A prisão do ex-Ministro das Finanças, Manuel Chang, é como que um abalo sísmico para a nossa elite política. Mas também um atestado de irrelevância para a nossa Justiça. Chang foi preso na África do Sul, a mando da justiça americana. Chang foi preso no OR Tambo, em Joanesburgo, onde estava em trânsito para o Dubai, onde boa parte do dinheiro sem rasto da dívida oculta foi guardado. Ele foi o Ministro desse sinistro endividamento, que levou este país ao descalabro. Com ele, uma franja enorme de dirigentes, sob a tutela do ex-Presidente Armando Guebuza, enriqueceu e os moçambicanos ficaram mais pobres.
Filipe Nyusi aproveitou ontem o palco da apresentação do Estado da Nação para cimentar sua disponibilidade para as presidenciais de 2019. Boa parte do seu discurso não foi centrada na radiografia sobre o ano prestes a terminar, mas numa projeção sobre o que aí vem. O Presidente acabou fazendo promessas com um condão eminentemente eleitoralista. Nalgumas delas, ele estampou o seu nome, mais do que o nome do governo, mais do que o nome da Frelimo.
O Ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, disse ontem que, ao nomear interinamente 3 oficiais da Renamo, ele estava a seguir uma coisa acordada com Afonso Dhlakama, que morreu em Maio em Gorongosa. Para o Ministro, a reivindicação da Renamo de que os oficiais as integrar nas FADM são 14 e não 3 é uma reclamação mentirosa. Ele frisou que o que vale agora é um acordo feito com um homem já morto, na base da informalidade que caracterizou o diálogo entre Nyusi e Dhlakama.
Quando tomou posse a 30 de Outubro de 2017, o Comandante Geral da Polícia, Bernardino Rafael, deu numa de campeão da repressão. Para dentro da corporação, lançou um discurso de tolerância zero contra desvios de comportamento, que fazem escola na nossa polícia. Numa parada com seus correligionários em Maputo, tentou impor a circulação zero de mensagens nas redes sociais entre colegas. Mas isso era como fazer parar o vento com as mãos. Por causa do seu tom e estilo ele foi percebido na sociedade como tendo sido a escolha certa para moralizar a polícia e torná-la atuante. Essa perceção estava afinal errada.
Não se sabe com que intenções, o Governo decidiu fazer ouvidos de mercador quando os moçambicanos levantam sua voz contra a insurgência em Cabo Delgado. Na segunda feira, o Ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, ignorou o assunto. No seu discurso na abertura do Conselho Coordenador do Ministério da Defesa ele foi evasivo. Na quarta feira, o porta-voz da PRM, Inácio Dina, perguntado sobre os recentes ataques em Cabo Delgado, não confirmou nem desmentiu. Ele murmurou um ”nim” barulhento. Nem sim, nem não!
O Governador do Banco de Moçambique aproveitou uma aparição pública em Quelimane para dar o tiro final na nuca da sua credibilidade. Esta já andava de rastos. Zandamela em Quelimane deu a derradeira mostra do caótico registo da incoerência que tem marcado o seu consulado desde que chegou de Washington. Dias antes, ele tinha ido à Assembleia da República (AR) apresentar um plano de contingência para o apagão provocado pelo imbróglio entre a Rede SIMO e a BizFirst. Foi taxativo que a empresa portuguesa estava a ser descartada e que novos fornecedores para o relevante "software" da rede interbancária estavam a caminho de Maputo.