Perdoem-me a petulância e o atrevimento, mas quis partilhar alguns pensamentos, com intenções estritamente construtivas, para repensar com EVIDÊNCIA e BOM SENSO esta difícil situação da pandemia. As observações não são críticas nem verdades absolutas, são apenas opiniões. Reconheço que opinar é muito mais fácil que ter de decidir. Assim vai com todo o respeito e consciência de que quem tem de decidir tem uma tarefa penosa.
- SOBRE OS ESPETÁCULOS
Os artistas prestam serviços no domínio da essência do SER HUMANO. Estão sem emprego, impossibilitados de trabalhar. As pessoas estão sem poder alimentar a alma ao vivo o que é fundamental para a saúde. Se de Setembro a Dezembro os espectáculos realizados da forma que foram não provocaram um crescimento exponencial porque o terão feito em Janeiro?. A enorme quantidade de festas sem cumprimento das regras não podem ser confundidas com espectáculos e “Gigs” realizados com todos os cuidados. Assim, se com o cumprimento das regras as coisas correram bem porque não apenas voltar a cumprir e não deixar os artistas numa situação deplorável. Se deixamos que as missas aconteçam, muitas até em casas de espectáculos, porque não deixamos os espectáculos com as devidas medidas de segurança que comprovadamente estavam a dar bons resultados?.
- SOBRE AS PRAIAS
A praia faz bem à saúde. Ar livre, Sol (a famosa Vitamina D) e a muito necessária catarse que combate a ansiedade, um dos maiores problemas de saúde a nível mundial (isto tem evidências bem robustas). Se há pessoas que não sabem ir à praia e os aglomerados em alguns locais são grandes, não haveria maneira de impedir isso sem perder as enormes vantagens? Algumas sugestões seriam: interditar as praias que enchem aos sábados e domingos e mesmo depois das horas de serviço ao dia da semana. Não interidtar praias que nunca tem aglomerações. Proibir a bebida na praia. E sobretudo educar muito (sei que é difícil mas é a solução mais duradoura). Não parece fazer sentido perseguir pessoas que passeiam ou se banham em praias sem aglomerados. E o País tem muitas praias desertas.
- SOBRE AS PISCINAS
As piscinas em Moçambique são quase todas ao ar livre. Só fazem bem e é muito fácil de controlar o numero de utentes pois são poucas e de instituições bem identificadas. Porque encerrar? Não há nenhuma evidência que as piscinas foram a causa da situação actual. Estamos em tempo de Sol e impedidos de praticar muitos dos desportos sobretudo os colectivos. Muitos pais usaram neste verão as piscinas para proporcionar actividade física segura aos seus filhos. Se não podem mais praticar desportos colectivos e lhes retiram os individuais resta lhes o computador.
- SOBRE OS HORÁRIOS DAS LOJAS
Todo o mundo tem de ir à loja. Os horários das lojas reduziram o que quer dizer que vamos à loja com mais gente. Parece que a medida deve ser ao contrário: temos de aumentar o horários das lojas para que sejam menos pessoas ao mesmo tempo. De outra forma estamos a estimular a propagação não a reduzi-la. Alguns países mesmo durante estados de “lock down” restritos acharam melhor ter lojas abertas por 24 horas para evitar aglomerações.
- SOBRE OS TRANSPORTES
A avaliar pelo que se vê nas ruas os transportes serão uma das fontes mais importantes de propagação. Continuam cheios, apinhados mesmo. Não vemos melhorias ao longo de todo este tempo. Um assunto difícil mas o que talvez seja o que requer mais atenção. Atrevo me a sugerir que o Estado procure fundo para pagar uma parte dos lugares que não deveriam estar preenchidos quiçá em subsídio de combustível. Mas não adianta se não se aumentar a oferta. Não sei a solução mas sei que é uma dos maiores problemas e requer prioridade absoluta.
- FECHARAM OS GINÁSIOS (aviso que sou suspeito pois sou Sócio de 1 Ginásio)
De Setembro a Dezembro os Ginásios estiveram abertos e nada aconteceu. Embora os dados sobre os infectados não discriminem mais as fontes de contaminação, não temos relatos de contaminação em massa nos Ginásios e durante o período que antecedeu esta momento de crescimento exponencial os ginásios estiveram vazios (como estão sempre nesse período) ou mesmo fechados. Por outro lado, as regras de segurança existentes nos Ginásios são apertadas e os investimentos feitos no cumprimentos da normas foram consideráveis. Os resultados parecem ter sido bons. As evidências não mostram que os Ginásios estejam a criar a pandemia. Porque fechar?
Em dois estudos realizados no País em que participei a estimativa de diminuição da actividade física era de 30% em parte causada pelo encerramento dos Ginásios (os estudos referem se ao período do Estado de emergência). O número de Ginásios no País são na ordem de centenas, e servem já milhares de pessoas em número exacto desconhecido. Tudo indica que o impacto do encerramento na inactividade física é considerável e isso é mau para a saúde pública, incluindo a associada à pandemia.
- SOBRE O IMPACTO NOS RENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DAS EMPRESAS
Algumas das medidas têm um impacto na vida das pessoas e das empresas (o que vai reflectir-se nas pessoas). Não chega fechar e proibir. Há que encontrar medidas de mitigação. Essa será a grande ausência nas medidas. Não é saudável, não é justo. As PME são vitais para o emprego e para a retoma e estão deixadas ao abandono, não há programas de apoio como se vê noutros países. As consequências, que serão prolongadas, podem ser pior que a eficácia das medidas.
- SOBRE AS MASCARAS
As máscaras são consideradas com uma das 3 medidas de comportamento associadas ao distanciamento e higiene. Mas há vários problemas reais que há que ter em consideração nomeadamente (1) as mascaras existentes não tem certificação, (2) a sua manipulação é indevida, (3) as pessoas usam a mesma mascara todo o dia ou mesmo vários dias consecutivos e (4) há inconvenientes no seu uso que incomoda muito as pessoas. Colocando os prós e contras parece ser de bom senso que sejam usadas quando em proximidade de outras pessoas. Assistimos hoje mesmo a prisões de cidadãos porque circulavam sem máscara ao ar livre e em locais sem aglomeração. O decreto abre esta possibilidade porque referencia que “o uso de mascara é obrigatório em espaços públicos” quando talvez se quisesse dizer espaços públicos fechados ou com aglomerados. Sugiro que se retire essa palavra “espaço públicos” de forma generalizada mantendo se a especifica dos espaços fechados e aglomerados.
- DO MEDO E DO PANICO
Todos temos medo. Mas provocar o pânico é catastrófico. O pânico pode dar bons resultados a curto prazo que se tornam muito maus a médio e longo prazo. Só olhar o que aconteceu de Abril até Dezembro: passamos do pânico ao relaxamento total. O pânico gera ansiedade que gera doença e mesmo morte. E sobretudo faz nos começar a disparar para todos os lados sem eficácia e com enormes efeitos colaterais, alguns não recuperáveis. A maioria de nós vai ser contaminada e a questão trata se da velocidade com que isso vai acontecer. Há que controlar sim mas sobretudo há que educar serenamente e sobretudo com exemplo e coerência.
- DO COPY PAST E DO CONTEXTO
Cada país e cada região tem o seu contexto. O que os outros fazem deve ser visto com criatividade e a sua replicação tem de ter em conta o contexto. Fazermos porque os outros fazem não pode ser argumento. Felizmente isso tem sido levado em conta mas nem sempre como por exemplo continuarmos a pensar que dizer “fica em casa” resolve alguma coisa num paÍs onde muito poucos o podem fazer. Isso faz me pensar que as medidas poderiam ser diferentes para regiões que tem prevalências diferentes. Uma grande parte do Pais não está afectada e uma enorme parte é rural onde a disseminação é distinta. Mas as medidas são nacionais. Poderá ter alguns problemas operativos mas será sem duvida muito mais eficaz pois evitará sacrifícios económicos e sociais desnecessários.
A FINALIZAR
Tenho observado pessoas que sendo apologistas das medidas draconianas são os primeiros a violá-las. Prega se muito o “fica em casa”, “afasta te do próximo” e “não beba” mas para os outros. Não é construtivo apregoar-se o que não se pode fazer ou não fazer o que se apregoa. E isso inclui pessoas de elevada responsabilidade a diferentes níveis.
Há também os que tratam com desrespeito as vítimas das medidas. O pânico tem levado a atitudes de ostracismo sobre quem não tem salário garantido se ficar em casa. Pessoas com rendimentos garantidos devem respeitar quem não os tem. E isso vale para os que aconselham e tomam decisões. É vital a ponderação entre o grau de certeza das vantagens e as consequências de cada medida bem como a solidariedade e respeito para quem sofre essas consequências. Ao invés de repressão precisamos de SOLIDARIEDADE.
A pandemia está ai (já faz tempo) e a vida também. Temos de combatê-la com seriedade mas não podemos olhar a saúde como se se tratasse de ter ou não ter COVID. Não podemos entrar em pânico e começar a disparar sem critério sob o risco de acabarmos por não a matar e criarmos mais problemas que soluções. Temos de nos basear em EVIDÊNCIAS e muito em BOM SENSO.
Quem não concorde comigo não me insulte por favor. Argumente e ajude a pensar melhor porque se há coisa que tenho é muitas dúvidas e muita ignorância. E sobretudo quis apenas contribuir, quiçá algumas das ideias possam ser úteis.
Com solidariedade
(António Prista)