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Um jovem de nome Zaidi Swaiba, natural de Quiterajo, professante da religião muçulmana e reparador de objectos electrónicos, que até a sua captura pelos insurgentes residia na cidade de Pemba, após ter vivido durante alguns anos no distrito de Mocímboa da Praia, foi detido no passado dia 13 de Outubro, no bairro Cariacó, na capital provincial de Cabo Delgado, por três agentes secretos e, até ao momento, não se sabe o seu paradeiro.

 

A guerra nos distritos do centro e norte da província de Cabo Delgado ganhou outras proporções nos últimos dias, com as incursões e bombardeamentos a supostas bases dos insurgentes por parte das Forças de Defesa e Segurança (FDS).

 

Segundo apuramos, na passada terça-feira (15 de Outubro), enquanto o país votava, as regiões de Napala, no Posto Administrativo de Mucojo, em Macomia e Mbau, no distrito de Mocímboa da Praia, eram bombardeadas pelas FDS com o apoio do grupo paramilitar russo “Wagner”, que perseguiam insurgentes. Camiões carregados de militares fortemente armados foram vistos ao norte dos locais acima mencionados. Objectivo: “limpeza nas matas”.

 

Na região de Quiterajo, em Macomia, foram vistos quatro camiões carregados de militares russos em direcção à base montada na região de “Domingos”, próximo do mar, num local onde há sensivelmente três meses os insurgentes mataram e incendiaram bens e barcos. O contingente envolvido nestas operações, garantem fontes, é composto por mais de 600 homens.

 

Outra operação ocorreu na passada quarta-feira (16 de Outubro), no período da tarde, na zona costeira de Mucojo, onde foi bombardeada a base de Ndussia, mais conhecida por “Rússia”; a mesma foi criada pela Frelimo durante a Luta de Libertação Nacional contra o colonialismo português. O ataque àquela base durou, aproximadamente, cinco horas, contam fontes locais.

 

As operações, que são bastante louvadas pela população que vive distante das zonas de ataques, vêm levantando dúvidas para os que vivem nas regiões onde se travam os combates, pois “não há certeza se quem está a ser morto são os chamados insurgentes ou também há civis”.

 

Entretanto, o Governo reivindicou ganhos na luta contra os insurgentes. Um comunicado do Ministério da Defesa Nacional, enviado à nossa redacção, diz que “as Forças de Defesa e Segurança assestaram, no dia 16 de Outubro, mais um golpe de artilharia contra um agrupamento de malfeitores que se havia refugiado no sul do Posto Administrativo de Miangalewa, no distrito de Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado”.

 

“Depois deste ataque, os malfeitores colocaram-se em fuga, tomando diferentes direcções, sendo que alguns destes foram neutralizados em Chitolo, Mocímboa da Praia e outros na região de Nova Zambézia, em Macomia” refere o documento.

 

No entanto, tal como o MDN, o Estado Islâmico (EI) reivindicou ter capturado um militar do exército moçambicano e de ter abatido vários deles durante o combate em Mbau e Marere, no distrito de Mocímboa Praia. (Paula Mawar e Omardine Omar)

No passado dia 12 de Outubro, o colectivo de juízes do Tribunal Provincial de Cabo Delgado ordenou a soltura de 10 mulheres que eram esposas dos integrantes do grupo de insurgentes que, desde 2017, vem aterrorizando os distritos ao norte e centro de Cabo Delgado. As mesmas estavam detidas há dois anos.

 

Conforme “Carta” verificou, as indiciadas foram levadas no passado dia 13 de Outubro para o Centro de Acolhimento de Idosos de Pemba, localizado no bairro Expansão, próximo da Administração Nacional de Estradas (ANE), onde aguardam a devolução dos filhos que tinham sido acolhidos por certas organizações religiosas e não-governamentais.

 

Entretanto, “Carta” procurou saber de fontes judiciais as razões da soltura, mas sem sucesso. Refira-se que não é a primeira vez que aquela instância judicial manda soltar pessoas detidas, supostamente por ter ligações com os insurgentes, sendo que algumas vítimas saíam mutiladas da cadeia e outras inválidas e sem prestar nenhuma explicação. (Carta)

Dois anos depois da onda de ataques bárbaros contra civis, militares e propriedades públicas e privadas, nos distritos do norte e um do centro (Meluco), na província de Cabo Delgado, a situação naquela província ganhou outras dimensões, levando até o Ministério da Defesa Nacional (MDN) a emitir comunicados e a distribuir imagens dos combates no “teatro das operações”, reivindicando sucessivas vitórias contra os “insurgentes”.

 

O facto é que, desde 05 de Outubro de 2019, as Forças de Defesa e Segurança (FDS), em cooperação com o grupo paramilitar russo “Wagner”, vêm derrotando, consecutivamente, os insurgentes que, durante os últimos tempos, tornaram “zonas fantasmas” as aldeias remotas de alguns Postos Administrativos dos distritos de Macomia, Mocímboa da Praia, Palma, Nangade e Muidumbe.

 

O Ministério da Defesa de Moçambique anunciou hoje que abateu, na noite de segunda para terça-feira, um "número considerável" de membros dos grupos armados que têm destruído aldeias e assassinado residentes na província de Cabo Delgado, Norte do país.

 

As Forças de Defesa e Segurança realizaram "um golpe de artilharia contra malfeitores na região de Mbau, entre os rios Messalo e Muera, no distrito de Mocímboa da Praia", refere o Ministério em comunicado.

 

Uma suposta carta escrita pelos insurgentes foi alegadamente encontrada numa mesquita na Vila Municipal de Mocímboa da Praia, semana finda, tendo causando pânico a nível daquele ponto do país. Depoimentos colhidos pela “Carta” indicam que, entre os dias 04, 05, 06 e 07 de Outubro, a população viveu um clima de desespero, com informação posta a circular, dando conta que os insurgentes iriam atacar Mocímboa da Praia em celebração dos dois anos do arranque dos ataques nos distritos, que se verificam naquele ponto do país.

 

Devido ao medo que se instalou, algumas pessoas abandonaram tudo e fugiram para o distrito de Mueda e cidade de Pemba, onde a “chacina” ainda não se fez sentir. Esta situação, segundo apurámos, fez com que o preço do transporte rodoviário fosse especulado, o preço do bilhete chegando a custar entre 200 e 250 Mts, contra os habituais 150 Mts.

 

Joana Atibo e Mariamo Taibo, nomes fictícios de cidadãs que testemunharam a situação e que falaram à “Carta”, contaram ter vivido um momento de terror e que a sua prioridade era sair de Mocímboa da Praia para zonas “onde vivem comunidades macondes que, até aqui, ainda não sofreram nenhum ataque”.

 

As fontes, que agradeceram a Deus por terem conseguido sair de Mocímboa da Praia para Pemba, acrescentaram que, durante o percurso, as Forças de Defesa e Segurança (FDS) desdobravam-se para garantir a segurança destes. Maior parte das pessoas conseguiu sair e foi instalar-se no distrito de Mueda, onde se acredita haver mais segurança que outros distritos.

 

Entretanto, fontes da “Carta” contaram que, no passado dia 05 de Outubro, os insurgentes decapitaram um cidadão quando regressava de mais uma actividade do campo de cultivo. Já no dia 06 de Outubro, na aldeia Uló, distrito de Mocímboa da Praia, quando eram aproximadamente 15 horas, a população terá visto mais de 20 homens fortemente armados em direcção à zona habitacional, mas devido à comunicação atempada às FDS que saíram em direcção aos supostos insurgentes, o mal maior não aconteceu.

 

Porém, estranhamente, o Ministério da Defesa Nacional anunciou, nesta segunda-feira, o abate, no passado dia 05, de nove insurgentes após intensos combates. O comunicado, não habitual, não traz detalhes sobre a situação dos militares envolvidos e muito menos as circunstâncias em que ocorreu o ataque. (Omardine Omar e Paula Mawar)

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