Iniciou ontem, em Sandton, na RAS, o African Investment Fórum. Trata-se de uma plataforma criada pelo Banco Africano de Desenvolvimentos (BAD) para mobilização de fundos públicos e privados para investimentos, sobretudo privados, no âmbito da sua estratégia designada Transforming África. O fundo foi este ano capitalizado em cerca de 150 bilhões USD. Moçambique, representado no Fórum pelo Primeiro-Ministro Carlos Agostinho do Rosário, anunciou como projectos estratégicos a reactivação das fábricas têxteis de Marracuene (RioPele, para o que precisa de cerca de 40 milhões de USD) e de Manica (Textáfrica).
O Primeiro-Ministro desperdiçou uma soberba oportunidade de falar de projectos verdadeiramente estruturantes para o país. E ignorou certamente os factos de: i) a RioPele ser uma Unidade de Curtumes e não uma fábrica têxtil propriamente. Foi implantada para o processamento de pele de animais bovinos que abundavam na baixa do Incomati; a Textáfrica, em Manica, tem as terras outrora usadas para a produção de algodão absorvidas pelos refugiados da guerra dos 16 anos, que nelas construíram habitações e fazem agricultura de subsistência.
Se a estratégia é a produção têxtil, esperava-se, sim, que o PM se referisse à Téxtil de Mocuba. Esta, sim. com infra-estrutura no lugar, terras abundantes para produção de algodão (50 mil hectares) e das melhores do país, um projecto com potencial de gerar mais de 750 mil postos de trabalho. Mas, mais uma vez, a Zambézia foi esquecida. Até quando?
Das diversas incursões efectuadas à estação de comboio de Mapai com o intuito de adquirir um bilhete de passagem na segunda classe fracassaram. O bilheteiro alegava que não conseguia falar via rádio com os seus colegas em Chicualacuala para saber se existiam vagas.
Olhei para o relógio analógico aparafusado numa das paredes, eram 13h30min, o comboio só chegaria às 14h30min segundo o chefe da estação.
O princípio da tarde dominical era típico de um povoado do interior de Moçambique, completamente dormente.
Voltei para a residencial onde havia passado a noite, e aí fiquei na esplanada a berma da única estrada asfaltada. Perscrutava o lugarejo que por vezes era visitado por um carro que passava velozmente em direcção a Chicualacuala; viajantes caminhavam com as suas trouxas para a estação, das minhas averiguações fiquei a saber que vinham de Massangena, Páfuri e outros lugares.
O apito do comboio soou, duas vezes, arrepanhei a minha mochila, chamei pela servente, saldei a minha conta e rumei apressado para a estação.
O bilheteiro disse-me que poderia embarcar na carruagem de segunda classe e averiguar com o revisor se havia lugar.
A carruagem que buscava não havia parado na plataforma, perscrutei e a vi; apressado alcancei-a, segurei o corrimão, quando balançava para subir, o assistente de bordo, um homem grandalhão, indicou-me a carruagem de 3ª classe, julgando que eu me enganara na escolha.
“Não há lugares?”
“Há” – respondeu
“Então!”
Afastou-se da porta da carruagem e embarquei.
Pelo julgamento precipitado do assistente de bordo este concluíra, pelo meu aspecto meio desmazelado, que eu não tinha como pagar para usufruir das comodidades da classe.
Esperei no corredor pelo revisor enquanto apreciava a movimentação dos passageiros que corriam para embarcar maioritariamente na 3ª classe, este chegou e indicou-me um compartimento com seis beliches ocupada por três mamanas, atirei a minha trouxa para a beliche de cima e voltei para o corredor.
O comboio voltou a apitar e depois um abanão sacudiu a carruagem, as grandes rodas de ferro rolaram na via-férrea, continuei debruçado na janela desfrutando da paisagem que se oferecia. A locomotiva circulava vagarosamente paralela a estrada asfaltada. Depois de dez minutos parou!
Desconfiei da demora neste apeadeiro e então apercebi-me que se procedia ao carregamento de estacas no vagão para esse fim.
Voltamos a rolar, agora com mais velocidade, ainda debruçado na janela da carruagem sentia a brisa beijar-me o rosto.
Decidi explorar a locomotiva, foi então quando escalei a carruagem contígua, “eureka!” celebração introspectiva, acabava de encontrar o melhor lugar no comboio, a carruagem- restaurante e bar.
Clientes hospedados nas mesas desfrutavam de suas bebidas, engoli um seco a cada vez que eles enjeriam o precioso líquido, busquei por uma mesa vaga, mas não encontrei, então fui apreciando ora o movimento do restaurante-bar ora a paisagem, esperando uma mesa ficar livre.
Uma espevitada senhorita, que eu conhecera aquando da viagem Maputo-Mapai, irrompeu carruagem adentro, saudamo-nos como amigos de longa data, trajava uma saia curta, as pernas grossas lhe ficavam salientes, era baixinha e tinha a carapinha curta que enaltecia a sua tez clara.
Vagou uma mesa e sentamo-nos, eu meio carrancudo porque estava desprovido de niqueis para usufruir de uma bebida enquanto ela gaba-se eloquentemente das suas proezas de vendedeira ambulante da rota Chókwè-Chicualacula, continuou armada de sua oratória desarmando seus ouvintes que tentavam expor um e outro facto do seu quotidiano.
Um desconhecido juntou-se-nos na mesa, arrancou uma cerveja que guardava no seu alforge, e prontamente ofereceu-me uma, engoli um seco só de ter a lata na mão.
Um processo de mercantilização tácita foi celebrado quando cedo a minha atenção para o desabafo dos seus dissabores e ela faz com que não me falte cerveja, chego mesmo a pensar que ela gasta os lucros do seu negócio para ganhar a minha atenção.
A intromissão repentina de um indivíduo desarmando-a de algo que ela falara deixou-lhe momentaneamente perplexa, até processar o reconhecimento do senhor septuagenário que é mecânico de Chókwè, seu amigo, que também é viajante assíduo do trajecto Chókwè-Mapai-Chókwè. A nova personagem que se juntara a mesa era também cheia de retórica.
Discursos instigados pelo álcool animam a viajem, a nossa mesa tornou-se o cerne da atenção da carruagem, ela espevitada expõe seus dotes femininos e quando confisca a atenção masculina, levanta-se pousa a perna direita no banco, puxa a diminuta saia, e numa posse expõe a coxa torneada, não queria deixar seus dotes femininos nas palavras que pronunciara a esse respeito.
Uma pequena turba vai-se acercando do pequeno palco onde a nossa actriz vai dando seu espectáculo, contracenando com o velho mecânico de Chókwè que procura contraria-la sempre que ela fala dos seus atractivos femininos.
Um toque de emoção leviana assaltou-lhe a mente e ela pula para o banco onde antes pousara as pernas, ginga o rabo para esquerda depois para direita, bate a nádega majestosamente, é ovacionada com ululos e assobios que combinados com o som produzido pela locomotiva dão ritmo a viajem.
Buscou-a de relance e percebo que ela procura dissipar o seu sofrimento, depois de tudo que me contara não passa de uma infeliz que encontrou uma oportunidade de afugentar o mal.
Olhos masculinos, endiabrados pelo álcool fustigam a dançarina que vai marrabentando ao ritmo da cantiga que ela mesmo entoa, auxiliado pelo coro popular.
O afrouxamento seguido de apitadelas dá-nos conta que estamos próximos de um apeadeiro, os ânimos amainam à medida que o comboio vai parando.
“Mabalane” – comunica um dos espectadores.
Este anúncio desarma a nossa bailarina, um cavalheiro auxilia-a a descer do palco, continuamos a nossa cavaqueira enquanto o público vai-se retirando gradualmente.
Ela conta muitas estórias “da árvore magica que expele uma luz” no troço Cungumuni-Mabalane, e o velho mecânico gaba-se também de seus dotes de reparador de motores daquelas bandas, “sou o melhor mecânico de Gaza”.
São 19h30 min quando a locomotiva se imobiliza por completo na estação de Mabalane.
O papo começa a frear, peço licença e desembarco rumo a estação, a minha amiga dançarina incube-me de adquirir umas cervejas no bar da estação pois garante-nos que são relativamente mais baratas que as da carruagem-bar.
Reembarco antes do comboio apitar e apercebo-me que estou meio ébrio, divagamos ainda no papo enquanto terminamos de beber as cervejas, a locomotiva reinicia a marcha.
Combalidos pelo cansaço, despedimo-nos depois de trocarmos os números de telefone, convidam-me a vir a Chókwè onde desembarcariam e residem.
Cada um ruma para a sua carruagem quando entro na minha, encontro as minhas colegas de viajem dormindo, trepo para a beliche evitando produzir qualquer ruído, então lembro-me que as senhoras são zimbabueanas e se dirigem à Maputo em negócios. Resgatei da mente uma estória que se contava nas grandes cidades sobre os vendedores zimbabueanos que não se importavam de deixar ficar o seu produto mesmo sem o conhecer o domicílio do cliente, prometiam vir buscar o dinheiro no dia prometido. E, assim faziam. As mentes mais férteis garantiam que eles eram fantasmas a serviço do seu senhorio.
O embalo da locomotiva e os mililitros de cerveja mesclados combinam um perfeito sonífero. Horas depois acordo assustado pelo efeito da luz do crepúsculo matinal que entra pela janela do compartimento e a vozearia das senhoras que se arrumam. O comboio experimentava um novo afrouxamento, espreito para averiguar em que estação estamos, “Manhiça”. Espreito o relógio de pulso para descobrir as horas, são 5h00 da manhã.
Depois de esfregar os olhos com as mãos, redescubro as minhas companheiras de viajem, um alento sossega meu espírito, afinal de fantasmas elas não têm nada. Elas desembarcam sem despedir, pelo menos sei que são antipáticas é única coisa que sei até ao momento.
O comboio volta a apitar e as rodas de ferro abraçam a linha, a locomotiva geme, o destino esta próximo, lembro-me da bailarina com saudades.
Eu insisto: Nhangumele é um génio. Não sei o que falta para tirarmos aquele miúdo da "djela" e condecorarmos o gajo como o clímax da inteligência moçambicana. Não sei de que estamos a espera. Só depois de ouvirmos que o puto Teo já tem uma estátua numa universidade de Nova Iorque é que vamo-nos preocupar em entender a sua obra.
Veja: depois de vários estudos científicos, em 2017, a Pê-Gê-Ere concluiu que devia codificar os gatunos do relatório da Kroll para que fossem melhor percebidos. O que a Buchili e sua equipa de cientistas não sabia era de que o puto Teo já havia codificado os mesmos gatunos há uns bons anos "atrás". Malta 2012-2013, o puto Teo já chamava Guebas de "HoS" ou "Head of State". Poxa!!! Mas que toque de genialidade!!!
Eu não aguento com esse jovem. O zénite da sua prodigiosidade foi o "Chopstick". "Chopstick" são aqueles palitos que os chineses usam para comer. E como o Chang é de origem chinesa, o nome caiu-lhe como uma luva. Agora me diz se tem dois Nhangumeles neste mundo?
Na tabela de gatunos de Nhangumele tem Ros, tem Isalt, tem Dê-Gê, tem Prof, tem Eug, etecetera. Diferentemente do abecedário da Buchili, que não tem critério nenhum, os acrónimos de Nhangumele se encaixam perfeitamente nas pessoas e nas suas funções no calote.
Assim como o químico Dmitri Mendeleev, que em 1869 já previa, na tabela periódica, lacunas para elementos químicos que ainda não tinham sido descobertos, a tabela de gatunos de Nhangumele também tem gatunos que ainda estão por descobrir. Um desses gatunos é um tal de "Nuy". Tudo o que se sabe é que "Nuy" é um gatuno que não era gatuno, mas que passou a ser gatuno a partir de 2014 quando ascendeu à uma posição de relevo no governo.
A tabela de Teo, como também pode ser chamada, tem espaços para elementos compostos, ou seja, conjunto de gatunos aglutinados em organizações económicas, sociais ou políticas que tenham mamado o tako das dívidas ocultas. Há espaço para todo tipo e feitio de gatuno cujo "valor atómico" ainda não é conhecido. Tal como o Gálio e o Germánio (elementos químicos cujas propriedades foram descobertas mais tarde), o "Nuy" e demais larápios também serão descobertos na devida oportunidade.
A tabela de Nhangumele já existia mesmo antes da chegada da Kroll e antes da encriptação da Buchili. A tabela de Teo é antiga, só que não sabíamos. Devíamos decretar o próximo ano - 2020 - como o Ano Nhangumele, em homenagem à sua generosa e patriótica contribuição para a nomenclatura do nosso tabuleiro de gatunos de estimação e para a nossa estupidificação colectiva. Que o ministro da ciência e tecnologia fique atento a essas invenções! Que a Pê-Gê-Ere ajude a preencher as lacunas da tabela deste grande cientista! Cada ciência tem o seu começo.
- Co'licença!
A sensação que tenho é de que já estou a chegar ao fim. Perdi o entusiasmo. O engajamento às causas da música. Amiúde tenho colocado o telefone no silêncio, para que ninguém me perturbe, na dor de velejar por dentro de um território imaginário que criei e fortifico todos os dias. Acumulam-se as chamadas e as sms, e só ao fim do dia é que as cedo, para logo a seguir voltar ao mutismo, depois de ver os noticiários na TV. Mas isso contraria o ritmo dos meus tempos de juventude, altura em que passava a vida com o ouvido colado ao celular, e os dedos nas pequenas teclas, escrevendo mensagens de paródia.
Geralmente durmo sozinho, e não pode ser verdade se eu disser que sou feliz assim. O que me safa é que o sono não demora, mesmo que eu queira ouvir, durante alguns instantes – depois de desligar o aparelho e deixar a luz ténue do candeeiro dissimulado na mesinha de cabeceira - a música serena da noite, antes de entrar em black out, e deixar que alma se aparte do corpo para as suas viagens de levitação.
Sou um homem solitário. Pior do que isso, já não consigo fazer parte das multidões em épocas de folia. Sofro de parafobia. É por isso que estou constantemente a remar numa nau que nunca sai do lugar, ou melhor, que corre o risco de ser levada cascata abaixo, e partir-se toda no rochego, antes de atingir a almofada das águas, que depois irão prosseguir no seu curso com o meu corpo flutuando. Despedaçado. E eu tenho medo disso.
Na verdade, esta relutância em sair e andar por aí, na esperança de encontrar alguém para um dedo de conversa, só pode signicar que estou a ser devastado. Já não sou eu por inteiro. Dentro de mim só ficaram as sobras da euforia. Até a minha laringe, enrouquecida pelo blues desregrado, tecido nos delírios da canabis e da sura, está a definhar. Recusa-se a cantar, mesmo por debaixo do choveiro, onde me entrego todo os dias, nas manhãs, à liberdade dos solvejos.
A minha guitarra jaz num dos cantos do quarto, desafinada. Empoeirada. Tento abraça-la para reforçar a nossa cumplicidade, e ela repele-me. Tento outra vez... nada! E já não me resta outra coisa senão resignar-me. Sem poder cantar, sem poder dedilhar nas cordas que conhecem muito bem as emoções dos meus sentidos mais profundos. Quer dizer, fui despromovido, de andarilho inundado de claves, para uma bóia apagada. Incapaz de dar direcção aos barcos à vela, que um a um, estão se esbatendo dentro de mim.
Mas o que aumenta mesmo as minhas dores, é perceber que afinal o cesto das intermináveis colheitas a minha mercê, esteve sempre furado desde o começo. Não amealhei nada. Ou melhor, as poucas coisas que tenho, juntei-as por coincidência, num ciclo de vida por demais desorientado. E hoje, nem livros – também cheios de poeira como eu própio - consigo ler. Nem nada. Sou o último passageiro na viagem das hienas, que não sabe bem aonde vai descer. E mesmo que eu soubesse, não posso falar porque todas as minhas palavras estão amordaçadas. Os braços – dilacerados pela luta vã na conquista do amor - são incapazes de gesticular. As pálpebras mantêm-se inamovíveis, deixando livres os olhos que entretanto não vêm nada. Daí que só me resta continuar neste dique falso, que daqui a pouco será varrido... juntamente comigo.
Na senda das recentes eleições dei por mim a pensar no que um amigo sindicalista disse-me uma vez – e passam anos - sobre a maldade da democracia. A tal malvadez era a própria democracia traduzida na alternância governativa, sobretudo, a decorrente da limitação de mandatos.
“O meu antigo chefe é uma vítima da democracia”. Com estas palavras e enquanto indicava para mim o seu antigo chefe, o meu amigo sindicalista dava por concluída a narração do historial da exemplar governação do seu ex-superior que se viu na contingência estatutária de abandonar o cargo depois de cumprir o limite de dois mandatos.
“Um bom chefe e o melhor que a instituição conheceu, mas, infelizmente, a democracia impediu a sua continuidade”. Foram as outras palavras do meu amigo sindicalista e ditas com profunda e dolorosa amargura. Para ele a democracia devia ser como no futebol: em equipa que ganha não se mexe (e nem se põe à prova).
Este episódio veio-me à memória à corrente das reflexões corriqueiras atinentes às últimas eleições, notadamente os seus contornos a ponto dos mesmos terem ditado - eventualmente - a goleada infringida pela Frelimo aos seus opositores. Em resultado desse desfecho, tenho ouvido - amiúde e com algum desassossego - que o país devia abandonar a democracia pluralista e voltar à democracia de partido único e terceiro-mundista das pós-independências.
Sendo assim – face aos resultados retumbantes e aos subsequentes prognósticos do “back to the past” - quem seria(m) a(s) vítima(s) da democracia? A oposição que não se impôs? Os eleitores (que votaram na oposição e/ou que não tenham ido às urnas)?O Ocidente (os patronos da democracia)? Ou os vencedores das eleições (os candidatos e os respectivos votantes)?
Procurei pelo meu amigo sindicalista (hoje um devoto democrata) que para o caso em apreço disse bem alto e em bom-tom: “Os vencedores é que são as vítimas da democracia”. Em defesa da sua posição argumentou que uma equipa que sempre ganha cansa. E por perto - não alheio à conversa - um outro amigo e das hostes dos vencedores, questiona: “Cansa ou dança?” E o primeiro – com uma dose de sarcasmo - retruca: “Um dia desses, dança!”
E cá entre nós - a fechar - e bem na pele das metamorfoses democráticas do amigo sindicalista: o ser ou não ser uma “vítima da democracia” é uma questão que retumba a um dilema shakespeariano. Ademais e à luz das adaptações “workshopistas” do Doutor Fofa (um militante e consultor-turbo dos meandros da sociedade civil): dançar ou indagar, eis a questão.
A vidraça cristalina permitia descobri-la a partir do lugar onde me encontrava sentado, também alguns subsídios luminosos na ordem de uns tantos luxes faziam com que ela cintilasse.
O seu brilho foi o grande chamamento, despertou-me, fui arrebatado pela beleza que ela emanava, venci a timidez que me era característica e pedi para que o servente a chamasse.
A vontade de tê-la por perto medrava a medida que ela se aproximava acompanhada pelo servente.
Quando chegou olhei-a mumificado, sem saber o que dizer, ela trajava uma saia branca com fundo vermelho e adornos dourados e na parte superior tinha um véu branco que lhe cobria o rosto. Exalava uma beleza peculiar que a distinguia das demais.
A apreciação unilateral durou o tempo suficiente de perceber que ela era humilde e este sentimento conferiu-me a ousadia de descobrir-lhe o semblante.
Beleza sublime que me convocou para um êxtase sem igual, divaguei perdidamente por um mundo onírico onde ela era a minha princesa.
Era de origem belga e estava em Moçambique há pouco tempo e já tinha um grandíssimo grupo de admiradores e pretendentes.
A cara dela não me era estranha já a tinha visto amiúde em muitos lugares da cidade de Maputo, sempre impondo seu charme em cada lugar que habitava.
Não demorei a confirmar que eu era seu novo apaixonado e que lhe seria eternamente fiel, pisquei-lhe o olho e ela continuou serena.
Senti que uma tácita relação de intimidade surgira entre nós, segurei-a com a mão direita senti a frescura do seu corpo serpenteando o meu ser, fiquei domado pela sua sumptuosidade. Prontos ela acabava que me possuir sem dizer uma única palavra.
Era a primeira vez que eu me enamorava por uma estrangeira, fora sempre fiel às cá da terra, mas esta forasteira usurpava minha alma.
Depois de confirmada à vontade mútua de nos possuirmos, levei-a aos meus lábios e beijei-a profusamente, toda a minha paixão ficou selada naquele acto. A continuidade amorosa ia-se cimentando com beijo atrás de beijo.
A música que se fazia ouvir metamorfoseou-se com a minha embriagues e solícito levei-a a pista, evoluímos na dança, sempre a segurando firme com a mão direita por vezes a beijava e experimentava uma nova frescura dos seus lábios, e assim ia sucando a essência áqueo do seu magnifico ser.
Voltamos à mesa e as diligências para nos conhecermos melhor aumentava, eu com o meu olhar usurpador e ela ali sempre fresca para mim.
Os meus comparsas de paródia que estavam nas proximidades acompanhadas de duas nativas falavam animados. O ruído das suas gargalhadas por vezes roubava o conluio que se operava entre eu e ela.
Quando me levantei para ir aos lavabos tropecei e logo os meus companheiros anularam a queda.
- Temos que ir embora – conferiram quando se aperceberam da minha embriaguez.
- Não, preciso ficar com ela – disse convicto.
Quando voltei dos lavabos ziguezagueando eles ficaram convencidos que precisavam de me acompanhar à casa.
Ainda vociferei para desencoraja-los, mas eles não se deixaram intimidar, ampararam-me lado a lado e forçaram-me a sair.
Mas antes de abandonar o local gritei:
- Amo-te Stella.