Como empresário, tenho visto de perto as oportunidades e desafios que surgem para os jovens na transição do ambiente acadêmico para o mercado de trabalho. Respondendo ao desafio colocado pelas famílias e sociedade, tentarei partilhar algumas reflexões e propostas, afim de construirmos a ponte essencial para a profissionalização dos recém graduados e licenciados, que, inevitavelmente, serão o futuro do País e do mundo.
Ser futuro não é garantia de desenvolvimento ou progresso. Poderá ser bom ou mau, rico ou pobre, feliz ou triste. Para que os nossos jovens tenham o futuro risonho, o que têm direito, depende de como os responsáveis educacionais irão equipá-los com princípios e valores (soft skills), de conhecimento teórico e/ou saber fazer. Estes responsáveis devem colocar os seus pés no chão, serem pragmáticos e valorizar o que de facto tem valor. Todavia, esse valor só o será no futuro. Este é o maior desafio dos responsáveis, ensinar aos nossos jovens o que são virtudes - são hábitos que permitem ao indivíduo o caminho do bem.
Normalmente, os benefícios das virtudes são visíveis a longo prazo, o que para os nossos jovens não faz muito sentido, já que estão habituados à velocidade das tecnologias. Vivemos numa era de rápidas transformações tecnológicas, sociais, culturais e económicas. Os casos de sucessos de ontem poderão não o ser amanhã. O mercado não tem empatias, é intolerante, instável e cruel.
As empresas têm que se adaptar, inovar, ser competitivas, ou seja, oferecer produtos com o binómio preço/qualidade. As ameaças e oportunidades vêm de geografias inesperadas, onde o factor humano é fundamental para as vencer. Para o efeito, esse indivíduo terá que estar capacitado de conhecimento à altura dos desafios.
O capital mais valioso das empresas são os Recursos Humanos. Esse capital tornar-se-á efectivo, se estes indivíduos tiverem como sua fundação, virtudes, Saber Fazer e integrarem-se profissionalmente, com adaptabilidade e inovação permanente. Ser portador de diplomas, no mundo real ou empresarial, a partir do segundo dia de trabalho, conta muito pouco.
Como disse o Líder Chinês, Mao Zedong, século XIX (19) passo a citar: “a teoria é um produto da observação da prática” fim de citação.
Em outras palavras, partilhar teorias, sem exercícios práticos, laboratórios, estágios, projectos de pesquisas, socialização profissional, constitui um grande desafio para o aprendiz, bem como para o docente que muitas vezes, ele próprio, não tem experiência, aumentando o seu grau de dificuldade na transmissão do conhecimento.
Ninguém dá o que não tem, nem mais do que tem.
A maioria dos recém graduados não sabem que não sabem, o que eleva o grau de dificuldade na integração profissional. Este desconhecimento entre a teoria e a prática normalmente causa experiências traumáticas aos recém-chegados, nos locais de trabalho.
Afim de incorporarmos conhecimentos, que facilitem a vida destes indivíduos pós-graduação como trabalhador e ou empreendedor, proponho que:
- Os sistemas de ensino dêem prioridade ao saber fazer e, para o efeito, terão que actualizar os currículos e corpos docentes, de acordo com as necessidades dos mercados.
Quem são esses cruéis mercados?
Somos nós que contribuímos na construção do PIB, produzimos alimentos, transformamos matéria-prima, recebemos salários, prestamos e compramos serviços e produtos, pagamos propinas e impostos e recebemos assistência social, entre outros.
Nós os produtores e consumidores, pagadores de impostos e taxas, os transportados, usuários dos serviços públicos, estaremos satisfeitos com a generalidade dos serviços, produtos, salários, infra-estruturas, educação, saúde, segurança, justiça, etc.?
A maioria de nós critica e com razão a qualidade dos nossos políticos. Mas afinal de onde vêm estes políticos?
Serão extraterrestres?
Os políticos que conheço, e são muitos, vêm das nossas famílias, comunidades e escolas, o que pode querer dizer que, como sociedade, não temos cumprido com as nossas obrigações, na formação de indivíduos virtuosos.
Rudolf Steiner pedagogo e filósofo do século XIX (19) desenvolveu a teoria dos septénios:
Dos 0 aos 7 anos ensina-se princípios e valores;
Dos 7 aos 14 ensina-se as bases teóricas;
Dos 14 aos 21 ensina-se a saber fazer.
Toda a gente ralha e ninguém tem razão!
Quando fazemos uma avaliação, estamos a comparar se o que está em questão é bom, é menos bom, ou é mau. Como fazemos frequentemente, em relação ao nosso modelo e sistema de educação. Contudo, uma comparação exige um coeficiente ou Standard. Podemos comparar o sistema de educação, por exemplo, com os impostos que (não) pagamos?
Podemos comparar o nosso sistema de educação com os salários dos professores?
Podemos comparar o nosso sistema de educação com o nível de destruição das carteiras escolares e degradação das escolas, nomeadamente casas de banho?
Podemos comparar os resultados obtidos pelos nossos estudantes com o nível de ausência dos pais ou educadores?
Senhoras e Senhores, temos que ser mais sérios, se quisermos mudar o rumo alarmante da ignorância da maior parte dos nossos alunos.
A minha experiência de 45 anos de trabalho ensinou-me que o maior capital que um profissional deve ter são os Princípios e Valores,ou seja, Virtudes. Muitos colegas com quem trabalho há mais de 30 anos têm em comum nessa longevidade são os princípios e valores.
A tecnologia aprende-se, adequa-se e adapta-se. As virtudes são transversais a todas as épocas, profissões, comunidades, sociedades do Universo.
Podemos ser mestres, especialistas, graduados, dirigentes, políticos, jornalistas, empresários, operários, camponeses, endinheirados, etc., entretanto, se não tivermos princípios e valores, será como caminhar num chão que não nos pertence e que a qualquer momento pode nos ser retirado.
A Luta Continua!
Amade Camal