Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Crime

Primeiras fotografias do DAESH divulgada na conta de twitter do Jornalista Wassim Nasr, da France 24 publicadas no último domingo depois do ataque em Marere (Malali), Mocimboa da Praia.

Os distritos da zona norte da província de Cabo Delgado continuam em “chamas”. Tal como é do conhecimento público, as populações residentes nas aldeias e localidades dos distritos de Macomia, Mocímboa da Praia, Palma, Nangade e Muidumbe continuam a viver momentos de terror, com o assassinato de pessoas e destruição de diverso património privado e público.

 

Entre os dias 03 e 07 de Dezembro passados, os residentes das aldeias Ingoane e Ilala, no distrito de Macomia, e Marere, no distrito de Mocímboa da Praia, voltaram a ser atacados pelos insurgentes.

 

A aldeia Marere, no Posto Administrativo de Mbau, foi “visitada” na passada sexta-feira, 06 de Dezembro, e, de acordo com as fontes, o grupo de homens, que estava munido de armas de fogo e catanas, entrou na aldeia durante a madrugada, tendo morto dois civis e atacado uma posição militar e furtado armas e munições. Reporta-se ainda o assassinato de mais de 10 membros das Forças de Defesa e Segurança (FDS).

 

A fonte, que narrou o episódio à “Carta”, assegura que o ataque ocorreu durante a madrugada (3:00 horas) daquele dia e que o grupo voltou destruir bens da população, para além de ter morto e raptado algumas mulheres. A fonte não confirmou o número de mortes e nem de raptadas.

 

O ataque foi, mais uma vez, reivindicado pelo Estado Islâmico, algo que aconteceu no mesmo dia (sexta-feira), através da sua página Al Naba e, no aludido comunicado, o grupo radical islâmico diz ter morto 16 militares e capturado um.

 

Ainda no mesmo dia (06 de Dezembro), quando eram 20:00 horas, os insurgentes atacaram a aldeia Ingoane, mas sem provocar óbitos. A fonte conta que a aldeia encontrava-se deserta, quando os “malfeitores” chegaram. Entretanto, queimaram algumas casas que restavam e outras que estavam em reconstrução.

 

Fotografia publicada na página do Estado Islâmico na África Central que reivindicam autoria do ataque sobre aldeia Marere (Malali) em Mocimboa da Praia, onde atacaram uma posição militar e furtaram armamento diverso

 

Já no dia anterior, 05 de Dezembro, quatro jovens residentes na aldeia Ilala, no Posto Administrativo de Quiterajo, no distrito de Macomia, foram baleados nos membros inferiores (pernas) por cinco homens armados que, no momento, estavam vestidos com o uniforme das FDS.

 

Conforme apuramos de testemunhas, tudo aconteceu por volta das 12:00 horas, numa zona próxima à aldeia Pequeue. A fonte garante que os jovens, que eram pescadores, foram interpelados por cinco homens fardados, que se apresentaram como militares. Porém, devido ao local onde se cruzaram e o modus operandi dos insurgentes, as vítimas dispersaram-se, tendo sido, de seguida, alvejados por tiros de uma arma de fogo.

 

A fonte disse à “Carta” não saber como foi possível os jovens escaparem à morte, depois de terem sido “imobilizados”, mas assegura que foram levados a uma unidade das FDS, localizada na aldeia Pequeue, antes de serem evacuados para o Centro de Saúde de Mucojo, no mesmo distrito (Macomia).

 

Enquanto isso, na tarde (15:00 horas) do passado dia 03 de Dezembro ocorreu mais um ataque na estrada que liga Mocímboa da Praia e Palma, concretamente na aldeia de Matapata, a cerca de 25 Km da sede do distrito de Palma. No local, os insurgentes atacaram três viaturas e mataram duas pessoas, não se sabendo o número real de feridos que foram evacuados para o Hospital Distrital de Palma. Sabe-se apenas que um dos feridos grave é membro das FDS. As fontes garantem ainda que um dos feridos é de nacionalidade britânica e é trabalhador da empresa G4S, que presta serviços às multinacionais instaladas na bacia do Rovuma. 

Como se vem noticiando, os combates em Cabo Delgado – mais precisamente nos distritos de Macomia, Palma, Muidumbe e Nangade – continuam intensos. Nos últimos cinco dias, mais de 16 pessoas perderam a vida, sendo 12 pertencentes ao grupo terrorista que desde Outubro de 2017 vem protagonizando actos macabros, cinco civis e um agente das Forças de Defesa e Segurança (FDS).

 

De acordo com fontes do exército posicionadas no teatro das operações, no passado dia 30, os insurgentes voltaram a atacar a aldeia Olumbi, no Distrito de Palma, tendo sido morta uma mulher, queimadas duas barracas e vandalizadas propriedades privadas. Em alguns dos estabelecimentos vandalizados, os insurgentes chegaram ao extremo de deitar fora quantidades significativas de produtos alimentares, tais como peixe seco e arroz.

 

Com a colaboração de populares, as FDS perseguiram o aludido grupo tendo sido abatidos quatro dos seus membros, e capturados outros tantos. Durante o tiroteio, um agente das FDS foi mortalmente atingido.


De acordo com as nossas fontes, a operação prosseguiu na última segunda-feira (02), sendo que as FDS penetraram aldeia Olumbi adentro, conseguindo abater mais oito insurgentes.

 

De recordar que este grupo de insurgentes que ataca aldeias e vilas há dois anos, sem, contudo, revelar as suas verdadeiras pretensões, já matou mais de 500 pessoas – segundo dados revelados pelo Royal Institute of International Affairs de Londres, através do seu representante na África, Alex Vines, em entrevista concedida ao jornal canadiano The Globe and Mail.

 

Macomia: as perdas que não param

 

Outra situação aconteceu no passado dia 29 de Novembro, na aldeia Nacutuco, a 8 quilómetros da sede do Posto Administrativo de Mucojo, Distrito de Macomia. Voltaram a viver-se momentos tenebrosos, numa acção insurgente que resultou na morte de quatro civis e no ferimento grave de uma quinta pessoa. No referido ataque, várias palhotas foram incendiadas.


De acordo com populares contactados telefonicamente pelo nosso jornal, os insurgentes permaneceram na aldeia por cerca de três horas, sem que houvesse qualquer resposta das FDS, que, entretanto, se encontravam a 8km.

 

De entre os quatro civis mortos, um foi decapitado, outro carbonizado e os restantes dois baleados à queima-roupa. Entretanto, relatos de populares na sede de Mucojo indicam que todas as vítimas de Nacutuco eram pessoas que acabavam de regressar à aldeia, depois de terem fugido há, sensivelmente, um ano, para a sede de Mucojo.

 

Conforme “Carta” apurou, em Mucojo-sede, existe uma posição das FDS que, anteriormente, estava baseada na aldeia de Nacutuco. Acontece que, após o ataque de 27 de Novembro de 2018, que culminou com a morte de um civil e mais de 14 barracas incendiadas, o exército instalara uma posição naquela aldeia, tendo, porém, deslocado a mesma, alguns meses depois, para sede do Posto Administrativo.


A retirada dessa posição de Nacutuco já custou a vida a cinco pescadores que (em Agosto passado) regressavam de mais uma actividade.


Índia interessada em apoiar

 

Como “Carta” noticiou esta terça-feira, o Wagner Group, a organização de mercenários russos que combate os insurgentes em Cabo Delgado, regressou semana finda ao teatro das operações, depois de uma retirada estratégica que durou alguns meses.


Coincidência ou não, o presidente Filipe Nyusi efectuou uma visita-relâmpago à Província de Cabo Delgado, numa altura em que se fala do interesse da Índia em apoiar Moçambique no campo da defesa e segurança.

 

Aliás, de acordo com um comunicado, datado de 29 de Novembro, o Ministério da Defesa Nacional (MDN) dá a conhecer que o Ministro Atanásio M’tumuke e o homólogo indiano Raksha Mantri assinaram um memorando de cooperação na área da defesa e segurança marítima, na Zona Económica e Exclusiva de Moçambique. Refere ainda que as autoridades de Nova Deli apoiaram Moçambique com 44 viaturas para o SERNIC e embarcações para o controlo marítimo. (Carta)  

Mais quatro pessoas perderam a vida e uma ficou ferida, em consequência de mais um ataque levado a cabo pelos insurgentes em Cabo Delgado. O ataque ocorreu por volta das 19 horas do passado sábado, na aldeia Nacutuco, Posto Administrativo de Mucojo, no Distrito de Macomia, e foi o segundo a ser registado naquele ponto do país. Outro aconteceu a 27 de Novembro de 2018.

 

À “Carta”, as fontes contam que duas pessoas foram assassinadas com recurso a uma arma de fogo, uma foi decapitada e uma outra carbonizada. Para além dos quatro óbitos, os insurgentes queimaram casas.

 

Segundo as fontes, as vítimas acabavam de regressar da sede do Posto Administrativo de Mucojo, onde se tinham refugiado, após o clima de insegurança que se instalou na aldeia, depois do primeiro ataque. Garantem ainda que o grupo permaneceu cerca de três horas no local sem que se notasse a presença das Forças de Defesa e Segurança (FDS).

 

Refira-se que, em Agosto último, os insurgentes decapitaram cinco pescadores daquela aldeia, quando regressavam da pesca no troço Nacutuco-Pangane. O ataque do ano passado resultou na morte de uma pessoa, no ferimento de outra, para além da vandalização de 14 barracas, casas e diversos bens, como uma viatura. (Carta)

Presidente do Wagner Group (a esquerda) Vladimir Putin, Presidente da Federação Russa (ao centro) Foto: CNN

Após uma retirada estratégica em meados do mês passado, visando analisar as táticas e formas de actuação na repreensão contra os “terroristas sem rostos” que há dois anos vêm decapitando civis e militares, incendiando e saqueando propriedades privadas e públicas, o grupo de mercenários russos Wagner voltou às zonas de conflitos em Cabo Delgado na semana finda.

 

A informação foi confirmada pelo especialista Alex Vines, baseado em Moçambique, que lidera o Programa da África no Royal Institute of International Affairs de Londres, em entrevista na semana finda, ao jornal sul-africano The Globe and Mail.

 

Alex Vines disse: “eu estive recentemente em Moscovo conversando com autoridades russas e elas hoje admitem a complexidade da situação em Cabo Delgado, que no início subestimaram”.


Vines contou que, até agora, as táticas contra os insurgentes em Cabo Delgado são uma reminiscência das táticas “desajeitadas autoritárias” das primeiras campanhas contra a milícia islâmica conhecida como Boko Haram, na Nigéria.

 

Na mesma entrevista, Vines alertou que as autoridades de Moçambique devem perceber que o destacamento de militares privados pode afigurar-se como “um tiro a sair pela culatra” e " piorar a crise”. Disse ainda que a retirada estratégica do Wagner Group, no mês passado, demonstra a complexidade de combater a sombria insurgência islâmica em Cabo Delgado, uma Província rica em gás e cujo projecto de investimento ronda nos 60 biliões de USD.

 

Alex Vines afirmou que os mercenários do Wagner Group “ficaram chocados” com a realidade no terreno, o que lhes levou a tal retirada estratégica para repensarem o seu plano operacional, principalmente depois de várias notícias avançadas pela “Carta” e outros órgãos de comunicação nacionais e estrangeiros, dando conta da morte de alguns dos seus elementos, emboscados em distritos como Muidumbe, Macomia e Mocímboa da Praia.

 

De acordo com Alex Vines, alguns corpos foram levados para Rússia onde foram realizadas as respectivas cerimónias fúnebres. Aliás, a estação norte-americana CNN avançou igualmente que dois jovens contratados (de 28 e 31 anos de idade) terão sido mortos durante confrontos contra os insurgentes. Entretanto, nem as autoridades governamentais de Maputo e muito menos as de Moscovo confirmaram esta ocorrência.

 

Na peça da CNN publicada na última sexta-feira (29 de Novembro), Yevgeny Shabayev, que actua como porta-voz não oficial dos mercenários do Wagner Group, disse: “os corpos dos dois homens já haviam sido devolvidos de Moçambique para sua região natal, Vladimir, a leste de Moscovo”.

 

O entrevistado pela CNN não especificou o papel dos mercenários em Moçambique, mas confirmou que os caças e equipamentos russos terão chegado na cidade portuária de Pemba e que os mercenários estão baseados mais ao norte, na cidade costeira de Mocímboa da Praia tendo estado envolvidos em várias operações ao longo da fronteira com a Tanzânia, onde a “insurgência islâmica” está crescendo em força.

 

Entretanto, a CNN cita fontes militares que afirmam que os russos estão mal equipados para o combate no mato denso e que a sua relação com o exército de Moçambique é tensa. Conforme avança a CNN, um militar moçambicano terá confidenciado que “os russos não estão fazendo nada em termos de redução do impacto dos ataques” e que as tropas moçambicanas se recusaram a participar de algumas operações.

 

De acordo com dados recolhidos pela organização liderada por Alex Vines, estima-se que cerca de 500 pessoas morreram em centenas de ataques dos insurgentes em Cabo Delgado nos últimos dois anos. Uma informação que contraria a versão de algumas fontes oficiais que estimam que, até ao momento, tenham perdido pouco mais de 300 pessoas.

 

Os ataques em Cabo Delgado ganharam outra dimensão nos últimos meses, passando a acontecer diariamente em distritos como Nangade, Macomia, Muidumbe, Mocímboa da Praia e Palma, onde, para além de matar civis, os terroristas queimam propriedades de produção agrária e vários investimentos de empresários nacionais.


A situação em Cabo Delgado já levou mais de 68 mil pessoas a deslocarem-se para distritos “vistos como seguros” e outras a procurarem refúgio na Tanzânia, facto que as autoridades de Dar-Es-Salam não estão a aceitar.

 

Refira-se que, há duas semanas, o Presidente da República, Filipe Nyusi, pediu à população, num comício em Mueda, para que esta passasse a denunciar e a coordenar a vigilância com as Forças de Defesa e Segurança (FDS). Aliás, em todos os comícios que dirige, Nyusi tem exortado a população para não aderir aos grupos de recrutamento, seja para o conflito de Cabo Delgado, seja para o do centro do país. (O.O. /adaptado de  The Globe and Mail e  CNN)

segunda-feira, 02 dezembro 2019 05:08

Autocarro atacado em Manica

colunas de autocarros e camiões ao longo da EN1

Eram precisamente seis horas quando um grupo de homens armados desconhecidos atacou, na passada sexta-feira, um autocarro da companhia de transporte interprovincial Etrago, na zona de Muda-Serração, no distrito de Gondola, em Manica. O ataque ocorreu a aproximadamente 75 quilómetros da cidade de Chimoio, a capital provincial, tendo resultado em um ferido grave e três ligeiros.

 

De acordo com fontes hospitalares, o cidadão que estava gravemente ferido teve de ser transferido para o Hospital Provincial de Chimoio. O cenário de segurança inibiu que fossem recolhidos mais dados sobre o ataque. 
Refira-se que os ataques a autocarros de transporte interprovincial têm sido frequentes, ao longo das Estradas Nacional Nº 1 e 6 e já causaram mais de 10 mortes, entre civis e membros das Forças de Defesa e Segurança (FDS).

 

O autocarro da companhia Etrago fazia o percurso Maputo-Quelimane e acabou sendo atacado por desconhecidos que, segundo a Polícia da República de Moçambique (PRM), através do seu Porta-Voz, Orlando Mudumane, são elementos pertencentes à auto-proclamada Junta Militar da Renamo, liderada por Mariano Nhongo. (O.O.)

quinta-feira, 28 novembro 2019 21:58

Insurgentes causam mais três mortos em Nangade

Mais três pessoas perderam a vida e duas ficaram feridas em consequência de mais um ataque levado a cabo pelo grupo que aterroriza a zona norte da província de Cabo Delgado, desde Outubro de 2017. O ataque aconteceu por volta das 21 horas de ontem, quarta-feira, na Sede da Localidade de Litingina, no distrito de Nangade, naquela província do norte do país.

 

Fontes da “Carta” contam que os atacantes escalaram à aldeia, num momento em que as famílias já encontravam-se a repousar. Quando chegaram, afirmam os nossos informantes, os insurgentes dispararam para o ar, facto que permitiu com que grande parte da população fugisse do local.

 

Pág. 29 de 58