Estou sentado, como o tenho feito com alguma relutância nos últimos tempos, num dos bancos perfilados ao longo da marginal da cidade de Inhambane, a contemplar o sol que se vai deitar daqui a pouco. Desta vez é Txifuliane, mulher chope do interior de Zavala, o forte motivo para eu estar aqui. Ansioso. De certa forma nervoso. E para espantar a demora, sustento o tempo de espera enquanto observo a natureza, pensando ao mesmo tempo na mulher que vai-me alimentando, aos poucos, a esperança, como o próprio gotejar da luz.
Txifuliane é diminuitivo de Txifule, que significa mulher sáfara. Que não faz filhos. Mas eu não olho para ela na perespectiva de gerar ou não, os filhos que até podiam estar no seu horizonte, entretanto ferido pela descompensação de não poder ser mãe. Nunca coloquei esse lado biológico como equacionante para a nossa relação, que até aqui não sei se vai produzir algo de bom, como as videiras plantadas na berma dos rios.
Conhecemo-nos há cerca de cinco meses, tempo durante o qual fui percebendo que Txifuliane pode ser uma criatura muito delicada. Que vai arder à mínima faúlha, e queimar-se a si mesma, tipo emolação espiritual. Então ganho uma certa exitação, porque na verdade o meu maior medo será magoar esta alma que me parece muito leve como pluma. Por vezes chego a pensar que é melhor desistir, antes que a minha imprudência provoque fogo posto, no interior de uma mulher que está num eterno período de gestação da dor de não poder dar à luz um ser humano.
O que mais me atemoriza é que ela parece confiar em mim. Sinto que os pensamentos dela são de que encontrou finalmente o porto onde possa atracar com todas as bagagens em segurança. Isso é que abala a minha alma, porque nunca fui porto seguro de ninguém. Txifuliane não merece um terreno movediço que sou. Só nos olhos dela noto algo de muito profundo. De muito sincero. Quando pronuncia o meu nome, todo o meu corpo arrepia e alguma coisa me diz que nela tudo é verdadeiro. E se for, então não a mereço.
Penso em tudo isso sentado neste banco da marginal, numa espera que não me dói. Txifuliane é uma mbila. Ressoa para dentro de mim com suavidade. A voz é melancólica como o cântico das rolas ao fim da tarde. E esta realidade profunda perturba-me. Estou num dilema que me pode degenerar, porque este, com certeza será, pelo que sinto, o último sinal. Se não fosse, então tudo em mim estaria tranquilo. Mas estou a tremer. Tremo muito mais ainda quando Txifuliane me toca e diz-me em chope assim: naku dunda (amo-te).
A actual tensão no médio-oriente é ruim para o mundo mesmo que não resvale em guerra aberta. As consequências das tensões e guerras nesta região do globo são familiares. Algumas das consequências têm sido a reconfiguração territorial, as mudanças de correlação de forças e os realinhamentos de alianças estratégicas. Existe uma outra consequência não tão importante mas interessante: a reconfiguração do vocabulário.
Quando foi da segunda guerra do Iraque (2003) despoletou um debate ou a curiosidade em se saber se os americanos entrariam por ar ou terra em Bagdade, capital Iraquiana. Creio que um General americano - e a propósito da preocupação - tratou de esclarecer, referindo que “O Objectivo é Bagdade” e que não interessava se era por terra ou via aérea. E assim encerrou o assunto. Uma vez tomada a Cidade de Bagdade e o resto do Iraque, num (Tikrit) e outro local (Faluja) aconteciam alguns ataques dos iraquianos que os americanos apelidaram de “Bolsas de Resistência”.
A “Tribo Lazer” (grupo de confraternização) a que pertencia tratou na altura de acomodar os novos termos no vocabulário corrente, aliás no vocabulário líquido. Certo dia - desenrolava a preparação de um evento de pretexto para uns “Copos & Papo” – e um assunto aflige o “Grupo de Contacto (GC)”, equipe responsável pela organização da festa. Existia a dúvida se o GC compraria um barril de cerveja 2M ou de Laurentina Clara. Não havia dinheiro para dois barris. O impasse foi sanado quando um dos membros do GC disse “não interessa, seja Laurentina Clara ou 2M, o objectivo é Bagdade”.
No dia da festa, chovia na Matola (o local do evento). O mais próximo do GC da casa anfitriã - preocupado com a chuva, pois a estrutura e toda logística estava montada - ligou para um dos membros do GC, a manifestar alguma apreensão se a tribo iria comparecer. O anfitrião ficou descansado quando do outro lado da linha ouviu que ficasse relaxado que a chuva era apenas uma “Bolsa de Resistência” e que não atrapalharia o objectivo traçado e lacrado com a chancela de urgente e inadiável.
Vêem-me lágrimas de saudades só de lembrar as grandes batalhas cognominadas de “O Objectivo é Bagdade” ou “O Assalto à Bagdade”. Nesses tempos eu era polígamo - assim como tantos outros – e talvez a razão das saudades. Eu participava nas batalhas se as minhas três namoradas lá estivessem ou se permitissem que eu as levasse. Era inegociável: Os quatro ou ninguém.
Actualmente e por razões alheias a minha vontade não tenho marcado presença. Uma ou duas vezes ao ano participo em algumas cerimónias de exaltação de heróis anónimos de antigas batalhas (um dia conto algumas das batalhas mais emblemáticas). São cerimónias comparadas ou ao nível das realizadas por ocasião da celebração de mais um aniversário do “Desembarque da Normandia”, o famoso dia “D”, que determinou o final da 2ª Guerra Mundial.
A razão da ausência é uma e única: As minhas três namoradas ( e sem exclusividade) já não fazem parte deste mundo. Foram sumariamente executadas. Corre um inquérito para averiguar o “Modus Operandi” da execução e apurar responsabilidades. E também, em paralelo, corre um outro inquérito para se apurar a veracidade de informações que sustentam a possibilidade delas terem sido induzidas a uma situação de coma cerebral. Amiúde - nas redes sociais - circulam versões que defendem esta hipótese, pois nunca foi exibido a certidão de óbito das três e inesquecíveis namoradas: A Laura, Tina e a Clara. Até que tudo seja esclarecido, confesso: Tenho muitas saudades de ti, Laurentina Clara!
Por estes dias que Trump, presidente norte-americano, ora ameaça apertar o gatilho, ora decreta sanções ou diz que está aberto ao diálogo com Teerão ( capital do Irão), tenho pensando nas batalhas que se travam por cá por conta da entrada de um novo “player” no xadrez alcoólico da Pérola do Índico. E venho imaginando os Departamentos de Guerra (DGs) das duas companhias - eufemisticamente denominados “Departamentos de Marketing”- a traçarem os respectivos objectivos estratégicos com recurso a frases do tipo: “O Objectivo é Jardim” ou, para a contraparte, “O Objectivo é Bobole”.
A terminar, o apelo para que o vocabulário não seja actualizado por conta de uma nova guerra no médio-oriente: Que “O Objectivo é Bagdade” não necessite que passe para “ O Objectivo é Teerão” (e por arrasto, que as “Bolsas de Resistência” sejam de resiliência para outros desafios da humanidade); E no que estiver omisso, que esclareça ou decida o leitor.
Quando eu era moleque havia um hábito que os jovens faziam. Quando fossem as farras, levavam consigo uns comprimidos tóxicos (na banda chamava-se "roipe") no bolso para intoxicarem as miúdas que bebiam. Esmagavam o veneno com os dedos para o copo da menina, muito rápido e sem que ela se apercebe-se, e depois dela ficar em papas a carregavam para uma esquina onde era estuprada pela gangue. Na zona chamavam de "kukumbi" ou bicha. As moças iam às festas atentas, mas, as vezes, voltavam traumatizadas.
Estava na moda entre os jovens que não tinham papo para engatar uma boa "mwana". O problema era mesmo falta de papo desses jovens. Falta de "patuale". Falta de "borogodó". Falta de atrativo. Faziam tudo à força e de forma disfarçada. Eram cobardes esses jovens.
Hoje, esses jovens cresceram e viraram políticos. E fazem o mesmo: você faz a tua décima-segunda-mais-um, concorre à uma vaga de professor, é apurado e colocado na escola primária de Teacane-Natikiri em Nampula, e está feliz da vida (como quem diz!). Numa quarta-feira de Junho, você chega ao job e o director vem lhe dizer que amanhã não haverá aulas porque o Presidente da República vai chegar à cidade, e por isso, você deve estar no aeroporto, às sete-e-meia da manhã, para o receber com os seus alunos na primeira fila. E mais: você deve vestir aquela camisola do Benfica (que você comprou no nigeriano dos Poetas para celebrar o troféu) para parecer membro da FRELIMO.
Quer dizer, hoje em dia, ser funcionário público é um autêntico "kukumbi": enfiam-te um salário magro, pela direita, enfiam-te uma dívida oculta, pela esquerda, enfiam-te de ser membro do partido deles, por baixo, e etecetera. E você tem de parecer que está tudo bem. Sempre com aquele sorriso administrativo. Embriagam-te com chantagens e estupram-te com trabalhos fora dos teus termos de referência. Até as crianças, que pecaram apenas por serem alunas, são violadas.
Como é que um governante se sente, quando sabe que aquela moldura humana que o recebeu foi forçada para estar ali? Que prazer dá ser acarinhado por pessoas chantageadas com o seu emprego? Que tesão dá saber que aquela onda vermelha, na verdade, não é vermelha?
Hoje não há aulas na cidade de Nampula. Não quero imaginar em Lalaua, Moma e Nacala! Será que Filipe Nyusi precisa mesmo disso para se sentir Presidente da República de Moçambique?! Isto é mesmo falta de borogodó político.
- Co'licença!
Não é do Zandamela, do mais imponente e reluzente edifício da baixa de Maputo a que me quero referir, o tal que, há tempos, chamou a alguns PCAs de bancos de "lobistas".
É do outro Zandamela, o da LAM, o comandante. Zandamela Neves deve ser chope ou é descendência chope. Neves, que parece ser o apelido, o último nome pronunciado por uma aeromoça, por sinal, a chefe de cabine, é uma corruptela. Tal como Monjane é corruptela de Mondlane ou Costa corruptela de Cossa ou ainda Bié corruptela de Mbiyê.
Zandamela Neves, simpático, comunicador, devia ser o protótipo de pessoas que, para as alturas, levam vidas que cruzam os céus deste país que, há 44 anos, já é independente.
Algum tempo depois do TM 156, da companhia da bandeira, a LAM, rasgar os céus, com destino à capital do Norte, Zandamela fez gosto à retórica. Estar no ar durante horas não deixa de provocar stress. Como diz Gustavo Mavie, um dos jornalistas com maior número de horas de voos, quando o avião sai da pista tudo depende do comandante, mas guiado por Deus.
Dos microfones do cockpit veio uma voz meio embargada e trémula, mas que veio reconfortar e transmitir segurança aos passageiros. Naqueles instantes, ninguém se lembrava que estava a 31 mil pés de altitude, tal é a forma doce que nos chegavam aquelas palavras do comandante.
Zandamela Neves, em tom humilde, falou dele, falou da carreira dele, mas para mostrar que ele apenas dirige uma equipa que não é chefe, mas um líder. Apresentou todos os membros da tripulação. Era dia 25 de Junho, ontem, terça-feira e a chefe de cabine, completava 14 anos depois de se ter iniciado na carreira.
O bom disto é que a relação entre a LAM e os passageiros transcende o lado comercial, afinal somos humanos.
A comunicação de Zandamela Neves para os passageiros humaniza a relação daqueles com a LAM. Foi impressionante ouvir Zandamela Neves a dizer que "somos a companhia da bandeira, estamos aqui a trabalhar a meio todas as adversidades". Adversidade é minha palavra. Zandamela disse "dificuldades".
Parabéns LAM. Há muitos Zandamelas, na LAM, há muitos Joãos Madureiras, como há vários Neltons Nhantumbos, na LAM. Há muita boa malta na LAM. Jorge Zandamela Neves, de seu nome completo, é um veterano na aviação, com 40 anos de carreira, iniciados em 1979. Este Jorge é um verdadeiro cultor de relações humanas/públicas. Quando o Embraer se imobilizou na placa do Aeroporto de Nampula, logo que o aparelho deu um beijo à pista, ele próprio saltou do cockpit para dizer a todos os passageiros, um por um, com sorriso estampado nos lábios "muito obrigado, boa estadia, esperamos voltar a vê-los, até a próxima".
Com a Ethiopian a acossar os serviços da nossa companhia de bandeira, a LAM precisa mesmo de fazer reajustamentos no capítulo das relações humanas e distribuir sorrisos.
Ainda há muito pó por sacudir na LAM. É para ontem!
A LAM merece todo o nosso carinho.
O que dói é perceber a minha incapacidade de nunca a ter tratado na dimensão que ela merecia. Fui distraído durante toda a vida e não entendi os inabaláveis fundamentos da minha mãe. Sinto agora, que ela partiu, deixando um enorme vazio em mim, que afinal esta mulher enchia a minha vida, com todos os exíguos meios à sua mercê. Mas tinha outra arma crucial para todas as lutas: o imenso coração onde eu, mesmo assim, recusava-me a permanecer para desfrutar do maná inesgotável de amor.
Na última década da sua vida, minha mãe já não se locomovia com os seus próprios meios. Era um duro golpe para um ser independente, que acordava nas manhãs antes dos pássaros saírem dos ninhos, para dar o corpo à terra. Ignorando que aquela entrega sem reserva, levá-la-ia, mais dia, menos dia, ao ponto de já não poder andar. Danificou completamente a coluna vertebral nesse amanho, e o resultado disso não podia esperar eternamente. Tremeram as manilhas da sua anatomia, e nunca mais se pôs de pé.
Naquela posição, sentada para sempre, minha mãe era uma tigresa vencida. Com as patas trazeiras esfrangalhadas nas armadilhas, e uma terrível descompensação nas ancas. Os olhos brilhavam com sede da paisagem verde, não para atacar as gazelas, mas para enterrar a enxada. No fundo era uma águia que já não podia desafiar as alturas e poisar no topo das montanhas de pedra. As asas foram decepadas pelo próprio uso. Mesmo aqui perto, no mercado que fica à ilharga da nossa casa, onde ia conversar com as amigas, contando histórias de nunca acabar, já não podia ir. Parecia que a escuridão inteira lhe cercava. Sem ninguém para conversar porque eu não percebia que minha mãe precisava de mim. E eu precisava de beber todos os dias.
Ela partiu usando praticamente os meus braços como rampa, no movimento de levantá-la todos os dias para o banho, deixando dentro de mim o cheiro dela de mãe. Mas eu não merecia esse privilégio de cuidar de alguém que nunca valorizei. Nunca soube retribuir o amor que sempre me deu, sem querer nada de volta. Contudo, tranquiliza-me o facto de tudo ter mudado nos últimos três anos da minha mãe, tempo durante o qual, nós os dois vivemos em amor intenso. Ela chamava-me de pai. Sempre que eu entrasse no seu quarto, olhava para mim e dizia, papá. Aliás o quarto dela fica aqui mesmo, ao lado do meu. Numa pequena casa e um enorme quintal cercado de “espinhosa” sempre podada.
Agora que tudo se consumou, mais do que sentir a ausência da Marta, minha inesquecível mãe, e o medo de estar aqui sozinho, tenho a agradável sensação de que ela me vigia. Ela enche a nossa casa e me dá paz em todos os momentos. Obrigado mãe, perdoa-me por tudo o que fiz contra ti, e por todo o amor que nunca te dei.
“As dimensões Meio Ambiente e Desenvolvimento tornam-se úteis quando a cultura é vista como um terreno fértil para identificar e formar parcerias com a comunidade local, através das quais o desenvolvimento ambiental sustentável pode ser alcançado”
Jan Nederveen Pieterse (2001)
O ar pesado e escaldante da província de Tete é sentido logo quando aterramos em Chingodzi. Saindo do aeroporto, do nosso lado esquerdo, a marca vegetal é definida pela grandeza do embondeiro que se ergue e protege os fanáticos do futebol. Esta terra, considerada mística, é caracterizada por suas quantidades robustas de recursos minerais esgotáveis – como o carvão mineral – que atraiu os impulsionadores das políticas do desenvolvimento.
Mas não é das potencialidades dos recursos naturais – que ocorrem em Tete e por todo este conjunto de bacias hidrográficas que caracterizam a zona centro e norte – que pretendemos reflectir. É sim daquele mais velho – conhecido por Mfumo, dependendo da língua – que é considerado um repositório de “conhecimento cultural”. Prezado como veia transmissora entre a comunidade e a Terra. Até aqui, podemos considerar o “conhecimento cultural” como um intercessor entre a Sociedade e a Terra. Esta união não poderá ser analisada como uma relação de mera (co)existência; podemos sim, considerá-la como uma (retro)alimentação que pode ser expressa pela existência da Terra – e os seus recursos naturais – na construção das Sociedades e, este último o Mfumo, como o conservador da Terra, onde o “conhecimento cultural” é tido como mediador desta triangulação.
Hoje, aquele Mfumo e a sua comunidade local foram “trinchados” para dar lugar a corrida pelos recursos naturais que defraudaram por completo todas dinâmicas e estruturas sociais que ainda permanecem em construção nos espaços rurais de muitos estados africanos. Além disso, a implementação dos projectos de mineração assumem o controle e contribuem para a transformação das relações entre as comunidades e as zonas de afluência cultural. Pelo que, não sei se seria utópico considerá-lo como uma figura indispensável na sociedade.
A questão que se coloca, todavia, é a seguinte: até que ponto o Mfumo, que outrora tinha legitimidade junto da sua comunidade, pode ser visto como um repositório do conhecimento sobre “questões ambientais”? É que, na narrativa do “modelo participativo”, ele (Mfumo) ganhou um campo no contexto do desenvolvimento, baralhando a lógica de quem o nomeia e, igualmente, de quem o considere legítimo representante da comunidade. Agora ele não precisa somente de herdar o poder. Pressupõe-se que saiba ler e escrever, forçando a que os novos líderes locais, cujos poderes foram diluídos com o “trinchamento”, sejam vistos como resultado da atração pelos novos modelos de vida urbana nas zonas rurais, nomeadamente entre os grupos mais jovens. Sendo o Mfumo ainda considerado o repositório do “conhecimento cultural” e tido como mediador dessa triangulação que envolve a Sociedade e a Terra, há que questionar sobre as razões que terão levado a uma deterioração do grau de confiança entre a comunidade local e os seus novos líderes.
É preciso reconhecer que as estruturas sociais das comunidades locais procuram sempre obedecer uma lógica dos desafios do desenvolvimento a qual estamos expostos. Mas a mesma lógica (por nós defendida) vira-se contra nós (frutos desse “trinchamento”) quando o ganho da política de expropriação dos recursos naturais não beneficiam as comunidades locais (enquanto verdadeiros guardiões e produtores dos recursos naturais), dando primazia aos detentores do capital e do poder. Esta prática criou, por exemplo, na terra dos embondeiros uma ânsia nas novas formas de participação e mobilização popular nas comunidades locais onde ocorrem a exploração dos recursos minerais.
Neste sentido, a reflexão aqui apresentada sobre o “trinchamento” das comunidades locais e as questões ambientais procura mostrar a pertinência daquele repositório de “conhecimento cultural” que pode ser usado como um recurso para potenciar instrumentalmente as políticas de desenvolvimento. Isso porque, na prática, é indiscutível que o “Mfumo” goza de um papel chave nos espaços produtivos dos recursos naturais nas comunidades locais e na nossa relação com a terra.