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sexta-feira, 07 fevereiro 2025 07:59

VENÂNCIO MONDLANE: REFORMA OU REVOLUÇÃO?

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A História tem um sentido de humor sádico. As revoluções não falham apenas pela força do inimigo, mas pelo peso da paciência do povo. E paciência, essa desgraçada virtude cristã, é o que mantém os tiranos de pé. Se esperarmos tempo suficiente, até a mais ardente chama revolucionária se transforma em brasa fria, e a repressão, essa velha senhora, aprende a sorrir para as câmaras enquanto continua a esmagar crânios nos bastidores.

 

Venâncio Mondlane, outrora um nome sussurrado com esperança e temor, agora resvala lentamente para o esquecimento. Como a Ucrânia, que foi a vanguarda da "civilização" até o Ocidente se cansar dela. Como Gaza, que só importa enquanto houver tempo de antena entre um anúncio da Nike e outro da Coca-Cola. Como os Houthis, que de terroristas passaram a guerreiros dependendo da conveniência geopolítica. E agora? Agora a nova moda é Trump, Elon Musk a brincar de senhor feudal e a China, que ousa desafiar a inteligência artificial da OpenAI com a Deep Seek. O circo segue, e Moçambique corre o risco de perder o seu palhaço favorito.

 

Mas há um dilema. O povo já não aguenta discursos, já não se alimenta de metáforas e promessas de um futuro brilhante. O estômago ronca, o salário mingua, a terra arde. E, no meio disso, o VM7 precisa decidir: Reforma ou Revolução?  Negociação ou Inssureição?

 

Ah, a reforma! Essa bela palavra que, no fundo, significa "remendar a velha roupa do rei para que pareça nova". Perguntem a Rosa Luxemburgo, se a FRELIMO ainda não a tivesse executado em nome da ordem. Diga-nos, Mondlane, depois de levar o povo às ruas, depois de lhes vender a esperança como um mercador da fé, vais sentar-te à mesa e partir o pão com quem os espoliou? Será a tua retórica incendiária apenas um aperitivo para um jantar de negociação? E o sangue derramado, beberemos desse vinho até quando?

 

Não sejamos ingénuos. A FRELIMO não teme Mondlane. Não teme oposição. O que ela teme é que a farsa da renovação não funcione, que o teatro se torne tragédia real. Por isso, empurra Chapo para a arena, um cordeiro sacrificial vestido de reformista. Porque a História já ensinou aos poderosos que, se a mudança for inevitável, então que seja feita pelas mãos deles mesmos. Mudemos tudo para que tudo fique igual. Eis a lição.

 

Mas, Mondlane, o tempo é cruel. O que hoje é um perigo amanhã será um meme. Se tardares muito, a negociação será irrelevante porque já não representarás uma ameaça. Serás apenas mais um na longa lista de nomes que já não fazem tremer o poder. E então, com um sorriso nos lábios, o regime dirá: "Obrigado pela participação democrática. Tente novamente em cinco anos."

 

E enquanto isso, o povo continuará à espera. Esperando que um dia alguém perceba que a liberdade não se mendiga. Ou se toma, ou não se tem.

 

*Ivanick Lopandza é um jovem intelectual, poeta e activista social santomense, com ADN paternal congolês, membro fundador do colectivo Ilha dos Poetas Vivos em São Tomé no ano de 2022, com seus companheiros santomenses Marty Pereira, Remy Diogo e moçambicano MiltoNeladas (Milton Machel). Autor de livros de poesia, Ivanick é também bloguista, curando seu blogue Lopandzart.

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