Em Janeiro deste ano, a senhora Abiba Abá fez uma carta ao Município de Nampula pedindo apoio monetário no valor de 40 mil meticais para levar uma parente à cidade de Maputo para tratamento médico. O seu pedido teve uma resposta positiva: o Município passou um cheque de 36 mil meticais que ela devia pagar em duas prestações. Na semana passada - portanto, 7 meses depois - a senhora Abiba pagou 15 mil meticais desse valor.
Ainda em Janeiro deste ano, sob orientação do Presidente do Conselho Municipal de Nampula, Paulo Vahanle, o Departamento de Transportes emitiu uma carta solicitando empréstimo ou aluguer da viatura com chapa de inscrição AHE 323 MC pertencente a senhora Abiba Abá (a mesma do cheque) para transportar empresários portugueses parceiros do Município. A proprietária respondeu positivamente sob duas condições: o Município abastecer a viatura e fazer manutenção da mesma. E tudo isso foi feito.
Quem é Abiba Abá:
Enquanto isso na página do Município de Nampula lê-se o seguinte:
"[...] queremos esclarecer aos nossos munícipes e o público em geral de que Abiba Abá para além de ser delegada do partido RENAMO que ela é, também é munícipe da cidade de Nampula, e goza dos direitos de qualquer munícipe desta cidade, para o efeito não poderia constituir algum alarme muito menos mau uso dos fundos do erário público".
Fiquei todo esse tempo pensando que Vahanle estava a dormir. Me enganei bem! O gajo está na tesouraria... bem acordado... a distribuir tako para os amigos dele e certamente para ele também. 'Fidamãe' do gajo! Estão a mamar mola estes gajos, sabe!
- Co'licença!
Sim. O título lembra e foi inspirado na “Velha Xica” do agora saudoso músico angolano Valdemar Bastos (1954-2020). Tive o privilégio, ainda miúdo, de o ver cantar e encantar nos idos anos oitenta. Corre-me ainda na veia o sangue dessa quente e memorável noite. Depois que soube da sua partida, a 09 de Agosto, procurei por essa noite na Internet e não encontrei. Agora temo que tenha sonhado. Seja como for, dessa noite, lembro-me do olhar silencioso dos mais velhos quando Valdemar Bastos cantou a “Velha Xica”. Hoje, e distante desse momento, penso que a razão do tal olhar silencioso dos mais velhos, então jovens/adultos e outrora, na era colonial, meninos admoestados pela vovó Xica para que não falassem política, justifica-se porque também perguntavam, com Valdemar Bastos, “Qual era a razão daquela Pobreza/Daquele nosso sofrimento”.
O tempo passou e os meninos da velha Xica, os miúdos do antigamente, agora são titios e avozinhos. E é para eles, sobretudo os de matriz urbana – que depois da independência eram jovens/adultos - que vai abaixo uma música adaptada e inspirada da “Velha Chica”, que a par de “Muxima”, outro clássico do imortal Valdemar Bastos, neste final de semana, entre amigos e em jeito de homenagem ocasional, fizeram parte da fogueira até o sol de Agosto voltar a raiar.
Dito isto, caríssimas leitoras e leitores é tempo de "ouvir”: os meninos da velha Xica!
Depois da independência, um titio lá do prédio/Trabalhava na Loja do Povo (2x)
E à janela da sua flat ou na rua ele via uma viatura Lada a passar/Era o dirigente importante (2X)
E nós os miúdos lá do prédio/Perguntava-mos ao titio/Qual era a razão daquela nobreza/Daquela vénia e do nosso silêncio (2x)
Xê titio tinha medo da política/ Tinha medo da política/ tinha medo da política (2x)
Mas o titio era estudado/Ele sabia, mas não dizia a razão daquela vénia e do silêncio (2X)
Xê titio tinha medo da política / Tinha medo da política/ tinha medo da política (2x)
E o tempo passou e o titio, só mais velho ficou/E ele somente tinha a casa do APIE que vendeu/E agora vive no bairro, na casa de madeira e zinco da sua infância (2x)
Xê titio tinha medo da política/ Tinha medo da política/ tinha medo da política (2x)
Mas quem vê agora/O corpo e o rosto daquele titio, daquele titio/Já não vê as curvas da vénia e as rugas do silêncio, do silêncio, do silêncio! (2x)
E ele agora só diz:
- Xê menino posso partir, posso partir (2x)
- Xê menino posso partir/já vi Moçambique democrático! (2x)
E os meninos do bairro dizem:
Xé titio fala política/Fala política/fala política (2x)
E assim também foi um jeito de recordar Moçambique com toque de Angola e em tripla homenagem: ao Valdemar Bastos, pelo legado da música e da reflexão; aos titios/avozinhos de hoje, os jovens/adultos e meninos de ontem, pelos desafios enfrentados em tempos difíceis e com memórias, ainda, por contar/escrever; e por último, mas não menos importante, aos que apreciam ouvir, cantar, dançar e reflectir com Valdemar Bastos. Saravá!
Neste triste e enfadonho seriado de perseguições e tentativas de silenciamento do jornal 'Canal de Moçambique', entre processos judiciais, tentativa de rapto e, nesta última temporada, fogo posto, eu me rendo aos tomates do Matias Guente e sua equipa. É tanto tomate, gente! Tiro o chapéu!
Na segunda-feira, quando vi as fotos do que (não)sobrou do incêndio da redação do 'Canal', fiz um texto cheio de pedras e azagaias. Aquilo era um festival de raiva. Um 'cocktail molotov' de adjectivos vis que eu queria lançar. Mas, quando soube que o Matias e sua equipa estavam a trabalhar numa tenda improvisada no quintal do prédio, rendi. Perdi forças. Aquilo foi pura e simplesmente uma verdadeira catequese de resiliência... com salpicos de rebeldia. É muita persistência, é muita coragem.
Mesmo que arrecadássemos todos os dólares do mundo na campanha de solidariedade, mesmo que oferecéssemos os melhores computadores do mundo, mesmo que comprássemos todos os jornais dos ardinas, mas sem os berlindes do Matias, nada feito. Não é resiliência, é teimosia... é ser confuso também.
Sem querer desmerecer a honrosa campanha de solidariedade nem as diversas formas de conforto ao 'Canal', a perseverança do Matias e sua equipa merecem o nosso maior respeito. É uma firmeza que nos representa. O tomateiro do Matias é tudo o que o 'Canal de Moçambique' precisa neste momento. Aliás, é o que Moçambique precisa. Todos nós precisamos da semente dos tomates do Matias. Urge uma produção massiva. O ministro Celso devia ver os tomates do Matias... o SUSTENTA vai precisar.
'Tomatada à Matias' devia ser o prato do dia: uma xícara de solidariedade geral e uma colher de sopa de cidadania activa com polpa de tomates maduros do Matias (que baste). É isso! Até o nosso hino nacional devia ser 'tomateiro amado': Moçambique nosso tomateiro glorioso / tomate a tomate construindo o novo dia / milhões de tomates / uma só fruta / ó tomateiro amado / não vamos vender. É isso! Com tomates desses nenhum tirano nos irá escravizar mesmo.
Não basta ter tomates, é preciso tê-los no lugar como o Matias os tem. Conheço jovens académicos, historiadores, advogados, sociólogos que abandonaram a luta mesmo sem terem sido seviciados. Outros são cotas professores, cientistas, físicos, astrólogos, químicos, matemáticos. Hoje fazem parte de um conjunto de espécimes especializados em insultar e fazer georeferenciamento dos alvos a abater tudo a troco de vinho e 'per diem'. Viraram insectos e ácaros de tomateiros alheios. Por isso, dizia, não basta ter tomates, é preciso que o tomateiro esteja muito bem localizado.
Produzir um jornal no meio das chamas não é para qualquer respirante. Escrever sobre um incêndio no próprio incêndio é para cabra-macho. Bombeiro pedir para afastarem o computador para ele passar com a sua mangueira para debelar as chamas na redação, nem nos filmes. Já tinha visto emissão televisiva e radiofónica em directo, mas emissão de jornal ao vivo, foi a primeira vez. Aquilo era entrevistar a testemunha, escrever a matéria, tirar a foto, imprimir o jornal e vender ali mesmo... ao vivo. O verdadeiro conceito de 'jornal fresquinho' como pão na padaria. Um jornal saía com cheiro a jornal queimado. É preciso ter muito tomate, irmãos... e no lugar, acima de tudo! Foco, foco, foco. Não se deixar atrapalhar.
Ao 'Canal de Moçambique', em especial à sua ávida equipa de profissionais, vai o meu abraço de solidariedade. Disponho-me de bandeja. Eis o meu sangue vermelho para o vosso tinteiro. Aqui trava-se um combate, é duro, mas temos de vencer - como diria o pai de Samito, esse outro jovem cultor de bons tomates. O importante é não desistir.
Ao Matias Guente, simplesmente, uma continência com trombetas e honras de Estado aos seus tomates. Respect!
- Co'licença!
País ainda jovem mas cheio de história para contar entre algozes feitos de um passado heroico, a elevada expectativa do pós independência e a afirmação do multi-partidarismo.
Com a proclamação da independência de Moçambique a 25 de Junho de 1975, pelo então Presidente Samora Moisés Machel, uma nova página abriu-se para o país. Uma nova página que marcara o fim de anos de uma história de colonização e ocupação efectiva que até hoje apresenta marcas directas nos colonizados e indirectas nas gerações que se seguiram.
Uma geração tomou as rédeas da revolução, encabeçou as fileiras da guerra contra o colonialismo, abandonou suas famílias e juntou-se aos movimentos libertadores, aos treinos militares dentro e fora do país e fez das tripas-coração nos campos de batalha e conquistou a ferros a independência. Esta geração de jovens movidos pelo amor a pátria, pela disciplina da época, pela vontade de ser livre do jugo colonial, e pelo alto sentido de direito a auto-determinação. É uma geração que herdou os mais nobres ideais pan-africanos que eu chamo de independentista e libertadora.
O paradigma dominante nas décadas 50 e 60 do século XX, era sem dúvida o paradigma da libertação e das independências. A geração independentista que na sua larga maioria incorporou as fileiras do partido que comanda os destinos políticos do país; foi uma geração que de forma abnegada amou e serviu o país em tempos austeros; uma geração que camuflava suas ambições políticas e que nunca deixara que estas minassem o objectivo primário da luta de libertação. Porém, mais tarde veio a reclamar os louros da juventude emprestada ao serviço do país e da nação moçambicana. Realizou os sonhos de muitos heróis que tombaram na luta pela independência de Moçambique, e trouxe um fulgor e uma expectativa em relação ao que poderia ser o futuro.
O seu maior legado foi a abnegação e a entrega. O seu maior pecado veio a revelar-se nos erros advindos da falta de preparo para lidar com a realidade complexa do novo país nascido da luta de libertação e fragmentando em termos de unidade nacional. Um país diga-se sedento de se autogovernar e ávido pela autodeterminação. O fim da longa noite escura que foi a árdua luta pela independência significou muito para esta geração e não só, para o país no geral.
A geração independentista viveu um dos períodos mais desafiantes da nossa ainda incipiente história. A independência trouxera a substituição da máquina colonial portuguesa pela máquina estatal moçambicana, e diga-se ao abono da verdade, a geração fê-lo com num típico learning by doing. Mas como nenhum percurso é imaculado, cedo começaram as pequenas guerras de negação do outro e de toda a forma de pensar diferente; a luta pelo poder, a ambição e a sede por regalias e de uma maior influência no xadrez político e minaram o processo recém iniciado.
Seguiu-se a segunda geração que nasce, cresce floresce num ambiente de miscelânea entre a expectativa do pós independência depois da azafama épica vivida no estádio da Machava com a proclamação da a independência total e completa de Moçambique e os reais desafios da edificação primeiro da nação e depois do país. A segunda geração é filha ideológica da geração independentista e viveu a chamada atmosfera samoriana, bebeu os ideais proclamados pelo grande Marechal, seguiu os movimentos do associativismo e directivas do partido, a disciplina, o respeito da época, que tinha aparentemente tudo para singrar. Uma geração que experimentou em muito pouco tempo, a sagacidade da independência e a eclosão da guerra dos 16 anos – ouviu o ressoar das armas que mataram inocentes e destruíram as poucas infraestruturas existentes; Viveu nas longas filas das cooperativas familiares e conheceu as privações que a época transicional impunha e abraçou como ninguém o desejo de querer vencer. Esta geração lutou pelos ideias que recebera e foi escrava da narrativa independentista que se estendeu ao ódio visceral pelos que tentassem travar a revolução socialista. Chamarei esta geração de geração programada.
E por falar em revolução socialista, os anos que se seguiram a independência do país foram de uma actividade intensa de proclamação dos ideais socialistas e comunistas e de uma afirmação e difusão incisiva destes, ainda que no fundo não se percebia a essência do comunismo que apregoavam – Foi por assim dizer um período áureo da disciplina do Estado e porque não do partido. Não é de se estranhar que os filhos desta geração carreguem até hoje fortes traços ideológicos do seu berço de incubação. Geração jovem e enérgica, orientada para a acção e com ideias claras sobre a revolução e sobre os caminhos que o país deveria seguir, viu sua referência mór (Samora Machel) perder a vida no fatídico acidente de Mbuzini. Um duro golpe para as aspirações do país no geral e para todos os moçambicanos. Do dia para a noite esta geração se viu órfã do seu mentor e as dúvidas sobre as suas reais capacidades começam a emergir entre as fileiras.
A meio com uma morte trágica e uma guerra civil altamente devastadora, a geração programada enfrentou um dos momentos mais desafiantes da sua história, com sabotagens, traições e cisões no seio do mesmo grupo. Assumiu alguns dos desafios impostos pela época e emprestou seu fulgor para reconstruir o país ao mesmo tempo que buscava mais instrução, mais capacidade técnica e humana. Em termos de nível de preparo, com a fase da restruturação económica as fronteiras geográficas, ideológicas e políticas do mundo abriram-se e mais oportunidades emergiram tornando-a mais capaz e mais interventiva.
Geração que melhor personificou a ideia de nacionalismo e que criou a primeira burguesia emergente do país – uma burguesia que só conseguiu mostrar a avidez e ganancia pelo poder e dentes afiados para lutar pelo “tacho” depois do evento de Mbuzini; Produziu continuadores e brindou o país com lutadores, artistas, desportistas, músicos e muito mais. Cometeu erros como a primeira, tomou decisões que até hoje são questionadas, mas toda a revolução implica decisões, umas acertadas e outras equivocadas e descontextualizadas. Um dos seus grandes pecados foi não ter preparado os filhos para os desafios reais do país; talvez pelo excesso de zelo, talvez por mera soberba. Ao tentar evitar que seus filhos passassem por privações, acabaram lhes oferecendo mais do que podiam e deviam e hipotecaram muita coisa, parindo uma geração com uma mão cheia de nada.
A terceira geração é de relativamente difícil enquadramento e trato cronológico – representa síntese das duas anteriores. Escalando o país pelos seus pontos cardinais vamos descobrindo uma mesma geração dividida entre geração urbana e a rural, do cimento e do caniço, uma esteve mais exposta às benfeitorias e que sente o sabor do “tacho” e outra que passa ao lado do mesmo. A essa geração que alguém uma vez chamou de uma geração à rasca, nunca foi dada nenhuma responsabilidade objectiva.
O geograficamente identificado como grupo do cimento, da cidade foi obviamente o mais agraciado em termos de oportunidades e recursos que o outro grupo da zona de areia. O primeiro, para além de estar à rasca, é hipoteca dele mesmo – um grupo à deriva e órfão dos valores históricos, políticos e sociais do país. Para muitos destes jovens, a narrativa independentista não faz ecoar nada em si e os discursos da guerra dos 16 anos não são vinculativos a sua causa.
Encontramos na mesma geração dois grupos que dispôs de oportunidades diferentes, e consequentemente existe um abismo comportamental e aspiracional entre eles: Uns são os filhos da burguesia nacional incipiente com ar capitalista. Para além de lhe ter sido vendido e até oferecido o sonho do american life style, e todos valores da globalização ela adquiriu (in) conscientemente a ideia de que os pais devem prover tudo e a todo momento; uma geração que culpa aos outros pelo seu insucesso e pela falta de oportunidades e que vê o tempo passar ao lado dela mesma – Este grupo está a rasca sim e pior de tudo é que não sabe que está a rasca e que é resultado de uma agenda oculta.
Outros são filhos de camponeses e operários ciosos em triunfar e se tornar orgulho na zona de origem. Mas que as oportunidades lhes chegam a conta-gotas e porque tudo lhes foi difícil, contentam-se com muito pouco. Sonham em estudar na capital e ter um emprego no estado e poder mandar ajuda aos familiares espalhados pelo nosso vasto país.
E a culpa não é desta geração de jovens. Esta é vítima de um processo que paulatinamente tornou a máquina estatal deficitária e deficiente, o sistema quebrou-se, a ética, a moral e os costumes foram severamente abalados. Institucionalizaram-se praticas más e promoveu-se o laxismo estatal e por consequência o Estado desviou-se da sua missão primária que é prover o bem estar comum. A educação pública não é mais o que foi e por consequência ao invés de formar, informa e deforma.
A nossa pirâmide etária é maioritariamente jovem, e paradoxalmente vemos nela uma geração de jovens com preparo duvidoso e com enormes dúvidas em relação às suas capacidades. Uma geração que tem como referência tudo vem de fora e pouco de dentro. Somos jovens pobres e pertencemos a um país também pobre (ou pelo menos é nisto que nos fazem crer). Somos os jovens que acredita cegamente que para singrar na vida precisamos perseguir títulos, status, bens e posições, menos ideias.
Mas devemos lutar para sermos uma juventude com força motriz, uma geração livre intelectualmente que cria, transforma e participa no enredo do desenvolvimento integrado sem discriminação das cores partidárias, religiosas, raciais e ideológicas.
Esta é a síntese de três gerações de um país jovem e de jovens. Alguns mais estudados que os outros, mais ilustrados, mais experimentados e com melhor preparo, mas conformados, incapazes, e com medo de atingir a maioridade a que o país lhes convida a abraçar. Jovens que ancoraram seus sonhos em algum lugar. Seu maior pecado é não ir a luta e o seu legado fica entregue a sorte.
Por: Hélio Guiliche (Filósofo)
Ahhhhh, porque este governo não é democrático. Quando queremos fazer greve, manifestação, manda Polícias bigs tipo King Kong para nos baterem. Isso não é democracia. O país não pode avançar assim. O povo também tem os seus direitos.
Ahhhhh, porque a Polícia está a exagerar nesta quarentena. Você quer beber escondido de repente aparece Mahindra com Polícias grandes e brutos e começam a lançar chambocos. Não foi isso que o Presidente da República disse. Há exageros. A Polícia tem de pautar pelo diálogo. Deve trabalhar serena e calmamente. Nada de violência.
Ahhhhh, porque toda a hora refresco, toda a hora refresco para a Polícia. Estão a exagerar. Nós nem sempre temos refresco para dar Polícia. Carta de condução já subiu, renovação também. Essa Polícia só passa a vida a estorquir os automobilistas. Quando você dá um cinquentinha, não querem.
Agora, está aí a obra de Deus Todo Poderoso imbuído de exacerbada generosidade. Deus Omnipresente. Deus que ouve preces dos mais humilhados. Deus que ajuda as suas criaturas.
Está aí a resposta de Deus O Beneficente, O Misericordioso. Deus Benfeitor. Enviou os seus anjinhos, uns meninos fardados de azul feito agentes da lei e ordem. Enviou sobre a terra dos fiéis os seus servos inocentes e imaculados. Espalhou sobre a terra do povo sofrido uns agentes mais baixinhos que a sua própria arma, mais leves que o seu próprio casquete, mais magros que o seu próprio chamboco. Gajos que precisam de andaime para subirem no seu próprio Mahindra. Gajos que fazem equipas de 4 para dispararem uma A-Kapa-47. Gajos que precisam de grua para darem uma coronhada. Gajos que precisam de tomar balanço tipo Ronaldo para chutarem alguém. Gajos que precisam de adjudicar serviços para lançamento de gás lacrimogéneo. Gajos que compram fardamento da Pep.
Hoje podemos fazer as nossas greves a vontade. Já não serão aqueles latagões com cara de Hulk. Já podemos bater nossas 'Impalas' numa wella. Quando Mahindra chegar, os agentes vão precisar da nossa ajuda para saírem do carro. Já podemos conduzir bêbados. Só vão nos pedir megas de 20 ou, no máximo, um Fizz. Quando te pedirem Danone, aí já estás muito encrencado, primo.
As nossas preces foram ouvidas. Já que a Polícia não nos defende, então, pelo menos, que sejam pequeninos. Mas, como nós somos confusos e nem sabemos o que queremos, estamos a reclamar também. Um povo que não enxerga bênçãos a meio-palmo do seu nariz. Ó povo complicado!
- Co'licença!
Achei melhor que eu escrevesse em duas palavras a Rodália da minha imaginação. A própria não conheço, a não ser pela perfurante Wansati, música que pega na mulher por inteiro e transforma-a na ferramenta da vida. Ouvi pela primeira vez este tema numa madrugada e senti a alma toda da cantora envolvida naquilo que eu considero ser um trabalho de antologia. Por tudo. Pela letra, pela composição, e sobretudo pelo engajamento dela na interpretação. É como se todas as mulheres do chão estivessem amalgamadas no seu sentimento.
Da Rodália nunca ouvi nada antes, nem o nome. E ao aparecer no mostruário da arte desta forma, surpreendeu-me como uma dinamite que explode sem obedecer ao rastilho, é assustador. Mas não importa o que possa vir depois de Wansati, mesmo que não haja mais montanhas para subir. Ela está topo, aliás é alí, ao que parece, onde tudo começou. E agora só lhe resta cingir o lombo para lá se manter, ciente de todos os vendavais porque a partir de agora, será julgada em função dessa música profundamente comovente, cantada com toda a dor e esperança.
A Rodália da minha imaginação já percebeu com certeza que do topo onde se encontra, pode voltar a oscilação, e passar a viver entre os cumes e os sopés, mas ela não tem medo. Nem sequer pensa nisso porque há uma grande luz no seu horizonte, e é nessa luz que ela se concentra. Rodália é mulher de sete costados, preparada para remover as pedras todas do caminho, usando as suas próprias picaretas. É por isso que ficou chocada perante a oferta de uma casa provavelmente nunca sonhada.
Wansati é capaz que esteja a colocar a Rodália completamente nua, no sentido de que essa wansati é ela mesma. Porque só nua é que podemos captar a guerreira que está por dentro, capaz de regressar a lama e recomeçar. Wansati simboliza a coragem de vestir outras roupas e criar novas searas, com obstinação e fé. Então é aí onde coloco a Rodália da minha imaginação, uma mulher tenaz que nasceu para cantar.
Comunicando numa mistura de português, inglês e provavelmente o xiswati ou zulu, não sei bem, Rodália descomplexa-se nas mesas de júri e veste a linguagem rústica nunca disfarçada. Ela parece ter medo de julgar, então prefere rejubilar quando os outros reverberam, sem no entanto esconder a vontade de saltar da cadeira e invadir o palco para viver e deixar tudo por conta das emoções.
É esta a Rodália da minha imaginação. Se calhar igual a própria. Não sei!