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sexta-feira, 10 março 2023 13:39

Saudade de quem nunca partiu

mano azagaia

Azagaia fez política com “P” maiúsculo. Sem se meter na politiquice barata. Não foi moço de recados nem do governo, nem da oposição. Questionou na sua arte a imoralidade da elite e disse que não havia muita diferença entre os diferentes partidos: um acesso privilegiado à mesma panela. Ele escapou do estereotipo de quem fala porque alguém mandou falar.

 

A maioria dos nossos cantores produzem vídeo-clipes que repetem o mesmo apelo quase obsceno: em redor de uma casa de luxo, com piscina de luxo, com carros de luxo e uma dúzia de meninas rodopiando como borboletas à volta da exibição do luxo. A televisão e as redes sociais reproduzem essa empobrecedora mensagem até ao infinito. Essa mensagem é um elogio à ganância, é uma agressão às mulheres e é um insulto à pobreza. A pergunta é simples: em que país essas cenas são filmadas? Que convite de vida fácil se esconde nestes vídeos, onde é que mora esse fausto num país que não tem dinheiro para pagar os seus salários? Que ideia de felicidade se transmite quando se sugere que, para se ser feliz, é preciso viver na mais ostensiva luxúria?

 

Nos seus vídeos, Azagaia escolheu cantar um país de verdade, este Moçambique em que a maioria anda a contar dinheiro para entrar num “chapa”. Essa é a verdade da sua arte. Esta é a sua fidelidade para com a grande maioria dos jovens do seu país.

 

Um dos argumentos usados pelos seus detratores foi que ele não era um moçambicano “autêntico”. Tinha um pai cabo-verdiano e isso, para esses seus inimigos, era uma espécie de pecado original. Azagaia era mais moçambicano do que todos os outros que se reclamam patriotas, mas enriquecem à custa do bem público do seu próprio país.

quinta-feira, 09 março 2023 07:39

Raul Domingos

MoisesMabundaNova3333

O antigo negociador-chefe da Renamo nas conversações sobre a paz no país, em Roma, apresentou finalmente as suas cartas credenciais ao governo do Vaticano, assumindo, assim, efectivamente, a sua posição de embaixador extraordinário e plenipotenciário de Moçambique junto da Santa Sé, posição para a qual foi nomeado em Julho do ano passado.

 

Foi, de alguma forma, surpreendente a nomeação do antigo "número dois” do partido de Afonso Dhlakama. Tirando Benjamim Pequenino, que foi destacado a dirigir os Correios de Moçambique até Fevereiro de 2006, muito pouquíssimas figuras da oposição foram convidados pelo nosso governo do dia desde a independência nacional, para gerirem instituições públicas moçambicanas.

 

Somente em Fevereiro de 2019 é que voltaríamos a ter figuras da Renamo a serem nomeados para posições nas instituições do Estado; como é sabido, tal decorreu de entendimentos militares, concretamente, da implementação do memorando de entendimento sobre assuntos militares, no âmbito das negociações de paz então em curso. Nos princípios desse mês, o então ministro da Defesa, Atanásio Ntumuke, nomearia três oficiais da Renamo para sensíveis funções de Director do Departamento de Operações, Director do Departamento de Informações Militares e Director do Departamento de Comunicações no Estado-maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Nos finais do mesmo mês de Fevereiro, teríamos também o então chefe do Estado Maior, Lázaro Menete, a nomear outros onze oficiais da Renamo para ocuparem cargos de chefia no Exército. Foi assim que tivemos batalhões de infantarias a serem comandados por oficiais vindos da Renamo; repartições de Pessoal do Ramo de Exército; de Artilharia Antiaérea; Educação Cívica Patriótica; a serem geridos pelos “outros”; e até chefes de Estados-Maiores de brigadas a serem liderados por pessoal da Renamo. 

 

Com efeito, a indicação de Raul Domingos é bem-vinda! Muitas palmas para o Chefe de Estado. Quando se fala de reconciliação nacional, inclusão, falamos também de gestos como estes: a indicação de figuras que reúnem os atributos, competências e saberes que necessitamos para certas posições de Estado e/ou na gestão de instituições públicas, independentemente das suas cores ou crenças partidárias. Moçambique precisa de todos nós. O desenvolvimento, o crescimento e a solidificação do nosso Estado requerem uma atroz conjugação de esforços, de saberes, conhecimentos, sacrifícios, entrega e de engajamentos permanentes. É uma ventura que requer a priorização dos interesses nacionais acima de todos os demais, daí que não deva ser problema, muito menos algo que seja encarado com reservas, o ir buscar-se uma figura do rank da oposição para o preenchimento de uma posição. O princípio deve ser a competência, saber, conhecimento, capacidade e obra. Não sei se continua a fazer sentido ter no governo e à frente de instituições públicas pessoas que não falem inglês pelo menos, estando nós na região onde estamos e com interesses que prosseguimos. Só perdemos muito com isso.

 

Desejável é que identifiquemos mais Rauis Domingos que possam representar bem o país, terem um bom desempenho, serem úteis para a sua “pátria amada”, como esperamos que o ex-número dois da Renamo e agora presidente do PDD o seja, independentemente de pertencer a “outras” instituições. 

 

Há dias, acredito que mais pela sua indicação para embaixador no Vaticano, Domingos concedeu uma grande entrevista a uma estação televisiva privada nacional. Como sempre, com revelações atrás de revelações. Não restam quaisquer dúvidas, Raul Domingos detém um saber importante e considerável sobre a história pós-independência do nosso país! Pudesse um historiador sério sentar com ele e extrair parte substancial do conhecimento que este cidadão possui e registar para a eternidade. Ou simplesmente ajudar-lhe a rabiscar as suas memórias, se é que o está a fazer!

 

Uma das revelações na última entrevista foi aquela de que um dos proeminentes colaboradores da Renamo na cidade de Maputo nos momentos mais intensos da guerra dos 16 anos foi o grande locutor da Rádio Moçambique (Emissor Inter-Provincial de Maputo e Gaza), Vieira Manala, já falecido, que Deus o tenha. Segundo Domingos, o famoso Manala, que tinha o cognome de Búfalo, é que era o responsável pela distribuição de panfletos da Renamo na cidade de Maputo!...

 

Grande revelação esta! O Vieira Manala está no coração de milhões de moçambicanos ao sul do Save e não só! Grande locutor! Grande relator desportivo em Changana/tonga! Grande jornalista. Muitos desses milhões estariam longe de imaginar que o seu ídolo fosse colaborador da… Renamo! Pena é que esta revelação Raul Domingo a faz na ausência do visado, que poderia comentar, condimentar e dar mais subsídios. Daí eu não ter a certeza se esta revelação é de boa fé ou não.

 

Fora isto, Raul Domingos é um nome a ter em conta na História de Moçambique!

 

ME Mabunda   

terça-feira, 07 março 2023 09:31

José Faduco: a homenagem jamais reclamada

AlexandreChauqueNova

Notabilizou-se em Inhambane como árbitro  quando o futebol aqui era de outra jaez. Não se tornava necessário mobilizar as pessoas a abarrotarem os campos, a própria qualidade dos jogadores encarregava-se disso. Mas também Faduco entra em cena numa época em que alinhavam os últimos atletas de um turbilhão de ouro onde pontificavam verdadeiros elegidos, e que podem não ter seguido outros ventos se calhar por capricho do destino. São vários nomes que, mesmo jogando sem grandes pretensões, destilavam todo o talento que merecia maior valorização e reconhecimento.

 

José Faduco é um património cujo nome urge preservar, não se pode negar isso, por tudo o que ele fez enfrentando torcedores descontrolados e jogadores que podiam insurgir-se contra o árbitro com ameaças de violência. Durante a sua carreira foi obrigado várias vezes a sair do campo sob escolta policial para se evitar o pior. Noutras vezes teve que se valer da sua capacidade atlética para fugir. Sozinho, e depois acolhido e protegido em casas vizinhas  como foi aquando de um jogo realizado na Maxixe entre o Nova Aliança e a Associação Desportiva de Pemba, na década de 80.

 

Hoje o homem já não pode dar o seu contributo por limite de idade, todavia nunca abandonou completamente o futebol, sendo agora membro do Conselho Nacional do Desporto em reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo de anos. Faduco é uma pessoa aberta, predisposta a conversar sobre as várias nuances desportivas e apesar de estar na idade de ouro dos idosos, ainda procura ambientes para uma cavaqueira, trazendo memórias construídas nos campos e fora deles.

 

Em tempos perguntavamos-lhe se não se sentia triste por até aqui não ter sido homenageado pelo percurso que fez, Faduco disse que não, não se sente triste. “A minha alegria é encontrar na rua gente que me reconhece e me saúda como alguém que verteu um pouco do seu sangue nos campos de futebol para que houvesse euforia e entusiamo nas pessoas. Há outros ainda que, vendo-me na varanda da minha casa, páram e cumprimentam-me de forma particular.  Essa é a maior homenagem que posso receber”.

 

O ex-árbitro diz ainda que há colegas seus que foram muito melhores que ele e que nunca foram homeganeados. “Porquê que eu devo reclamar?” O que reconforta José Faduco é olhar para trás e sentir que fez alguma coisa pelo futebol, embora hoje olhe com tristeza para aquilo que está a acontecer. “O nosso futebol baixou muito de qualidade, não sei o quê que está a acontecer. Acho que não há motivação”.

 

Na verdade há pouca gente que tem ido aos campos. Aliás, desde que o “Dineu” rebentou com o muro do Clube Ferroviário de Inhambane, todo aquele monumento histórico tornou-se um mamarracho. No campo de Muelé não acontecem muitas coisas com nível e isso entristece profundamente José Faduco, que olha com frustração para este declínio.

terça-feira, 07 março 2023 08:13

Ilações de alagamentos e salvamentos

NandoMeneteNovo

Num convívio em que participava, o anfitrião se orgulhava de ter aprendido a nadar na piscina de uma das escolas primárias denominadas por “Unidades”, nos arredores da capital do país, ora com as piscinas soterradas.  

 

Fora o orgulho de saber nadar, o anfitrião ainda falou da grandeza do projecto - uma herança colonial – sobretudo da ligação escola-desporto-comunidade no desenvolvimento do aluno. No final deixou claro de que ele não era um saudosista do colonialismo, mas que quanto ao projecto das “Unidades” ele tirava o chapéu.

 

Entre os convivas um tratou de lembrar ao anfitrião de que a ideia por base das piscinas das “Unidades” fora resultado das ilações das cheias de 1966. Explicou que o objectivo era o de evitar ou o de minimizar mortes nas inundações seguintes quer por haver pessoas que já soubessem nadar, quer na ajuda destes aos que não soubessem.

 

Esta conversava desenrolara a propósito das recentes inundações em Boane. Falo do processo de busca e salvamentos, particularmente da participação, nas missões de salvamento, de actuais e ex-nadadores provenientes de clubes e outras agremiações sociais da capital. Quiçá no seio destes existam os que aprenderam a nadar nas “Unidades”.

 

Trago a terreiro a conversa por conta de uma preocupação que ficara no ar durante a conversa: na estratégia do Governo para o enfrentamento das calamidades naturais, sobretudo de inundações, não se vislumbra a aposta na construção de piscinas em escolas que se encontram em áreas com potencial de alagamento.

 

No mesmo diapasão uma outra aposta seria a construção resiliente de pavilhões desportivos, salões para convívio, entre outros, em recintos escolares dessas áreas, que em momentos de inundações seriam as infraestruturas a serem usadas como pontos seguros de encontro para evacuação e/ou centros de acomodação.

 

Oxalá, para terminar, de que desta vez seja diferente. Tão diferente que a criança recém-nascida em Boane, que fora salva por uma equipa de resgate onde pontificavam nadadores, possa um dia contar com orgulho que aprendera a nadar e desenvolvera outras capacidades graças ao “Projecto Freddy” (nome do ciclone que fustiga a nossa costa).

terça-feira, 07 março 2023 08:11

José Faduco: a homenagem jamais reclamada

AlexandreChauqueNova

Notabilizou-se em Inhambane como árbitro  quando o futebol aqui era de outra jaez. Não se tornava necessário mobilizar as pessoas a abarrotarem os campos, a própria qualidade dos jogadores encarregava-se disso. Mas também Faduco entra em cena numa época em que alinhavam os últimos atletas de um turbilhão de ouro onde pontificavam verdadeiros elegidos, e que podem não ter seguido outros ventos se calhar por capricho do destino. São vários nomes que, mesmo jogando sem grandes pretensões, destilavam todo o talento que merecia maior valorização e reconhecimento.

 

José Faduco é um património cujo nome urge preservar, não se pode negar isso, por tudo o que ele fez enfrentando torcedores descontrolados e jogadores que podiam insurgir-se contra o árbitro com ameaças de violência. Durante a sua carreira foi obrigado várias vezes a sair do campo sob escolta policial para se evitar o pior. Noutras vezes teve que se valer da sua capacidade atlética para fugir. Sozinho, e depois acolhido e protegido em casas vizinhas  como foi aquando de um jogo realizado na Maxixe entre o Nova Aliança e a Associação Desportiva de Pemba, na década de 80.

 

Hoje o homem já não pode dar o seu contributo por limite de idade, todavia nunca abandonou completamente o futebol, sendo agora membro do Conselho Nacional do Desporto em reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo de anos. Faduco é uma pessoa aberta, predisposta a conversar sobre as várias nuances desportivas e apesar de estar na idade de ouro dos idosos, ainda procura ambientes para uma cavaqueira, trazendo memórias construídas nos campos e fora deles.

 

Em tempos perguntavamos-lhe se não se sentia triste por até aqui não ter sido homenageado pelo percurso que fez, Faduco disse que não, não se sente triste. “A minha alegria é encontrar na rua gente que me reconhece e me saúda como alguém que verteu um pouco do seu sangue nos campos de futebol para que houvesse euforia e entusiamo nas pessoas. Há outros ainda que, vendo-me na varanda da minha casa, páram e cumprimentam-me de forma particular.  Essa é a maior homenagem que posso receber”.

 

O ex-árbitro diz ainda que há colegas seus que foram muito melhores que ele e que nunca foram homeganeados. “Porquê que eu devo reclamar?” O que reconforta José Faduco é olhar para trás e sentir que fez alguma coisa pelo futebol, embora hoje olhe com tristeza para aquilo que está a acontecer. “O nosso futebol baixou muito de qualidade, não sei o quê que está a acontecer. Acho que não há motivação”.

 

Na verdade há pouca gente que tem ido aos campos. Aliás, desde que o “Dineu” rebentou com o muro do Clube Ferroviário de Inhambane, todo aquele monumento histórico tornou-se um mamarracho. No campo de Muelé não acontecem muitas coisas com nível e isso entristece profundamente José Faduco, que olha com frustração para este declínio.

 

quinta-feira, 02 março 2023 07:32

Em prelo o “Direito à Clandestinidade”?

NandoMeneteNovo

Existem personalidades, dentro e fora do país, que se orgulham de terem recorrido, e com sucesso, a uma espécie de “Direito à Clandestinidade” – actuar (politicamente) fora da legalidade vigente – quando o espaço democrático fora limitado ou fechado.

 

Por conta da proposta da lei das “Organizações Sem Fins Lucrativos”, vulgo Organizações da Sociedade Civil, cujo conteúdo, segundo a crítica, estrangula o espaço de intervenção da Sociedade Civil, tenho pensando em personalidades nacionais ex-clandestinos, hoje parte da elite que governa ou que ainda dita as ordens neste país.

 

Não me encaixa que esta elite queira legalmente fechar o espaço democrático, sabendo, a prior, de que tal fomentaria a clandestinidade, um recurso de alguma eficácia pelo mundo fora.

 

Por outro lado, creio que a aprovação desta proposta não significa o óbito automático da sociedade civil. Esta, em meados da década passada, quando do aperto oficioso do espaço democrático, provou que não vacila e que encontra alternativas.

 

Nesse período tenso, e a título de exemplo, a participação em certas reuniões carecia de uma senha (código). Procedimento que em contexto similar de limitação democrática fora usado, na então Lourenço Marques, hoje Maputo, nas vésperas, e determinante, para a independência.

 

Especulo – para demover os que defendem esta proposta – de que os que inventaram a democracia nos moldes ocidentais que a conhecemos, seguramente que o fizeram, entre outros, para eliminar o recurso à clandestinidade para efeitos políticos e cívicos. Aliás, é mais fácil controlar o adversário em terreno aberto do que em fechado.

 

Por estas parcas razões tenho dúvidas de que a iniciativa primária desta proposta tenha sido da elite de que falei. Esta não me parece tão distraída a esse ponto. Porém, o que me parece, e típico dela, são apenas três simples palavrinhas: ela não lê!

 

De toda a maneira, fica a questão: a ser aprovada a actual proposta de lei das “Organizações Sem Fins Lucrativos”, nos moldes em que se apresenta e/ou na forma criticamente interpretada pela sociedade civil, não será um caminho para o “Direito à Clandestinidade”?

 

PS: Provavelmente esteja a pensar que mesmo em espaço democrático aberto haja quem, politicamente, recorra à clandestinidade para lograr os seus intentos. Não é desta que se aborda, pois esta é do fórum da má-fé ou simplesmente: batota!

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