Fomos ao hospício, encontramos um maluco em tratamento, levamos o gajo à força contra a vontade do médico e sem nenhum laudo psicológico, enfiamos o gajo num fato e gravata da boutique "Extravagância", tiramos o gajo uma foto tipo passe, imprimimos em A-4 colorido e fotocopiamos aos milhares ali na papelaria "Académica", distribuímos por toda a província da Zambézia, gritamos aos quatro ventos para todo o mundo ouvir que aquele era o nosso candidato a Governador Provincial da Zambézia - o melhor de todos os zambezianos: o mais honesto, o mais inteligente, o mais prudente, o mais sisudo, o mais confiado, o mais sei-lá-quantos, e hoje estamos a chorar das suas maluquices! Hoje estamos a pedir que o maluco tenha dó. Queremos que o maluco tenha consternação. Definitivamente, somos muito complicados!
Hoje estamos a pedir àquele maluco que fomos levar no hospício sem ter tido alta oficial que não gaste dinheiro do povo com reabilitação do seu palácio. Estamos a pedir ao mesmo perturbado mental que avalie a situação. Que pondere, que seja prudente, que sinta pena. Estamos a pedir ao mesmo doído que analise a situação e abdique da reabilitação do seu pomposo palácio. Hoje estamos a dizer que meio milhão de dólares norte-americanos é exagerado para reabilitar uma casa. E queremos que um maluco que abandonou o tratamento tenha consciência disso. Vai entender!!!
Olha lá, aquele é um chanfrado. Saiu da presidência do município porque não estava bem da "head" e nunca nos disseram que já estava curado. É um paulado. Ele dele nem está a ver esse milhão dele como alguma coisa. Nem sabe que está a fazer algo de errado. Está nem aí! Nem sabe até que estão a falar com ele. Aquele está num mundo só dele e lá no mundo dele ele vive num palácio novo. Onde já viram um maluco que se importa com dinheiro. Não viram o gajo a lançar maços de dinheiro durante a campanha eleitoral?! Não viram?! Não deu para ver que o gajo é apenas um louco a viver a sua loucura?!
Ele é apenas um maluco, pessoal! Não tem remorsos. Ele pensa que pode fazer o que quiser. E nós devíamos aceitar isso como o preço da nossa casmurrice colectiva. Ou então pegamos o gajo de volta ao hospital, dizemos ao médico-psiquiatra que o gajo tinha fugido e alertamos aos guardas para ficarem "txendjewa" com o gajo para não pular muro. Não sei se há outra ideia!
- Co'licença!
A chuva intermitente que caía era afinal o prenúncio. Também houve graniso do qual ninguém se apercebeu, a não ser o próprio Mariano Nhongo, hospedado na suíte presidencial do Hotel Polana, a partir de onde ele observa a exuberância do Índico, sem que o luxo, mesmo assim, lhe retire o foco da sua luta. Chegou na noite de terça-feira, transportado num hélio das Forças Armadas Zimbabweanas, que aterrou na base aérea instalada do outro lado do Aeroporto de Mavalane. Foi tudo feito num secretismo absoluto que até a segurança destacada para o receber, não sabia de quem se tratava.
Chovia uma chuva leve, e o silêncio na pista e em todo o perímetro das instalações, era por demais sepulcural que entre os anfitriões que incluiam oficiais de alta patente moçambicana, perguntavam-se entre eles afinal quem é esse fulano. Nhongo saíu do pássaro metálico vestindo uma gabardina preta e um gorro que lhe cobria completamente a cabeça e uma boa parte do rosto, tornando-o irreconhecível. Um dos capangas que o aguardavam quis protegê-lo com o guarda-chuvas, mas o general recusou. Caminhou resoluto para o Range Rover cinzento luzidio que o esperava e sentou-se no banco da trás. O motorista tremeu quando viu um homem encapuzado a entrar apressadamente para a vitura. Parecia um algoz.
Eu já estava em Maputo há uma semana, discretamente, sem o conhecimento do editor, alojado no quarto contíguo ao que acolheria um homem cujas acções, façanhas para outros, podem ter já superado a sua condição de pessoa vulgar. Nunca o vi pessoalmente, mas ele é que me escolhe para a materialização da entrevista, e não poderia questionar sobre esta preferência. Lembrei-me de um dia que Deus disse a Moisés, vai ao Egipto libertar os filhos de Isarael! E Moisés perguntou, porquê que tenho que ser eu? E Deus trovejou como o Leão dos Céus, porquê que não tens que ser tu?
Estou deitado com o televisor desligado num quarto sumptuoso que nunca antes imaginara. Mas também já superei há muito os materiais da vida. Desactivei os dados do meu celular para que o silêncio tome livremente conta do meu espaço. Aliás, do espaço onde me colocaram. Quero ouvir os movimentos da chegada do General de Gorongosa, já que ele me avisara, através do telefone ligado directamente ao satélite, que a entrevista aconteceria ainda naquela noite.
Alguém bateu à porta dos meus aposentos, sem que antes tivesse havido qualquer sinal indicando a chegada de uma figura temida. Era estranho porque devia receber antecipadamente uma informação da recepção. Mas, nada! Perguntei quem era, e do outro lado respondeu-me o mutismo. Saltei da cama apressadamente, já estava vestido, calçado e tudo, como se estivesse no teatro das operações, sob comando de Nhongo. Peguei no gravador e no bloco de notas e disse, Deus, seja feita a Tua vontade.
Abri a porta e dei-me com dois homens dessimuladamente armados, do tipo furtivos. Balancei de medo na espinha, mas logo recompus-me. Olharam para mim de cima a baixo sem falarem, e logo a seguir indicaram-me a entrada ao lado onde supus estar o general, o próprio Nhongo. Entrei de mansinho e vi um personagem sentado tranquilamente na plotrona, de pernas cruzadas e as duas mãos por sobre o joelho direito. À mesinha de centro uma garrafa indisfarçada, dois copos que foram abastecidos na minha presença, ao mesmo tempo que o meu anfitrião indicava-me o lugar que me colocaria frente a frente com ele.
A suite, sob luz ténue, ficou impregnada com o aroma agradável de algo que reconheci ser aguardente de massala. Mariano Nhongo já não se cobria com o sinistro gorro, porém continuava com a gabardina. Bebeu num trago o conteúdo do copo sem cerimónias, e o que me disse logo a seguir foi de tal maneira inesperado que o seu sentido ganhou a dimensão da espada. Falava como se tudo estivesse sintetizado naquelas palavras. Ele disse assim, enquanto a preocupação forem os ganhos individuais ou de grupos, então jamais vai amanhecer em Moçambique.
E eu não sei se isso não é hipocrisia!
* Texo imaginário
Aqueles que estavam a dizer que a província de Gaza não pode ter 3 recuperados quando tinha somente 2 casos positivos de Covid-19 ainda estão por aqui? Será que não viram isso na matemática da oitava classe ou partiram caneta no "não tem solução"? Por via das dúvidas, seja "feiki-nhussi" ou não, vamos explicar.
É assim: aquilo chama-se progressão aritmética. É uma sequência numérica em que o próximo elemento da sequência é o número anterior somando a uma constante "r". Onde "r" é a razão da progressão aritmética. Para sabermos qual é a razão de uma progressão aritmética basta subtrair um elemento qualquer pelo seu antecessor. Por exemplo: (2, 4, 6, 8...) é uma progressão aritmética infinita crescente, onde "r" é igual a 2, pois qualquer número subtraído pelo antecessor é igual a 2. Assim: 8-6=2 ou 4-2=2; etecetera. Outro exemplo: (5, 4, 3, 2, 1...) é uma progressão aritmética infinita decrescente, onde "r" é igual a -1, pois 4-5=-1 ou 2-3=-1. Que é o caso de Gaza. Entenderam?! Alguma dúvida?! Não! Okey!
Então, ali em Gaza - matematicamente - estamos perante um caso de progressão aritmética infinita decrescente com "r" igual a -1. Não se esqueçam que "r" é a razão... e nós estamos aqui para isso - ter razão. A ideia é sempre ter razão seja como for... a todo custo! Este é mais um caso apriorístico de Gaza. Num lugar onde defuntos ressuscitam para votar não vai ser difícil recuperarem de uma doença. Se até em Maputo tem pessoas que recuperaram sem terem adoecido, vai custar em Gaza?!
Prontos! Não pensem que desta vez vamos enviar o doutor Apriorístico (aquele "titxa" com nome de bolinho frito e bigode de Hitler) para explicar isso na televisão. Não vamos arriscar mais. Aquele vosso puto Venâncio anda muito afiado ultimamente. Não vamos deixar o gajo "txaiar" o nosso doutor de novo.
Agora, quem quiser ser capim alto pode começar a fazer barulho... nós vamos cortar. Aí no INE tem mais alguém?! E aí na universidade?! Nada! Muito obrigado e...
- Co'licença!
Senhor Presidente da República, Excelência,
No dia 25 de Junho vamos celebrar 45 anos de Moçambique independente. Esse histórico e epopeico dia tem um significado incomensurável para todos os moçambicanos, do Rovuma ao Maputo, do Zumbo ao Índico. Excelência, esse dia nos recorda o histórico discurso do camarada e saudoso Presidente Samora Machel no estádio da Machava, não só, o hastear das nossas aspirações coletivas como nação simbolicamente representado na troca de bandeiras.
Neste ano atípico, Senhor Presidente, não iremos ao estádio da Machava, confluir-se no calor do povo, a nossa razão de luta. Neste dia 25, fisicamente ficaremos em casa, no aconchego familiar, mas os nossos corações estarão vibrando como em 75 na Machava, acredite.
Senhor Presidente, nós o povo estaremos a ouvir o seu discurso e a vê-lo (possivelmente), das nossas casas, junto das nossas famílias por quem pelejamos na busca do pão de cada dia nas diversas frentes, no dumba-nengue ou no dumba-my-love, no estrela ou no paquiteketi, por esse Moçambique a fora.
Senhor Presidente, nós vamos vibrar consigo tal e qual em 75, embora das nossas casas. Mas, Excelência, alguns de nós ainda não desembarcamos na Mavalane, a porta de entrada dos que pelejam na Luz como Eusébio, em Sydney como a Lurdes, em São Paulo como o Silva (o Guilherme, entende?!). Estamos ainda aqui, espalhados pelas frentes da diáspora, de coração apertado, ávidos de celebrar junto dos nossos esses 45 anos da independência que também é nossa.
Senhor Presidente, até tentamos com nosso taku (como das outras vezes), mas as circunstâncias atípicas deste ano não jogaram a nosso favor. Aqui da Luz, no dia 5, fomos burlados por uns TAPapados que não nos atendem mais o cell, ficaram com a nossa mola e mais nada, sem direito a um ESSE-EME-ESSE de desculpa pelo menos, ficaram ziiii, tipo não se passa nada, a troco da nossa vontade de nos juntarmos às nossas famílias. Os tipos xiquelenizaram isto, acredite.
Senhor Presidente, que tal nos repatriar de verdade, sem aquela burla dos 50 paus do nosso já furado bolso pelos Nyangu&Meles ocultos dessa vida, de verdade mesmo, para nesse dia 25 estarmos todos juntos, na independência das nossas famílias, a aplaudir o seu discurso? Que tal, Senhor Presidente?
Francelino Wilson
Num texto recente (Eduardo Mondlane. Um arquitecto mudo e de costas para o povo?) reclamei, mais um vez, de que o 1º presidente da FRELIMO, Eduardo Mondlane (1920-1969), precisava de se dirigir ao povo moçambicano. Aliás, uma reclamação de há 6/7 anos quando fi-la num outro texto (Pai, Mondlane não fala?). Nos dois textos, fora a reclamação, sugiro que nos festejos por ocasião de celebrações de Mondlane, FRELIMO e da independência de Moçambique, para citar algumas, as instituições de direito, o Governo em particular, deviam brindar o povo moçambicano com a voz de Eduardo Mondlane, o arquitecto da unidade nacional, quer através de vídeos e áudios quer por via de escritos de entrevistas, discursos e de outras intervenções. No último texto ainda pedi ao partido FRELIMO que fizesse jus a uma das suas marcas: a valorização da tradição e dos bons costumes.
O Martin Luther King Jr. (1929-1968) foi um pastor protestante e um dos principais líderes afro-americanos de luta contra a discriminação racial nos Estados Unidos da América (EUA). Com esta grande figura tenho o grato privilégio e o orgulho de partilhar a data de aniversário e tudo que é inerente a um capricorniano. Há dias fiquei ainda mais orgulhoso: vi e ouvi o meu homólogo aniversariante a responder a uma pergunta sobre as causas que possam explicar porque razão os afro-americanos enfrentam tanta dificuldade para poderem progredir nos EUA. Na verdade a pergunta foi dirigida a Fareed Rafiq Zakaria, escritor e jornalista norte-americano, no seu programa de TV “Fareed Zakaria GPS”, a propósito dos recentes ( e em curso) acontecimentos de foro racial nos EUA. Para responder Zakaria recorreu a um vídeo de uma entrevista dada por Luther King em 1967. No final do vídeo Zakaria disse que fazia de suas as palavras de Luther King.
Voltando a Mondlane: a data (20 de Junho) do seu centésimo aniversário está próxima e será celebrada num contexto em que a sua grande obra – a unidade nacional – vive tempos difíceis e carecendo de uma intervenção de vulto. Para o efeito nada melhor que a do próprio arquitecto. Aliás um procedimento que devia ser normal para trabalhos regulares de manutenção. Mas pelo o que tenho acompanhado na imprensa, até agora o arquitecto da unidade nacional ainda não foi chamado. Os trabalhos de manutenção da sua grandiosa obra está, e como sempre, à cargo de intermediários. Contudo, ainda não desisti. Irei aguardar até ao dia 20 de Junho. Quem sabe se até lá alguém de direito faça o mesmo que Fareed Zakaria.
Cofiou copiosamente toda a extensão do seu bigode que nas extremidades seguia em forma de espiral enquanto olhava taciturno para o céu luzidio de quinta-feira.
Meditabundo matava o tempo que lhe parecia inanimado principalmente agora longe do azafama do quotidiano de outrora, tudo por conta do inimigo invisível.
Sim, tinha saudades do tempo que laborava e no seu emprego dirigia uma turma de colegas que reconheciam a sua competência e autoridade.
Agora vivia a reclusão domiciliária por conta das autoridades governativas e carimbada pelo seu superior hierárquico que decidira que ele deveria ficar remetido no seu recanto para não ser atingido pela pandemia.
- Januário, Januário! - chamava-o a mulher a partir da sala contígua.
Ele absorto na sua viagem não escutava, procurava se comunicar além galáxia, para não sucumbir ao convívio familiar forçado. Agora estava sob a direcção de sua esposa.
Leonor, quando percebeu que o marido não a escutava decidiu incumbir o filho mais novo de o chamar.
- Sim, sim! – atendeu Januário ao insistente chamamento do filho.
Apresentou-se perante a sua esposa que se deleitava confortavelmente na poltrona segurando o remoto controlo de televisão.
- Chamaste? – inquiriu olhando para Leonor que meio distraída trocava de canal optando agora por um de ginástica aeróbica.
- Tens que ir deitar o lixo – conferiu com autoridade passiva.
A empregada domestica, havia sido dispensada unilateralmente pela patroa pois representada um potencial risco de contrair o vírus por recorrer ao “chapa” nas suas deslocações.
Quando o conteúdo televisivo que assistia perdeu o interesse ela percebeu que o seu marido ainda não tinha saído para cumprir com a missão.
Voltou a gritar pelo seu nome, mas este continuou silencioso. Depois de uma demora prolongada Januário reapareceu.
- Já vou! - disse
Ela ainda com fitos no televisor não deu pela presença do marido, mas depois espreitou pelo canto do olho e encontrou-o prestes a partir.
- Chii vais aonde assim mesmo! – disse ela estupefacta com o visual do marido.
- Deitar lixo como mandaste! – conferiu convicto.
Januário trajava um terno azul devidamente engomado e uma gravata vermelha, era a indumentária que mais confiava e o usava quando tinha as reuniões de alto gabarito. Recuperou o seu traje favorito depois de mais de quarenta e cinco dias de internamente a propósito da nova ordem social, agora que o usava sentia-se outra vez dono de si.
Quando alcançou a principal rua que dava acesso ao destino uma brisa fina sacudiu seu rosto e ele despertou para lembranças de outrora, dos bons tempos. Atirou o saco e toda a sua depressão voou com os resíduos domésticos e aterrou no interior da lixeira.
Alisou as lapelas do seu paletó e reiniciou a marcha para parar logo de seguida, recuperou um charuto inacabado, tesourou a parte superior acendeu-o, deu uma longa chupada e quando a outra extremidade atingiu o rubro, largou e expeliu uma pequena fumaça aromática.
Continuou sua caminhada sem muita pressa de voltar para casa, dava um e outro sorvo no seu charuto e a sensação de liberdade trazia-lhe felicidade. Adentrou para uma pastelaria e pediu um café, enquanto aguardava recuperou a sua liberdade de expressão e decidiu ligar.
- Querido como é bom ver-te e ouvir a tua voz depois destes dias todos! – gritou Elisa emocionada. – Estás lindo meu bem.
Evoluíram num paleio erótico protagonizado por Januário e a medida que a sua eloquência se adensava ela descobria as suas partes intimas seduzindo-o.
Quando a vídeo reunião terminou sentiu-se um homem novo e cogitou:
“ A humanidade, com destaque para os cientistas e curandeiros deviam encontrar uma cura a curo prazo para o desconvidado vindo do ano 2019”