Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Blog

quarta-feira, 12 junho 2019 07:04

Somos nós que NÃO-PODEMOS!

- Ahhh, porque Dinho parou de cantar de repente sem dar explicações enquanto nós ainda gostavamos das suas músicas; 

 

- Ahhh, porque Dinho deu um espetáculo no pavilhão da Maxaquene e não ficou cheio por causa do preço alto do bilhete; 

 

- Ahhh, porque Dinho fez um vídeo-clip com a camisa desabotoada e calções curtos na praia; 

 

- Ahhh, porque Dinho é desafinado; 

 

- Ahhh, porque Dinho fez um vídeo-clip nas dunas;

 

- Ahhh, porque nos vídeos de Dinho apareciam mulheres semi-nuas; 

 

- Ahhh, porque quando Dinho ganhou disco de platina não veio agradecer publicamente; 

 

- Ahhh, porque Dinho não conseguiu gerir a sua própria "leibol";

 

- Ahhh, porque Dinho abriu uma loja de roupa de grife que não dá lucro; 

 

- Ahhh, porque Dinho teve problemas com a Neyma, a nossa diva da marrabenta, e não pediu desculpas publicamente; 

 

- Ahhh, porque Dinho nunca apareceu no "feicibuki" a defender uma ideia, a participar duma manifestação ou campanha de limpeza; 

 

- Ahhh, porque Dinho e PODEMOS não têm expressão; 

 

- Ahhh, porque Dinho etecetera; 

 

- Porque etecetera e; 

 

- Etecetera. 

 

POR ISSO MESMO, quem deve se candidatar é o "Indivíduo-Quê", aquele do relatório codificado da Kroll.

 

- Ai sim?! Mas por quê? 

 

- Ahhh, porque esse tem capital político. 

 

O problema não é o Dinho-Eks-Esse. O problema somos nós que pensamos que PODEMOS mudar sem fazer diferente. Não é o Dinho que precisa de capital político para se candidatar, somos nós que precisamos desse famigerado "capital político" para sermos cidadãos. Somos nós que NÃO-PODEMOS!

 

- Co'licença!

 

 

Relativamente a notícia publicada pelo vosso jornal, na edição da segunda-feira (10 de Junho), segundo a qual ”Funcionários denunciam apartheid na Universidade Joaquim Chissano”, analisando profundamente os argumentos ali arrolados e, com devido respeito por opinião contrária, partilho o seguinte entendimento. Fica mais uma vez provado que, o que esta em causa, na naquela Instituição Pública de Ensino Superior, não tem que ver, nem com a falta de capacidade para dirigir a Universidade Joaquim Chissano, de forma “sábia e humilde” e, nem com falta de “capacidade de liderança”, por parte do  Reitor, Professor Doutor José Magode, como se pretende transluzir. Não precisa de inteligência destacada para ver que, as justificações apresentadas, são vazias, infundadas e subversivas à ciência. Elas não são academicamente éticas. Ora vejamos:

 

  1. Introduzir novos cursos num país e contar com docentes estrangeiros na coordenação científica (sempre que não haja capacidade nacional) é normal, aceitável e desejável numa instituição nova (que transita de Instituto Superior para Universidade), sobretudo quando os cursos são ministrado na perspectiva de capacitação institucional, (para que futuramente, a instituição venha a oferecer os mesmos cursos de forma autónoma).  Numa instituição pública de Ensino Superior, não creio que seja desejável advogar que, novos cursos, na sua fase embrionária e, sobretudo contando com professores estrangeiros, devem a prior gerar receitas/lucros. Não se trata de negócio. Trata-se de formar graduados com capacidade de dar resposta às necessidades das instituições moçambicanas.
  2. Relativamente as escolhas para os cargos de direcção e, atribuição de bolsas, um Reitor, percebendo que, a instituição que dirige, precisa de planificadores de verdade, aqueles que terão a certeza e o arrojo de que, empenhados, a instituição será mais próspera e não andará entre avanços e recuos, tem as suas “liberdades” na escolha conforme critérios de conveniência, oportunidade e justiça, próprios da autoridade.
  3. Como académicos de longa estrada (tal como sugere a carta), não devia parecer constituir novidade para os contestatários que, o Presidente da República de Moçambique, goza do poder discricionário, de nomear, “quem quer que seja”, para o cargo de Reitor, de uma Universidade Pública, não ignorando, naturalmente, os limites estabelecidos em lei. Portanto, na nomeação do Reitor e Vice-Reitor, respectivamente, daquela Universidade, o Presidente, não tinha a obrigação de consultar, nada, aos autores da referida missiva.
  4. Igualmente, não há problema nem ilegalidade, em que um Reitor leccione em todos os graus académicos da instituição que dirige, sempre que não falte capacidade intelectual para tal.  É muito bom que o Reitor leccione a todos os níveis (Licenciatura, Mestrado e Doutoramento). Assim, o Reitor mantém um permanente contacto, com os estudantes, e tem uma fotografia geral da qualidade e realidade académica, dos cursos, na instituição que sabiamente dirige.
terça-feira, 11 junho 2019 09:33

E se Dinho fosse filho de Chipande?!

Estamos a viver num país de apelidos. Todos nós já fomos mapeados. Existem apelidos destinados a serem empresários ("de sucesso") e políticos e outros amaldiçoados a serem pobres para toda a vida. Há uma nova linhagem de apelidos sortudos a serem puxa-sacos. 

 

O problema de Dinho-Eks-Esse foi ter levado à política nacional um apelido estranho: Mendonça. Ou seja, o problema não é o Dinho. O problema somos nós. Nascemos assim. Fomos formatados a colocar cada apelido no seu ramo e Mendonça não é para a política. 

 

Um Mendonça não é presidenciavel. Presidenciavel é Machel. É Machungo. É Chissano. É Guebuza. É Mucumbi. É Sumbana. É Pachinuapa. Não é por acaso que somos estrangeiros no nosso próprio país. É que não somos os donos disto. Os donos são os presidenciaveis congênitos. Os que já nasceram com capital político. Os que podem fazer e desfazer a seu bel-prazer. Os que podem roubar e andar impunes. Os que podem ficar ricos sem motivo. 

 

Seriamente falando, se Dinho-Eks-Esse fosse filho de Chipande não receberia tantas farpas. Se a notícia fosse "Dinho já se inscreveu no curso de canto e afinação vocal do professor Mahel" íamos dizer que era o esperado. É normal! Infelizmente, a democracia ainda tem um longo caminho por aqui. 

- Co'licença!

terça-feira, 11 junho 2019 05:46

A fasquia de Guebuza é muito alta

Em 2005  publiquei no jornal “Notícias” um artigo em que entrevistava o escritor Daniel da Costa, o qual mostrava sérias dúvidas quanto as metas de governação  traçadas por Armando Guebuza, então Presidente da República. Da Costa dizia taxativamente isso: a fasquia de Armando Guebuza é muito alta. Porque, no seu entender, as promessas que fazia eram demasiadas para serem cumpridas.  Algumas delas eram irreais. E eu, atento, não fiz mais nada senão  “puxar” as palavras do meu interlocutor e usá-las como título, sem a certeza de que “aquilo” passaria após o crivo dos chefes de Redacção e do próprio director editorial.

 

Depois de entregar ao meu chefe  o texto da entrevista, fui para casa esperar. Ansioso em que amanhecesse para ler o jornal e ver se “eles” terão “mexido” na minha prosa. E o mais provável, nas minhas contas, é que o título – pelo menos o título -  fosse rejeitado. Tanto mais que o “Notícias” representa uma espécie de porta-voz oficioso do governo. Portanto, se passasse seria um milagre. Mas o que eu próprio não sabia, é que já estava escrito que naquele dia iria celebrar  a publicação de um dos melhores textos que escrevi no jornal Notícias durante sete anos. Intensos.

 

Cheguei à Redacção muito satisfeito porque já me tinham trelefonado a informar que o artigo saíu com aquele título. Tremi  porque eu era a ponte que transmitia os pensamentos de um homem com visão. Porém o que eu ignorava é que para “esfaquear” a minha alegria, muito grande, estava o director editorial à minha espera. Arfando. Quer dizer, das hostes do Partido Frelimo tinha chegado uma chamada telefónica a perguntar como é  que se tinha deixado passar aquele título. O director entrou em pânico. Em desespero porque “aquilo” poderia lhe custar o “tacho”. Talvez pior do que isso.

 

Mandou-me chamar ao seu gabinete  logo que soube da minha presença na Redacção. Fui tranquilo, e logo à entrada, sem quaisquer cerimónias, recebeu-me com um palavreado baixo: você está a “mexer com as minhas partes mais sensíveis”. E eu fiquei sem saber quais eram as tais  “partes mais sensíveis” a que ele se referia. Não me deixou sentar, muito menos permitiu-me o uso da palavra. Levantou-se várias vezes da cadeira com vontade de me “grampear”, mas  eu amedrontei-lhe com a minha serenidade.

 

Escorraçou-me como se eu fosse um canino, vadio, mas antes de eu cumprir as suas ordens, mostrei-lhe um sorriso de desprezo, e dei-lhe costas. Nenhum dos chefes de Redacção – eram dois -, nem sub-chefes de Redacção – também eram dois – perceberam que o título que eu colocara no meu artigo era tão elevado e sério e verdadeiro, que poderia provocar tremores imprevisíveis dentro do Partido Frelimo, com consequências para aqueles que foram colocados para dirigir o jornal com muita atenção.

 

Fartei-me de rir depois de ter saído do gabinete do director. E nesse dia tive motivos mais do que suficientes para comemorar com os meus amigos, alguns deles dentro da própria Redacção. Aliás, são eles que hoje abordam-me, com gozo, passados quase quinze anos, para dizer que eu tinha razão. Que a profecia de Daniel da Costa era de uma pessoa que vê longe, encavalitado nos ombros da própria sabedoria. Quer dizer, Guebuza prometeu-nos içar muitas bandeiras à bem de todos, e hoje, se lhe exigirmos os resultados de tudo que falou nos seus discursos, vai ter, com certeza, algumas dificuldades para nos apresentar.

segunda-feira, 10 junho 2019 06:33

O dossiê da paz demanda Roberto Carlos*

O processo da paz em Moçambique – em prelo mais um acordo até ao próximo mês de Agosto - é um dossiê que me trás à memória (i) um pronunciamento de Samora Machel, primeiro presidente da República de Moçambique, salvo erro na recepção do Corpo Diplomático por ocasião das festas de um fim de ano na década 80; e (ii) um depoimento de uma cidadã brasileira de cinquenta anos, em 2009, falando à media, nas celebrações do quinquagésimo aniversário de carreira de Roberto Carlos (RC), o rei da música brasileira.  

 

Samora Machel, no seu discurso, debruçando sobre a guerra que assolava o país, disse: “com os Bandidos Armados só o diálogo das armas”. Uma mensagem - que em tempos de esperança pelo novo ano – não foi, certamente, das melhores para um povo que se encontrava exausto com o tipo de diálogo sentenciado. Felizmente, uns tempos depois, a abordagem de hostilização - que era mútua entre os antagonistas - foi alterada por uma de proximidade, resultando no Acordo Geral de Paz (AGP), em 1992, embora, desde então, o acordo passe por constante inquirição em cada pleito eleitoral.  

 

A cidadã brasileira referiu que RC é parte da sua família havia quatro gerações. Ela contou que os pais começaram a namorar e casaram ao som da música de RC. No dia em que a mãe se preparava para ir ter o parto, ouvia, na rádio, RC. O mesmo aconteceu com ela: casou com o namorado e RC foi o “culpado” desde o início. Ela engravidou (não me recordo que tenha culpado o suspeito de sempre) e com a mãe, a caminho da maternidade - para o nascimento da filha e neta, respectivamente – no táxi que as levava, tocava RC. A depoente terminou, contando que nos cinquenta anos de carreira de RC, a neta - igualmente com ligações aos versos do rei – já era mãe e ela, uma felicíssima bisavó. 

 

Em 2042, pressinto o depoimento de um casal de moçambicanos, numa reunião de alto nível das Nações Unidas por ocasião dos 50 anos do AGP (aproveite e confira qual será/seria a sua idade), em mais um esforço da Comunidade Internacional pela paz e reconciliação nacional no país. Um extracto: 

 

“Somos moçambicanos e ambos com 67 anos. Nascemos em 1975, ano da independência do país, conquistada depois de 10 anos de guerra colonial (…). No dia 4 de Outubro de 1992, nasceu a nossa primeira filha. Nesta data foi assinado, aqui em Roma, e nesta mesma sala, o AGP que pós fim a uma guerra de 16 anos. E volvidos 22 anos, foi assinado o Acordo de Cessação de Hostilidades (o que se esperava que fosse o da Paz Efectiva) e na data, 5 de Setembro de 2014, nasceu o nosso primeiro neto. Passados cinco anos, em 2019, veio ao mundo o nosso segundo neto, exactamente no dia de mais um acordo, o da Paz Definitiva (…)”. 

 

Agora, cada um de nós pode continuar a intervenção. Eu rezo para que o casal não tenha que continuar nos termos que se seguem: 

 

“Caríssimos representantes dos povos do mundo. Depois da assinatura da Paz Definitiva (2019) foram, sucessivamente, assinados a Paz Verdadeira (2024), a Paz Real (2029), o AGP II (2034), a Paz Realmente Efectiva (2039) e hoje, 04 de Outubro de 2042, Bodas de Ouro do AGP I, no lugar da celebração, o início de mais uma acção para um outro acordo, o da Paz Realmente Definitiva, antes das eleições de 2044”  

 

No “show” comemorativo das cinco décadas de carreira, no Estádio Maracanã, as quatro gerações da família da brasileira se encantaram ao ouvirem o rei – ao vivo e a cores – a cantar as músicas dos indeléveis momentos de amor, paz e felicidade. Infelizmente, os anos e as gerações da independência do país se resumem dentro do quadro da lógica do “diálogo das armas” e do intercalado e intricado “diálogo dos acordos de paz”. Este, nem por isso bélico, mas tão exausto quanto o primeiro.  

 

O que tudo o que foi dito tem a ver com o título deste texto? É simples. Temo que o dossiê da paz em Moçambique – um dossiê inacabado (e por encadernar e arquivar) – se arraste, nas mesmas condições, por mais quatro ou mais gerações de moçambicanos. Por uma mudança – da actual situação sombria para uma de amor, paz e felicidade – urge (e apelo) a magia das canções de Roberto Carlos no processo de pacificação e reconciliação nacional. 

 

A findar, realmente a findar, creio que um bom ponto de partida, “à nossa e numa boa maneira”, passa por colocar os antagonistas do eterno diálogo - um para o outro e olhos nos olhos - a cantarem o clássico de Roberto Carlos: Como é grande o meu amor por você! 

Completamente embrenhado na sua pré-campanha eleitoral, esquivando-se na figura de Presidente da República, Filipe Nyusi deu, há dias, um ar de pouca graça, mostrando o quão está completamente desfocado quando se mete a falar sobre corrupção. Foi em Mapai, nas profundezas de Gaza. O Presidente disse que tinha uma lista de médicos e enfermeiros envolvidos em corrupção. E ameaçou: vamos perseguir!

 

Assim mesmo, o candidato da Frelimo, que é o actual Presidente da República, tem a vontade de fazer-se de Polícia. Com a corrupção desenfreada – virou modo de vida a todos os níveis – Nyusi parece não ter armas nem visão sobre como abordar o fenómeno. Ao invés de incentivar o trabalho das entidades do Estado que devem prevenir e repelir a corrupção, ele decidiu exibir seu dedo persecutório, como quem quer implantar um Estado policial contra os funcionários públicos de baixo escalão.

 

Mas foi sempre assim. O Presidente Nyusi quando tenta falar sobre corrupção cai, facilmente, numa retórica desastrada, desfocada. Seu consulado nunca esboçou uma ideia sólida de reforma anti-corrupção. Com Joaquim Chissano, o aparato institucional foi melhorado com o estabelecimento da Unidade Anti-Corrupção (UAC), depois transformada no actual Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC).

 

Com Armando Guebuza tivemos uma substancial melhoria do quadro regulatório, com o estabelecimento da Lei da Probidade Pública. Com Nyusi, é legítimo dizer que nada andou. Nenhuma reforma foi feita. As evidências do saque ao bem público ficaram expostas com o calote da dívida oculta e, nos últimos anos, seu Governo fez tudo para proteger os prevaricadores, não fosse a prisão de Manuel Chang por ordens da justiça americana. E a reacção penal não anda; ou anda a passo de camaleão e, na maioria das vezes, com sinais claros de violação de preceitos legais e de garantias constitucionais dos cidadãos.

 

Em Mapai, Filipe Nyusi mostrou como está equivocado, completamente sem norte quando aborda a corrupção. Por exemplo, disse que distinguir pequena da grande corrupção era uma falácia. Que tudo era igual. Pior, ele declarou que a corrupção que mais afecta as classes baixas da sociedade era a corrupção do enfermeiro, do médico da maternidade, do funcionário da migração, que cobra para emitir passaportes. Ou seja, a pequena corrupção. Eis o desfoco total do Presidente. Ele está mesmo precisando de umas pequenas aulas sobre probidade e ética na esfera pública.

 

A distinção entre pequena e grande corrupção é uma distinção operacional. Ajuda na análise ao fenómeno e na busca dos remédios para a sua cura. Misturar tudo no mesmo saco só serve a quem não quer tocar na ferida e insiste em olhar a corrupção apenas como o mal perpetrado por funcionários públicos. É o que faz Filipe Nyusi.

 

Em Mapai, ele recusa a distinção, mas acaba falando apenas da pequena corrupção, e é isso que convém à Frelimo, um partido afinal mergulhado na grande corrupção. É fácil apontar o dedo aos médicos e aos enfermeiros que falar do efeito nefasto das “dívidas ocultas”, contraídas pela elite do regime. É fácil dizer que a pequena corrupção é mais prejudicial para as classes baixas, pois isso evita que se toque na ferida profunda que a crise causada pelo endividamento ilegal causou na maioria das famílias moçambicanas.

 

A escolha da corrupção do funcionário público como alvo parece ser uma artimanha para Filipe Nyusi esconder a vergonha que são os negócios públicos deste país, controlados por lobistas sem dó nem piedade, que ganham milhões traficando influências, intrometendo-se no grande procurement público e vendendo ao Governo, grosso modo, muitos serviços que não passam de gato por lebre, degradando a qualidade das instituições do Estado. Adivinhem quem, recentemente, forneceu a máquina de Radioterapia que Filipe Nyusi inaugurou, a 28 de Março, no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo. Adivinhem!

 

Para a população de Mapai é melhor falar no funcionário da migração que atrasa com o passaporte quando a emissão do documento de viagem (e dos BIs) está refém de uma gang que conseguira um contrato (ilegal e ilegítimo) com o Estado para oferecer um serviço de soberania. (Tal como no passado, o Estado ofereceu a inspecção não intrusiva a uma empresa privada, participada pela holding da Frelimo, a SPI, há poucos anos oferecemos a produção de BIs e Passaportes a uma empresa estrangeira, de conduta suspeita, chamada Semlex, belga.

 

Agora que essa gang foi empurrada para fora do negócio (por outra gang ligada a uma família do topo em Moçambique) eis que a geringonça dos BIs e Passaportes já não anda. Na fábrica, quando os técnicos da Malbauher, a nova concessionária, tentam imprimir o BI biométrico e novos passaportes sai tudo branco. O pior é a alegação de que afinal toda a base de dados com nossos dados de identificação está depositada em servidores fora do país, tudo refém da Semlex, zangada por seu contrato ter terminado.

 

Ou seja, toda a máquina de produção de BIs e passaportes está emperrada em Maputo, num gigantesco emaranhado de corrupção protagonizado por agentes de colarinho branco bem conectados na hierarquia do poder e o Presidente sabe disso. Mas em Mapai, Nyusi prefere lançar para a fogueira o pobre funcionário público da Migração.

 

Ao evitar a distinção entre pequena e grande corrupção (mas focando seu discurso na pequena corrupção), Nyusi mostra como o programa da Frelimo não visa mudar as coisas. Como é que Filipe Nyusi insiste na perseguição dos médicos que trabalham nos distritos, como seu grande cavalo de batalha contra a corrupção, quando nos últimos anos as evidências mostram que as finanças públicas estão a saque em montantes astronómicos e ele nada diz sobre isso?

 

Todos os dias são publicados na imprensa anúncios de adjudicação de bens e serviços ao Estado que são de arrepiar. O mais recente que nos chegou às mãos tinha tanto de ridículo como de arrogante. A contratação de empresa de hortícolas em Chimoio (15 milhões de Meticais) era adjudicada a uma papelaria. Como este, são vários os anúncios mostrando como o bem público está a saque em Moçambique. E o assunto já tem barbas. A reforma do procurement público, com o apoio dos doadores nos anos 2000, acabou sendo um grande fracasso. A lei até pode ser boa, mas a prática é perversa. Se Nyusi mandasse recortar todos os anúncios de adjudicação claramente manipulados teria consigo uma lista fecunda de casos a perseguir, representando vários milhões de USD.

 

As evidências da manipulação do procurement são tão patentes que leva a estranhar o silêncio do Governo sobre o assunto. Nunca nenhum governante saiu à rua mostrando sua contrariedade. Todos os ministros aprovam a roubalheira em curso. Seu silêncio é tão gritante que até dá para suspeitar se essas adjudicações rocambolescas não envolvem a canalização de uma taxa de corrupção para o partido Frelimo. Em ano eleitoral, pode ser provável que a Frelimo se vá financiar nesse lamaçal de improbidade.

 

Ouvir o Presidente Nyusi falando sobre corrupção em Mapai foi penoso. Revelou-se um homem sem ideias e sem orientação. Com a campanha eleitoral à porta é de esperar que o Presidente seja mais assertivo e apresente ideias claras sobre o que vai fazer para controlar a corrupção. A sociedade moçambicana precisa de um programa claro para lidar com o fenómeno. A prisão dalguns peixes-graúdos já não é suficiente para nos convencerem de supostas boas intenções. Falta um élan programático com reformas tangíveis mas que exigem coragem. X