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sexta-feira, 09 outubro 2020 07:39

Malta RENAMO, vocês envergonham maningue!

Todos nós sabíamos que a RENAMO gosta de comer com colher grande sem trabalhar. Também sabíamos que o novo projeto da RENAMO é se parecer cada vez mais com a FRELIMO da pior maneira possível. Também nunca duvidamos que o objetivo da RENAMO nunca foi chegar ao poder. 

 

Ficou sempre claro que a maior e a mais importante meta da RENAMO é a FRELIMO deixar cair os maiores nacos do bufê para eles apanharem no carpete com a modéstia satisfação. Não há dúvidas que na RENAMO há muita fome e por causa disso há muito arranca rabo. Não é novidade para ninguém que, quando é para aprovar mordomias e regalias para si, a RENAMO não tem mãos a medir. 

 

Ora, o que nós não sabíamos, ou seja, a grande novidade aqui é saber que doeu (e ainda dói) à RENAMO o facto de terem sido excluídos da partilha das dívidas ocultas. Não sabíamos que a RENAMO está muito chateada com isso. Não sabíamos que também querem aquele dinheiro. Nunca demonstraram. Se já, não foi assim tão claro.

 

Não sabíamos que a RENAMO estaria muito feliz, se Chang fosse o seu membro sénior. Nunca nos passou pela cabeça que, para a RENAMO, Nhangumele é ideal para o seu ministro dos negócios estrangeiros e cooperação. É um bom negociador. Quer dizer, para malt Magibire, aqueles dólares que entraram na conta da FRELIMO foi uma grande cabeçada. Doeu. Chiça!!! Não sabíamos.

 

André Magibire é o número dois do partido e, por isso, tem a legitimidade de falar em nome de todos os renanistas. O sentimento dele é de todos os membros e simpatizantes da RENAMO. É por isso que Magibire pode convidar a imprensa para peidar publicamente sem que os ditos intelectuais do partido lhe chamem a razão. É claro que convidar a RENAMO para combater os insurgentes em Cabo Delgado foi a ideia mais estapafúrdia, mas daí usar a exclusão da partilha dos dinheiros das dívidas ocultas como argumento, foi bastante revelador. Foi muito clarificador. Foi honesto demais. 

 

Nossos amigos e familiares da RENAMO, estamos rendidos convosco! Sim, senhora! Assim, quer dizer, nós não podemos contar nada convosco nesta vida porque a FRELIMO não vos deu quinhenta do dinheiro das dívidas! Quer dizer, está a 'vus-duer'! Estamos rendidos com o vosso nível de dependência. A vossa mendicidade é doutra galáxia. A vossa pobreza não é deste planeta. A vossa gula é diabólica. Estamos simplesmente rendidos. Vocês envergonham maningue! Armados ou desarmados, rurais ou urbanos, não deixam de ser bandidos. 

 

- Co'licença!

sexta-feira, 09 outubro 2020 06:32

“Os terroristas bateram na minha porta…”

Estávamos felizes naquele dia. A Mariamo preparando o pequeno-almoço. A Samira lavando a loiça. Eu organizando o quarto. Tudo parecia que seria um dia de muita felicidade. Uma vez que após o pequeno-almoço pretendíamos ir almoçar em família na casa do pai Abdula Mussuade, em Milamba, Mocímboa da Praia, Província de Cabo Delgado.

 

Onze horas da manhã do dia 27 de Junho de 2020 ouvimos rajadas de disparos vindos de diferentes cantos. Ficamos aflitos e cheios de medo. Esquecemos tudo e procuramos formas de correr, mas a situação não nos ajudava porque a Mariamo, minha esposa, estava de gestação de cinco meses, com o corpo difícil de mover e os pés inchados. Perguntei-me o que eu deveria fazer? No meio de tanta bala decide ir procurar pelos moto-táxis... decidimos, na ocasião, que deveria ficar em casa.

 

No meio de tanta correria e busca de soluções imediatas, aliada à agitação e ao medo instalado, acabei perdendo a minha mulher e cunhada. Na procura que efectuara naquele dia não achei nada seguro, todos meios estavam ocupados. Transportadores pediam valores monetários avultados. Tudo estava nas mãos de Deus. Um amigo disse-me: “Deus dará!”.

 

Diante de tanto fogo e chumbo voltei para casa às pressas. Quando cheguei ao quintal, vi que a porta de casa que tinha sido arrombada. Corri desesperado em direcção à mesma, gritei: “Mariamo, Mariamo!”. Mas ninguém me respondeu. Apercebi-me que elas já não estavam a casa. 

 

Sai pela estrada, aflito e destemido. Afinal, havia levado a minha amada que carregava no seu ventre, o meu legado, o meu primogénito. 

 

Encarei balas e os riscos. Encarei os temidos al-shababes ou andorinhas da noite! Infelizmente, não vi a minha amada Mariamo, dona da voz na Rádio Comunitária de Mocímboa da Praia.

 

Gritei, Mariamo, Mariamo! Meu amor, onde estás? De repente surgiu-me a Samira do nada, toda assustada e banhada de lágrimas! Perguntei-lhe onde estava a sua irmã? – Respondeu: “os al-shababes levaram-na; a mim deixaram porque disseram que sou feia e que ninguém iria me querer lá na base!”.

 

Desesperado, angustiado, molhado de tanta raiva, mas de mãos atadas por não saber o que fazer. Eu e a Samira decidimos fugir para Pemba. Não tínhamos como levar o caso às autoridades policiais e militares, uma vez que a vila estava em chamas e que cada um procurava formas de se salvar. Por sorte conseguimos um transporte que nos tirou da zona de guerra para a Cidade de Pemba.

 

Já em Pemba. Procuramos por amigos que nos levaram até à polícia. Explicamos ao senhor agente em serviço que registou a ocorrência, mas disse-nos que estava de mãos atadas porque estava distante do facto e que deveríamos ter fé e esperança. Naquele momento era como se estivéssemos com um padre, nos fortificando e nos dando força!

 

As raparigas e mulheres que eram raptadas pelos al-shababes poucas conseguiam fugir deles e a maioria passava a ser escravas sexuais dos mesmos. Mas como a Mariamo iria aguentar aquela situação, uma vez que estava grávida? Pensamos em reportar alguns jornalistas, mas depois veio aquele medo, uma vez que os terroristas também informam-se com os jornais, rádios e televisões.

 

Em conjunto, optamos pelo silêncio. Mas a Mariamo continua nas mãos dos terroristas e o meu filho correndo o risco de nascer ou perder a vida nas matas e base dos al-shababes.

 

Quem nos ajudará? – Até hoje espero pela minha Mariamo!

 

Texto escrito através de um facto real ocorrido a um jovem casal residente em Mocímboa da Praia. A esposa encontra-se sequestrada pelos terroristas desde Junho. Os nomes do texto são fictícios, mas a história é verídica.

quarta-feira, 07 outubro 2020 06:15

Mathxinguiribwa *

O aeroporto de Maputo tremeu, não porque aterrava uma gigantesca aeronave, mas porque Timbila ta Mhono ia voar, como as águias que dominam as montanhas de pedra. Na capital inglesa, onde tudo vai começar, as televisões vão dando sem se cansar, excertos das actuações dos moçambicanos, para publicitação daqueles que irão actuar no Estádio de Wembley. Não há nenhum jornal que não insere publicidade da já considerada a maior orquestra de timbila de todos os tempos. Os melhores jornalistas ressurgem, soberbos, com reportagens espectaculares antes de chegarem as “águias”. Muitos desses jornalistas que agora retomam os apontamentos, estiveram no estádio da Machava, na despedida, e descrevem tudo aquilo sem, no entanto, conseguirem dizer tudo, porque, segundo eles próprios, o Timbila ta Mhono é infinito. As rádios abrem as suas emissões com o som da timbila e deixam essa secular melodia devastar os corações dos ouvintes por horas sem fim, muitos ingleses e outros europeus que estão em Londres, são entrevistados para dizer qualquer coisa sobre este vulcão que se anuncia, e a única coisa que eles conseguem dizer é, isto é simplesmente incrível, é imperdível.

 

Falta um dia para a abertura das comportas e tornar o Wembley numa albufeira sagrada dos chopi, para onde os europeus serão chamados a mergulhar e de lá sairem purificados, Wembley vai se transformar, com a chegada do Timbila ta Mhono, em lago Betsaida, onde o anjo Gabriel chegou e agitou a água para que todos mergulhassem e se puruficassem, e esse anjo Gabriel é, na linguagem dos jornalistas mais afoitos e mais criativos, que faziam estas comparações todas nas suas reportagens, Mathxinguiribwa, que não vai carregar a banda às costas, mas vai à frente dela, como Jesus Cristo ia à frente dos seus discípulos. Estas parábolas citadas nos jornais, aumentam a ansiedade, e os locutores chamam à atenção dos seus compatriotas para controlarem as emoções e reprimirem a ansiedade porque, como repetiam, a ansiedade mata.

 

Em Londres os hoteis estão abarrotados de gente que foi de diversos cantos da terra de Sua Majestade para testemunhar aquilo que é apelidado, por aqui, de meteorito sagrado, eles também querem ser fustigados, querem ver de perto esse mito vivo. A Polícia e o exército e a Polícia secreta, foram mobilizados para controlar a situação, e já fazem isso há um mês, mas nesta noite que antecede ao espectáculo, a vigilância redobra-se, em todas as ruas há agentes da autoridade trabalhando discretamente, também notam-se agentes da cavalaria movendo ora a passo, ora a trote, os seus pujantes cavalos, sem entretanto incomodarem as pessoas. À volta do estádio há várias lareiras com labaredas vivas, circundadas por jovens que cantam e dançam e bebem e comem carne assada em espetos, à espera que amanheça e concrectizem o sonho anunciado, e nesta alegria inefável, há um jovem que manda calar à todos para recordar o velho ditado, não é por muito madrugares que o sol vai nascer mais depressa. Mas esse raciocínio dos sábios não é relevante neste momento, dizia outro, para nós já amanheceu desde que estamos aqui. E a festa de antecâmara continua com muito sangue jovem, que ferve nas veias. Com verve.

 

É primavera, e as folhas caiem e espalham-se nas ruas e nas avenidas, folhas estas que não podem ir ao estádio ver  o Timbila ta Mhono, porque dali, do chão, serão retriradas para o lixo, ou para servirem de adubo, o Big Ben aumenta a ansiedade dos corações em cada badalada, que ecoa para toda a cidade e soa directamente para os microfones de todas as estações de rádio ingleses, que não páram de anunciar o grande show.

 

Já amanheceu, os portões estão abertos, e as pessoas começam a entrar mesmo sabendo que ainda faltam muitas horas para iniciar o grande espectáculo que será sem dúvida, memorável, porque esta orquestra que vem de Moçambique, foi criada para estar permanentemente no cume, e aquilo que está no cume, a sua vocação é manter a luz acesa para todos os que estão no sopé. E perante Timbila ta Mhono todos sentem-se no sopé. E precisam dessa luz africana personificada em Mathxinguiribwa. Para iluminar a alma.

  •  Excerto do romance de Alexandre Chaúque, a ser lançado no próximo dia 16 de Outubro em Maputo
quarta-feira, 07 outubro 2020 05:32

Mocímboa da Praia e o sismo de 2006

O dia 05 de Outubro de 2017 marca o início da insurgência terrorista no norte de Cabo Delgado e Mocímboa da Praia, o ponto de partida dos ataques, lembra-me o sismo (7.5 na escala de Richer) que abalou a Pérola do Índico, em particular as regiões centro (local do epicentro) e sul no ano de 2006. A lembrança, na verdade a semelhança, está no espanto. O espanto em ter ficado a saber da vulnerabilidade de Moçambique para acolher tal fenómeno e do facto de Mocímboa da Praia ser afinal uma região estratégica cujo porto é “um dos mais estratégicos” do país e quiçá da costa oriental da África subsahariana. Até 2006 não era notícia (ou de domínio público) que o sismo fosse um fenómeno que estivesse sorrateiramente alojado entre nós e, por estes tempos, que um outro tipo de sismo – o terrorista – tivesse que eclodir para vir à superfície a dimensão estratégia (económica e de segurança) de Mocímboa da Praia.

 

Levei o assunto à mesa do papo, entre amigos, neste final de semana a propósito da passagem dos três anos de insurgência terrorista. O grosso da opinião apontava como responsável desta ignorância geográfica a existência de problemas de comunicação do executivo ou mesmo a falta dela sobre assuntos basilares do país. Aliás, a falta de uma estratégia de comunicação governamental é um défice que o Jornalista Tomás Viera Mário tem repetidamente apontado nas suas intervenções públicas. No entanto, voltando ao debate, uma outra opinião foi a de que a falta de comunicação ou de informação de assuntos como a vulnerabilidade do país à ocorrência de sismos ou sobre a dimensão estratégica de Mocímboa da Praia, para citar como exemplos, não é o problema. Para esta corrente o problema é de base e é educacional (escolar e cívica). Mais adiante, o consenso de que a combinação do tal défice educacional com o de comunicação governamental constitui um potencial atentado à segurança do Estado. Porventura seja por aqui uma das trincheiras de combate. 

 

Uma outra lembrança de semelhança são as fugas da população. No sismo de 2006, ocorrido à noite, assistimos, na cidade de Maputo por exemplo, ao corre-corre súbito dos munícipes, sobretudo o dos residentes em prédios altos. Em Mocímboa da Praia o corre-corre diário da respectiva população, deixando para trás os habituais locais de residência. Desta semelhança, um detalhe: no sismo de 2006, o grosso dos “deslocados/desalojados” dos prédios da cidade de Maputo trajava camisetes (feitos pijamas) de seminários/workshops com dizeres/palavras de ordem sobre o combate a pobreza ou de promoção do desenvolvimento. E do grosso dos deslocados/desalojados de Mocímboa da Praia, a imagem de uma Nação que (de facto) dorme com os problemas do povo. 

 

Infelizmente as semelhanças não se estendem ao regresso à casa. No sismo de 2006, os “deslocados/desalojados” regressaram aos seus apartamentos depois de algumas horas. Para os deslocados/desalojados da Mocímboa da Praia, a noite ainda vai longa e por enquanto e de Agostinho Neto (1922-1979), poeta e 1º presidente de Angola independente, a esperança do sonho “Havemos de voltar”: “ (À Mocímboa) Havemos de Voltar/ Às casas, às nossas lavras/às praias, aos campos/havemos de voltar”. E mais adiante: “Aos nossos rios, nossos lagos/às montanhas, às florestas/havemos de voltar”. Que assim seja e o mais breve possível.

sexta-feira, 02 outubro 2020 05:51

Intrigante

ENTÃO, o guarda do prédio (testemunha) que assistiu a tentativa de assassinato disse que o camarada Vuma gritou, antes de ser baleado, por duas vezes: 'Salimo, o que eu te fiz?', 'Salimo, o que eu te fiz?'.

 

COM ISSO, um cidadão (suspeito), coincidentemente, de nome Salimo, foi detido dias depois em conexão com o caso.

 

ENTRETANTO, quase três meses depois, o camarada Vuma (vítima) diz que não se lembra de ter proferido tal frase nem tal nome naquele dia.

 

MAS, então, com que base é que a Polícia prendeu aquele Salimo, com tantos Salimos que existem no mundo, em África, na África Austral e em Maputo?! O que motivou a Polícia a deter exactamente aquele Salimo?! Porquê ele?! Qual foi a base?! Era o único Salimo que estava a passar por ali naquele momento?! O gajo estava a rir quando o camarada Vuma foi baleado e quando o interpelaram descobriram que, por mera coincidência, se chamava Salimo também?! Tinha indícios de alegria no rosto?! Encontraram algum objeto dele no local?! É um Salimo procurado pela Polícia?! A testemunha (o guarda do prédio) confirmou que foi ele, depois duma acariação?! É um Salimo que tem desavenças com a vítima?! São rivais?! São adversários em algum negócio?! Foi simples azar?! Com tantos Salimos neste país, até famosos, por que é que foram buscar exactamente aquele Salimo?! Muito intrigante.

 

Só resta saber, se, de alguma forma, o camarada Vuma conhece o senhor Salimo, o suspeito. Ou, então, se ele sabe que foi baleado ou se pensa que tropeçou nas escadas. Ou seja, se o que ele sabe se lembra ou foi contado.

 

- Co'licença!

quinta-feira, 01 outubro 2020 09:06

Visão de Estado