O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) na província de Cabo Delgado anunciou esta quarta-feira (26), em conferência de imprensa na cidade de Pemba, a detenção de quatro indivíduos no passado dia 22 de Junho, na posse de 14 quilogramas de haxixe.
O porta-voz do SERNIC, Sumail Sabila, disse que os indivíduos, todos nacionais, foram capturados em flagrante delito, afirmando que já foi lavrado um auto e remetido ao Ministério Público para passos subsequentes.
Sabila acrescentou que o SERNIC tem estado a investigar os detidos há um mês, mas os indiciados ainda não revelaram a origem e destino da droga. Esta é a segunda apreensão que o SERNIC faz no presente ano.
Os acusados negam o seu envolvimento e dizem terem sido detidos injustamente. Um dos acusados explicou que apenas se viu a ser detido por agentes do SERNIC, numa altura em que estava com um amigo também detido. "Simplesmente falei com o dono do carro e peguei boleia. Pedi boleia por ser um amigo para me deixar na oficina", disse.
Outro acusado alegou que foi detido pelo SERNIC quando se aproximou para saber da razão da demora de devolução da sua viatura que tinha emprestado a um amigo.
"Sou mecânico, o moço deixou comigo, sempre reparo o carro dele e eu entreguei o número do dono do carro ao SERNIC. Eu não abri o carro, não tenho nada a ver com tráfico de drogas. É a pela primeira vez na minha vida que estou aqui", defendeu-se.
Até agora, o Serviço Nacional de Investigação Criminal e os detidos dizem não conhecer o proprietário da droga. (Carta)
O Governo moçambicano admite que o serviço da dívida representa uma "fonte de pressão" das contas públicas, mas prevê reduzir o 'stock' em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) para quase metade até 2027.
"Prevê-se uma tendência de redução do 'stock' da dívida pública para os próximos três anos em relação ao PIB, combinada com um saldo primário positivo, que continuará a fortalecer a posição financeira do país. Esta tendência reflete a política e a estratégia fiscal de médio prazo, que busca persistentemente superavits primários", lê-se no Cenário Fiscal de Médio Prazo (CFMP) até 2027.
De acordo com o documento, aprovado este mês em conselho de ministros e ao qual a agência Lusa teve acesso, o Governo admite que "apesar da tendência positiva de fortalecimento da posição fiscal do país", o serviço da dívida e das operações financeiras "continua a ser uma fonte de pressão em 2024".
"Prevê-se que permaneçam em níveis de pico até 2026", aponta, admitindo que 60% dos gastos "serão destinados à dívida interna e 40% à dívida externa".
Em 2026, o Governo moçambicano prevê um pico nas amortizações de dívida interna e externa no valor de 82.553 milhões de meticais (1.205 milhões de euros).
"Esta pressão é influenciada sobretudo pela maturidade e consequente reembolso integral ou parcelado do principal em títulos de obrigações do tesouro entre 2024 e 2026. No entanto, prevê-se que essa pressão comece a diminuir no médio prazo, à medida que se espera uma redução na necessidade de emissão de dívida pública interna para financiar os défices de tesouraria, promovendo uma gestão mais eficiente da dívida", lê-se.
Adicionalmente, acrescenta, o Governo "pretende priorizar" o uso de Títulos do Tesouro (OT), com prazos mais longos, em detrimento dos Bilhetes do Tesouro (BT), que são no máximo de um ano, "o que pode estender o perfil da dívida e reduzir os custos de refinanciamento".
"Com essas medidas, espera-se uma redução significativa na proporção da dívida pública interna em relação ao PIB até 2027, fortalecendo assim a posição financeira do país", refere o documento, reconhecendo que o serviço da dívida na componente externa "poderá manter-se estacionária até 2027, devendo registar um crescimento com o início das amortizações do Eurobond MOZAM".
Segundo o documento, o rácio de endividamento público "registou uma melhoria em 2023, caindo para 73,8% do PIB em comparação com os 78,6,% registados em 2022", redução que representa "um indicador positivo para a sustentabilidade fiscal do país, sugerindo que a economia está a crescer a uma taxa superior à do endividamento".
"O que fortalece a capacidade do Governo de honrar seus compromissos de dívida no longo prazo. Este rácio é composto por 73,8% de dívida do Governo Central e 2,9% de dívida do Setor Empresarial do Estado", refere.
Em 2027, o Governo espera reduzir o 'stock' da dívida pública para o rácio de 47,2% do PIB.
O Cenário Fiscal de Médio Prazo foi elaborado pelo Governo com o objetivo de "traduzir os objetivos estratégicos de desenvolvimento em projeções financeiras realistas e sustentáveis", fornecendo "uma base sólida para a tomada de decisões e a alocação eficiente de recursos".
"Ao projetar receitas e despesas públicas para os próximos três anos, pode-se identificar desafios financeiros e oportunidades de investimento que ajudarão a orientar políticas eficazes e a alocação eficiente de recursos".
O Governo estima, com medidas do lado da receita fiscal e do lado da despesa de funcionamento, gerar ganhos de 8.683 milhões de meticais (126,8 milhões de euros) em 2025, que sobem para 16.735 milhões de meticais (244,4 milhões de euros) no ano seguinte e para 21.617 milhões de meticais (315,6 milhões de euros) em 2027.(Lusa)
Depois de Victor Viandro, Presidente da Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia, ter pedido autorização para se responsabilizar pela cura de Venâncio Mondlane, agora é a vez de Geraldo Carvalho ameaçar “dar uma lição” ao ex-membro da Renamo por supostamente estar a mexer com as bases militares do maior partido da oposição.
A ameaça foi feita na manhã desta quarta-feira, momentos após a realização do sorteio para o posicionamento dos candidatos presidenciais no boletim de voto. Aos jornalistas, Carvalho disse que a Renamo não irá permitir “brincadeiras” de Venâncio Mondlane, candidato à Presidência da República, chamando-o de “um miúdo atrapalhado”.
“O número 3 [do boletim do voto, Venâncio Mondlane] é um atrapalhado, por isso, está aí e até faz de quem conhece os dossiers do DDR [Desarmamento, Desmobilização e Reintegração dos homens residuais da Renamo]. (…) Não vamos permitir brincadeiras, apesar desse miúdo andar aí a querer mexer com as bases militares e, com isso, ele vai apanhar uma lição, se brincar connosco”, ameaçou Carvalho, que foi colega de Venâncio Mondlane em dois partidos: primeiro, no MDM e depois na Renamo.
Questionado se a candidatura de Venâncio Mondlane representava alguma ameaça a Ossufo Momade e à Renamo, Geraldo Carvalho respondeu: “não olhamos como risco, é um miúdo que nós criamos. Está a beneficiar-se da luta da Renamo, acomodámo-lo na Renamo e agora quer concorrer”.
Refira-se que a ameaça de Geraldo Carvalho chega quase três meses depois da proferida por Victor Viandro que, na abertura da reunião do Conselho Nacional da Renamo, em Abril passado, pediu autorização para curar o então membro da “perdiz”.
“Queremos solicitar luz verde do Conselho Nacional e da direcção máxima do partido a autorização para nos responsabilizarmos por aqueles que andam nas televisões a insultar a liderança, confundindo a opinião pública com propaganda contra o próprio partido. Nós temos remédio para curá-los, se nos autorizar”, atirou, na altura, Viandro.
Alfredo Magumisse é maluco
Venâncio António Bila Mondlane não foi a única vítima de Geraldo Carvalho. Alfredo Magumisse, membro sénior da Renamo, foi outro visado. Carvalho classificou Magumisse de “maluco” por ter manifestado, publicamente, a sua preocupação em relação ao silêncio de Ossufo Momade desde a sua reeleição em Maio último.
“A nossa expectativa era que tanto o Presidente como a direcção começassem o seu trabalho de campo para divulgação dos membros dos órgãos eleitos e das decisões do Congresso. Isso ajudaria o partido a fazer a sua pré-campanha. Infelizmente, há um silêncio ensurdecedor, que torna o partido amorfo, acanhado e frágil. Este silêncio preocupa para quem quer tomar o poder. Desde que foi eleito, nunca voltou a fazer um «viva» em público”, defendeu Alfredo Magumisse, em conferência de imprensa concedida semana finda.
Para Geraldo Carvalho, “cada partido tem sua estratégia e cada casa tem os seus malucos”. Para ele, Alfredo Magumisse “sabe muito bem onde devia falar sobre isso”, porém, defende que “não estamos calados, estamos a trabalhar e nossa estratégia é nossa estratégia”. (Carta)
Dois anos depois da implementação da Tabela Salarial Única (TSU), ainda existem funcionários públicos que não estão enquadrados, afirma a Ministra da Administração Estatal e Função Pública, Ana Comoana.
A governante fez o anúncio na última segunda-feira em Maputo, à margem da cerimónia de recepção pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, de um grupo de funcionários e agentes do Estado para uma saudação no âmbito do Dia Internacional da Função Pública, que se assinalou no último domingo.
Segundo a dirigente, dois anos depois da implementação da TSU, dos 376.516 funcionários e agentes de Estado, 94,5 por cento já foram enquadrados, faltando 5,5 por cento.
Comoana explicou que os funcionários que ainda não estão enquadrados são aqueles que se encontram em processo de reforma, desligamento ou a enfrentar algum processo disciplinar na fase conclusiva, sendo que, do ponto de vista técnico já não são enquadráveis.
“Por outro lado, temos funcionários que estão a ingressar e estes precisam de cadastramento e não do enquadramento. Existem também funcionários em regime de contratação que precisam regularizar seus contratos com o Tribunal Administrativo”.
Entretanto, com a implementação da TSU, prevalecem enormes desafios para os sectores da saúde e educação. Nestas áreas, existem funcionários que terminaram os seus cursos superiores há quatro anos e a mudança de categoria ainda não ocorreu. Este grupo já devia estar a receber o dobro do que está a receber neste momento.
Porém, desde a implementação da TSU, estes dois sectores enfrentam problemas de atraso de pagamento das horas extraordinárias, o que leva a paralisação de actividades de forma contínua. Aprovada em 2022, para eliminar assimetrias e manter a massa salarial do Estado sob controlo, a implementação da TSU fez disparar os salários em cerca de 36 por cento, passando de uma despesa mensal de 11,6 mil milhões para 15,8 milhões de meticais/mês.
A implementação da TSU custou cerca de 28,5 milhões de meticais, mais do que o esperado, como relata um documento do Fundo Monetário Internacional (FMI). Lembre que a implementação da TSU tem vindo a gerar atrasos de salários, principalmente para os membros das Forças de Defesa e Segurança (FDS), mas o Governo garante que o problema não é gerado pela falta de dinheiro, mas sim pelos procedimentos ligados a mudanças da forma de pagamento.
Por exemplo, neste mês de Junho, grande parte dos membros das FDS passaram o dia da Independência sem os seus salários, enquanto que outros (a minoria) começaram a receber os seus salários no dia 20. Ou seja, os salários continuam a cair de forma faseada para pessoas que trabalham no mesmo sector. (M.A)
Os juízes do Conselho Constitucional acusam o Presidente do Partido Ecologista, João Massango, de ter prestado falsas declarações àquele órgão de soberania, no dia em que este foi depositar a candidatura de Domingos Jossias Zucula à Presidência da República.
De acordo com o Acórdão nº 6/CC/2024, de 24 de Junho, que admite as candidaturas de Daniel Chapo, Venâncio Mondlane, Lutero Simango e Ossufo Momade a Presidente da República e rejeita as restantes sete, incluindo de Domingos Zucula, João Massango declarou, verbalmente, perante a Presidente do Conselho Constitucional, que havia submetido 10.730 assinaturas de cidadãos proponentes, porém, “constatou-se que o dossier continha 4.490 assinaturas”.
O Acórdão do Conselho Constitucional revela que João Massango não foi o único mentiroso que manifestou a sua intenção de dirigir os destinos do país nos próximos cinco anos. Tânia Antunes, mandatária de Feliciano Machava, submeteu a candidatura contendo apenas 1.100 assinaturas de cidadãos proponentes, alegando que “a viatura que trazia as demais [assinaturas] se tinha envolvido em acidente de viação”.
Como resultado, as duas candidaturas foram automaticamente eliminadas. “Uma candidatura para que seja considerada como tal e transitar para fase de apreciação do seu mérito deve preencher, entre outros, o mínimo do requisito substancial exigido pela alínea d) do nº 2 do artigo 146 da Constituição da República”, explica o Acórdão. A referida norma estabelece que as candidaturas devem ser suportadas por um mínimo de 10 mil assinaturas de cidadãos eleitores proponentes.
Candidatos falsificam assinaturas e registos de eleitores
Para além de João Pedro Massango ter prestado falsas declarações e a viatura que transportava assinaturas que suportavam a candidatura de Feliciano Machava se ter envolvido em acidente de viação, o Conselho Constitucional acusa cinco candidatos de falsificarem assinaturas e registos dos supostos cidadãos eleitores proponentes. Tais actos criminais foram praticados por Manuel Pinto Júnior, Mário Albino, Miguel Mabote, Rafael Bata e Dorinda Eduardo.
O Conselho Constitucional diz também haver “múltiplas fichas de proponentes preenchidas com nomes de eleitores em ordem alfabética ou com sequência de números de cartões de eleitores, o que indica, de forma inquestionável, a reprodução de folhas inteiras de cadernos eleitorais”.
O órgão liderado por Lúcia Ribeiro diz ter chegado a esta conclusão após proceder ao exame físico dos processos, que consistiu na verificação da regularidade das assinaturas dos cidadãos proponentes “para se aferir a veracidade da expressão da vontade eleitoral, pois, trata-se de um requisito material essencial para posterior análise dos requisitos formais”.
Refira-se que João Massango é membro da Assembleia Municipal da Matola pela lista do MDM (Movimento Democrático de Moçambique), depois de tentativas frustradas de integrar aquele órgão autárquico, através do Partido Ecologista. Em 2013, por exemplo, foi um dos candidatos derrotados à presidência da autarquia da Matola, tendo somado apenas três votos na Mesa em que ele e sua esposa depositaram os seus votos.
Refira-se que, das candidaturas admitidas pelo Conselho Constitucional, destaque vai para Ossufo Momade, que concorre ao cargo de Chefe de Estado pela segunda vez consecutiva, depois de ter saído derrotado em 2019. Lutero Simango, Venâncio Mondlane e Daniel Chapo concorrem ao cargo pela primeira vez. (A. Maolela)
O Tribunal Judicial da Cidade de Maputo e o Tribunal Administrativo condenaram o Premier Group Lda. a desobstruir duas vias públicas que a empresa privatizou sem a comprovada autorização do Município de Maputo. Nas vias, que dão acesso ao seu estabelecimento, bem como a outro estabelecimento empresarial privado, a Premier colocou três cancelas e suas respectivas guaritas, o que impede a livre circulação dos munícipes, das viaturas e que se tenha acesso à Garagem Balas Lda.
Trata-se de vias com pequenas pontes, adjacentes às Avenidas Milagre Mabote e Acordos de Lusaka e que delimitam a norte e sul o supermercado do Premier Group, no bairro da Malhangalene, na cidade de Maputo. Tudo começou em 2010 com o Conselho Municipal da Cidade de Maputo a ordenar o Premier Group a desobstruir as vias.
A 20 de Janeiro daquele ano, o Município de Maputo notificou o Premier Group a remover a cancela que obstruía uma das vias. Mas o grupo não acatou. No dia 07 de Janeiro de 2013, o Município de Maputo notificou o Premier Group do indeferimento do pedido de montagem da cancela junto à nova ponte, com o fundamento de que se tratava de uma via municipal, ou seja, de um espaço público. Entretanto, estranhamente a cancela foi montada.
Recorrentemente, o Conselho Municipal continuou notificando o grupo comercial sobre a necessidade de desobstrução das vias públicas, com a remoção das cancelas e vedação. Entretanto, tal não aconteceu. Para além dos munícipes que circulam a pé, como de viaturas, a atitude do Premier Group afecta a Garagem Balas Lda. (por trás do supermercado e ao longo da Av. Milagre Mabote), tendo esta ido até tribunais para exigir justiça.
Uma das últimas notificações do Município de Maputo ao Premier Group foi a 20 de Agosto de 2020. Insatisfeito, o Grupo deu entrada no dia 17 de Novembro do mesmo ano, no Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, para a anulação do despacho do Município. Nesse caso, o Tribunal julgou procedente, num acórdão (nº.124/2022) publicado em Setembro de 2022. Entretanto, a Garagem Balas não se deu por derrotada e também submeteu um recurso.
Um ano depois, a primeira Secção do mesmo Tribunal Administrativo decidiu pela anulação do nº: 124/2022 por ilegalidade das justificações apresentadas pelo Premier Group. Entretanto, a luta em tribunais não parou por aí. Neste caso, de 2010 a esta parte, mais de oito processos foram submetidos em tribunais e, grande parte, os juízes julgaram a favor da Garagem Balas.
No dia 04 de Novembro de 2022, a Garagem Balas requereu junto do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo um pedido de intimação contra o Premier Group, para que se abstenha de vedar espaços públicos e, em consequência, remover cancelas, guaritas e portões na via pública. O Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo julgou procedente o pedido da Garagem Balas.
Ainda a favor da Garagem Balas Lda., no dia 12 de Abril de 2024 corrente, esta foi notificada da sentença proferida pela 9ª Secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo que decidiu condenar o Premier Group Lda., a não construir e edificar, por qualquer forma nas referidas vias públicas e ainda não deixar portões, cancelas, guaritas e vedações nas mesmas vias.
Conforme se pode verificar, tanto o Conselho Municipal da Cidade de Maputo como o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo e Tribunal Administrativo foram unânimes na sua decisão de que o local onde o Premier Group colocou cancelas, guaritas, portões e vedação, que impede a livre circulação de bens, é uma via municipal de acesso público.
No âmbito desses processos, o Premier Group foi ainda condenado a pagar dois milhões de Meticais ao Município de Maputo por criar estacionamento privado de viaturas numa via pública. As decisões unânimes sobre desobstrução das vias públicas são de carácter executória, o que significa que em menos dias o Premier Group deverá proceder conforme os Tribunais ordenam, apesar de dois processos que continuam a correr sobre o mesmo caso, no Tribunal Administrativo. (Carta)
O arquitecto moçambicano José Alberto Basto Pereira Forjaz (Coimbra, 1936-2024) faleceu nesta madrugada em Lisboa, depois de uma longa batalha contra um cancro.
José Forjaz veio muito jovem, com os pais e irmãos, para Lourenço Marques, actual Maputo. Começou a trabalhar em meados dos anos 50 como desenhador dos Serviços Provinciais de Obras Públicas e como estagiário junto do arquitecto Pancho Guedes.
Transfere-se mais tarde para Portugal, onde estuda na Escola de Belas Artes do Porto e colabora com os arquitectos João Andresen, Arnaldo Araújo e Octávio Lixa Filgueiras. Após concluir o curso, em 1966, trabalhou no escritório dos arquitectos Francisco da Conceição Silva, Maurício de Vasconcelos e Bartolomeu Costa Cabral. Obteve o diploma de Master of Science in Architecture na Universidade de Columbia em Nova York.
Em 1968 regressou a África, abrindo um escritório privado em Mbabane, Eswatini, e, mais tarde, no Botswana, países onde executou inúmeros projectos durante os sete anos que ali permaneceu até ao retorno a Moçambique, nos fins de 1974, imediatamente antes da independência. Entre 1975 e 1985 desempenhou cargos no governo (Conselheiro do Ministro das Obras Públicas e Habitação e Secretário de Estado do Planeamento Físico), reservando a prática da arquitectura exclusivamente para projectos institucionais.
A partir de 1985, e com períodos como professor convidado de universidades na Itália, Portugal, Estados Unidos e Japão, é encarregado de organizar e dirigir a Faculdade de Arquitectura e Planeamento Físico da Universidade Eduardo Mondlane, tendo regido vários cursos de composição, história da arquitectura, paisagismo, e orientado as teses de formatura da maioria dos graduados. A partir de 2009 retira-se do ensino universitário.
É titular do escritório José Forjaz - Arquitectos, em Moçambique. No seu currículo, José Forjaz conta com dezenas de projectos desde residências de representantes de organismos internacionais, de embaixadores e chefes de estado, até pólos universitários e culturais. O Monumento à Mulher Moçambicana, o Monumento a Samora Machel, o Campus da Universidade de Botswana e Lesotho, na Suazilândia, o Parlamento Pan-Africano, a igreja do Seminário da Matola e as casas Roxo Leão pai e filho merecem especial destaque.
Bibliografia
Entre O Adobe E O Aço Inox - Ideias e Projectos, 1999 Editorial Caminho
José Forjaz Arquitecto: ideias e projectos, edição lit.; Almada. Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea; Ribeiro, Ana Isabel, co-aut.
(Carta, Adaptado do Wikipédia)
O fundador do Wikileaks, Julian Assange, aceitou declarar-se culpado de conspiração para obter e divulgar ilegalmente informações confidenciais, num acordo com a justiça dos EUA, e já saiu da prisão, disse hoje o portal.
Assange “deixou a prisão de segurança máxima de Belmarsh na manhã de 24 de junho”, foi libertado no aeroporto de Stansted, em Londres, “onde embarcou num avião e partiu do Reino Unido”, tendo a Austrália como destino final, disse o Wikileaks.
O portal disse na rede social X (antigo Twitter) que a libertação resulta de “uma campanha global” que “criou espaço para um longo período de negociações com o Departamento de Justiça dos EUA, conduzindo a um acordo que ainda não foi formalmente finalizado”.
Assange deverá comparecer na quarta-feira perante um tribunal federal das Ilhas Marianas, um território norte-americano no Oceano Pacífico, de acordo com documentos judiciais apresentados na segunda-feira à noite.
O fundador do Wikileaks vai declarar-se culpado de crime de conspiração para obter e divulgar ilegalmente informações confidenciais da defesa nacional dos Estados Unidos, confissão que terá de ser aprovada por um juiz.
Cidadão australiano de 52 anos, Julian Assange poderá então regressar à Austrália.
Ainda antes do anúncio da libertação, um porta-voz do Governo australiano defendeu que o caso do fundador do Wikileaks “arrastou-se por muito tempo e não há nada a ganhar com o prolongamento da detenção".
Assange estava detido em Belmarsh, no leste da capital britânica desde 2019, altura em que foi detido, após sete anos de reclusão na embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou para evitar ser extraditado para a Suécia, onde era acusado de violação.
Desde então que os EUA tentavam a extradição de Assange, acusado de 18 crimes de espionagem e de intrusão informática pela divulgação no portal WikiLeaks de documentos confidenciais, que em 2010 e 2011 expuseram violações de direitos humanos cometidas pelo exército norte-americano no Iraque e no Afeganistão.
Washington queria julgar Assange pela divulgação de mais de 700 mil documentos secretos e estava acusado pelas autoridades norte-americanas ao abrigo da Lei de Espionagem de 1917, enfrentando uma possível pena de até 175 anos de prisão.
Em 20 de maio, o Tribunal Superior de Londres tinha autorizado Assange a recorrer da ordem de extradição do Reino Unido para os Estados Unidos da América.(Lusa)
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, dirige hoje as cerimónias centrais alusivas ao 49 anos da independência nacional, as últimas em que participa como chefe de Estado, por estar a concluir o último de dois mandatos.
As cerimónias centrais do dia da independência, proclamada em 25 de junho de 1975, vão ser realizadas na Praça dos Heróis, em Maputo, com a presença de titulares de órgãos de soberania, dirigentes superiores do Estado e altos dignitários.
Nas províncias, as festividades oficiais serão dirigidas pelos governadores, replicando o ritual seguido pelas autoridades centrais na capital, principalmente as homenagens aos heróis nacionais da luta contra o colonialismo.
O chefe de Estado distingue ainda 851 cidadãos nacionais com a “Medalha Veterano da Luta de Libertação de Moçambique”, refere-se num comunicado da Presidência da República.
“A distinção pelo chefe de Estado surge em reconhecimento da sua participação ativa na luta de libertação da pátria moçambicana, nas frentes da luta armada ou clandestina, do combate diplomático e da informação e propaganda”, diz-se na nota.
O Presidente da República delegou poderes ao secretário de Estado da cidade de Maputo e de todas as províncias do país para a imposição de insígnias dos títulos honoríficos e condecorações a cidadãos nacionais e pessoas coletivas, no dia 25 de junho, acrescenta-se no comunicado.
As cerimónias oficiais do dia da independência serão as últimas alusivas a esta data a ser dirigidas pelo atual Presidente moçambicano, uma vez que atinge em janeiro o limite máximo de dois mandatos permitidos pela Constituição e não pode concorrer nas próximas eleições presidenciais, agendadas para 09 de outubro, que vão decorrer em simultâneo com as legislativas, eleição dos governadores provinciais e das assembleias provinciais.(Lusa)
(...)
E está de pé a negrada
a negrada arriada
inesperadamente de pé
de pé no porão
de pé nas cabines
de pé na ponte
de pé ao vento
de pé sob o sol
de pé no sangue
de pé
e
livre
de pé e não pobre louca
na sua liberdade e seus
despojamentos marítimos
girando na deriva perfeita
ei-la: mais inesperadamente
de pé
de pé nos cordames
de pé junto a barra
de pé junto a bússola
de pé diante do mapa
de pé sob as estrelas
de pé
e
livre
(...)
(Aimé Césaire, "Caderno de um Retorno ao País Natal")
Ao celebrarmos os 49 anos da independência de Moçambique, é imperativo que recordemos não apenas o dia da libertação política, mas também os séculos de opressão que precederam esse momento histórico. A independência não veio sem um custo enorme: foi conquistada com a coragem e o sacrifício daqueles que se ergueram contra a escravidão, o colonialismo e todas as formas de dominação externa que marcaram nossa história.
Desde os dias sombrios do comércio transatlântico de escravos até a chegada dos colonizadores europeus que impuseram suas leis e sua cultura sobre nós, Moçambique enfrentou séculos de luta pela dignidade e pela autodeterminação. Cada batalha travada, cada vida perdida e cada ato de resistência contribuíram para forjar o caminho em direção à independência que hoje celebramos.
A poderosa poesia de Césaire (a mais lírica sobre a liberdade negra), evocando a imagem do negro que se ergue após séculos de sofrimento, é um testemunho da resiliência e da determinação do povo -moçambicano - em buscar a sua própria identidade e liberdade.
Celebramos não apenas um marco histórico, mas o espírito de resistência e determinação que nos trouxe a esta data memorável e moldaram a nossa história. É vital lembrar e honrar aqueles, cuja bravura e sacrifício tornaram possível o sonho de uma nação livre e soberana. Desde os líderes carismáticos que mobilizaram as massas até os anônimos que resistiram nas sombras, cada moçambicano que se levantou pela independência merece nosso respeito e gratidão eternos. As suas histórias e as suas lutas são um testemunho vivo da força do espírito humano diante da adversidade.
Entretanto, ao celebrarmos os 49 anos da independência de Moçambique, é vital refletirmos não apenas sobre o caminho percorrido desde os dias sombrios da dominação, mas também sobre os desafios que actualmente enfrentamos. Nos últimos anos, temos testemunhado retrocessos e uma crescente dependência, tanto pela nossa fragilidade econômica quanto pela nossa falta de coesão nacional.
Após quase cinco décadas de independência política, Moçambique enfrenta níveis alarmantes de dependência económica. O nosso país, como muitos outros em desenvolvimento, se encontra frequentemente subjugado às políticas ditadas por instituições financeiras internacionais como o FMI e o Banco Mundial. Essas entidades impõem condições que não priorizam os nossos interesses nacionais, pelo contrário, limitam a nossa soberania económica e restringem as nossas opções de desenvolvimento.
A interferência estrangeira, muitas vezes disfarçada de assistência benevolente, frequentemente serve para perpetuar as desigualdades e perpetuar relações de poder desiguais que comprometem a nossa capacidade de nos desenvolvermos plenamente como nação.
Esta dependência e vulnerabili
A verdadeira independência não pode ser alcançada enquanto permanecermos reféns de interesses estrangeiros que limitam a nossa capacidade de fazer escolhas autônomas e determinar nosso próprio destino.
Para resistir a essas pressões externas e fortalecer a nossa soberania económica, é necessário que invistamos em uma economia resiliente e diversificada, onde cada moçambicano possa contribuir efetivamente para o crescimento nacional.
Perante o espectro do colonialismo que persiste, que exerce uma pressão económica e alimenta divisões internasque ameaçam a unidade nacional; diante de um mundo em constantes mudanças, onde as políticas neoliberais e as estratégias de dominação evoluem constantemente, a nossa resposta deve consistir em redobrar o nosso compromisso com a unidade, através de uma vigilância permanente e um esforço por sermos mestres das nossas próprias escolhas econômicas e do nosso destino coletivo.
Urge, para isso, que promovamos uma democracia social onde todos sintam-se chamados, não apenas a sucumbir os dissabores do país, mas também a desfrutar das suas (parcas) benesses; é premente que enveredemos por uma democracia participativa onde o diálogo contínuo, a busca de compromissos e a construção de consensos sejam prioridades. Neste contexto, é essencial que todos estejam alinhados na mesma visão nacional, trabalhando juntos para fortalecer a nossa unidade e resistir às pressões externas que buscam dividir o país em interesses conflitantes.
As incumbências mais importantes para nossa liberdade não é o que foi feito no passado, mas o que fazemos agora e o que continuaremos a fazer no futuro. A independência é um compromisso contínuo, devemos mantê-la e fortalecê-la através da unidade nacional, do trabalho árduo e do sacrifício em todos os setores da economia e da vida social. Proteger nossa independência significa enfrentar os desafios internos e externos que ameaçam nossa soberania.
Isso implica um compromisso renovado com o trabalho árduo e com uma corresponsabilidade colectiva. Cada cidadão deve entender que os sacrifícios feitos hoje visam não apenas beneficiar alguns, mas promover uma maior igualdade e redistribuição de recursos para o bem de todos.
O 25 de junho não deve ser apenas um dia de celebração, mas um momento de introspecção profunda. Devemos avaliar, criticamente, o nosso progresso económico e nossa coesão nacional, identificando os obstáculos que ainda enfrentamos. Somente reconhecendo essas dificuldades com seriedade e determinação, podemos renovar o nosso compromisso com Moçambique e com o futuro de nosso povo.
Recordando, com Césaire, que estar de pé não é a meta, mas o verdadeiro desafio é permanecer de pé e livres, cada aniversário da independência torna-se um chamamento para renovarmos o nosso amor pelo país e pela liberdade, que arduamente conquistamos.
A celebração da independência não é apenas um momento de festa, mas um momento de profunda reflexão sobre o peso da opressão que enfrentamos, como a superamos e os perigos de retroceder.
Devemos reafirmar o nosso compromisso com Moçambique e com a liberdade, reconhecendo que a independência é uma conquista contínua que requer esforços redobrados para preservá-la e fazê-la prosperar para as gerações futuras. Devemos reafirmar o nosso compromisso com Moçambique e com a liberdade, garantindo que cada aniversário de nossa independência seja um lembrete solene de nossos ideais e um chamamento à ação para um futuro mais justo e próspero para todos. Precisamos renovar o nosso empenho na construção de uma democracia inclusiva e participativa, onde o diálogo aberto e o debate construtivo sejam valorizados como ferramentas essenciais para o progresso. Devemos fortalecer instituições democráticas que garantam a representação justa de todas as vozes e a proteção dos direitos humanos fundamentais para todos os moçambicanos. Devemos buscar fervorosamente a auto-suficiência económica e tecnológica, reduzindo a nossa dependência de assistência externa e promovendo parcerias equitativas que beneficiem verdadeiramente o nosso povo. Isso requer um esforço coletivo para desenvolvermos capacidades locais em todos os setores, desde a agricultura até a indústria e além, aproveitando o nosso potencial humano e recursos naturais de maneira sustentável e responsável.
A verdadeira independência depende de nós, de nosso compromisso individual e coletivo, da nossa solidariedade, da nossa disposição em fazer compromissos e fortalecer a democracia e a participação de todos.
Em suma, o futuro de Moçambique depende da nossa capacidade de aprender com o passado, enfrentar os desafios do presente com coragem e visão, e comprometer-nos com um futuro que seja verdadeiramente digno daqueles que tanto sacrificaram para a nossa liberdade. A caminhada rumo a um Moçambique mais próspero, unido e autossuficiente será árduo, mas é uma peregrinação que devemos abraçar com determinação e esperança, guiados pelos princípios de justiça, solidariedade e respeito mútuo.
Cada aniversário deve servir como um lembrete solene de nosso compromisso contínuo com os ideais de liberdade, justiça e igualdade para todos os moçambicanos.
HURRA a Moçambique independente!
*Filósofo moçambicano. Reitor da UDM