A saga dos raptos já está atingir as classes médias. Os raptores baixaram consideravelmente a fasquia. No início, o alvo era gente endinheirada, alguns ricos, ricos de suor ou doutras traficâncias. Cobravam milhões de resgate. Que eram pagos prontamente. Os raptores eram gangues organizadas, com um braço na banca e outros tentáculos na corporação policial, para garantir sua impunidade através do bloqueio à investigação.
O rapto de hoje no “Buraco da Velha”, na Matola, pode mostrar uma nova realidade: actores criminosos cujo alvo é gente de renda média. Por causa da impunidade dos barões do rapto, que operam protegidos politicamente, o tipo de crime foi atraindo uma nova corja de criminosos. Os que raptaram hoje no “Buraco da Velha” não estão certamente a procura de resgates milionários. Estão à procura de uns trocos.
“O Buraco da Velha” não é o Zambi. É o negócio da restauração média, pequenas empresas familiares que não almejam altas margens de lucro e, por isso, se instalam na Matola para atender às classes médias da expansão urbana.
Isto significa que os raptores baixaram a bitola da grana. Há novos raptores que arriscam por pouco. Um dia vão raptar funcionários bancários, alfandegários (aliás, houve o caso recente de um despachante aduaneiro), ou seja, todos os que, na percepção dos raptores, ganham “muito dinheiro”. Seu passaporte para raptar empresários e parentes destes está há muito carimbado pela comprovada impunidade. Para além disso, quem ousa reclamar, como a malta da Beira, leva com ameaças de multas (um INAE de facas afiadas) e uma atitude dúbia da CTA contra seus membros.
Quando o comércio da Beira fechou as portas, em Maputo ninguém se solidarizou. Tudo mudo e quedo! Os medricas habituais! Mas é claro que o silêncio não funciona. A sociedade tem de ir à luta. Os empresários, que não contam com a CTA nesta empreitada, tem poucas opções, mas devem mostrar algum braço de ferro. Como? Cortando no financiamento à Frelimo e suas campanhas. Aí estariam metendo a ferida no dedo. A ver vamos!