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Crime

O distrito de Muidumbe, na província de Cabo Delgado, vive momentos de grandes contradições.


É assim: no último domingo, as populações das aldeias de Chitunda e Namacande decidiram “expulsar” membros das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) que ali se encontravam, por alegada inoperância.


Porém, logo na madrugada seguinte (de segunda-feira portanto), a aldeia de Chitunda foi atacada, supostamente por insurgentes – facto que leva algumas pessoas a insinuarem que terá havido uma retaliação.

 

Três vídeos amadores foram partilhados nas redes sociais, na manhã desta segunda-feira, ilustrando populares a gritarem “vão embora”, nas línguas portuguesa e local (Cimakonde) para um grupo de membros das FADM. Os manifestantes empunhavam flechas, paus, catanas e outros instrumentos contundentes, seguindo um grupo de mais de 10 militares.

 

“Você é alshabab!... Bate!” eram algumas palavras que se ouviam dos manifestantes. Segundo o que “Carta” apurou, a dita expulsão deveu-se aos ataques ocorridos nas aldeias vizinhas de Litapata e Malangonha, na passada sexta-feira, que resultaram na morte de três pessoas e incêndio de diversos bens.

 

De acordo com as fontes, após esses episódios, as Forças de Defesa e Segurança (FDS) enviaram uma equipa para a aldeia de Namacande, Sede do distrito de Muidumbe, porém, a população manifestou-se contra, supostamente porque os militares não retaliaram os referidos ataques.

 

À “Carta”, as fontes afirmaram que a população diz confiar em si própria, pois, no seu entender, todos os locais, para onde as FDS foram destacadas foram alvos de ataque. Assim, asseguram as fontes, a população entendeu que deveria lutar pelos seus próprios meios contra os malfeitores.

 

Durante a “manifestação” em Chitunda, uma pessoa perdeu a vida e outras duas ficaram feridas, em resultado da confusão instalada no local, após os militares disparem para o ar, de modo a dispersar os populares.

 

Entretanto, como já fizemos alusão acima, horas depois da expulsão dos militares, a aldeia Chitunda foi alvo de um ataque, supostamente protagonizado por insurgentes. Durante a incursão, contam as nossas fontes, os insurgentes queimaram um número considerável de casas e barracas de alguns comerciantes locais. Não houve registo de vítimas humanas, apenas materiais. (Carta)

 

O Ministro da Defesa Nacional, Atanásio Salvador M’tumuke, apontou o “dedo acusador” à Renamo, responsabilizando-a pelos ataques que vêm acontecendo na zona centro do país – normalmente atribuídos a desconhecidos. M’tumuke reafirmou que não vê diferença entre os homens da Junta Militar da Renamo e o Partido no seu todo.

 

Falando à imprensa esta quinta-feira, 12 de Dezembro, em Maputo, o Ministro disse que a Renamo está a violar o acordo de paz definitiva de 6 de Agosto, assinado entre o Chefe de Estado, Filipe Jacinto Nyusi, e o Presidente daquele partido da oposição, Ossufo Momade.

 

M’tumuke reafirmou que, na zona centro, a Renamo não está a honrar com o acordo assinado, porque os homens que estão a disparar contra pessoas e viaturas são justamente originários daquela formação política. Aquele dirigente realçou ainda que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) estão a fazer de tudo para que a situação volte à normalidade nas províncias onde reina a instabilidade.

 

De salientar que, nos últimos dias, os passageiros e automobilistas que circulam pelas Estradas Nacionais (1 e 6), em alguns distritos de Manica e Sofala, têm sido alvo de ataques de homens armados, a quem a Polícia da República de Moçambique (PRM) tem acusado de pertencerem à Junta Militar da Renamo, liderada pelo general Mariano Nyongo.  Autocarros de passageiros e camiões de transporte de mercadorias têm sido os alvos predilectos dos homens armados, numa situação que já tirou a vida a 11 pessoas, entre civis e polícias.

 

Na semana finda, o Ministério Público anunciou que correm na justiça 20 processos crimes contra homens detidos e desconhecidos.  Entretanto, Atanásio M’tumuke disse que não restam dúvidas que os ataques são perpetrados por homens oriundos da Renamo.

 

Em reacção, José Manteigas, Porta-voz do Partido Renamo, disse, em entrevista à “Carta”, esta quinta-feira, que o “discurso do Ministro M’tumuke é falacioso e que foi a Frelimo quem “criou” os ditos homens armados, tanto que “estimulou” que alguns órgãos de comunicação social públicos e privados se deslocassem às bases dos mesmos para fazer cobertura de uma série de eventos, entre os quais “ameaçar de morte o Presidente da Renamo”.

 

José Manteigas voltou a acusar o Governo da Frelimo de estar a perseguir seus membros, raptando-os e assassinando-os.


Para o Porta-voz da “Perdiz”, o Ministro da Defesa e o seu Governo é que estão a violar os acordos assinados. Rematou ainda: “se as FDS são incapazes de parar com os ataques que estão a ocorrer no centro e na província de Cabo Delgado, então que não atribuam culpas à Renamo e nem olhem para o partido como um bode expiatório”.

 

Manteigas disse não perceber a acusação à Renamo, uma vez que o próprio Atanásio M’tumuke sabe que “as forças residuais da Renamo encontram-se neste momento acantonadas na sua base, na Serra da Gorongosa, esperando pelo processo de desmobilização, desmilitarização e reintegração (DDR) de forma tranquila, e que recentemente um conjunto de 10 oficiais jurou à bandeira e serão patenteados”. (O. O.)

Ossufo Momade mostra-se agastado com o facto de o governo moçambicano ter recorrido aos mercenários russos do Wagner Group para tentar pôr cobro à situação de insurgência que se vive em Cabo Delgado, há dois anos.

 

Para o líder da Renamo, antes de mais nada “o que o Governo devia ter feito era apresentar o caso à Assembleia da República, de modo a promover uma ampla discussão sobre as melhores formas de resolver o conflito – coisa que até hoje não se dignou a fazer”.

 

 Em entrevista à Lusa, Momade foi categórico ao afirmar que não faz nenhum sentido o recurso àquele grupo de mercenários russos, até porque, segundo diz, “o seu envolvimento acaba, de certa forma, por diluir aquilo que é o pensamento dos moçambicanos, no que tange a conflitos sociais e religiosos, os quais – como é sabido – estão na origem dos ataques não só a alvos civis, mas também ligados ao sector petrolífero em Cabo Delgado”.

 

“O Governo de Moçambique foi à Rússia e trouxe de lá mercenários, porém, tanto quanto sabemos, estes praticamente não fizeram nada até hoje, certamente porque se aperceberam que alguma coisa está errada no meio disto tudo”, disse Momade, acrescentando: “de certeza eles próprios (os russos) se aperceberam que existem razões mais profundas na origem deste conflito”.

 

 O número um da Renamo diz discordar completamente deste tipo de intervenção militar, sobretudo porque “o Governo nunca teve a coragem de vir a público explicar a origem desses grupos insurgentes, preferindo não só aldrabar a população moçambicana, mas também impedir que, de alguma forma, a imprensa possa cobrir o que de facto se está a passar no terreno”.

 

Estima-se que até ao momento os conflitos em Cabo Delgado tenham já vitimado centenas de pessoas e destruído um considerável número de infra-estruturas. (Carta)

Vinte e quatro horas após “Carta” ter noticiado que se recorreu ao uso de “magia negra” para descobrir os autores do ataque que tirou a vida a duas pessoas, na aldeia Litingima (em Nangade) a 27 de Novembro, o Administrador daquele distrito da província de Cabo Delgado, Dinis Issa Mitande, contactou-nos para colocar os pontos nos “ii´s”.

 

Mitande esclareceu que essa informação começou a circular em quase todo o distrito, cinco dias depois do referido ataque. Daí que se tenha dirigido ao local para se inteirar da veracidade da mesma.

 

Na reunião que manteve com a população, no passado dia 03 de Dezembro, explica a fonte, não se confirmou a suposta baixa das Forças de Defesa e Segurança (FDS), originada por “magia negra” e muito menos a presença de um tal curandeiro tanzaniano, supostamente contratado para o efeito.

 

Mitande confirmou apenas a ocorrência do ataque, afirmando que a actuação do grupo que aterroriza a província, desde 05 de Outubro de 2017, demonstra que alguns dos seus integrantes são efectivamente naturais de Nangade, isto, pelo (seu) conhecimento das infra-estruturas e propriedades destruídas, bem como dos alvos que seleccionam para atacar.


Garantiu ainda que a população continua vigilante, mesmo com a presença das FDS em todo o perímetro do distrito.

 

Entretanto, fontes da “Carta” reiteraram que, após o ataque, a população de Litingima procurou um curandeiro para “enfeitiçar” o grupo que atacou aquela aldeia. Sucede, porém, que, ao invés disso, o que se assistiu foi a morte estranha de membros das FDS, o que lhes leva a suspeitar do envolvimento destes (membros das FDS) no ataque. (Carta)

A Procuradoria-Geral da República (PGR) instaurou 20 processos-crimes contra os homens armados da Junta Militar da Renamo, como forma de leva-los à barra do Tribunal para responderem pelos ataques protagonizados em alguns distritos das Província de Manica e Sofala, região centro de Moçambique.

 

A informação vem publicada na edição desta terça-feira do Jornal “Notícias”, citando uma fonte da PGR, que falou em anonimato. Segundo tal fonte, dada a situação de instabilidade que ainda prevalece na região centro, os investigadores da PGR e do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) estão a enfrentar dificuldades de mobilidade em busca de mais elementos de prova para fundamentar e concluir os processos abertos.

 

Entretanto, a fonte refere que “os peritos continuam no terreno a fazer o seu trabalho, facto que já permitiu a instauração de alguns processos com arguidos presos”. Os restantes processos foram instruídos contra desconhecidos. Segundo a fonte “os autores materiais existem, faltando descobrir os mandantes, neste caso os autores morais que estão por detrás destes ataques”.

 

De acordo com a mesma fonte, no caso dos seis supostos homens armados da Junta Militar da Renamo (JMR), detidos na Província da Zambézia, no passado dia 21 de Novembro, prosseguem investigações aprofundadas em busca da veracidade das revelações feitas aquando da sua apresentação pública (pelo vice-comandante da PRM, Timóteo Bernardo).

 

Na data, os seis supostos homens armados da JMR liderada pelo General Mariano Nyongo, terão apontado – como “mentores” das suas acções – alguns membros seniores da “Perdiz” como Ivone Soares, actual chefe da bancada, Manuel De Araújo, edil de Quelimane, Manuel Bissopo, ex-secretário-geral, Elias Dhlakama, segundo candidato mais votado no VI congresso da Renamo, António Muchanga, actual deputado da Assembleia da República (AR) e Sandura Ambrósio, deputado da AR pela Renamo.

 

No entanto, Ivone Soares, Elias Dhlakama e António Muchanga distanciaram-se das acusações. Soares, por exemplo, referiu que sempre que se envolveu em questões militares era para a pacificação do país.

 

Salientar que os ataques a nível das províncias de Manica e Sofala continuam a ocorrer diariamente, principalmente, ao longo das Estradas Nacionais (EN1 e EN6), tendo até ao momento ceifado a vida de 11 pessoas, destruído mais de dez viaturas e deixado vários feridos entre ligeiros e graves. (Carta)

Uma situação, no mínimo “estranha”, que vem acontecendo no Distrito de Nangade (Cabo Delgado), está a agitar o governo moçambicano, a tal ponto de levar o Presidente da República, Filipe Nyusi, a escalar Cabo Delgado na última semana, no intuito de se aperceber e tentar resolver o problema.

 

Segundo fontes da “Carta”, há uma relação directa entre a dita “situação estranha” e as mortes de elementos das FDS. Populares e médicos tradicionais entrevistados pela “Carta” dizem que, depois do ataque que ocorreu na aldeia Litingina, no distrito de Nangade, os comerciantes e a população procuraram um curandeiro tanzaniano para tratar a aldeia.

 

Segundo aferimos, sucede que o curandeiro recolheu as cinzas das casas e peugadas da zona do crime. Dois dias depois, a comunidade começou a assistir a mortes estranhas de alguns elementos das FDS, tendo até ao último sábado (07 de Dezembro) sido mortos mais de 20 membros das FDS. Alguns foram evacuados para o Hospital Rural de Mocímboa da Praia, onde “não chegam a ser tratados, porque não se sabe o que sentem”, conforme nos confidenciaram fontes hospitalares não autorizadas a falar.

 

Não se sabe quais podem ser as razões desta situação, mas suspeita-se que os militares tenham sido os protagonistas do último ataque àquela aldeia, pois, a “magia negra” visava “aniquilar” os autores do mesmo. Salientam ainda que a acção enquadra-se na cooperação entre o Governo e a população.

 

Referir que durante os últimos dias "Carta" procurou ouvir telefónicamente, o Administrador de Nangade, Dinis Issa Mitande, tendo feito várias ligações e deixado mensagens de texto, mas não tivemos a reacção da fonte.

 

A situação já levou a que vários elementos das FDS se retirassem da aldeia por “medo”, porque desde que foi feita suposta “magia negra”, os militares já viram até comandantes tombarem. Dizem que a cada dia cinco a sete militares “caem do nada”. A situação é comentada em todos os distritos e inclusive na capital da Província de Cabo Delgado, Pemba, onde a situação é descrita como insólita.

 

O Comando-Geral da PRM exortou os médicos tradicionais na semana finda, na província de Manica que também vive situações de insegurança em alguns distritos, a cooperarem com as autoridades policiais. Salientar que na passada sexta-feira (06 de Dezembro), o PR Filipe Nyusi encerrou, na cidade de Nampula, o 12º curso de Formação de Oficiais e 9º de milicianos. (Carta)

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