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segunda-feira, 04 janeiro 2021 14:19

2021: Habemus Estado?

Na virada do ano pensei no Estado moçambicano em 2021, sobretudo na sobrevivência ou resiliência dos elementos que compõem um Estado: Território, Povo e Poder Político/Soberania. Cogitei sobre cada um deles e no final uma pergunta ficou no ar:  o que será destes elementos na Pérola do Índico em finais de 2021?

 

Na esteira da cogitação lembrei-me que na primeira década do século em curso participei em vários tipos de eventos cujo objecto era o combate à pobreza ou mesmo o desenvolvimento do país. A dado momento não me revia nos propósitos dos planos em debate por achar que não eram os mais correctos para o que o país precisava. Entendia eu que o principal objectivo passava por “Organizar o Estado”  e não o de reduzir/eliminar  a pobreza ou o de  crescer o país de x para y. Na altura partilhei esta ideia com uma amiga que tratou logo de discordar e no lugar propôs que  “Organizar as pessoas”  é que deveria ser o objectivo. Na defesa do seu argumento ainda alinhou uma série de altos  dirigentes como exemplos de que antes de organizemos o Estado devíamos organizar as pessoas.  Foi difícil não concordar.

 

Hoje, decorridos mais de 10 anos da conversa,  acabei ligando para a citada amiga  afim de  partilhar a minha  inquietação, a que ficara no ar acima. Mal eu terminara a contextualização e a decorrente inquietação,  ela perguntou: “Já habemus pessoas?” Certamente uma outra pergunta que fica no ar. De toda maneira, e para terminar, tal como a maioria de nós recebeu um “votos de próspero 2021”,  vai o meu  “Próspero 2021 Estado Moçambicano”. 

segunda-feira, 04 janeiro 2021 06:34

AFINAL:O ano muda para quê?

Chegado ao mês de Dezembro, as emoções elevam-se, as mensagens multiplicam-se, os governos, empresas, instituições, comunidades, famílias e indivíduos fazem uma introspeção do ano que está prestes a desaparecer e/ou prestamos contas a quem de direito se for o caso.

 

Procuramos justificar as promessas não cumpridas, lamentar e/ou pedir desculpas pelos factos inadequados, etc.

 

Sempre foi assim?

 

Sim, as sociedades mais antigas, desde que há registos há 4600 anos - Babilónicos, Maias, Hindus e Chineses - tiveram comportamentos semelhantes.

 

É a natureza humana reagindo ao sentimento de perda. Esta é a razão, conforme os Livros Sagrados, a importância do calendário – Termos consciência da maior riqueza que temos – o TEMPO.

 

Tempo é o único factor irrecuperável, tudo o resto se perde, se ganha. O tempo não é dinheiro como disseram os ingleses (time is Money) – TEMPO É VIDA.

 

Será que se justificam esses sentimentos e emoções?

 

Não sei, mas melhor do que eu, o leitor vai decidir depois de ler os factos históricos que se seguem:

 

  • Foi na Babilónia que se iniciou o primeiro calendário com 12 meses e quatro semanas por cada mês, durante o reinado do Rei Hamurabi, na sagrada cidade Sumeriana de Nipur, há 4600 anos – baseado no sistema lunar.
  • Os Chineses, há sensivelmente mesmo tempo, porém hoje o seu calendário regista o seu início desde 4718 anos – baseado no sistema lunar.
  • Calendário dos Maias (México) cuja contagem hoje é desde o ano 3114 a.C – baseado no sistema solar.
  • Calendário Hindu tem registos de 1000 a.C. baseado no sistema lunar. Entretanto, a Índia possuía aproximadamente 30 calendários destacando-se os seguidos pelos hinduístas, Muçulmanos, Budistas e Jainistas. Em 1957, o Governo Indiano uniformizou o calendário adoptando o calendário gregoriano.
  • Os Romanos seguiram sempre o calendário lunar, até que Júlio Cesar, no ano 46 a.C., solicitou o astrónomo egípcio Sosígenes uma solução para uniformizar o calendário nas diferentes partes do império Romano – tendo adoptado o sistema solar. A Católica-Romana não se alterou até que, no Século XV, o Papa Gregório XIII fez uma correcção, usando um sistema misto entre o lunar e solar que deu origem ao actual calendário Gregoriano. Porém, os Cristãos/Católicos ainda usam o calendário lunar para marcar a data da Páscoa.
  • Os Judeus, Cristãos e Muçulmanos usam até à data o calendário lunar.

 

Se formos ao detalhe vamos perceber que nenhum calendário mudava o ano no final de Dezembro. Nos lunares, a data não é fixa, depende do nascimento da lua nova e, mesmo dentro do mesmo sistema lunar ou solar, havia discrepâncias no número de dias por ano que, por sua vez, não eram uniformes. Alguns calendários tinham 10 meses por ano, outros 18 meses com 20 dias por mês, por cada ano, etc.

 

Apesar de serem factos históricos importantes, “se soubermos de onde viemos, saberemos para onde vamos”, a pergunta que você deve querer fazer é: e então?

 

A razão desta missiva tem a ver com:

 

  • Os calendários servem de referência para nossa orientação na gestão de tempo.
  • Os calendários servem para nos organizarmos em relação à nossa idade, ao clima, à produção, gestão, etc.
  • A mudança do calendário per si não mudará em nada o nosso rumo. Quer dizer, o facto de estarmos no início de um ano novo não significa que acontecerá um milagre, nem a COVID-19 vai deixar de contaminar, ou as dívidas serão perdoadas, ou os incompetentes começarão a ser melhores, ou ainda, o que estava errado milagrosamente passará a certo, ou aqueles muitos postes das redes sociais de feliz natal e próspero ano novo far-nos-ão felizes.

Então, você que deve querer ir às compras ou socializar, quer saber quanto mais rápido possível, fazer o quê?

 

Não há dois casos iguais – esta é uma prova de que Deus existe, para quem tem fé.

 

A primeira recomendação sensata que podemos partilhar é que nas datas relevantes devemos aproveitar para reflectir, recapitular, identificar os factores positivos e naturalmente os menos positivos, corrigir os que considerarmos necessários, assumir a responsabilidade – esta é sempre sua. Somos dotados de consciência, livre arbítrio (cada um faz as suas escolhas).

 

Enquanto não assumirmos a responsabilidade pessoal, a porta de entrada rumo ao sucesso, felicidade, criatividade e até da saúde não estará disponível.

 

Faça como diz Confúcio – Chame os nomes pelos próprios nomes – em outras palavras, não se engane a si próprio, tipo:

 

  • Vou mudar;
  • Vou deixar os vícios;
  • Vou respeitar as regras;
  • Vou, vou, vou continuar a enganar-me que a culpa é dos outros, se não houver ninguém plausível, então é dos antepassados e/ou dos espíritos, dos colonialistas, dos terroristas, do ciclone, da mulher ou marido que se cansou e foi, da família do outro, do colega que foi promovido, são aqueles de raça azul, ou cinzenta, etc., etc.

 

Nós seres humanos somos dotados de capacidades sem limites – é outra prova da existência de Deus, capazes de trazer a solução de qualquer problema, não importa o grau da sua complexidade, dizem os Livros Sagrados (já que estamos na época natalícia para uns) que “Deus não dá nenhum peso a alguém sem que lhe dê forças para carregar”.

 

O estimado leitor deve estar a dizer, calma aí, então porque é que eu e muitos não conseguimos solução dos nossos problemas?

 

Porque nos enganamos a nós próprios! Como?

 

  • Confundimos cortesia com hipocrisia - dizemos que gostamos quando não gostamos.
  • Mentimos para sermos simpáticos.
  • Violamos as regras para sermos melhores do que aquele que se esforçou para conseguir méritos.
  • Fazemos promessas que sabemos à partida que não vamos cumprir.
  • Queremos viver à custa do sacrifício e dos bens de outros.
  • Não somos sinceros, honestos e íntegros – estes adjectivos têm uma gênese semelhante, parecem sinónimos, mas evoluem em dependência um do outro (este assunto é outro artigo).
  • Em vez de assumirmos a verdade dos factos procuramos substâncias psicotrópicas, para fingir que resolvemos, etc. etc.

 

Vou repetir quatro ensinamentos pilares de qualquer resolução rumo à felicidade:

 

  • NÃO FAÇA AO OUTRO O QUE NÃO QUER QUE LHE FAÇAM. (Jesus Cristo)
  • SEJA REALISTA E JUSTO, CHAME AS COISAS PELOS PRÓPRIOS NOMES. (Confúcio)
  • FAZER A MESMA ACÇÃO REPETIDAMENTE E ESPERAR RESULTADOS DIFERENTES É LOUCURA. (A. Einstein)
  • PARE DE CULPAR OUTROS, A SUA FELICIDADE DEPENDE DE SI. (Osho)

 

Desejo-vos uma boa reflexão.

 

A Luta continua!

 

A Camal

segunda-feira, 04 janeiro 2021 06:17

A máfia do Zimpeto

Jornalistas económicos e desportivos devem conhecer, antes de mais, as regras que regem a modalidade, sob o risco de cairem no ridículo nas suas abordagens. Devem saber, por exemplo, como é que, em 20 anos, 90 por cento do mercado nacional de cigarros passou para as mãos de uma empresa anglo-americana, para entender como os cigarros de marca circulam por aqui. Devem saber como a Cervejas de Moçambique passou à subsidiária da Anheuser-Busch InBev - maior produtora mundial de cervejas -, para entender como as bebidas internacionais entram em Moçambique. Saber como funciona o mercado do gás e petróleo, para entender como a Total passou a controlar os activos da Anadarko. É preciso conhecer as regras do jogo para evitar promover notícias supérfluas e levianas como as que têm publicado todos os Janeiros sobre prejuízos de vegetais e legumes do Mercado Grossista do Zimpeto.
 
Aqueles gajos fazem muito lucro naquela semana de 25 a 31 de Dezembro. Lucros injustos, diga-se! Trazem 10 camiões de batata, vendem 8 camiões a preços super-especulativos e os 2 camiões que sobram são simples 'bacela' para aparecerem na tê-vê a chorar lágrimas de crocodilo. Por acaso, vocês conhecem algum ex-vendedor do Zimpeto que ficou falido e sentou em casa por ter comprado camiões de batata, tomate ou cebola e apodrecido logo em seguida? Podem-nos mostrar um só que pode servir de exemplo?!
 
Vamos ser um pouquinho inteligentes! Não é verdade que aqueles senhores somam prejuízos a cada início do ano. Não é verdade! Aquilo é banditismo. É o que acontece quando não há Estado. Aqueles vendedores fazem as suas próprias regras. Aqueles controlam o mercado. Fazem e desfazem. Essa batata que estão a vender agora a 100 meticais eles já não precisam. É só para entreter o povo e a imprensa. 
 
O filme é o seguinte: vender pouca batata a preços especulativos durante a quadra festiva é mais lucrativo do que vender toda a batata ao preço normal. Isto é: vender 8 camiões a 500 paus é melhor do que vender 10 camiões a 100. O mais importante, para eles, é controlarem o preço do produto. Só isso! Há vezes que sobem o preço no Zimpeto e baixam na Malanga ou no Xipamanine ou vice e versa. Os maiores vendedores do Zimpeto são os mesmos que estacionam camiões em outros mercados satélites como forma de controlarem o mercado. 
 
Aqueles agem como traficantes de droga. Controlam as redes de fornecimento e venda por forma a controlarem o mercado. Às vezes praticam o 'dumping' (crime comercial): é comum encontrar o tomate caro em Chokwe e barato no Mercado Grossista do Zimpeto. Ou seja, vendem o produto a baixo do custo de produção e do fornecedor. Na verdade, o Mercado Grossista do Zimpeto é um faroeste. É o melhor campo de ensaio de crimes comerciais e financeiros. Infelizmente o governo sabe e não faz nada.
 
Eu desafio os jornalistas a investigarem esse fenômeno. Como é que um comerciante vende um produto a 500 meticais hoje sabendo que amanhã vai baixar para 100 meticais? O que o impede de baixar o preço para vender tudo em pouco tempo? Vocês não acham que este círculo vicioso é uma máfia? Parem com isso!
 
Todos os anos, na primeira semana de Janeiro, o mesmo vendedor aparece na tê-vê a dizer que está a somar prejuízo por conta do apodrecimento da batata ou tomate. E o cameraman 'haya' mostrar camiões de batata ou tomate pobre. Palhaçada! Não conheço um comerciante que soma prejuízo todos os anos, na mesma época, da mesma maneira e não aprende. Ou é comerciante ou é burro! Aquilo é uma máfia da pesada que, infelizmente, o Estado não quer pôr cobro. Parece que o Mercado Grossista do Zimpeto é uma república autónoma. É 'tutu mafia'!
 
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No entanto, seu conteúdo não vincula a empresa.

segunda-feira, 04 janeiro 2021 06:03

Vamos adiar a exploração do gás do Rovuma!

O ataque perto do acampamento da Total de Afungi foi um ataque ao âmago do gás do Rovuma. A decisão da Total de evacuar os moçambicanos de Palma (não apenas por causa das questões de seguranças, mas também por uma alegada vaga de Covid 19, que assolou o acampamento, de acordo com fonte reputadas de “Carta”) é um indicador de que a exploração do gás vai sendo adiada. Adiar a exploração do gás é o mais sensato da fazer hoje. É certo que a economia presente precisa das suas receitas, mas os moçambicanos do futuro podem muito bem tratar do assunto.

 

Moçambique não tem estrutura de poder capaz de conduzir a exploração do gás ao almejado “El-dorado”. A abordagem da guerra é titubeante (com contratos secretos e compra de equipamento quase obsoleto) e essa mesma guerra começa a ser uma justificação do negócio de rapina que se está a implantar no sector, cada vez mais com termos de troca prejudiciais para a sociedade moçambicana. Ao invés de construir um acampamento sólido, usando nossa pedra e areia, a Total mandou vir pré-fabricados lá da Europa. Nosso conteúdo local está vendo navios. Aliás, esses módulos residenciais chegaram de navio.

 

Se este regime não consegue impor o conteúdo local e terminar com esta guerra, então paremos com o gás. Esta guerra parece um instrumento de saque. Saque externo e interno. E temos cerca de 500 mil deslocados, empurrados para distritos recônditos da Zambézia. Como? De Macomia para a Zambézia? E aqui são tratados como estrangeiro, desterrados? E quando a guerra terminar, sua terra já foi tomada? E o gás esgotado? Não!

 

A exploração do gás nas actuais condições não serve aos moçambicanos. Nem com famigerados fundos soberanos. Aliás, o maior fundo soberano são nossas florestas e nossos mares, que, mesmo sem guerra, esta geração que fez a luta armada não consegue gerir de maneira dignificante. A rapina chinesa comanda. Eles lá na China sabem quanto cada um dos moçambicanos deve ao Estado chines. Nós cá em Moçambique não conseguimos calcular quanto dessa dívida já estaria paga, em espécie, através da nossa madeira e frutos do mar. (Sim! A ponte para a Catembe poderia ser paga dessa forma, e não com portagens astronómicas, como foi anunciado). É intrigante como esta elite no poder não consegue corrigir os desmandos nas pescas e florestas. No gás, corremos o mesmo risco. Melhor parar! Já! (Marcelo Mosse)

quarta-feira, 30 dezembro 2020 09:56

Cabo sangrento

Terra ardente
Riqueza abundante
Povo combatente
Morre inocente
 
Cabo sangrento
Paz enjaulada
Terrorista maldito
Assassina rapaziada
 
Guerra fedorenta
Tanto combatida
Militar eremita
Pátria defendida
 
Juventude enganada
Pátria ameaçada
Casa queimada
Cultura renegada
 
Cabo sangrento
Lágrima derramada
Governante esquisito
Verdade desmentida
 
Criança faminta
Mãe aflita
Vida maldita
Sofrimento aumenta
 
Cabo sangrento - queremos a paz!
 
Omardine Omar - Maputo, Dezembro de 2020
terça-feira, 29 dezembro 2020 07:04

A minha figura do ano

Cansei de esconder. A minha figura do ano 2020 é aquele senhor que escreve aqueles discursos que o Presidente Nyusi lê no Parlamento a cada fim do ano. Prontos! Já falei! Aquele senhor que diz 'portanto, moçambicanas e moçambicanos, o estado da nação é isto, aquilo, assado, frito, cozido'. É a minha figura.

 

Simplesmente o gajo é f*dido. O gajo está há seis anos a inventar adjectivos para alcunhar o país. Assim, que estamos aqui a beber e a comer, tipo estamos a festejar, o gajo já deve estar com o dedo do manguito mergulhado no meio do dicionário a procurar um molho de palavras para nos dar no próximo ano. Aquele senhor trabalha muito, vocês!

 

Sinceramente! Se fôssemos um povo organizado e que sabe o que quer estaríamos, neste momento, a homenagear o gajo. É verdade! Um povo que sabe agradecer estaria a fazer uma festa surpresa de fim do ano para ele. Rotular um país a cada ano não é fácil. Marrou maningue.

 

O gajo é bom. Não reconhecer isso também é inveja. Quando começou, usava apenas uma palavra: bom, próspero, resiliente, firme, etecetera. Mas, quando as coisas começaram a amargar, começou a usar muitas palavras de uma só vez, muitas delas sinónimas: desafiante, mas encorajador (2017); estável e que nos inspira confiança (2018); de esperança e de um horizonte promissor (2019). Então, este ano ele me ganhou de vez: resposta inovadora e renovada esperança. Caí de vez!

 

Desta vez, já não tenho como evitar. O gajo é mesmo a minha figura do ano. O gajo me ganhou. Conseguiu colocar o país numa igreja: Igreja Evangélica da Renovada Esperança. O país está a orar... está de cócoras. Nesse andar, não esteremos espantados se no próximo ano o estado da nação for 'Allahu Akbar!' ou 'Aleluia Jeová!'. Não será de estranhar que até ao fim do mandato cheguemos ao estado da nação 'Deus nos acuda!'. 

 

Dizia, esse poeta da Ponta Vermelha é a minha figura deste ano. O gajo está a acompanhar bem o país. Ele consegue descrever fielmente a nossa evolução decrescente rumo ao fundo do poço. Assim que ele colocou o país na igreja vai acabar por levar à sepultura. Não falta muito para ouvirmos que o estado da nação é 'que a sua alma descanse em paz, Moçambique!'.

 

Nessa cena de figura do ano, cada um com a sua. 

 

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