Azagaia fez política com “P” maiúsculo. Sem se meter na politiquice barata. Não foi moço de recados nem do governo, nem da oposição. Questionou na sua arte a imoralidade da elite e disse que não havia muita diferença entre os diferentes partidos: um acesso privilegiado à mesma panela. Ele escapou do estereotipo de quem fala porque alguém mandou falar.
A maioria dos nossos cantores produzem vídeo-clipes que repetem o mesmo apelo quase obsceno: em redor de uma casa de luxo, com piscina de luxo, com carros de luxo e uma dúzia de meninas rodopiando como borboletas à volta da exibição do luxo. A televisão e as redes sociais reproduzem essa empobrecedora mensagem até ao infinito. Essa mensagem é um elogio à ganância, é uma agressão às mulheres e é um insulto à pobreza. A pergunta é simples: em que país essas cenas são filmadas? Que convite de vida fácil se esconde nestes vídeos, onde é que mora esse fausto num país que não tem dinheiro para pagar os seus salários? Que ideia de felicidade se transmite quando se sugere que, para se ser feliz, é preciso viver na mais ostensiva luxúria?
Nos seus vídeos, Azagaia escolheu cantar um país de verdade, este Moçambique em que a maioria anda a contar dinheiro para entrar num “chapa”. Essa é a verdade da sua arte. Esta é a sua fidelidade para com a grande maioria dos jovens do seu país.
Um dos argumentos usados pelos seus detratores foi que ele não era um moçambicano “autêntico”. Tinha um pai cabo-verdiano e isso, para esses seus inimigos, era uma espécie de pecado original. Azagaia era mais moçambicano do que todos os outros que se reclamam patriotas, mas enriquecem à custa do bem público do seu próprio país.
O antigo negociador-chefe da Renamo nas conversações sobre a paz no país, em Roma, apresentou finalmente as suas cartas credenciais ao governo do Vaticano, assumindo, assim, efectivamente, a sua posição de embaixador extraordinário e plenipotenciário de Moçambique junto da Santa Sé, posição para a qual foi nomeado em Julho do ano passado.
Foi, de alguma forma, surpreendente a nomeação do antigo "número dois” do partido de Afonso Dhlakama. Tirando Benjamim Pequenino, que foi destacado a dirigir os Correios de Moçambique até Fevereiro de 2006, muito pouquíssimas figuras da oposição foram convidados pelo nosso governo do dia desde a independência nacional, para gerirem instituições públicas moçambicanas.
Somente em Fevereiro de 2019 é que voltaríamos a ter figuras da Renamo a serem nomeados para posições nas instituições do Estado; como é sabido, tal decorreu de entendimentos militares, concretamente, da implementação do memorando de entendimento sobre assuntos militares, no âmbito das negociações de paz então em curso. Nos princípios desse mês, o então ministro da Defesa, Atanásio Ntumuke, nomearia três oficiais da Renamo para sensíveis funções de Director do Departamento de Operações, Director do Departamento de Informações Militares e Director do Departamento de Comunicações no Estado-maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Nos finais do mesmo mês de Fevereiro, teríamos também o então chefe do Estado Maior, Lázaro Menete, a nomear outros onze oficiais da Renamo para ocuparem cargos de chefia no Exército. Foi assim que tivemos batalhões de infantarias a serem comandados por oficiais vindos da Renamo; repartições de Pessoal do Ramo de Exército; de Artilharia Antiaérea; Educação Cívica Patriótica; a serem geridos pelos “outros”; e até chefes de Estados-Maiores de brigadas a serem liderados por pessoal da Renamo.
Com efeito, a indicação de Raul Domingos é bem-vinda! Muitas palmas para o Chefe de Estado. Quando se fala de reconciliação nacional, inclusão, falamos também de gestos como estes: a indicação de figuras que reúnem os atributos, competências e saberes que necessitamos para certas posições de Estado e/ou na gestão de instituições públicas, independentemente das suas cores ou crenças partidárias. Moçambique precisa de todos nós. O desenvolvimento, o crescimento e a solidificação do nosso Estado requerem uma atroz conjugação de esforços, de saberes, conhecimentos, sacrifícios, entrega e de engajamentos permanentes. É uma ventura que requer a priorização dos interesses nacionais acima de todos os demais, daí que não deva ser problema, muito menos algo que seja encarado com reservas, o ir buscar-se uma figura do rank da oposição para o preenchimento de uma posição. O princípio deve ser a competência, saber, conhecimento, capacidade e obra. Não sei se continua a fazer sentido ter no governo e à frente de instituições públicas pessoas que não falem inglês pelo menos, estando nós na região onde estamos e com interesses que prosseguimos. Só perdemos muito com isso.
Desejável é que identifiquemos mais Rauis Domingos que possam representar bem o país, terem um bom desempenho, serem úteis para a sua “pátria amada”, como esperamos que o ex-número dois da Renamo e agora presidente do PDD o seja, independentemente de pertencer a “outras” instituições.
Há dias, acredito que mais pela sua indicação para embaixador no Vaticano, Domingos concedeu uma grande entrevista a uma estação televisiva privada nacional. Como sempre, com revelações atrás de revelações. Não restam quaisquer dúvidas, Raul Domingos detém um saber importante e considerável sobre a história pós-independência do nosso país! Pudesse um historiador sério sentar com ele e extrair parte substancial do conhecimento que este cidadão possui e registar para a eternidade. Ou simplesmente ajudar-lhe a rabiscar as suas memórias, se é que o está a fazer!
Uma das revelações na última entrevista foi aquela de que um dos proeminentes colaboradores da Renamo na cidade de Maputo nos momentos mais intensos da guerra dos 16 anos foi o grande locutor da Rádio Moçambique (Emissor Inter-Provincial de Maputo e Gaza), Vieira Manala, já falecido, que Deus o tenha. Segundo Domingos, o famoso Manala, que tinha o cognome de Búfalo, é que era o responsável pela distribuição de panfletos da Renamo na cidade de Maputo!...
Grande revelação esta! O Vieira Manala está no coração de milhões de moçambicanos ao sul do Save e não só! Grande locutor! Grande relator desportivo em Changana/tonga! Grande jornalista. Muitos desses milhões estariam longe de imaginar que o seu ídolo fosse colaborador da… Renamo! Pena é que esta revelação Raul Domingo a faz na ausência do visado, que poderia comentar, condimentar e dar mais subsídios. Daí eu não ter a certeza se esta revelação é de boa fé ou não.
Fora isto, Raul Domingos é um nome a ter em conta na História de Moçambique!
ME Mabunda
Notabilizou-se em Inhambane como árbitro quando o futebol aqui era de outra jaez. Não se tornava necessário mobilizar as pessoas a abarrotarem os campos, a própria qualidade dos jogadores encarregava-se disso. Mas também Faduco entra em cena numa época em que alinhavam os últimos atletas de um turbilhão de ouro onde pontificavam verdadeiros elegidos, e que podem não ter seguido outros ventos se calhar por capricho do destino. São vários nomes que, mesmo jogando sem grandes pretensões, destilavam todo o talento que merecia maior valorização e reconhecimento.
José Faduco é um património cujo nome urge preservar, não se pode negar isso, por tudo o que ele fez enfrentando torcedores descontrolados e jogadores que podiam insurgir-se contra o árbitro com ameaças de violência. Durante a sua carreira foi obrigado várias vezes a sair do campo sob escolta policial para se evitar o pior. Noutras vezes teve que se valer da sua capacidade atlética para fugir. Sozinho, e depois acolhido e protegido em casas vizinhas como foi aquando de um jogo realizado na Maxixe entre o Nova Aliança e a Associação Desportiva de Pemba, na década de 80.
Hoje o homem já não pode dar o seu contributo por limite de idade, todavia nunca abandonou completamente o futebol, sendo agora membro do Conselho Nacional do Desporto em reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo de anos. Faduco é uma pessoa aberta, predisposta a conversar sobre as várias nuances desportivas e apesar de estar na idade de ouro dos idosos, ainda procura ambientes para uma cavaqueira, trazendo memórias construídas nos campos e fora deles.
Em tempos perguntavamos-lhe se não se sentia triste por até aqui não ter sido homenageado pelo percurso que fez, Faduco disse que não, não se sente triste. “A minha alegria é encontrar na rua gente que me reconhece e me saúda como alguém que verteu um pouco do seu sangue nos campos de futebol para que houvesse euforia e entusiamo nas pessoas. Há outros ainda que, vendo-me na varanda da minha casa, páram e cumprimentam-me de forma particular. Essa é a maior homenagem que posso receber”.
O ex-árbitro diz ainda que há colegas seus que foram muito melhores que ele e que nunca foram homeganeados. “Porquê que eu devo reclamar?” O que reconforta José Faduco é olhar para trás e sentir que fez alguma coisa pelo futebol, embora hoje olhe com tristeza para aquilo que está a acontecer. “O nosso futebol baixou muito de qualidade, não sei o quê que está a acontecer. Acho que não há motivação”.
Na verdade há pouca gente que tem ido aos campos. Aliás, desde que o “Dineu” rebentou com o muro do Clube Ferroviário de Inhambane, todo aquele monumento histórico tornou-se um mamarracho. No campo de Muelé não acontecem muitas coisas com nível e isso entristece profundamente José Faduco, que olha com frustração para este declínio.
Num convívio em que participava, o anfitrião se orgulhava de ter aprendido a nadar na piscina de uma das escolas primárias denominadas por “Unidades”, nos arredores da capital do país, ora com as piscinas soterradas.
Fora o orgulho de saber nadar, o anfitrião ainda falou da grandeza do projecto - uma herança colonial – sobretudo da ligação escola-desporto-comunidade no desenvolvimento do aluno. No final deixou claro de que ele não era um saudosista do colonialismo, mas que quanto ao projecto das “Unidades” ele tirava o chapéu.
Entre os convivas um tratou de lembrar ao anfitrião de que a ideia por base das piscinas das “Unidades” fora resultado das ilações das cheias de 1966. Explicou que o objectivo era o de evitar ou o de minimizar mortes nas inundações seguintes quer por haver pessoas que já soubessem nadar, quer na ajuda destes aos que não soubessem.
Esta conversava desenrolara a propósito das recentes inundações em Boane. Falo do processo de busca e salvamentos, particularmente da participação, nas missões de salvamento, de actuais e ex-nadadores provenientes de clubes e outras agremiações sociais da capital. Quiçá no seio destes existam os que aprenderam a nadar nas “Unidades”.
Trago a terreiro a conversa por conta de uma preocupação que ficara no ar durante a conversa: na estratégia do Governo para o enfrentamento das calamidades naturais, sobretudo de inundações, não se vislumbra a aposta na construção de piscinas em escolas que se encontram em áreas com potencial de alagamento.
No mesmo diapasão uma outra aposta seria a construção resiliente de pavilhões desportivos, salões para convívio, entre outros, em recintos escolares dessas áreas, que em momentos de inundações seriam as infraestruturas a serem usadas como pontos seguros de encontro para evacuação e/ou centros de acomodação.
Oxalá, para terminar, de que desta vez seja diferente. Tão diferente que a criança recém-nascida em Boane, que fora salva por uma equipa de resgate onde pontificavam nadadores, possa um dia contar com orgulho que aprendera a nadar e desenvolvera outras capacidades graças ao “Projecto Freddy” (nome do ciclone que fustiga a nossa costa).
Notabilizou-se em Inhambane como árbitro quando o futebol aqui era de outra jaez. Não se tornava necessário mobilizar as pessoas a abarrotarem os campos, a própria qualidade dos jogadores encarregava-se disso. Mas também Faduco entra em cena numa época em que alinhavam os últimos atletas de um turbilhão de ouro onde pontificavam verdadeiros elegidos, e que podem não ter seguido outros ventos se calhar por capricho do destino. São vários nomes que, mesmo jogando sem grandes pretensões, destilavam todo o talento que merecia maior valorização e reconhecimento.
José Faduco é um património cujo nome urge preservar, não se pode negar isso, por tudo o que ele fez enfrentando torcedores descontrolados e jogadores que podiam insurgir-se contra o árbitro com ameaças de violência. Durante a sua carreira foi obrigado várias vezes a sair do campo sob escolta policial para se evitar o pior. Noutras vezes teve que se valer da sua capacidade atlética para fugir. Sozinho, e depois acolhido e protegido em casas vizinhas como foi aquando de um jogo realizado na Maxixe entre o Nova Aliança e a Associação Desportiva de Pemba, na década de 80.
Hoje o homem já não pode dar o seu contributo por limite de idade, todavia nunca abandonou completamente o futebol, sendo agora membro do Conselho Nacional do Desporto em reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo de anos. Faduco é uma pessoa aberta, predisposta a conversar sobre as várias nuances desportivas e apesar de estar na idade de ouro dos idosos, ainda procura ambientes para uma cavaqueira, trazendo memórias construídas nos campos e fora deles.
Em tempos perguntavamos-lhe se não se sentia triste por até aqui não ter sido homenageado pelo percurso que fez, Faduco disse que não, não se sente triste. “A minha alegria é encontrar na rua gente que me reconhece e me saúda como alguém que verteu um pouco do seu sangue nos campos de futebol para que houvesse euforia e entusiamo nas pessoas. Há outros ainda que, vendo-me na varanda da minha casa, páram e cumprimentam-me de forma particular. Essa é a maior homenagem que posso receber”.
O ex-árbitro diz ainda que há colegas seus que foram muito melhores que ele e que nunca foram homeganeados. “Porquê que eu devo reclamar?” O que reconforta José Faduco é olhar para trás e sentir que fez alguma coisa pelo futebol, embora hoje olhe com tristeza para aquilo que está a acontecer. “O nosso futebol baixou muito de qualidade, não sei o quê que está a acontecer. Acho que não há motivação”.
Na verdade há pouca gente que tem ido aos campos. Aliás, desde que o “Dineu” rebentou com o muro do Clube Ferroviário de Inhambane, todo aquele monumento histórico tornou-se um mamarracho. No campo de Muelé não acontecem muitas coisas com nível e isso entristece profundamente José Faduco, que olha com frustração para este declínio.
Existem personalidades, dentro e fora do país, que se orgulham de terem recorrido, e com sucesso, a uma espécie de “Direito à Clandestinidade” – actuar (politicamente) fora da legalidade vigente – quando o espaço democrático fora limitado ou fechado.
Por conta da proposta da lei das “Organizações Sem Fins Lucrativos”, vulgo Organizações da Sociedade Civil, cujo conteúdo, segundo a crítica, estrangula o espaço de intervenção da Sociedade Civil, tenho pensando em personalidades nacionais ex-clandestinos, hoje parte da elite que governa ou que ainda dita as ordens neste país.
Não me encaixa que esta elite queira legalmente fechar o espaço democrático, sabendo, a prior, de que tal fomentaria a clandestinidade, um recurso de alguma eficácia pelo mundo fora.
Por outro lado, creio que a aprovação desta proposta não significa o óbito automático da sociedade civil. Esta, em meados da década passada, quando do aperto oficioso do espaço democrático, provou que não vacila e que encontra alternativas.
Nesse período tenso, e a título de exemplo, a participação em certas reuniões carecia de uma senha (código). Procedimento que em contexto similar de limitação democrática fora usado, na então Lourenço Marques, hoje Maputo, nas vésperas, e determinante, para a independência.
Especulo – para demover os que defendem esta proposta – de que os que inventaram a democracia nos moldes ocidentais que a conhecemos, seguramente que o fizeram, entre outros, para eliminar o recurso à clandestinidade para efeitos políticos e cívicos. Aliás, é mais fácil controlar o adversário em terreno aberto do que em fechado.
Por estas parcas razões tenho dúvidas de que a iniciativa primária desta proposta tenha sido da elite de que falei. Esta não me parece tão distraída a esse ponto. Porém, o que me parece, e típico dela, são apenas três simples palavrinhas: ela não lê!
De toda a maneira, fica a questão: a ser aprovada a actual proposta de lei das “Organizações Sem Fins Lucrativos”, nos moldes em que se apresenta e/ou na forma criticamente interpretada pela sociedade civil, não será um caminho para o “Direito à Clandestinidade”?
PS: Provavelmente esteja a pensar que mesmo em espaço democrático aberto haja quem, politicamente, recorra à clandestinidade para lograr os seus intentos. Não é desta que se aborda, pois esta é do fórum da má-fé ou simplesmente: batota!