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terça-feira, 24 setembro 2019 06:43

Mortes assombram campanha eleitoral

Os políticos moçambicanos opinam que a campanha eleitoral é um momento de festa, mas a presente tem sido tudo menos festa. Ela já provocou mais de 30 mortos. Grande parte das mortes resultam de acidentes aparatosos  de  violência eleitoral, o que significa elas podiam ter sido evitadas.

 

Dez pessoas morreram pisoteadas após um comício no dia 11 de Setembro, em Nampula. O passado fim de semana também foi trágico: mais militantes e simpatizantes morreram num  acidente de viação em Songo, Tete, a regressar de um outro comício - é verdade que até aqui os acidentes limitaram a bater as portas da Frelimo, mas isso pode acontecer com qualquer outro partido.    

 

Antes do início da campanha, a PRM anunciou que estava pronta para garantir a segurança durante o processo eleitoral. Daí que, se perguntar não ofende, como é que a corporaçao tem estado a  garantir a segurança dos membros, simpatizantes e seguidores dos partidos políticos nas campanhas?

 

Tenho em mim que a tarefa de garantir a segurança e protecção dos membros, simpatizantes e seguidores dos partidos políticos não é apenas da PRM. Sendo que, como é que os partidos políticos organizam a sua logística de protecção e segurança? Ou será que o fazem na perspectiva de apenas garantir a protecção e segurança dos seus líderes?

 

De todas as formas, tanto a PRM como os partidos políticos devem  nos dizer como é que a protecção e segurança dos seus membros, simpatizantes e seguidores  é feita. Os políticos não devem pensar em apenas encher os recintos onde vão realizar comícios. Devem também saber como controlar as multidões. Devem também garantir o transporte dos membros e simpatizantes com toda a segurança necessária.

 

Todos os que organizam eventos sabem que existe uma série de requisitos a se ter em conta, relacionados com a seguranca dos presentes, sejam os oradores/artistas/ ou o publico/particantes.  Temos visto a  polícia a acompanhar as marchas e passeatas no sentido de garantir o cumprimento dos mesmos requisitos. Sabe-se que há entradas/saídas em caso de emergência.  No caso dos camiões, sabe-se que não estão apropriados para transporte de pessoas, dai o Estado ter criado o infame My Love II.

 

Mas mais do que isso, essas mortes todas parecem simptomáticas de um Estado onde a vida e dignidade humana são precárias. Precariedade implica viver socialmente, isto é, o facto de que a vida humana está sempre nas mãos de uma outra; implica uma dependência em relação à pesoas conhecidas e desconhecidas, e principalmente, ao Estado. O que quer dizer que é responsabilidade do Estado, dos partidos políticos, garantir a segurança e protecção das pessoas sob sua guarrida.

 

Sendo que, dizer que uma vida é precária, o que é verdade para a maioria dos moçambicanos, é dizer que a possibilidade dela ser sustentada depende fundamentalmente em condições sociais e políticas. Que políticas de protecção e segurança da vida humana existem no país?

 

Por isso, não podemos continuar a medir palavras. Há que assacar responsabilidades. Não me simpatizo com o discurso de pacto de sangue que está a dar de falar nas redes sociais. Esse discurso tem o condão de isentar quem de dever de qualquer responsabilidade nessas mortes evitáveis. Por exemplo, quem foi que fez transportar pessoas de cerca de 150 quilometros do local do comício? Quem era o motorista e para quem trabalhava? De quem é a responsabilidade moral e social de garantir que os mortos tenham funerais condignos, que os feridos tenham tratamento condigno, de que as famílias enlutadas sejam recompensadas devidamente?

 

 Enquanto humanos entramos num contrato com o Estado de modo a garantir-nos protecção. Neste sentido, como é que o Estado deve agir para garantir que os direitos dos cidadãos que pereceram e ficaram feridos nesses trágicos acidentes sejam ressarcidos? O que a Procuradoria Geral da República está a fazer? Já intentou algum processo com vista a criminalização dos envolvidos? Para onde se dirigem as famílias enlutadas e os feridos para serem ressarcidas?

 

Acidente é acidente, dirão alguns. Mas enquanto humanos temos que nos preparar ao máximo para os evitarmos, minimizar os seus danos, e assacarmos responsabilidades junto dos culpados. Para já, devíamos ter vergonha de descrevermos as nossas campanhas eleitorais como momento de festa. Outrossim, até prova em contrário são um momento de dor e luto.

terça-feira, 24 setembro 2019 06:34

Não tomarás em vão o nome de Afonso Dhlakama

Parece que está na moda, ultimamente, invocar a memória de Afonso Dhlakama para justificar os fracassos e a desorganização dentro do partido RENAMO. As zangas de comadres na RENAMO terminam com desabafos que encontram no nome de Dhlakama um calmante.

 

O mais estranho é que as pessoas que hoje "desenterram" o general Afonso Dhlakama são figuras proeminentes do partido, até familiares, que muitas vezes tinham oportunidade de privar com ele ainda vivo. São pessoas que tiveram oportunidades soberbas de ouvir, na primeira pessoa e "in loco", os conselhos e a sabedoria do malogrado. São pessoas que hoje deviam estar a exibir muita inteligência herdada do general.

 

De certeza que Afonso Dhlakama terá dito em algum momento que, um dia, ele iria partir para o eterno repouso. E deve ter dito, com certeza, que depois que ele partir os seus familiares que militam na RENAMO serão vistos como simples membros e militantes como tantos outros que se encontram neste vasto Moçambique e fora. Certamente que terá dito que a RENAMO não era uma empresa familiar.

 

Quero eu acreditar que Afonso Dhlakama terá dito aos seus militantes mais próximos, e principalmente aos seus familiares, que a vida era um festival de hipocrisia. Que a vida estava cheia de falsos amigos. Que as pessoas só são leais quando ainda se respira.

 

Afonso Dhlakama era um exímio estratega militar. É certo que ele sabia que nem todos RENAMISTAS eram, de facto, leais à filosofia do partido. Ele sabia que, para uns, o que contava eram os dinheiros e as mordomias que recebiam do partido. Ele sabia - aliás, até dizia vivamente - que na RENAMO haviam gajos que o queriam acotovelar para abocanharem o partido com suas próprias filosofias.

 

Então, fico sem perceber as lamurias que tenho estado a ouvir hoje sobre pessoas que têm vergonha de pronunciar o nome de Afonso Dhlakama. Fico sem entender quando membros influentes da RENAMO dizem "se fosse com Dhlakama, isto não iria acontecer", "se Dhlakama estivesse vivo, não iriam fazer isso connosco", etecetera, etecetera, etecetera.

 

Afinal, essas pessoas não beberam nada de Dhlakama? Não era suposto estarem hoje a dizer "Dhlakama nos ensinou assim" ou "Dhlakama fazia as coisas assim"? Não era suposto o Nhongo ser gerido como Dhlakama o geria? Então, Dhlakama "dele" que dizem que era um grande líder não deixou ensinamentos? Foi-se com toda a sua sabedoria?

 

Se em plena campanha eleitoral já se chamam cobras e lagartos, imagina então, quando ganharem as eleições e terem que formar um governo? Não vão nascer outros Nhongos e Juntas?

 

Invocar hoje a memória de Afonso Dhlakama é pura cobardia. Deixem o general desfrutar do seu mais do que merecido descanso! Se a RENAMO desaparecer, não será por sua culpa. Ele já fez o que devia fazer. Se não passaram apontamentos dos seus ensinamentos, é por culpa vossa. Deixem o velhote curtir a sua eternidade na paz do Senhor! Deixem Dhlakama usufruir o que nunca lhe demos em vida: descanso! Lutem, se esganem, se piquem no olho, se furem os rins, mas não tomem o nome de Afonso Macacho Marceta Dhlakama nas vossas brigas. Não pronunciem em vão o seu nome. Não mencionem o líder nas vossas lamurias.

- Co'licença! 

segunda-feira, 23 setembro 2019 12:45

Samora e Eu

Tenho medo dos meses de Setembro e de Outubro. Temo que Samora Machel, o saudoso 1º presidente da pérola do índico, venha à minha casa e como sempre a altas horas. Da última vez em que bateu a minha porta foi no dia 19 de Outubro de 2016, data da sua partida em 1986. Abaixo uma transcrição considerável (e com alguns arranjos) de um texto (“a propósito de mais um 19 de Outubro”) que publiquei num dos semanários da praça. Depois volto aos meus temores.   

 

“Dia 19 de Outubro de 2016!De dez em dez anos, Samora Machel bate a minha porta. O som da batida é já do meu domínio, embora desta vez fosse menos sonoro, mas mais incisivo. Abro! Samora esboça um sorriso diferente, enquanto entra e caminha militarmente pela casa. Faço um compasso de espera e fecho lentamente a porta. Feito o reconhecimento, Samora conclui que estou só. Vou ao encontro dele para a saudação e, já próximo, ignora-me. Entre rodopios e assobios, vai andando pela casa dentro. Era a terceira visita de Samora. Bem ao estilo da ofensiva política e organizacional.

 

Isto está nublado. Penso. O que terá acontecido desde a última visita há dez anos (2006)? Pergunto aos meus botões. Silêncio total. Decido que o melhor é sentar e relaxar ao som das melodias revolucionárias e do sapateado das botas russas, calculo. De rompante, Samora interrompe a orquestra e com o indicador em riste pergunta:

 

 - Então! O Livro?

 

- Que livro? Respondo, dissimulando que não me lembrava.

 

Nessa última visita, a segunda, tinha-lhe prometido que escreveria finalmente o livro, retratando a “nossa amizade” com o título “Samora e Eu”, cujo prefácio (na verdade um postufácio) seria escrito por ele, conforme ficou combinado. Passam já dez anos.

 

A primeira visita (1996) foi depois de eu ter participado numa palestra ou algo semelhante orientada pela viúva (de Samora) Graça Machel, no Sindicato Nacional dos Jornalistas. Nesse dia, já madrugada, Samora encontrou-me a escrever os primeiros rabiscos, inspirado na palestra e num texto (redacção/composição) que escrevi num teste de língua portuguesa, anos antes, em que o mote tinha sido um artigo publicado, salvo erro, no jornal electrónico media-fax. No artigo, o autor referia-se a Samora como um homem amado por uns e odiado por outros.

 

A conversa foi tanta e prolongou-se até ao amanhecer. Confessei os 11 anos da “nossa amizade”. Na verdade, narrei factos e momentos vivenciados ou acompanhados por mim durante o seu consulado, desde o primeiro dia em que o avistei até ao dia em que me zanguei e cortei unilateralmente a amizade, observando uma trégua no período da sua morte. No livro de condolências, recordo-me de ter registado: Samora. Para os amigos, o amigo. Para os inimigos, o inimigo!

 

Na despedida, já com o sol a raiar, ocasião em que brindamos o reatamento da “nossa amizade”, Samora pediu que eu acrescentasse aos factos as minhas reflexões e pensamentos de forma imparcial. O desafio estava lançado. Acredito que esse desafio não seja só para mim e tão pouco para os que privaram directamente com Samora quer no seu dia-a-dia, quer no processo de libertação e governação do país.

 

-O Livro? Insiste Samora. E com um olhar de quem diz “daqui não saio, daqui ninguém me tira”, anota que no lugar de visitas periódicas de década em década, estará de olho todos os dias.” (fim da transcrição)

 

Por “ de olhos todos os dias” entendi que ele não iria esperar mais dez anos (2026) para voltar a bater a minha porta (a altas horas) e exigir o livro. Feliz ou infelizmente Samora ainda não me visitou desde o “encontro” de 19 de Outubro de 2016. Presumo que esteja ocupado com dossiers dos últimos desenvolvimentos do país. O facto de ele não ter vindo foi óptimo para mim, pois ainda não tenho o Livro ou algo que se pareça. E já passam dois anos. 

 

Hoje é dia 22 de Setembro. Dentro de seis, sete dias será a data do seu 86º aniversário natalício. Temo que ele venha por estes dias. Sinais não faltam. Tenho ouvido passos nocturnos com a cadência típica dos de Samora Machel. Se não for por estes dias de Setembro ainda resta o mês de Outubro que está à porta.

 

Já é madrugada. Estou diante do computador. Na secretaria o manuscrito - já com cor de ganga de caqui - em que repousam as primeiras notas, escritas na altura da primeira visita. Um trecho do manuscrito diz: “o que sinto por ele (Samora Machel) é uma miscelânea de amizade e animosidade. Em conversa com amigos uma vezes defendo-o e outras ataca-o veementemente”.

 

Seja como for tenho que apresentar alguma coisa caso ele apareça. Enquanto cogito, cochilo em busca de inspiração. Em seguida um silêncio. Um frio na barriga. De repente oiço a porta a bater de forma insistente. Será Samora Machel?

Para começar...

 

O presente comentário constitui a nossa percepção em torno do que os partidos acima mencionados dispõem nos seus manifestos políticos para os jovens moçambicanos. A nossa leitura baseia-se no que está escrito em cada documento analisado, não sendo assim nenhum estudo aprofundado. Por questões de equilíbrio metodológico, escolhemos os três partidos pelo facto destes estarem a concorrer para as eleições presidenciais, mesmo que não nos tenha chegado o manifesto político do partido AMUSI. Num cenário próximo, ficamos com a tarefa de fazer uma leitura que agregue somente os partidos que concorrem para a eleição legislativa, e sem assento parlamentar.

 

Entendemos ser importante esse exercício dado o facto de recorrentemente se colocar o debate em torno da(s) juventude(s) como central no discurso político nacional, mesmo que em dado momento da história esses mesmos jovens tivessem sido chamados a “seiva da nação” (Samora Machel, 1977), e noutro foram tidos como potenciais “vendedores da pátria” (Hama Thai, 2008). Aliás, os três partidos que serão alvo de análise, demostram o seu condão político-juvenil através da criação da Organização da Juventude Moçambicana (OJM) para o caso da Frelimo, e das Ligas Juvenis para os casos do MDM e da Renamo.

 

Importa esclarecer que a colocação do termo juventude no plural representa, para nós, a dúvida teórica quando procuramos buscar um consenso. De facto, não conseguimos definir o que seria juventude(s), sendo o mesmo polissémico e socialmente ambíguo. Pensamos ser problemático falar de juventude moçambicana, razão pela qual propomos o seu uso no plural por considerar a multiplicidade na sua concepção sócio-cultural, biológica, política e económica.

 

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FRELIMO

 

Num total de 100 páginas, é na secção 3.1.4 (Título: Juventude – página 47) que o partido Frelimo trata da(s) juventude(s), na qual afirma: “A FRELIMO reconhece o dinamismo, perseverança, e espírito de liderança que sempre caracterizaram a juventude em todos os processos históricos que culminaram com transformações políticas e sociais profundas no País. O compromisso da FRELIMO em relação à empregabilidade e ao trabalho, a habitação, a promoção de pequenas e médias iniciativas empresariais, o aumento da produção e produtividade, a promoção da educação e a formação profissional tem como principal grupo alvo os jovens Moçambicanos.

 

Assim, a FRELIMO vai:

 

“Promover o associativismo juvenil, como um mecanismo de diálogo com as lideranças e de acesso às várias oportunidades de desenvolvimento; Promover iniciativas que contribuam para o fortalecimento do associativismo juvenil, com destaque para as iniciativas colectivas empreendedoras, para tornar os jovens actores cada vez mais preponderantes no combate a pobreza; Desenvolver programas e acções que contribuam para a materialização da Política da Juventude e demais instrumentos orientadores para o desenvolvimento da Juventude; Facilitar o acesso dos jovens à terra infra-estruturada, habitação condigna com crédito em condições concessionais de prazo e juro, bem como aos recursos de que o País dispõe;  Promover medidas que incentivem as iniciativas dos jovens, que concorram para o fomento de actividades geradoras; de rendimento e, para o desenvolvimento da economia nacional do País; Estimular a criação de iniciativas que incentivem a participação dos jovens nos processos de planificação e implementação de programas de desenvolvimento; Estimular nos jovens o respeito pelos direitos humanos, valores morais e éticos, o espírito patriótico e o sentido de justiça social e de género; Promover a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes e jovens e hábitos de vida saudável”.

 

Pela contagem feita, a palavra JUVENTUDE surge 5 vezes no manifesto do partido Frelimo.

 

MDM

 

54 páginas prefazem o manifesto do MDM, sendo que destas o assunto sobre a(s) juventude(s) surge na 46a página  (Título: Juventude, secção 4.11), na qual é referido que: “O MDM vê na Juventude a grande esperança de um Moçambique novo e para todos. A Juventude será o eixo inspirador e condutor da acção governativa do MDM. A Juventude será a prioridade do governo do MDM. Para o fortalecimento da juventude moçambicana, o MDM compromete-se, como sua grande prioridade para este grupo social, criar Postos de trabalho, Serviço de Acção Social Escolar e destinar parte do PIB para financiar o Programa Nacional de Habitação para a juventude. A participação e apropriação do processo do desenvolvimento por parte dos jovens vai merecer do Governo o maior empenho, como forma de reforçar e aprofundar a participação dos jovens e, como via privilegiada de assegurar patamares mais elevados de desenvolvimento económico e social”.

 

Para tal o governo do MDM irá ainda, entre outras coisas:

 

“Promover acções que estimulem o espírito empreendedor nos jovens de modo a envolverem-se activamente nos processos de desenvolvimento do país, adquirindo e aplicando habilidades que os tornem cidadãos produtivos e desenvolvam as capacidades de gestão e liderança; x Estimular através de uma educação sólida e continuada, o desenvolvimento de uma geração mais qualificada, melhor preparada, mais solidária e mais participativa; x Criar o Serviço de Acção Social Escolar em todas as Instituições Públicas e ou Privadas do Ensino Superior de modo a assegurar a igualdade de acesso ao Ensino superior por parte dos estudantes carenciados oferecendo maiores oportunidades de bolsas de Estudos; x Administrar durante o serviço militar cursos profissionalizantes nos ramos militares e outros de modo a conferir aos jovens um sentido de maior oportunidade e utilidade, tanto na iniciação de formação profissional como em apoios de natureza social e outros da sua vida particular; x Fortalecer a Juventude, implementando o Sistema Nacional de Políticas para a Juventude. Criando condições para uma maior autonomia e independência ideológica em estrito respeito e cumprimento da Constituição da República; Ampliar e consolidar as políticas de juventude, articulando em estrito cumprimento com o definido na Constituição da República;  Introduzir programas de divulgação da importância de se frequentar o ensino médio, técnico profissional e de artes e ofícios (...)”.

 

No manifesto do MDM, a palavra JUVENTUDE foi escrita 13 vezes.

 

RENAMO

 

São 44 páginas que compõem o manifesto do partido Renamo, e do mesmo a palavra JUVENTUDE foi escrita 4 vezes. Na página 23, (Título: A Juventude, secção 4.1.5), a Renamo diz que: “A intervenção das políticas públicas, no âmbito da juventude, deve ter como objectivos a promoção do emprego e a inclusão social dos jovens”.

 

Mais adiante, na página 24, o partido adianta que: “O Governo da RENAMO vai:

 

  •  Promover o acesso ao emprego.
  •  Instituir linhas de crédito de habitação bonificado para jovens ao primeiro emprego;
  •  Aprovar política de crédito favorável à aquisição ou construção de casa própria;
  •  Conceder bolsas de estudos por mérito a jovens”.

 

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O nosso comentário geral:

 

Colocados os três partidos, encontramos entre semelhanças, alguma ambiguidade do que chamamos no início deste comentário juventude(s) moçambicana(s). A forma como todos os partidos tratam os jovens – a partir de um conjunto com necessidades iguais – nos remete ao pensamento segundo o qual não há categorias sociais, culturais, políticas ou mesmo económicas do ser jovem em Moçambique, o que consideramos metologicamente errôneo.

 

Por um lado, dos documentos lidos apenas os partidos Frelimo e MDM apresentam a data de concepção ou aprovação dos respectivos manifestos políticos, sendo Julho para Frelimo e Maio para MDM.

 

Por outro lado, o elencar de problemas identificados por estes partidos como os que afligem os jovens, pode ser visto como uma estratégia que oculta, em grande medida, a potencialidade que se pretende encontrar nos jovens enquanto auto-didactas e donos do seu próprio caminho. Ou seja, os três manifestos são, na sua essência, um conjunto de soluções para problemas que consideram ser dos jovens, mesmo que em nenhum momento se explique como conseguiram determinar entre problema e não problema.

 

Contudo, notamos diferença no cuidado e uso dos termos para referir a intenção de cada partido, sendo que nesse quesito os partidos Frelimo e MDM surgem a usar de forma variada alguns termos que nos fazem entender que existe alguma intenção em colocar nos jovens a responsabilidade destes tomarem as rédeas do seu próprio desenvolvimento.

 

A Renamo apresenta, como vimos acima, quatro destaques nos quais vai intervir no tocante aos jovens, o que em comparação com os partidos Frelimo (oito promessas) e MDM (dezoito promessas) há uma larga diferença da quantidade textual e explicação das acções que se pretendem realizar, mesmo entendendo que a análise vai para além da quantidade das promessas.

 

Constatamos ainda que dos três partidos, apenas a Frelimo intercala as suas acções com fotografias, sendo que na secção da(s) juventude(s) fê-lo com uma foto que, pelo que se pode entender, representa duas jovens.

 

Mais ainda, entendemos que tornou-se recorrente a colocação do emprego e da habitação como centrais e necessários “problemas” a resolver quando se fala dos jovens. Talvez sim, mas talvez não. Aliás, não nos parece que estes dois elementos devam ser tratados de forma universal para a(s) juventude(s) em Moçambique. Não consideramos que esses sejam os “problemas primários” dos jovens em Moçambique, pois pensamos que não existe clareza na identificação de tais “problemas” numa dimensão de género, idade ou mesmo situação social.

 

Por fim, entendemos que continua polissémico caracterizar os jovens a partir de uma perspectiva biológica, ou por outra, faixa etária (18 aos 35 anos, por exemplo), sobretudo num contexto regional, continental ou mesmo mundial em que não existe consensos sobre a fórmula baseada na faixa etária.

 

*Os manifestos foram de acesso electrónico, sendo que copiamos taxactivamente o que cada partido político refere na secção sobre a(s) juventude(s), com excepção do partido do MDM que por opção tivemos que fazer um recorte na segunda página, dado o facto de se apresentar como demasiado extenso.

 

Ver os manifestos analisados em https://cipeleicoes.org/documentos/

sexta-feira, 20 setembro 2019 07:14

Somos puros moralistas convencionais

Se a violência, a chamada xenofobia, que está a acontecer na vizinha África do Sul - em que os donos da terra matam estrangeiros - é veementemente condenável, imagina, então, esta nossa "irmãofobia" - em que irmão mata irmão por causa da cor partidária! Se incendiar loja é um acto vil, imagina, então, casa - onde se vive... onde se dorme! 
 
 
O que vale a pena: matar por causa da fome ou matar por causa do partido? Alguma coisa vale a pena!? 
 
 
Não sei se temos alguma moral de condenarmos a xenofobia. Se temos, não sei até que nível. Tudo o que se pode dizer é que a nossa indignação é convencional. Indignação de ocasião. As vezes para inglês ver. 
 
 
Enquanto tentamos entender os incêndios de Cabo Delgado, vêm os de Quelimane, os de Gaza, os de Manica, os de Sofala, os de Tete, os de Nampula, os de etecetera. Enquanto apelidamos uns de insurgentes ou Al-Shabab, outros são simpatizantes ou militantes. Então, "vale a pena" os vizinhos que são xenófobos. 
 
 
Existe alguma explicação para isso!? Até parece que o tal dia 15 de Outubro é último dia das nossas vidas. Esquecemo-nos que depois virão outros quinzes de outros Outubros e outros de não-de-Outubros. Esquecemo-nos que virão outros quinzes de outros Outubros, dias de aniversário da mana Veró, do tio Sualei, da cunha Lili, da vó Saquina, do vizinho Amisse, que pereceram nas sinzas das suas habitações de pau-à-pique algures. Esquecemo-nos que virá o 16 de Outubro, o dia em que todos vamos celebrar o embarque do Chang. Todos abraçados como irmãos porque o Chang é de todos nós. 
 
 
Não sei se ainda temos moral suficiente para nos indignarmos, ou nos indignamos a toa. 
 
 
- Co'licença!
quarta-feira, 18 setembro 2019 06:23

Roubar em inglês

Agora já estou a ficar muito preocupado com a qualidade dos nossos gatunos. Parece que não sabem roubar quando estão a nos representar no estrangeiro. Pode ser impressão minha, mas parece que os gatunos que enviamos como diplomatas não sabem roubar em inglês. 

 

Está provado que fora do país os nossos gatunos não roubam bem. Temos gatunos condenados por terem surrupiado oito milhões de meticais. Ahhhhh!!! Kê-kê-isso?! Mas você ir à Rússia para roubar oito paus mesmo!? Hummmmm!!! Precisa viajar para conseguir isso!? Precisa sentir tanto frio para ter isso na conta!? Aquela dos Estados Unidos só encaixou 440 mil euros e foi presa. Isso é quanto alguns concidadãos conseguiram só por serem amigos dos gatunos. 

 

Excelências, estão-anús-envergonhar. Parem com isso! Malta Chang encaixaram milhões de dólares andando nestas avenidas e respirando o mesmo ar que nós. Malta Cetina também. 

 

Organizem-se, Excelências! Ir ao estrangeiro para roubar meia-dúzia de milhões de Meticais num quinquénio é manchar o nome do país. Não é isso que ensinamos. Isso põe em causa a nossa imagem e podemos cair no "ranking". O país não pode investir e depositar a sua confiança em alguém que não tem competência para roubar moçambicanamente. Xê!!! Até o puto Nhangus, que nem é diplomata, nos representaria melhor no estrangeiro. Até uma secretária particular mostrou competência. 

 

Definitivamente, para os nossos gatunos, no estrangeiro não é para roubar, é só para ser preso. Não está a ser fácil roubar em inglês. Um curso de inglês para diplomatas-gatunos é urgente. Deve-se ensinar como se faz "vai um" em inglês. Não basta saber "gudi-moning", "hau-are-yu" e "ai-emi-faini", tem que saber também "it-iz-goingui-uani-in-mai-poket" (para quem não sabia, é assim que se diz 'vai um' em inglês). 

 

Urge purificar as fileiras. Não podemos continuar com gatunos burros na nossa diplomacia. Um embaixador que não sabe subtrair no idioma do país em que vive não val'apena. O embaixador é o nosso legítimo representante no estrangeiro e tem que zelar pelo bom nome do país. As suas acções são patrioticamente representativas. Um diplomata que se preze sabe roubar em inglês. 

 

- Co'licença!