Em um dos dias do final de semana vi, à hora do telejornal, no canal STV, passe a publicidade, um vídeo de uma intervenção (em Londres) de Eduardo Mondlane, o 1º Presidente da FRELIMO, dado como o arquitecto da unidade nacional. Na mesma notícia também passou excertos de uma entrevista de Mondlane. No mesmo dia e no programa “Pontos de Vistas”, do mesmo canal, um dos painelitas (Silvério Ronguane, académico e deputado da AR) falou de Mondlane para além do que se está habituado. Na sexta ou quinta passada, ainda no mesmo canal, o filósofo Severino Ngoenha, debruçara sobre um outro Mondlane. Deste académico, caiu no meu whtasapp, uma sua entrevista, creio que a parte escrita que passara na TV, na qual ele confessa o seu fascínio por um outro (escondido) Mondlane e que em breve irá apresentá-lo (em livro) aos moçambicanos. Dias antes , vira no Programa “Quinta à noite”, da televisão pública, a TVM, um outro académico , cujo nome não pude fixar, a referir que urge saber mais de Mondlane, em particular das suas lições e reflexões enquanto professor universitário nos Estados Unidos da América. Estes são alguns exemplos e que constituem uma lufada de ar fresco sobre as ideias de Eduardo Mondlane.
No meu último texto (Luther King falou, Mondlane ainda) voltara a reclamar da presença (da voz) de Mondlane em público, sobretudo, e não só, nos momentos de exaltação do seu papel na construção do Esatdo moçambicano. No final de semana, embora de raspão/timidamente, finalmente Mondlane apareceu. Foi algo, e por empréstimo da linguagem do futebol, como lança-lo para o jogo no período de compensação e assim, com o seu talento, mudar o rumo da partida no tempo regulamentar. Neste, e um pouco por toda a imprensa e depoimentos, o foco, para além do habitual sobre os ideias de unidade de Mondlane, a velha necessidade da sua divulgação. No dito período de compensação, fora o perfume da fala de Mondlane, registar, para o caso do presente texto, a mudança do título ( e do conteúdo) que passou de “Centenário de Mondlane - Um aniversário sem o aniversariante” para o “Olá Mondlane”. O “Olá” como a tradução da sensação do momento em que alguém, estando num elevador, que iniciara a subida e com a porta a fechar, ouve/vê Mondlane a passar, às pressas, pelo corredor. Um instante, curto e rápido, mas o suficiente para um “Olá Mondlane!”.
Espero que em próximas ocasiões, cada moçambicano depare com Eduardo Mondlane dentro do elevador e a caminho do seu encontro no futuro, pois, e tal como afirma o filósofo Severino Ngoenha, na entrevista retro mencionada, “Mondlane não esteve na primeira República, Mondlane não esteve em 1975 quando nos proclamamos Estado Socialista, mas Mondlane não esteve em 1992 quando assinamos os acordos de paz e nos encaminhamos para uma República Pluralista. Na senda daquilo que chamei a Terceira via, Mondlane não está atrás de nós, nos 50 anos da sua morte e no Centenário do seu nascimento, mas me parece alguém que está em frente de nós a nossa espera para que quando nós estivermos prontos como país, como povo e como nação vamos iniciar a intimar um diálogo necessário com ele, com seu pensamento e suas ideias”. Esse diálogo/futuro urge e, quiçá, a recente aparição pública de Mondlane, no seu centenário natalício, fique registado como o ponto de (re)partida.
PS1: PS2: O 25 de Junho, o dia da independência, está à porta. É normal nessa data as televisões e as rádios passarem a leitura da declaração de independência feita por Samora Machel, o 1º Presidente de Moçambique. Se não for nessa data, o da Independência, provavelmente em Setembro, o mês do início da luta armada, seria interessante que o áudio ou o vídeo, caso exista, da declaração do início da luta, que conduziu Moçambique à Independência, também fosse passada.
PS2: Na esteira da necessidade de ouvir Mondlane e em conversa com um amigo, a propósito da comparação que Severino Ngoenha, na dita entrevista, fizera de Mondlane com o Amílcar Cabral, o pai das independências de Cabo Verde e Guiné-Bissau, dando conta de que passa na cabeça dos moçambicanos a noção de que Amílcar Cabral tenha sido um grande intelectual e que Mondlane não fora. Para Ngoenha tal noção é impelida pelo facto de Cabo Verde e Guiné-Bissau realizaram, há mais de 30 anos, congressos a volta de Amílcar Cabral e que Moçambique, nesses anos, apenas fez o contrário com Mondlane, escondendo um grande intelectual. O meu amigo corroborou e enfatizou que até já ouvira discursos de Amílcar Cabral, incluindo os da passagem de ano, e de que de Mondlane nunca ouvira. Na sua comparação, o amigo ainda disse que se sentiu diminuto quando, numa das suas visitas a Cabo Verde, visitara a Sala-Museu sobre Amílcar Cabral que é um autêntico arquivo-vivo sobre a vida e obra de Amílcar Cabral. No final da conversa ficamos com a seguinte interrogação-proposta: E porque não um Sala-Museu sobre Eduardo Mondlane? A Universidade Eduardo Mondlane até que podia tomar a vanguarda nesse empreendimento.
Os últimos programas do "Pontos de Vista" que vi foi nos tempos de malta Salema e Tomás Vieira Mário. Depois que se transformou aquele programa numa miniatura do parlamento perdeu interesse para mim. Mas isto não retira a importância do programa para o debate público, muito menos a qualidade dos comentadores e do apresentador e o respeito aos telespectadores.
Por isso, como comentador residente, apresentar-se àquele espaço televisivo com álcool nos cornos é simplesmente um insulto à televisão que é patrona do programa, ao jornalista que apresenta o programa, aos colegas do painel e aos telespectadores que se interessam pelo programa. Mais do que isso, configura um "facki-yu" ao partido que o indicou e a todos os membros desse partido - da base ao topo. Mas, o mais triste, é um autêntico "futseke" ao seu próprio presidente do partido que, certamente, reserva o seu nobre tempo para ver o programa aos finais de cada domingo.
Podemos brincar com a coisa, podemos fazer troça, podemos fazer memes, podemos fazer piadas, mas o facto é que António Muchanga insultou-nos a todos, como povo, como país e como nação. Um gajo acabadinho de ser re-desintegrado que daqui a mais quatro anos devemo-lo re-reintegrar com os nossos impostos de novo - mais uma vez - outra vez por ter-nos insultado publicamente.
Pelo que, esse Muchanga é um problema nosso. Parimos o Muchanga de parto normal com os nossos votos, alimentamo-lo com os nossos impostos e mimamo-lo com os nossos aplausos a cada cagada que cometia. Há muito que esse "miúdo" anda embriagado de tanta imunidade parlamentar. A imunidade lhe subiu à cabeça. Perdeu o juízo. Já não sabe distinguir seriedades de brincadeiras. Não conhecemos seus termos de referência. Mas, mesmo assim, lhe passamos uns paninhos quentes. É o nosso paspalho de estimação.
De resto, o bastão para pôr na linha o deputadíssimo António Muchanga está com o partido RENAMO e o seu presidente Ossufo Momade. A primeira medida seria retirar o Muchanga do programa "Pontos de Vista" e o partido fazer um comunicado pedindo desculpas ao povo. O partido RENAMO deve começar a distanciar-se das inconsequências do Muchanga. Deve começar a chamar o Muchanga à razão e à responsabilidade.
Parabéns aos matolenses que não aceitaram esse paspalho como seu edil! Foram muito inteligentes. Aqui em Nampula não podemos dizer o mesmo.
- Co'licença!
Os povos outrora colonizados foram vítimas de um processo brutal e desumano arquitetado ao detalhe e implementado impiedosamente pelos colonizadores. Esse processo foi altamente destrutivo e corrosivo tanto física como psicologicamente; Os povos colonizados são até hoje vítimas das mais vis atrocidades perpetradas pelo opressor - as feridas aparentemente sararam mas as cicatrizes são visíveis e ainda doem. A ideia de alguns grupos admitirem ser superiores intelectual, cultural e humanamente e outros inferiores, deixou marcas indeléveis colocou a humanidade numa guerra silenciosa e que custa vidas e retrocessos a dita civilização; Os povos colonizados tem em mãos a decisão sobre o seu presente e seu futuro mas adiam-na sistematicamente por um pretenso medo de serem efetivamente livres e autônomos – há ainda vivos fortes traços da colonização mental na sua acção.
O racismo, com a sua prepotência ideológica faz com que alguns se tornem superiores em relação a outros, assentando principalmente na ideia de que as desigualdades entre os humanos estaria fundada na diferença biológica, na natureza e na constituição do ser humano. Esta postura é maioritariamente assumida por pessoas de raça branca que, de forma recorrente fazem uso da sua posição força e condição de suposta vantagem para ultrajar e subjugar os chamados inferiores.
Hodiernamente, novos estudos e novas abordagens tendem a separar conceito de racismo à simples ideia de raça e racialismo. Tendem igualmente a oferecer explicações sobre esta problemática do racismo na sua relação histórica com a escravatura, colonização, descolonização e neo-colonização. Estes conceitos e temas mostram-se sensíveis no seu trato e cada vez mais actuais, e carecem de uma hermenêutica mais detalhada para ajudar a perceber a real ameaça do racismo nos dias de hoje.
A história moderna testemunhou a várias colocações científico-literárias de afirmação e difusão de ideias de superioridade de um grupo auto-denominado superior em relação ao outro por analogia designado de inferior – das teorias do pré-logismo do homem primitivo, passando pelo bom selvagem, até às teorias positivistas de Augusto Comte é notório um esforço titânico e uma luta visceral para depreciar e anular a humanidade do homem negro e consequentemente a sua racionalidade, história e cultura. A bem da verdade é importante que se admita sem ressalvas e que se diga que a ocupação, partilha e exploração de África assentou-se nesses pressupostos de superioridade e numa ideia de necessidade tácita de salvação dos negros africanos, índios da América Latina, indígenas das Índias e aborígenes na Austrália.
A escravatura é de longe o mais abominável e hediondo acto praticado pelo Ocidente contra os negros. Os seus efeitos se fazem sentir até hoje e mais do que nunca geram cada vez mais repúdio e descontentamento. Ela foi abolida formalmente, mas são visíveis novas e diversas formas de manifestação da escravatura moderna em vários cantos do mundo.
Quando as grandes migrações e viagens históricas aconteceram com o móbil dos descobrimentos e evangelização, e enquanto as migrações em massa tinham o sentido “Norte-Sul”, ou Europa – África como queiramos afirmar, o nome atribuído foi salvação, civilização, filantropia e purificação - e pela bondade, pureza e inocência do africano, este processo foi o menos sangrento e violento possível – as armas e os chicotes funcionaram lado-a-lado com a bíblia e com a doutrina de salvação. O continente negro era uma espécie de El Dourado e um poço de riqueza abundante capaz de alimentar o fulgor da indústria europeia. Contemporaneamente as migrações tomaram outro sentido “Sul-Norte”, ou África – Europa - América, e milhares de imigrantes africanos em busca de melhores condições de vida se fazem viajar ao chamado velho continente. O drama da migração de africanos para a Europa (principalmente usando o norte de África como porta de saída) tem merecido todos os adjectivos pejorativos por parte dos países receptores – E estas adjectivações contém sempre uma grande dose de depreciação racial.
Com os avanços tecnológicos vividos nos dois últimos séculos, onde a produção e circulação de conteúdos tiveram um alcance maior, foi muito mais visível a dura e crua luta do negro e o drama por ele enfrentado no mundo com a impetuosidade da escravatura. Este drama é um problema universal e que carece de uma reflexão e intervenção global. Os séc. XX e XXI são indubitavelmente os séculos de afirmação do negro em vários âmbitos e áreas mas esta luta é ameaçada pelo “bicho” do racismo que mina a realização plena do homem negro. São dois séculos em que as lutas dos negros de todo mundo se fizeram sentir de forma mais vibrante com recurso a música, a literatura, ao cinema, ao desporto, a arte, a cultura e à várias outras formas de manifestação artística, intelectual e cultural que alavancaram a marcha de reconhecimento da humanidade do negro – uma marcha diga-se em que tudo o que se pede era o reconhecimento do lugar no negro no mundo e o respeito básico dos direitos do homem.
Mas importa referir ainda que os avanços registados nesta secular luta de emancipação e reconhecimento, nem sempre foram reconhecidos pelos perpetradores da violência contra este ser chamado de inferior. O espírito de superioridade ainda não permite que se olhe para o negro como um ser que faz parte do enredo civilizacional. Os ideais proclamados na Revolução Francesa - Liberdade, igualdade e fraternidade – tem um conteúdo estético belo mas não passam de mais um slogan que se distancia da realidade social factual.
Quando se pensa que o mundo contemporâneo deu passos rumo a uma maior coexistência entre diferentes grupos de pessoas, religiões, cores, eis que regredimos, e tocamos o ponto mais próximo de uma das premissas kantianas que remetem a uma menor idade racional.
Do brutal assassinato de George Floyd à consternação global
O mundo parou com a brutal a morte do afro-americano George Floyd por um policial branco norte-americano. Uma acção desproporcional de uso da força e de desprezo pela vida humana; E que só teve a repercussão que teve porque o registo se tornou viral. Na verdade, aquele é o modus operandi da polícia norte-americana, e aquela é a forma impiedosa como os negros e afrodescendentes são tratados em vários quadrantes do mundo. O que tornou Floyd um mártir não foi apenas a forma como foi morto, mas sim a frieza de quem o matara e o poder da força de mobilização das redes sociais que em pouco tempo tomaram as dores do negro em escala mundial. George Floyd é apenas mais uma vítima daquilo a que anteriormente chamamos de drama do negro no mundo contemporâneo. É mais uma vítima de todo um sistema ideológico assente em pressuposto de supremacia de um grupo, que colapsou e não se consegue disfarçar de tão poluído e desumanizado que se encontra. Drama porque ao negro não é reconhecida a humanidade nem a dignidade; ao negro é imputada uma série de acusações de má conduta e desvio social, e pesa sobre ele a herança de todo um jogo depreciativo que o associa ao lado obscuro da história.
(In) felizmente, esta e outras mortes serão mediatizadas ao extremo e usadas até de forma política com fins diversos, mas se não paramos para estudar a raiz do problema e atacar as suas causas para podermos desenhar estratégias de mitigação, uma vez mais o esforço será indigno e inglório. As manifestações em todo mundo irão durar o tempo que tiverem que durar; a consciência popular irá emitir vozes de revolta, cansaço e repúdio, e a história irá abrir-se para uma nova fase em que tudo pode ser diferente se e somente se reformas institucionais e curriculares tomarem lugar.
O slogan black lives matter (vidas negras importam), tornou-se popular e viral e afirmou-se como slogan de guerra entre os manifestantes de dentro e de fora dos EUA. Particularmente olho com desconfiança para este slogan e tenho as minhas reticências sobre o seu enquadramento. Considero uma mensagem poderosa e ao mesmo tempo frágil nesta luta que se pretende travar contra o racismo. Ao afirmar que vidas negras importam, queremos chamar atenção ao grupo que mais sofre com as atrocidades do racismo, mas caímos inconscientemente num polo exclusivista visto que usa-se precisamente a arma de superioridade do branco para enaltecer o valor da vida negra. É um slogan necessário pela gravidade do assunto mas atropela levemente a globalidade da dignidade da pessoa humana onde se considera que a vida humana na sua essência está acima de todo e qualquer diferencial racial, religioso, cultural e ideológico. Nesta perspectiva, as manifestações que assistimos pelo mundo fora pode ser entendida como a síntese da escravatura, da colonização e de uma descolonização que nunca devolveu a dignidade outrora retirada.
Por: Hélio Tiago Guiliche (Filósofo, docente universitário)
Fomos ao hospício, encontramos um maluco em tratamento, levamos o gajo à força contra a vontade do médico e sem nenhum laudo psicológico, enfiamos o gajo num fato e gravata da boutique "Extravagância", tiramos o gajo uma foto tipo passe, imprimimos em A-4 colorido e fotocopiamos aos milhares ali na papelaria "Académica", distribuímos por toda a província da Zambézia, gritamos aos quatro ventos para todo o mundo ouvir que aquele era o nosso candidato a Governador Provincial da Zambézia - o melhor de todos os zambezianos: o mais honesto, o mais inteligente, o mais prudente, o mais sisudo, o mais confiado, o mais sei-lá-quantos, e hoje estamos a chorar das suas maluquices! Hoje estamos a pedir que o maluco tenha dó. Queremos que o maluco tenha consternação. Definitivamente, somos muito complicados!
Hoje estamos a pedir àquele maluco que fomos levar no hospício sem ter tido alta oficial que não gaste dinheiro do povo com reabilitação do seu palácio. Estamos a pedir ao mesmo perturbado mental que avalie a situação. Que pondere, que seja prudente, que sinta pena. Estamos a pedir ao mesmo doído que analise a situação e abdique da reabilitação do seu pomposo palácio. Hoje estamos a dizer que meio milhão de dólares norte-americanos é exagerado para reabilitar uma casa. E queremos que um maluco que abandonou o tratamento tenha consciência disso. Vai entender!!!
Olha lá, aquele é um chanfrado. Saiu da presidência do município porque não estava bem da "head" e nunca nos disseram que já estava curado. É um paulado. Ele dele nem está a ver esse milhão dele como alguma coisa. Nem sabe que está a fazer algo de errado. Está nem aí! Nem sabe até que estão a falar com ele. Aquele está num mundo só dele e lá no mundo dele ele vive num palácio novo. Onde já viram um maluco que se importa com dinheiro. Não viram o gajo a lançar maços de dinheiro durante a campanha eleitoral?! Não viram?! Não deu para ver que o gajo é apenas um louco a viver a sua loucura?!
Ele é apenas um maluco, pessoal! Não tem remorsos. Ele pensa que pode fazer o que quiser. E nós devíamos aceitar isso como o preço da nossa casmurrice colectiva. Ou então pegamos o gajo de volta ao hospital, dizemos ao médico-psiquiatra que o gajo tinha fugido e alertamos aos guardas para ficarem "txendjewa" com o gajo para não pular muro. Não sei se há outra ideia!
- Co'licença!
A chuva intermitente que caía era afinal o prenúncio. Também houve graniso do qual ninguém se apercebeu, a não ser o próprio Mariano Nhongo, hospedado na suíte presidencial do Hotel Polana, a partir de onde ele observa a exuberância do Índico, sem que o luxo, mesmo assim, lhe retire o foco da sua luta. Chegou na noite de terça-feira, transportado num hélio das Forças Armadas Zimbabweanas, que aterrou na base aérea instalada do outro lado do Aeroporto de Mavalane. Foi tudo feito num secretismo absoluto que até a segurança destacada para o receber, não sabia de quem se tratava.
Chovia uma chuva leve, e o silêncio na pista e em todo o perímetro das instalações, era por demais sepulcural que entre os anfitriões que incluiam oficiais de alta patente moçambicana, perguntavam-se entre eles afinal quem é esse fulano. Nhongo saíu do pássaro metálico vestindo uma gabardina preta e um gorro que lhe cobria completamente a cabeça e uma boa parte do rosto, tornando-o irreconhecível. Um dos capangas que o aguardavam quis protegê-lo com o guarda-chuvas, mas o general recusou. Caminhou resoluto para o Range Rover cinzento luzidio que o esperava e sentou-se no banco da trás. O motorista tremeu quando viu um homem encapuzado a entrar apressadamente para a vitura. Parecia um algoz.
Eu já estava em Maputo há uma semana, discretamente, sem o conhecimento do editor, alojado no quarto contíguo ao que acolheria um homem cujas acções, façanhas para outros, podem ter já superado a sua condição de pessoa vulgar. Nunca o vi pessoalmente, mas ele é que me escolhe para a materialização da entrevista, e não poderia questionar sobre esta preferência. Lembrei-me de um dia que Deus disse a Moisés, vai ao Egipto libertar os filhos de Isarael! E Moisés perguntou, porquê que tenho que ser eu? E Deus trovejou como o Leão dos Céus, porquê que não tens que ser tu?
Estou deitado com o televisor desligado num quarto sumptuoso que nunca antes imaginara. Mas também já superei há muito os materiais da vida. Desactivei os dados do meu celular para que o silêncio tome livremente conta do meu espaço. Aliás, do espaço onde me colocaram. Quero ouvir os movimentos da chegada do General de Gorongosa, já que ele me avisara, através do telefone ligado directamente ao satélite, que a entrevista aconteceria ainda naquela noite.
Alguém bateu à porta dos meus aposentos, sem que antes tivesse havido qualquer sinal indicando a chegada de uma figura temida. Era estranho porque devia receber antecipadamente uma informação da recepção. Mas, nada! Perguntei quem era, e do outro lado respondeu-me o mutismo. Saltei da cama apressadamente, já estava vestido, calçado e tudo, como se estivesse no teatro das operações, sob comando de Nhongo. Peguei no gravador e no bloco de notas e disse, Deus, seja feita a Tua vontade.
Abri a porta e dei-me com dois homens dessimuladamente armados, do tipo furtivos. Balancei de medo na espinha, mas logo recompus-me. Olharam para mim de cima a baixo sem falarem, e logo a seguir indicaram-me a entrada ao lado onde supus estar o general, o próprio Nhongo. Entrei de mansinho e vi um personagem sentado tranquilamente na plotrona, de pernas cruzadas e as duas mãos por sobre o joelho direito. À mesinha de centro uma garrafa indisfarçada, dois copos que foram abastecidos na minha presença, ao mesmo tempo que o meu anfitrião indicava-me o lugar que me colocaria frente a frente com ele.
A suite, sob luz ténue, ficou impregnada com o aroma agradável de algo que reconheci ser aguardente de massala. Mariano Nhongo já não se cobria com o sinistro gorro, porém continuava com a gabardina. Bebeu num trago o conteúdo do copo sem cerimónias, e o que me disse logo a seguir foi de tal maneira inesperado que o seu sentido ganhou a dimensão da espada. Falava como se tudo estivesse sintetizado naquelas palavras. Ele disse assim, enquanto a preocupação forem os ganhos individuais ou de grupos, então jamais vai amanhecer em Moçambique.
E eu não sei se isso não é hipocrisia!
* Texo imaginário
Aqueles que estavam a dizer que a província de Gaza não pode ter 3 recuperados quando tinha somente 2 casos positivos de Covid-19 ainda estão por aqui? Será que não viram isso na matemática da oitava classe ou partiram caneta no "não tem solução"? Por via das dúvidas, seja "feiki-nhussi" ou não, vamos explicar.
É assim: aquilo chama-se progressão aritmética. É uma sequência numérica em que o próximo elemento da sequência é o número anterior somando a uma constante "r". Onde "r" é a razão da progressão aritmética. Para sabermos qual é a razão de uma progressão aritmética basta subtrair um elemento qualquer pelo seu antecessor. Por exemplo: (2, 4, 6, 8...) é uma progressão aritmética infinita crescente, onde "r" é igual a 2, pois qualquer número subtraído pelo antecessor é igual a 2. Assim: 8-6=2 ou 4-2=2; etecetera. Outro exemplo: (5, 4, 3, 2, 1...) é uma progressão aritmética infinita decrescente, onde "r" é igual a -1, pois 4-5=-1 ou 2-3=-1. Que é o caso de Gaza. Entenderam?! Alguma dúvida?! Não! Okey!
Então, ali em Gaza - matematicamente - estamos perante um caso de progressão aritmética infinita decrescente com "r" igual a -1. Não se esqueçam que "r" é a razão... e nós estamos aqui para isso - ter razão. A ideia é sempre ter razão seja como for... a todo custo! Este é mais um caso apriorístico de Gaza. Num lugar onde defuntos ressuscitam para votar não vai ser difícil recuperarem de uma doença. Se até em Maputo tem pessoas que recuperaram sem terem adoecido, vai custar em Gaza?!
Prontos! Não pensem que desta vez vamos enviar o doutor Apriorístico (aquele "titxa" com nome de bolinho frito e bigode de Hitler) para explicar isso na televisão. Não vamos arriscar mais. Aquele vosso puto Venâncio anda muito afiado ultimamente. Não vamos deixar o gajo "txaiar" o nosso doutor de novo.
Agora, quem quiser ser capim alto pode começar a fazer barulho... nós vamos cortar. Aí no INE tem mais alguém?! E aí na universidade?! Nada! Muito obrigado e...
- Co'licença!