo então Restaurante Belo-Horizonte. A área de delimitação da Aldeia de Campoane situa-se ali onde à esquerda na mesma direcção está implantada a Barraca Relva, do lado de Campoane e porque, exactamente por ali, entrando um pouco para o interior do Bairro, havia uma passagem de água natural que o projecto tratou de deixar e não parcelar.

 

Hoje, esse espaço encontra-se habitado e as consequências não se fizeram esperar. Para quem vai a Campoane e entra daquela Rua, o lado direito, depois de uns 150 metros, há o referido curso de água. Daquele lado, quando se está na zona da Igreja Universal, olhando para a frente, as pessoas que vivem por ali, por estas alturas, carecem de ajuda porque as suas residências estão inundadas das chuvas e da corrente de água que teima em por ali passar, são coisas que as autoridades competentes deixam acontecerem e nestas alturas não sabe o que fazer com os habitantes desses lugares, o que se seguirá depois desta calamidade? É a pergunta que não se quer calar e a resposta, eventualmente conhecida, nada!

 

quarta-feira, 08 fevereiro 2023 09:19

Ngwatitunu: “a sombra da vergonha”

AlexandreChauqueNova

Numa altura em que as referências da cidade de Inhambane se vão esbatendo na morte, o que resta é encontrar um lugar onde se possa exaltar essas memórias, e um desses sítios é Ngwatitunu, ou “A sombra da vergonha”.  Aqui reúnem-se diariamente, regra geral, homens cultos  com muita informação deste tempo e do tempo de outrora, informação essa que é partilhada e impulsionada pelo copo que se bebe para aclarar as ideias.

 

Ngwatitunu vem de Ngwati, nome que se dá ao tamarindo, árvore gigantesca que se ergue no bairro Liberdade “3”, mais concrectamente na zona da “Estação”, agora tornada – a dita árvore -  esplanada sem que ninguém saiba a idade desta enorme planta resistente a todos os abalos, mas o mais  importante é que este ngwati transformou-se numa espécie de santuário, onde muitos gostam de estar, não apenas para beber um copo, mas para beber um copo e conversar sobre vários  temas interessantes, defendidos sob vários ângulos, dependendo do orador de circunstância.

 

Em Ngwatitunu há clientes “residentes”, do tipo “donos do lugar” e quando eles não estão, sente-se um vazio, mais pelo seu porte cultural ou teimosia, do que pela capacidade financeira. Aliás, a maioria dos melhores conversadores dali, aqueles que dominam a plateia,  não respira saúde pecuniária. Têm algum dinheiro que dá para beber algumas, o resto é “papo” que não acaba, levando-nos a recordar grandes figuras  que deixaram “baba” no desporto e na música e na sociedade no geral. Até na política.

 

Ngwatitunu é também um desaguadouro de frustrações, de jovens e adultos e idosos que já chegaram a conclusão de que lá mais para frente não há muita coisa que se espere. Então para se materem-se vivos enquanto o último comboio não chega, vão rebuscando histórias que são contadas com muito entusiasmo, impulsionados pela euforia do copo que não pára de descer goela abaixo, pelas gargantas que não se fartam, mesmo sabendo-se que amanhã o fígado pode não aguentar mais.

 

Seja como for, Ngwatitunu tem o condão de ser um espaço aglutinador, é aí onde reside o valor social de todo o fervor. Todos se conhecem, por isso se toleram uns aos outros quando as falhas acontecem. Todos sabem das capacidade de encaixe de cada um . Mas há ainda aqueles que vão a Mgwatitunu apenas para delirar com as conversas que ouvem, sem que entretanto participem nelas, ou por incapacidade, ou por caracter e esses também fazem parte do mosaico.

 

Dá prazer passar por Ngwatitunu, onde você será acolhido como se fosse da família. E se fizer isso num dia de alta voltagem, pode ser que lhe fique a vontade de voltar de novo à “A sombra da vergonha”.

quarta-feira, 08 fevereiro 2023 07:28

FMF Incuba "Gangsterismo"!

Adelino Buqueeeee min

“Ao assumir um compromisso de pagar um determinado valor no caso de qualificação e não fazê-lo, ao assinar um compromisso com os atletas em Argel e, chegados ao território nacional, considerar esse documento inválido e sem valor jurídico, o colectivo da FMF mostra que a FMF agiu sempre de má-fé, nunca teve intenção de remunerar os atletas pelo seu trabalho. Mais do que isso, ao criar uma comissão de inquérito para um caso em que ela será objecto de inquérito, mostra o jogo de antecipação, qual astúcia! Definitivamente, as atitudes da nossa FMF são próximas de um "gangsterismo" não é aceitável, devem cumprir com as promessas feitas aos jogadores. Honrem a vossa palavra, obrigado.”


 
AB



Os episódios acontecidos em Argel com a Federação Moçambicana de Futebol e a Selecção nacional, os “Mambas”, não dignifica Moçambique e tão pouco a própria Federação Moçambicana de Futebol. Longe disso, mais do que os seleccionados de Chiquinho Conde, a Direcção da Federação Moçambicana de Futebol é responsável por esses episódios tristes e lamentáveis que, para o bem do Futebol, devem ser erradicados no nosso seio.



Uma nota importante aqui a considerar, estando certo que o Presidente da FMF é o “cabeça” e quem lidera a Federação, a estrutura em si tem um carácter colegial, por isso, a minha reflexão não visa a pessoa de Sidat, mas, antes pelo contrário, o colectivo que compõe a FMF. A esse colectivo se deve responsabilizar por estes tristes episódios que aconteceram em Argel e que continuam no território nacional. Caros membros da Federação Moçambicana de Futebol, é triste e lamentável a forma como lidam com este caso de Argel.



É deveras lamentável que uma instituição como a FMF reúna via “virtual” num feriado nacional, dia consagrado aos Heróis Nacionais e decidir pela criação de uma comissão de inquérito e a suspensão de atletas da selecção. Esses senhores que estiveram reunidos deviam ter vergonha desse acto tão precipitado quanto irresponsável que tiveram. Reunir num dia normal da semana e de forma presencial não seria a forma mais responsável?! A decisão que tomaram, caso tomassem no dia 06 de Fevereiro de 2023, o que atrasaria! Não é compreensível que homens com responsabilidades como dirigir a FMF não tenham respeito pelos Heróis nacionais, é triste.



A FMF e os “Mambas” são partes do litígio



A Federação Moçambicana de Futebol e os “Mambas” são duas partes em litígio no caso do CHAN Argel 2022, por isso não faz sentido que uma das partes tenha o poder de criar uma comissão de inquérito em que também é responsável. As pessoas indicadas para essa comissão de inquérito irão ouvir a FMF? Se sim, em que qualidade? Sim, porque a FMF, para um bom entendedor e com interpretação isenta dos factos, é responsável pelos acontecimentos de Argel. É a FMF que não cumpriu com as suas obrigações para com os atletas, obrigações que de forma voluntária prometeram aos atletas.



Mais, ao agir como agiu, a FMF é que acaba manchando o bom nome de Moçambique, conquistado com sangue dos Heróis nacionais simbolizados no 3 de Fevereiro, data em que a mesma Federação do Futebol, no lugar de dirigir-se à Praça dos Heróis para homenageá-los, preferiu reunir “virtualmente” para “punir” outros Heróis nacionais, desta feita, do Futebol nacional. Na verdade, no seio dos adeptos de futebol, estes jovens trouxeram muita alegria e hastearam a bandeira de Moçambique bem alto em Argel. Foi o trabalho dos “Mambas” e seu corpo técnico que logrou esse sucesso, registe-se!



Na minha opinião, a FMF, para este caso específico, não devia reunir para deliberar tal como o fez. Até poderia reunir para analisar os acontecimentos do CHAN e comunicar o público as suas conclusões. No entanto, essa reunião nunca deveria criar uma comissão de inquérito e muito menos punir jogadores, excepto o elemento da Federação. Esse, sim, podem puni-lo como acharem melhor e dentro dos vossos estatutos e regulamentos. Agindo como agiu, a FMF quis “jogar” na antecipação e criar “confusão” no seio da opinião pública, o que não abona aquele colectivo.



Sobre a Intervenção da SED!



Devo dizer que a intervenção da Secretaria do Estado do Desporto foi oportuna e deveria ter sido logo à chegada dos “Mambas” de Argel. Peca por ter sido ligeiramente tardia e que deu espaço para esta atitude da FMF de reunir “virtualmente” num ferido nacional para tomar decisões que tomou. Ainda assim, a SED deve manter-se a frente deste processo, na qualidade de representante do Governo para a área de Futebol e não só. É chegado o momento de a FMF deixar de ser um refúgio de “gangsterismo”. A FMF deve ser um lugar para gente honrada e responsável, comprometida com o desenvolvimento do Futebol em Moçambique.



Ao assinar um compromisso em Argel e chegar em Moçambique considerar o documento inválido e sem valor jurídico, a FMF mostra de forma clara e evidente que a FMF sempre agiu de má-fé neste assunto. Mostra o quão “gangsterista” é o colectivo da Direcção da FMF. De entre eles deveria aparecer alguém a chamar a atenção para a observância das regras elementares de convivência social. Por outro lado, mostra que os atletas tinham razão ao exigir algo escrito em como irão respeitar o compromisso assumido voluntariamente, veja-se agora!


Atletas gazetam encontro com a SED!


Aqui, é importante chamar-se os atletas à razão. Quando a SED os convoca, repito, CONVOCA, não é uma questão de vontade, é uma questão de obrigação comparecer a esse encontro. A solução dos problemas não acontece por forças mágicas, acontece com a intervenção humana e, no caso, a SED, como representante do Governo de Moçambique, a ela cabe dirimir este conflito e reportar a outras partes do Governo sobre as posições das partes. Ao agir como agiram, faltaram respeito a uma instituição do Governo e o que tem a fazer é pedir desculpas e solicitar encontro para se esclarecerem e, quiçá, pedirem ajuda a SED na resolução deste diferendo com a FMF. Gazetar não vos dignifica jovens, a vida deve ser encarada de frente, os problemas, por mais bicudos que sejam, devem ser resolvidos e, para que isso aconteça, é importante a participação dos visados. Mas, como diria o Secretário de Estado para o Desporto, talvez tenham agido “de cabeça quente” depois do comunicado da FMF. Compreendemos, mas devem redimir-se do erro. Todos devemos respeitar o Governo.  

 

 

Adelino Buqueeeee min

“Existe um ditado chope que diz “se você ajudar alguém que não conhece, deve cortar-lhe parte do seu corpo, preferencialmente a orelha” para que amanhã se recorde de quem o ajudou. Moçambique pagou um preço muito alto para o fim do Apartheid, valores incalculáveis com a aplicação de sanções e o albergue dos militantes do ANC. Temos na Cidade da Matola um Memorial sobre o sucedido a 30 de Janeiro e como nos agradecem!? Vandalizando e saqueando bens dos nossos concidadãos. Esta é a forma de expressão de ingratidão jamais vista para com um povo que lhes foi generoso. Ai se Samora Machel vivesse para ver isto!”

 

AB

 

Nós, moçambicanos, sentimos na pele que as relações entre os dois países não estão bem, quer a nível dos povos, quer a nível oficial, entre os dois estados. Sentimos que há tendência de se subalternizar o Estado Moçambicano pela África do Sul e, na minha opinião, devemos dizer basta ao Governo da África do Sul! As relações devem beneficiar as duas partes, as relações que beneficiam somente uma das partes não são relações justas.

 

Nos recentes ataques dos bandidos sul-africanos, parece-me que o Governo daquele país sai em defesa dos seus bandidos. Pode não ser essa a realidade, mas, perante o silêncio ensurdecedor que aquelas autoridades manifestam, a conclusão não pode ser outra. Por outro lado, os moçambicanos que sofreram sevícias naquele território contam histórias de indiferença policial, mesmo que devidamente informada pelas vítimas, isto é, na minha opinião, inaceitável. Basta!

 

Mas também é preciso reconhecer a “inércia” das nossas autoridades do sector da Diplomacia e quer me parecer que a vinda a público da Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação foi forçada pela imprensa nacional. A forma como comunicou e o semblante apresentado na Conferência de Imprensa não são de alguém preocupado com o terror que os seus compatriotas acabavam de viver. Tudo isto acaba não abonando a favor daquela instituição que nos deve defender no exterior. Moçambique já tinha ultrapassado essa fase de Diplomacia demasiado “silenciosa”, mas também não estou a dizer que deve ser “ruidosa”, deve ser prática e pragmática na sua acção a nosso favor.

 

Por exemplo, ontem, 30 de Janeiro, recordamos o ataque às residências e à Fabrica SOMOPAL na Matola, residências que albergavam membros do ANC residentes em Moçambique. Entretanto, no lugar de confraternizar, estávamos lamentando o sucedido com os nossos compatriotas. No lugar de falarmos de fraternidade, estávamos a falar de um escândalo de vandalismo contra as pessoas e sua propriedade privada. É preciso recordar o ANC e os sul-africanos no geral o papel e o preço que Moçambique pagou para a sua liberdade. Neste momento, o grosso dos dirigentes da África do Sul no activo conhece bem a história da sua liberdade e o preço que pagamos, ingratidão!

 

Não à retaliação por Moçambique!

 

Apesar de reconhecermos e doer a ingratidão dos sul-africanos, nós não podemos pensar em retaliação contra a África do Sul e cidadãos daquele País que demandam o nosso País, quer em negócios quer em Turismo. A nossa forma de ser e de estar nos impele a sermos mais responsáveis e cautelosos, mas nós não somos ricos. É urgente que se fale de ressarcimento dos moçambicanos pelos bens perdidos por vandalismo dos cidadãos daquele País. A África do Sul deve indemnizar os moçambicanos, devidamente identificados no vandalismo daquele País.

 

Existe a “narrativa” de que em Moçambique existem viaturas roubadas e que se encontram na província de Maputo. Se isso for verdade, eu penso que o Governo não é espaço de albergue de bandidos. Essas viaturas, uma vez identificadas, devem ser repatriadas para o País vizinho e entregues às autoridades competentes. Não pode um país inteiro pagar por culpa de meia dúzia de indivíduos, não é aceitável e tão pouco dignificante isso.

 

Nas redes sociais, alguns moçambicanos residentes e a trabalhar na África do Sul mostram-se revoltados com o seu próprio País porque acham que estão a pagar o preço de falta de acção das nossas autoridades. A Xenofobia é parte dessa forma de pagamento e nunca se sentou e se tomou uma decisão séria a respeito. Moçambique deve fazer-se respeitar, somos um país com mais de trinta milhões de habitantes, independente e soberano, afinal o que nos falta!

 

Reitero o meu apelo ao Governo de Moçambique para que saia em defesa dos seus concidadãos, não faz muito sentido isto que vivenciamos nos últimos dias, em que moçambicanos são vítimas de vandalismo na vizinha África do Sul com aparente indiferença das autoridades competentes. Moçambique precisa da África do Sul, mas a África do Sul também precisa de Moçambique, não são poucos investimentos daquele País em Moçambique, a era de venda exclusiva de mão-de-obra barata de Moçambique para África do Sul já era, acabou, vamos nos tratar de igual para igual ou somos diferentes!

 

Adelino Buque

quinta-feira, 26 janeiro 2023 07:38

África do Sul: Parem com o vandalismo!

Adelino Buque min

“As recentes reportagens passadas nos órgãos de comunicação social, mas antes nas redes sociais, em que um autocarro é queimado sem dó nem piedade, o relato de moçambicanos que sofreram sevícias naquele território, alegadamente, porque machanganas roubaram quatro D4Ds”, a indiferença da polícia sul-africana e, pior, a indiferença da nossa Diplomacia, que equivale dizer do nosso Governo, Governo de Moçambique, preocupa a muitos cidadãos atentos ao desenvolvimento, por isso a Sociedade Civil e o Sector Privado devem manifestar indignação com os acontecimentos, num acto que pode configurar que a África do Sul se declara inimiga de Moçambique!”.



AB



Os actos de vandalismo, perpetrados por cidadãos sul-africanos contra os moçambicanos e suas propriedades e a indiferença com que age o Governo da África do Sul demonstram claramente que o País vizinho não é amigo de Moçambique e tão pouco nos quer como parceiros naquele país vizinho. Mas, mais do que isso, o silêncio dos nossos serviços Diplomáticos pode traduzir a falta de vontade na protecção dos seus cidadãos no estrangeiro e isto preocupa a qualquer um, independentemente do seu interesse na visita à África do Sul.



Circula, nas plataformas digitais (Whatsap), vídeos e áudios relatando os acontecimentos e um dos áudios que ouvi é de um cidadão que repete de forma frequente: “irmãos! Isto é sério”. Diz ele no áudio que foram parados somente carros moçambicanos e nele deitaram gasolina, queriam queimá-lo. Mas conseguiram reunir 10.000 Rands e foi então que lhes deixaram passar. Num outro vídeo, uma senhora fala sobre a vingança dos sul-africanos nos seguintes termos: “dizem que machanganas roubaram quatro D4Ds e os proprietários foram mortos”, por isso estão a vingar-se.



Nos dois relatos existe algo em comum, é que as autoridades sul-africanas, mais concretamente a Polícia, depois de informada não “move palha” e, aos olhos do comum cidadão, isto parece algo coordenado entre os bandidos e o Governo da África do Sul. Mas preocupa-me mais o silêncio das autoridades moçambicanas perante este ataque a pessoa e seus bens num País estrangeiro. Ontem, na TVM, apareceu um senhor que se diz Director dos Serviços Rodoviários a falar do assunto e quase arrisco-me a dizer que “falou e não disse absolutamente nada que interesse” o público afectado.



Pessoalmente, advogo que nós moçambicanos deveríamos deixar por mínimo de uma semana a ida à África do Sul via terrestre. É verdade que muitos vão para lá por razões comerciais e dizer isto é o mesmo que “cortar-lhes as pernas”. Na minha opinião, irá doer, mas é a única forma de podermos demonstrar o nosso descontentamento e, certamente, a economia sul-africana iria ressentir-se e o Governo seria pressionado a agir contra os bandidos. A África do Sul precisa de um sinal, um sinal que demonstre que temos interesses naquele país, mas eles também saem a ganhar com a nossa entrada e saída naquele território.



Moçambique deve parar com a sua Diplomacia “silenciosa”, o caso é sério como dizia o cidadão que foi “regado” com gasolina e foi salvo por 10.000 Rands. Não podemos viver assim. A par da pressão social a ser feita, deve haver uma atitude do nosso Governo contra esta onda de criminalidade perpetrada por cidadãos sul-africanos porque, se deixam as coisas ganharem grandes proporções, passará a ser o “modus vivendi” daqueles cidadãos que concluirão que podem ganhar a vida interpelando e extorquindo, na via pública, cidadãos moçambicanos sem que as autoridades locais façam qualquer coisa.



Mas, mais do que o Governo, o Sector Privado deve posicionar-se com relação a este assunto periclitante. São empresários moçambicanos que perdem seus bens no exercício das suas actividades e se tornarão paupérrimos, pedintes e devedores de um tesouro cego e mudo, de uma Banca comercial insensível e ávida de lucro fácil sem olhar para o estado da “vaca que lhe dá leite”. Isto é preocupante, por isso advogo que todos nós não somos suficientes para manifestarmos a nossa indignidade, parem com isso!



Adelino Buque

Tsandzane min

De forma simplista, podemos considerar que a Síndrome de Estocolmo é um mecanismo de reacção a uma situação cativa ou abusiva a que determinadas pessoas são submetidas. E estas, por consequência, desenvolvem sentimentos positivos em relação aos violadores, ao longo do tempo. Esta condição se aplica às situações que incluem o abuso de crianças, abuso de relações conjugais ou, ainda, o tráfico sexual.

 

Tecnicamente, no mundo da Medicina e Psicologia, a Síndrome de Estocolmo é entendida enquanto uma resposta psicológica, que ocorre quando sequestrados, reféns ou vítimas de abuso se ligam psicologicamente aos seus raptores. Em outras palavras, tal situação ganha força quando, após contínuas sequências de sofrimento, a vítima incarna, na sua mente, aquela sensação como normal e passa a conviver, de forma natural, com o opressor; ou é atingida por um esquecimento temporário que lhe faz ver o seu ‘canalha’ como um indivíduo que apenas pratica o bem.

 

A designação da Síndrome deriva de um assalto a um Banco em Estocolmo, capital da Suécia. Em Agosto de 1973, quatro funcionários do Sveriges Kreditbank foram mantidos como reféns no cofre do Banco durante seis dias. No decorrer deste período, desenvolveu-se uma ligação aparentemente incongruente entre os sequestrados e sequestradores. Um refém, durante uma chamada telefónica com o então Primeiro-Ministro Sueco, Olof Palme, declarou que confiava plenamente nos seus raptores, mas temia morrer num ataque da polícia ao edifício. Ou seja, conforme o procedimento deste refém, entende-se que o instinto de sobrevivência está no cerne da Síndrome de Estocolmo, visto que as vítimas vivem em dependência forçada e interpretam actos raros ou pequenos actos de bondade em meio às condições horríveis como um bom tratamento.

 

Se quisermos aplicar o introito acima para o caso de Moçambique, precisamos retomar ao debate efervescente que tem sido caracterizado por um distribuir gratuito de simpatias que o então Presidente da República, Armando Guebuza, tem estado a conquistar em cada aparição pública. Aliás, engana-se quem tenha concluído que tal teve o início apenas na celebração dos seus 80 anos de idade. Com alguma atenção, se o número de apoiantes representa um critério de medição de popularidade, basta uma visita rápida à sua página no Facebook para constatar a forma como se tem criado uma narrativa positiva relativa ao antigo governante.

 

Ora, trouxemos a proposta de Síndrome de Estocolmo Política para espelhar o que, no nosso ponto de vista, é a máxima dominante de toda esta situação. Sucede que, de um provável mal-amado no fim do seu mandato (*2015), o Presidente Guebuza parece ter espantado, com mestria, os seus ‘fantasmas’, visando ser o actual ‘bem-amado’ de vários moçambicanos. Para nós, isto revela que estamos diante da presença de uma Síndrome de Estocolmo Política, se considerarmos que o mesmo Presidente é co-responsável directo pelo que o País conhece, desde que este saiu da Presidência.

 

Mesmo que o País não tenha a cultura ou capacidade de realização de pesquisas de opinião de fim-de-mandato, assumimos a ousadia afirmando que o Presidente Guebuza não é, certamente, quem tenha tido bons níveis de aprovação popular quando deixara o poder. O nosso entendimento baseia-se no facto segundo o qual o contínuo martírio social na actual governação, caracterizado por uma aguda mendicidade colectiva na qual os moçambicanos estão expostos, faz com que estes prefiram o que em linguagem popular se considera “menos pior”. Ou seja, o pior a ser equiparado ao péssimo. Dito de outra forma, ambos, antigo e actual Presidente, são os ‘arquitectos’ máximos do desencanto que Moçambique tem vivido nos últimos 18 anos (desde o primeiro mandato de Guebuza até aos dias actuais).

 

Ademais, sem querer menosprezar as suas obras e valiosas acções no passado, para nós, o actual (des)caminho de Moçambique tem uma dose directa proveniente da governação deste Presidente, que tem sido colocado, ultimamente, como o ‘El-Salvador’ da Pátria. Por isso, tentar esquecer, mesmo que de forma incauta, os ‘pecados’ (passados, mas bem presentes na vida dos moçambicanos) do Presidente Guebuza faz parte de um teatro de massas abocanhadas pelas aparentes desavenças dos membros de elite do partido Frelimo. No nosso entender, estamos diante de um cenário que parte de uma elaboração dos media, algo explicado no que, em tempos, Adorno & Horkheim (1984) chamaram de “Indústria Cultural”, ou o que autores como McCombs & Shaw (1972) anteriormente designaram de “Definição de Agenda”.

 

Por conseguinte, não podemos refutar a desgovernação que temos perante o actual Executivo, espelhada pela falta de um horizonte para onde Moçambique segue ou deveria seguir. Contudo, tal não nos pode criar um estado amnésico igual ao que tem imperado neste País desde 1994, ano das eleições fundadoras, todas elas dominadas pelo mesmo partido político. Em outras palavras, o nosso problema não é tentar ‘salvar’ um Presidente que tanto mal causou aos moçambicanos ou insistir que o actual Presidente enverede por um fictício terceiro mandato. É, pelo contrário, uma Refundação dos alicerces que estruturam a nossa forma de governação. Ou seja, precisamos de um tratamento para cuidar da nossa Síndrome. Enquanto tal não suceder, o entretenimento político do que temos visto com a aparente ‘crise das comadres’ continuará a desviar-nos a atenção face ao real (des)caminho governativo que vivemos como País.

 

Num outro cenário, algumas vozes tendem a considerar a actual situação que se vive em Moçambique no que podemos designar “crise intra-partidária”. Podendo-se aceitar tal hipótese, teríamos dificuldades em enquadrar uma realidade que coloca actores do mesmo partido a falarem de forma dessincronizada. Mesmo que se admita a influência do ambiente eleitoral já iniciado, pensamos que não estamos perante uma crise do tipo partidário clássico, mas, provavelmente, um entretenimento discursivo e mediático, tal como se assiste entre os confrades partidários Cyril Ramaphosa e Jacob Zuma, na vizinha África do Sul.

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