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Redacção

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Há mais de dois meses que os funcionários do Município de Nampula, dirigido por Paulo Vahanle, da Renamo, não recebem os seus honorários. Tal cenário não só se deve às dificuldades financeiras que aquela Autarquia continua a enfrentar, mas também devido ao aumento do número dos seus trabalhadores nos últimos meses.

 

O efectivo de funcionários no Conselho Autárquico de Nampula começou a registar um estranho aumento quando aquela Autarquia ficou "desgovernada" na sequência da morte do então edil Mahamudo Amurane. O malogrado deixara um efectivo de 1.187 trabalhadores, que no global ‘consumiam’ mais de 12 milhões de Meticais em salários.

 

Mas durante o período de gestão da transição, sob administração interina do presidente Américo Iemenle, do Movimento Democrático de Moçambique, o número de trabalhadores aumentou para 1200. Nessa fase registou-se uma admissão alegadamente estranha e pouco clara de trabalhadores.

 

Já com a eleição de Paulo Vahanle nas eleições intercalares de Março de 2018, e respectiva investidura a 18 de Abril do mesmo ano, o número de trabalhadores passou para cerca de 2500. E a factura em salários chegou a atingir pouco mais de 22 milhões de Meticais, de acordo com fontes da “Carta”. Com esta situação, a capacidade financeira do Conselho Autárquico de Nampula reduziu, apesar de conseguir colectar mensalmente pouco mais de 12 milhões de Meticais em diversos sectores de actividade, principalmente nos mercados e estabelecimentos comerciais.

 

Alguns funcionários da edilidade nampulense que falaram na condição de anonimato consideram ‘preocupante’ a situação do Município da terceira maior cidade moçambicana, e dizem não saber como sustentar-se e às respectivas famílias. 

 

O Conselho Autárquico de Nampula já havia anunciado em Fevereiro passado que estava a enfrentar problemas financeiros para pagar salários, na sequência da falta de canalização dos Fundo de Compensação Autárquica (FCA) e de Investimento por parte do Governo Central. Nessa altura, o vereador do pelouro de Finanças disse que a sua instituição possui verbas insuficientes das receitas locais, e que não podia pagar a uns e deixar outros de fora, daí ter optado por esperar pelo desembolso dos fundos em causa.

 

Hoje inicia pagamento de salários

 

Entretanto, contactado pela “Carta” o director do departamento de Comunicação e Imagem do Conselho Autárquico de Nampula, Nelson Carvalho, afirmou que o executivo municipal vai começar a pagar salários dos dois meses em atraso a partir desta segunda-feira (25). De acordo com a fonte, a edilidade pediu apoio aos seus “parceiros de cooperação”, que já responderam positivamente.

 

“Job for the boys”

 

Depois que Paulo Vahanle venceu as eleições de Outubro do ano passado, ele tratou de dispensar mais de 200 trabalhadores, maioritariamente varredores de rua do sector de Salubridade e Gestão Funerária. Quando já se pensava que a medida era uma forma de contenção de despesas por causa do elevado número de funcionários, a edilidade começou a contratar pessoas ligadas ao partido Renamo. Actualmente, o efectivo ultrapassa os 2500 trabalhadores. Até Janeiro deste ano, o vereador do pelouro de Cooperação e Desenvolvimento Institucional, Alfredo Alexandre, havia garantido que a edilidade não iria contratar novos funcionários, e que dali em diante tudo seria feito mediante concurso público.

 

Marginalização de antigos vereadores do MDM

 

Actualmente, há funcionários com nomeação definitiva, mas desde que tomou posse o novo Conselho Autárquico de Nampula eles não foram afectados em qualquer posto de trabalho. Um desses funcionários é o antigo vereador da Polícia Municipal e Fiscalização, Assane Raja. O outro é Reginaldo Pinto, antigo vereador da Obras e Manutenção. Ambos pertenceram ao elenco do falecido Mahamudo Amurane. Conforme apurou o nosso jornal, Assane Raja não recebe salários desde Dezembro do ano passado, quando a equipa governamental de Paulo Vahanle decidiu cortá-los.

 

O antigo vereador da Polícia Municipal e Fiscalização continua à espera que lhe sejam atribuídas novas funções. Há outros na mesma situação, cuja identidade não conseguimos apurar, mas seguramente trata-se dos poucos antigos chefes do reinado de Mahamudo Amurane, agora marginalizados. 

 

A título de exemplo, o ex-director do Departamento de Transporte, que também já desempenhou as funções de director de Salubridade e Gestão Funerária, Gamito Carlos, foi colocado como controlador de lixo (um agente sensibilizador e orientador de boas práticas no depósito de lixo), numa das lixeiras algures em Nampula.

 

Por sua vez, um antigo administrador da Empresa Municipal de Água e Saneamento de Nampula (EMUSANA) foi transferido para a morgue do Hospital Central de Nampula (HCN), onde faz registo de óbitos. Entretanto, Faizal Ibramugy Abdul Raimo, antigo chefe do gabinete do edil, escapou da lixeira e foi colocado na Secretaria do Posto Administrativo Municipal de Namicopo. (Rodrigues Rosa)

 

O Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), Standard Bank e Moçambique Telecom (Tmcel) fizeram na semana finda as suas doações às vítimas do ciclone IDAI que afectou as províncias do centro de Moçambique, com maior gravidade em Sofala e sua capital provincial, Beira.

 

Como seu contrubuto para as vítimas do IDAI, o INSS entregou na quinta-feira (21) ao Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) um cheque no valor de 350 mil Mts. “Através deste acto de solidariedade, o INSS espera contribuir para aliviar o sofrimento das vítimas do ciclone Idai, e garante que o gesto será replicado ao nível das delegações provinciais”, lê-se no comunicado enviado por aquela instituição.  

 

Por sua vez e para idêntico fim, o Standard Bank doou na última sexta-feira (22) em Maputo, através do INGC, bens alimentícios, material de higiene, entre outros. Na ocasião, o administrador delegado do Standard Bank, Chuma Nwokocha, disse haver mais acções que o Standard Bank ainda está a coordenar para ajudar as vítimas do ciclone IDAI, e deste modo salvar vidas. Entre as acções do Standard Bank inclui-se a mobilização dos colaboradores do banco, para abraçarem a causa. 

 

Como forma de facilitar a comunicação e capacitar as equipas que nas zonas afectadas pelo IDAI trabalham arduamente, a Moçambique Telecom (Tmcel) entregou na sexta-feira em Maputo ao INGC, um kit de meios de comunicação. Trata-se de 50 telemóveis para comunicações de voz e mensagens, contendo crédito no valor de cinco mil meticais cada, recargas no valor de 100 mil meticais, destinadas às equipas operativas do INGC posicionadas nos locais da tragédia.

 

Adicionalmente, a operadora pública de comunicações disponibilizou uma linha verde gratuita através da qual os cidadãos podem contactar o INGC para reportar ocorrências ou solicitar assistência e informações. (Evaristo Chilingue)

domingo, 24 março 2019 17:34

Beira renasce lentamente dos escombros

A Beira está aos poucos a soerguer-se dos escombros. Dez dias depois de ter sido interrompida a circulação rodoviária, devido aos estragos provocados pelo Ciclone IDAI, a cidade da Beira voltou a estar acessível ao país e a região austral por terra, após a reabertura, esta tarde, da Estrada Nacional nº 06, que liga aquela cidade ao resto do país e ao hinterland. A ligação ficou completa esta tarde, depois de ontem, ter-se aberto o desvio de Lamego, onde uma das quatro pontes ficou destruída.

 

Ontem, nove dias depois ter ficado completamente às escuras, a capital provincial de Sofala voltou a ficar iluminada com energia eléctrica da rede nacional. Para além de ter ceifado, até ao momento, 446 vidas humanas, o IDAI arrasou infra-estruturas, incluindo postes de energia, Postos de Transformação (PT) e a Subestação da Munhava.

 

O Hospital Central da Beira (HCB) foi dos primeiros beneficiários da energia eléctrica, ficando assim aliviado da pesada factura de 100 mil Meticais diários na aquisição de “diesel” para alimentar o gerador eléctrico que era a fonte da electricidade de que aquela unidade hospitalar necessitava. Falando aos jornalistas por ocasião da visita do Ministro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, ao HCB, o director daquele Hospital disse que foram gastos quase 1 milhão de Meticais na compra de combustível para alimentar o gerador eléctrico.

 

É verdade que está ainda longe de estar normalizada a situação na Beira, mas quem nela circule à noite poderá notar o resultado do esforço e trabalho das equipas da Electricidade de Moçambique (EDM), que neste momento não têm tido mãos a medir para que a segunda cidade moçambicana volte ao que era dantes, pelo menos em termos de iluminação artificial. Para além do HCB, o Centro de Tratamento e Bombeamento de Água, a Maternidade da Munhava, o Aeroporto Internacional da Beira, bem como outros edifícios públicos e privados e algumas residências da cidade voltaram a estar ligados à energia eléctrica da rede nacional.

 

Fonte da EDM disse que tudo está sendo feito para que o mais rapidamente possível seja reposto o fornecimento de energia aos seus clientes. O maior desafio, segundo a mesma fonte, não passa apenas pelo restabelecimento da corrente eléctrica, mas também, e sobretudo, por evitar mortes por electrocução. Durante a sua visita ao HCB, Tonela sublinhou que a reposição da corrente eléctrica à cidade da Beira deve ter em conta a segurança das pessoas e das instalações, “para evitarmos situações indesejáveis”.

 

Com o restabelecimento da corrente eléctrica, as cidades da Beira e Dondo voltaram a ter água potável, conforme anunciou o FIPAG (Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água) na sexta-feira. Apesar de o sistema de abastecimento registar zonas com baixas pressões, a verdade é que Beira voltou a ter água potável, nove dias depois. O regresso à normalidade naquela urbe não se verifica apenas nas acções a que se fez referência.

 

Dinheiro do BCI de volta, comunicações repostas

 

Na quinta-feira (21), o Banco Comercial e de Investimento (BCI) anunciou a reabertura dos seus balcões na cidade da Beira, assim como o restabelecimento do funcionamento da maioria das ATMs (das 38 existentes, na província, 21 estavam operacionais). No mesmo dia, as operadoras de telefonia móvel ‘Moçambique Telecom’ e ‘Vodacom’ restabeleceram completamente o tráfego de voz e dados. A Movitel foi a primeira a repor, em alguns bairros daquela cidade, o sistema de comunicações.

 

O retorno paulatino da cidade da Beira à normalidade começou no passado domingo (17), dois dias após o Ciclone, com a reabertura do tráfego aéreo.

 

Os números que ainda assustam!

 

Enquanto a vida vai lentamente regressando à normalidade, não deixa de haver más notícias que ainda assustam o país e o mundo. A pior dessas notícias é o constante aumento do número de mortos que o Ciclone IDAI deixou atrás. Até este domingo de manhã falava-se de 446 óbitos no total. Nos centros de acolhimento ainda existem 110 mil pessoas, e o número de afectados pelo IDAI é de 531 mil. O número de mortos tende a subir exponencialmente, devendo ultrapassar mil dentro de pouco tempo. Em algumas regiões costeiras de Sofala há corpos que estão a ser ‘devolvidos’ pelo mar. Só em Nhamatanda, o administrador deste distrito disse que até este sábado tinham sido contabilizados 114 mortos e 69 desaparecidos.

 

Cargueiro da Força Aérea Portuguesa na Beira

 

Na tarde da passada sexta-feira (22) aterrou na Beira um cargueiro da Força Aérea Portuguesa com 40 homens e dois cães para operações de salvamento. A equipa lusa incluía dois médicos, idêntico número de enfermeiros, um farmacêutico, 25 fuzileiros, engenheiros e outro pessoal de diferentes ramos. Na ocasião, o Governador de Sofala, Alberto Mondlane, manifestou a sua satisfação pelo gesto de Portugal, considerando-o demonstrativo de que as relações entre aquele país europeu e Moçambique são boas. Através de um avião fretado pelo Estado português, Portugal vai repatriar seis cidadãos lusos que viviam na Beira, que manifestaram o desejo de regressar ao seu país. (Carta)

“Enterrar os mortos e cuidar dos vivos”, Marquês de Pombal

 

Começo com esta lapidar frase, porque ela ilustra uma circunstância e tempo trágicos, do terramoto de Lisboa. Ela aplica-se no contexto da Beira. Em tempos antigos, Lisboa foi arrasada. A Beira vive momentos dolorosos. Está um caos. A Beira é uma das cidades que goza do privilégio de ter infra-estruturas monumentais, agora enfermiças, escancaradas, detrás da cortina sórdida deixada pelo ciclone. A Beira só não é morta ainda, se não ajudarmos a enterra-la. A inércia humana e negligência só a podem enterrar. A Beira, essa placa giratória que liga o porto local ao hinterland (Congo, Zimbabwe, Zâmbia, Malawi, Burundi e Uganda) é um problema, não apenas moçambicano, mas da humanidade, porque ela é parte contribuinte e activa das economias desta África Sub-equatoriana.

 

Um guia da destruição da Beira

 

A Beira não se insinua, mas ao percorrer as suas “escombrosas” ruas, levantam-se várias mãos, do seu património histórico derruído. Começo o meu roteiro ao rasto de destruição no Cais Manarte: Aqui está um agoniante edifício da Capitania/Administração Marítima estendendo a mão de pedido de ajuda. A imponente e majestosa muralha de protecção da Beira Terrace, aqui onde se veem os mais lindos pores-de-sol, a montante do Rio Púnguè, está feita em destroços. O recém-inaugurado Beira Terrace não escapou ao flagelo.

 

A Beira tem, ao longo do rio Chiveve, infra-estruturas imponentes que compõem o seu portefólio turístico de heranças portuguesa e inglesa. As casas coloniais avarandadas e as casas de madeira-e-zinco não escaparam ao ímpeto de destruição do ciclone IDAI. Cito o caso da Casa Infante de Sagres, o edifício do Tribunal Provincial de Sofala, além de outras que ladeiam o edifício do Consulado de Portugal.

 

Apetece-me chorar, quando vejo o edifício do Millennium BIM (antigo Clube dos Ingleses) destroçado. Antigamente serviram de escritórios e tinha lá uma barbearia. Depois de ter sido abandonado, o BIM reabilitou-o. Preservou o seu toque clássico e as fachadas foram banhadas de um rosa, que luzia no seio dos edifícios desbotados, sem cor e deprimidos, característica da maioria dos prédios da Beira, sobre o qual o Governo central tem a gestão, não facilitando quaisquer planos do município, de os colorir, e até dissuadindo as grandes empresas de telefonia e de gestão portuária, de deitar mão sobre eles e conferir cor e beleza.

 

A beira dói por isso. A Beira não sofre só do ciclone. A Beira sofre de muitas outras intempéries. O mundo acordou para a Beira pelo ciclone que a devastou, mas a Beira está a braços com o isolamento do Governo central. As suas esburacadas estradas viram-se mais expostas nas últimas duas semanas, com o ciclone, porque as equipas do município que vinham fazendo manutenção, ocupam-se de remoção de um sem número de árvores tombadas por toda a cidade.

 

Os edifícios elevados do centro da cidade, da gestão do Governo central, estão sem cobertura e chovem a cântaros. O Prédio Emporium, que ameaça ruir, manteve-se irredutível ao temporal. Mas as suas pobres e tristes fachadas exibem apartamentos com janelas cobertas de plásticos e contraplacados. Esta imagem sombria estendem-se pelos prédios Tâmega, Zuid, Carlota, Cavadas, Brito, A Luta Continua, Adamastor, Vasco da Gama, Branco. A força do vento não poupou os vidros e deixou-os escancarados. A Cadeia Central, que devia ser museu, não escapou. A sua cobertura está afectada e os presos vivem debaixo de condições sub-humanas.

 

Eu adoro passear pela Ponta-gêa..

 

A cada dia, a Ponta-gêa, diferentemente, do velho Maquinino, símbolo na inércia e a anarquia devido as construções desordenadas e foco de mercados informais e de passeio, oferecia um leque de encantamentos, pelas casas particulares que começavam a ganhar cor e tratamento. A maioria delas ficou sem cobertura. Ao percorrer a Ponta-gêa perpassa-me um sentimento de inquietação. A Ponta-gêa, o Macúti, o Matacuane oferecem-me a imagem de uma Beira, idêntica a Paris, a Praga, a Varsóvia, depois de um bombardeamento aéreo da aviação hitleriana.

 

A Beira vem sofrendo isolamento desde Março de 1976, quando Samora Machel declarou sanções à Rodésia do Sul. Esta cidade, que foi eleita a mais e melhor cidade iluminada de África nos anos 60 do século passado parece ter sido destinada a carregar o peso da pedra de Sísifo. A pesada pedra da factura política pelas suas idiossincrasias estão agora visivelmente expostas, pois, do mais belo que havia restam ossos. Estão expostas nas feridas dos edifícios ex-libris, visivelmente a sangrar. Os emblemáticos Monte Verde e “Golden Peacock Hotel” sofreram.

 

Toda a gente fala do ciclone, mas há edifícios dos mais belos do mundo e do país que tem sofrido um ciclone progressivo da mente humana, da sua incapacidade de convivência na diferença: A Casa dos Bicos é um deles. Só há um edifício do género da Austrália. O ciclone intelectual da macrocefalia de Maputo não tem planos para a Casa dos Bicos.

 

E como tudo está nas mãos da macrocefalia de Maputo os beirenses são cépticos.

 

Não crêem que o actual estado deplorável do Palácio dos Casamentos, um dos mais belos do país, com uma impressionante escultura de Shikani, possa ser poupada do desleixo, da incúria e da intriga política que o transformam numa ruina, com este ciclone que veio acrescer a sua desgraça.

 

A incerteza agora é sobre qual dos ciclones, o da fantasiosa mente humana ou da natureza mãe, continuará curtindo, castigando a Beira. É o que deparo a olhar para a Casa da Cultura de Sofala. A sua reabilitação custou cerca de uma década. Agora totalmente a descoberto poderá passar outra década de travessia no deserto, antes da reabilitação.

 

A Avenida Mártires da Revolução era um esplendor todo, que se prolongava até ao Aeroporto Internacional da Beira. Vale que os seus proprietários pouco endinheirados abriram cordões às bolsas para cobrir as suas vivendas com lonas. Todavia, um donativo de lonas gigantes foi distribuído entre membros do partido FRELIMO que ocupam parte das residências. O Hotel Luna Mar e as casas ao redor sofreram os efeitos dos estilhaços que deitaram quase abaixo a Paróquia Sagrada Família, do Macúti.

 

O Restaurante Nhumba Yathu mostra uma cicatriz do ciclone na sua singular cobertura de capim. O Clube Naútico da Beira, que tem prolongado a sua coma “erosânica”, cedeu ao ciclone e pode ruir. O Naútico é o equivalente a Waterfront ou o Clube Naval, para a gente cá do burgo. O Complexo Tropicana não resistiu. A cadeia de barracas do Estoril não escapou ao efeito devastador do ciclone.

 

Quem conhece a Avenida das FPLM terá certamente a noção do condomínio aberto das Casas Municipais, do Macúti House, e das demais na primeira linha depois do Índico. Outrora eram uma imagem de ternura e felicidade. Hoje são o espelho da agonia de uma cidade que precisa de ser repensada. Talvez este ciclone seja um alerta para um momento de inflexão. Há situações que tornam a cidade fruto de rebeldia, da teimosia. Foi esta a teimosia que levou os seus fundadores a erguerem-na sobre um pântano.

 

Ciclones mentais

 

A teimosia de erguer a cidade na antiga praia dos Pinheiros, que se estende do Palácio dos Casamentos até nas imediações da Praia Nova, deve ser repensada pelo Município, que vem autorizando a ocupação de terrenos sobre o pântano, sem a observância de um plano antigo a que se sujeitavam os construtores da Ponta-gêa: casas elevadas com uma cave, evitando-se a submersão nas águas. Esse plano devia ser imposto em zonas como Macurungo 2, Estoril, Chota, porque os ciclones são cíclicos e, daqui a tempos, os moradores dos mesmos estarão sujeitos a efeitos colaterais. O ciclone desalojou os moradores do novo bairro de casas precárias da Praia Nova, alguns desses que tomaram de assalto os zincos que voaram de alguns edifícios e obras urbanas, para mitigar o seu sofrimento.

 

Infelizmente, o ciclone mental continua a fustigar a Beira. As famílias que deixaram as suas casas inundadas são afectadas adicionalmente por ondas de roubo e saque que tomou a Beira. Quadrilhas de assalto arruinaram a Minerva da Beira e o Xima Sorvetes, no primeiro não despojando livros, mas televisões, telemóveis, computadores, e no segundo congeladores, maquinaria de bar e restauração. Depois de ceder ao ciclone, a cidade está a ser fustigada por uma onda de assaltos.

 

A Polícia está impotente. As altas hierarquias da PRM e das FADM não acordaram para a dimensão colossal deste problema. Noutros países, os polícias e soldados assomam-se às campanhas de defesa, solidariedade e limpeza. Há que salvar o pouco que resta. O edifício do ARPAC, antigo Clube Chinês da Beira, merece toda a atenção da humanidade, porque a Beira é também património histórico universal.

 

Não fecho esta crónica sem me referir aos pinheiros que tombaram ao longo das dunas da praia. Eram relíquias. A areia das dunas que tomaram as ruas e de locais ermos está sujeita ao saque. Os estabelecimentos de ensino primário, secundários e universitários não escaparam. Os belos Pavilhões de Desportos e do Ferroviário não foram poupados. Por cima disso tudo, a cidade está entregue ao salve-se quem poder. (José Francisco)

É estimado em 150 mil o número de novos casos de tuberculose diagnosticados anualmente em todo o território nacional. Esta situação coloca Moçambique na lista dos 30 países com maior incidência de tuberculose no mundo. Em termos de mortalidade por causa daquela doença, de acordo com a Organização Mundial da Saúde OMS), o nosso país ocupa o sexto lugar. Moçambique também é um dos poucos países cujos níveis de tuberculose não estagnaram nem reduziram, nos últimos anos.

 

Dados da OMS indicam que a incidência da tuberculose em todo o país é de 552 por 100 mil habitantes. Dos casos notificados de tuberculose, 58% são também HIV positivos. A taxa de deteção é de apenas 37%, o que implica um grau de incerteza enorme sobre a real carga da tuberculose em Moçambique.

 

Também no nosso país, estima-se que os números de casos da tuberculose estejam associados a cinco principais factores de risco que incluem álcool e diabete, com aproximadamente 10 mil casos cada, tabagismo (30 mil), HIV (cerca de 60 mil), e desnutrição (aproximadamente 58 mil). No entanto, ainda segundo dados da OMS, anualmente verifica-se que o número de pessoas com tuberculose tende a reduzir. A nível mundial, a média de redução era de 1.8% entre 2016 e 2017, mas espera-se que até 2020 aquela percentagem suba para 4% a 5%, e 10% até 2025.

 

Ana Magaia (nome fictício) foi diagnosticada com tuberculose no ano passado. Conforme ela própria conta, foi contaminada na fila de um hospital enquanto fazia um exame pré-natal perto de uma jovem que tossia sem parar. Magaia diz que em nenhum momento teve a preocupação de tapar a boca. Contou ainda que depois do parto teve de se separar da filha para fazer tratamento.

 

“Descobri que tinha tuberculose em Fevereiro do ano passado, dois meses após ter tido o parto. Contei com o apoio da minha família para cuidar da minha filha enquanto fazia o tratamento, que cumpri à risca. No princípio não foi fácil mas, nove meses depois, quando fui fazer controlo, a emoção foi tanta quando o médico me disse que já estava curada. Hoje tenho tomado cuidados a dobrar para que ninguém da minha família passe pelo mesmo sufoco. A tuberculose tem cura, basta alguém, que ficou contaminado, cumprir com o tratamento”.

 

Por ocasião do Dia Mundial da Tuberculose, que se comemorou este domingo (24), o Presidente da República, Filipe Nhusy, participou no passado sábado (18) num Diálogo Nacional sobre a Tuberculose, organizado pelo Ministério da Saúde e parceiros. No encontro, o Chefe do Estado reiterou a importância do empenho de todos os moçambicanos no acesso à saúde para a erradicação da tuberculose até 2030. (Marta Afonso)

Insurgentes em Cabo Delgado voltaram a espalhar terror em alguns distritos daquela província. Só de sexta-feira (22) para domingo (24) foram decapitadas cinco pessoas, e outras tantas, cujo número não foi possível apurar, ficaram feridas, para além de casas incendiadas (também em número não especificado) durante os ataques protagonizados pelos insurgentes nos distritos de Macomia, Ancuabe e Meluco.

 

A aldeia de Bangala II, a cerca de 7 km da residência de Nordina Adalberto, administradora do distrito de Macomia, também não escapou. Nordina foi exonerada do cargo mas continua interinamente em funções até que seja empossado um novo administrador, no âmbito das alterações que são operadas constantemente no quadro dos governos distritais de Cabo Delgado.

 

De acordo com informações veiculadas a partir dos residentes locais onde estes últimos ataques ocorreram, apesar do forte contingente militar estacionado em Macomia, os insurgentes entraram naquele distrito em plena luz do dia. Em Bangala II, os atacantes chegaram entre as 14h00 e 15h00 e começaram a incendiar as casas da população lá residente.

 

Por volta das 09h00 de sábado (23), os insurgentes incendiaram motorizadas e casas de construção precária no povoado de Mpataula, a 3km da Vila de Macomia. Já quando eram cerca das 16h00, Bangala II voltou a ser alvo de um novo ataque. Não se conhece ao certo o balanço deste último ataque, sabendo-se no entanto que houve vítimas mortais, cujo número não foi possível apurar, para além de casas incendiadas (também em número não especificado). Na noite do mesmo dia, a população de Ancuabe foi surpreendida por uma incursão dos insurgentes, onde uma vez mais balearam civis e queimaram várias casas. Até aqui nada se sabe sobre eventuais mortos e feridos.

 

Às 10h00 deste domingo (24), os insurgentes percorreram 40km de Macomia para Meluco onde atacaram a sede da localidade do Iba, no posto administrativo de Muaguide. Há informações dando conta de ter havido um tiroteio, com algumas pessoas a serem baleadas e várias casas incendiadas. Estes ataques ocorreram em aldeias situadas ao longo do Parque Nacional das Quirimbas (PNQ).

 

“Sucesso” das FDS em Palma e Mocímboa da Praia

 

Entretanto, conforme apurou “Carta”, nos distritos de Palma e Mocímboa da Praia as Forças de Defesa e Segurança (FDS) conseguiram ganhar espaço, tendo liquidado vários membros do grupo dos insurgentes que desde 5 de Outubro de 2017 espalham terror e morte em Cabo Delgado.

 

O nosso jornal apurou ainda que a província de Morogoro, na Tanzânia, é utilizada para recrutar e treinar adolescentes, jovens e adultos que protagonizam ataques em Cabo Delgado, alguns deles refugiados que desertaram das fileiras dos insurgentes nos distritos que têm sido alvo dos ataques.

 

Nas últimas semanas, a secreta estatal e as FDS detiveram um professor da disciplina de inglês na Escola Secundária ‘Padre Paulo de Macomia’, cujo nome completo não foi possível identificar. Mas o professor em causa, denominado Nelson, e que havia alegadamente fugido para o distrito de Nangade, também é conhecido por ‘Rick Ross’ (cantor americano de hip hop), devido às características do seu corpo e da barba que ostenta. (Paula Mawar, em Cabo Delgado; Omardine Omar)         

Maputo acolhe na segunda-feira (25) a Reunião Anual de Aprendizagem da Juventude, um evento de dois dias organizado pela International Youth Foundation (IYF) em parceria com a Mastercard Foundation. No encontro, que terá como lema “Parcerias para o Progresso: de que forma o sector privado, o Governo e as organizações sem fins lucrativos estão a reformular os sistemas para impulsionar as oportunidades económicas dos jovens”, participarão representantes de empresas multinacionais e de organizações globais sem fins lucrativos, quadros do Governo e jovens líderes. Até terça-feira (26), serão discutidos pelos participantes os sistemas de educação e formação visando impulsionar o crescimento económico e maximizar as oportunidades para a juventude.

 

Durante a Reunião Anual de Aprendizagem da Juventude prevê-se a assinatura de um memorando de entendimento entre IYF, Instituto Nacional do Emprego (INEP), Instituto de Formação Profissional e Estudos Laborais Alberto Cassimo (IFPELAC). Com o referido acordo, que segundo previsões irá beneficiar directamente 4.750 jovens, pretende-se reforçar a capacidade institucional e técnica, melhorando o processo de transição dos jovens para o mercado do trabalho.

 

O IYF e a Fundação Mastercard têm um projecto de cinco anos implementado em África, denominado “Via: Rotas para o Trabalho”. A iniciativa, de que Moçambique é um dos beneficiários, tem por finalidade melhorar o acesso de jovens desfavorecidos a oportunidades económicas, através da promoção de mudanças sustentáveis no sistema de Educação Profissional (formação profissional) e empreendedorismo. Os programas da IYF, agora activos em 73 países, são catalisadores de mudanças, para além de ajudar os jovens a obter uma educação de qualidade, competências de empregabilidade, fazer opções saudáveis e melhorar as suas comunidades. Fundada em 1990, a IYF cria e mantém uma comunidade mundial de organizações governamentais de negócios e da sociedade civil. Uma das apostas daquela comunidade é o reforço da capacidade dos jovens, para se tornarem cidadãos saudáveis, produtivos e empenhados. (Carta)

A  Triton Minerals assinou um memorando de entendimento com a empresa chinesa Qingdao Jinhui Graphite Co. Ltd que poderá converter-se num acordo vinculativo dentro de seis meses, informou recentemente a empresa australiana.

 

O memorando assinado com “uma das principais empresas de grafite da China, com grande experiência na exploração mineira, de processamento e de comercialização” surgiu na sequência de contactos iniciais por parte da Jinhui Graphite, a que se seguiram encontros comerciais e técnicos, relacionados com o desenvolvimento do projecto de grafite de Ancuabe, em Moçambique.

No âmbito da operacionalização dos furos de Intaka, a Águas da Região de Maputo (AdeM) em parceria com o FIPAG-Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água, está a efectuar obras de aumento da capacidade de transporte, com a conexão à linha principal em Dn500, na Avenida de Moçambique, com vista ao reforço do abastecimento de água à zona norte da cidade de Maputo, que parte da Missão Roque até ao bairro do Jardim.

 

As obras, que estão a decorrer na zona da Missão Roque, consistem na ligação da conduta proveniente do Intaka à linha principal, bem como no aumento do diâmetro da tubagem de Dn250 para Dn500, o que vai permitir o incremento do caudal e, consequentemente, uma maior área de abastecimento.

 

O impacto directo destas obras, de acordo com director de projectos da Águas da Região de Maputo, José Barata, é o aumento do volume de água para o abastecimento aos bairros da zona norte da capital do País, em mais seis mil metros cúbicos, que vai beneficiar cerca de oito mil clientes destes bairros.

 

“O que vai acontecer é que, ao invés de estes bairros serem abastecidos pelo Centro Distribuidor de Chamanculo, a água vai fazer o sentido inverso, de Intaka para Chamanculo, mas porque o volume de água produzida só nos permite abastecer uma parte de clientes, avaliando pelo volume produzido, criámos uma forma de seccionar e abastecer onde ela satisfaz a demanda, que vai até ao bairro do Jardim”, explicou o director de projectos da AdeM.

 

Mais adiante, José Barata acrescentou que, com a conexão da conduta à linha principal e o consequente alargamento da área de influência do Centro Distribuidor de Intaka, vai reduzir o volume de água abastecida aos bairros da zona norte da cidade, a partir do sistema principal da ETA de Umbelúzi.  

 

O volume, que tem sido destinado àqueles bairros, vai servir para reforçar o abastecimento nas áreas críticas, como é o caso das áreas operacionais de Maxaquene e Laulane.

 

"Este projecto de furos visa suprir o défice que temos na fonte, na Estação de Tratamento do Umbelúzi”, enfatizou.

 

A filosofia da Águas da Região de Maputo é, segundo José Barata, potenciar os furos como alternativa e trazer mais água para uma parte do norte da cidade, e realocar a água proveniente do Umbelúzi para outros bairros.

 

Importa realçar que, apesar da realização das obras, cujo término está previsto para fim do mês em curso, a empresa AdeM continua a abastecer água aos bairros alimentados pela linha principal.(Carta)