Desde o fim do apartheid em 1994 até aqui, África do Sul já teve cinco Presidentes. Destes, apenas Nelson Mandela é até agora o único que conseguiu completar o mandato e sair sem retirada do apoio do ANC. E Kgalema Motlanthe teve apenas um ano como PR. Outros dois foram forçados a sair e o actual está a beira de seguir o mesmo caminho.
1. Nelson Mandela (Nasceu em 1918 em Mvezo, Cabo Oriental): Foi o primeiro Presidente da África do Sul de 10 de maio de 1994
a 14 de junho de 1999. Teve um mandato pouco questionável. Conseguiu unir o país que estava estruturalmente dividido;
2. Thabo Mbeki (nasceu em 1942 em Idutywa, Cabo Oriental): Presidente da África do Sul de 14 de junho de 1999 até 24 de setembro de 2008, quando renunciou por falta de apoio do ANC. Não concluiu o segundo mandato;
3. Kgalema Motlanthe (nasceu em 1948 em Joanesburgo): Presidente da África do Sul entre 2008 e 2009. Estava apenas a concluir o segundo mandato de Thabo Mbeki que foi forçado a renunciar em 2008;
4. Jacob Zuma (nasceu em 1942 em Inkandla): Foi Presidente da África do Sul de 9 de maio de 2009 a 14 de fevereiro de 2018. Renunciou em 2018 por suposto envolvimento em casos de corrupção (tinha cerca de 800 acusações). Mesmo depois de sair do poder nunca teve paz devido aos vários processos ligados à corrupção;
5. Cyril Ramaphosa (nasceu em 1952 em Joanesburgo): É Presidente desde 15 de fevereiro de 2018. Primeiro para concluir o mandato do Jacob Zuma que foi forçado a renunciar e no dia 22 de maio de 2019 iniciou o seu primeiro mandato apos a vitória do ANC nas eleições gerais. Pode não conseguir concluir o seu primeiro mandato;
Anotações:
- Nelson Mandela é o único que exerceu um mandato por inteiro e saiu sem perder apoio do ANC;
- Thabo Mbeki e Jacob Zuma conseguiram segundo mandato mas foram forçados a abandonar pelo ANC;
- Cyril Ramaphosa está a beira de sair do poder sem concluir o primeiro mandato;
- Nenhum destes presidentes conseguiu governar África do Sul por 10 anos, ou seja por dois mandatos completos;
- O ANC enfrenta uma crise desde o fim do apartheid. Nelson Mandela conseguiu governar o país mas não conseguiu resolver os problemas do ANC;
- Nas eleições autárquicas de 2021 o ANC teve o seu pior resultado eleitoral, tendo obtido apenas 46 porcento;
- O surgimento do partido Freedom Fighters (EFF) de Julius Malema é um sintoma da crise do ANC. Malema era líder do braço juvenil do ANC;
- Esta crise do ANC tem afectado negativamente o funcionamento do Estado (com recorrentes acusações de corrupção e interrupções de mandatos dos seus presidentes). África do Sul tem registado ondas de manifestações populares violetas de forma mais frequente muitas vezes ligados a problemas de governação;
- O Presidente da África do Sul é nomeado pelos membros do Parlamento, sendo, geralmente, o líder do partido com maior número de assentos no parlamento. No caso, desde 1994 tem sido o ANC o partido com maior número de assentos;
- O Presidente exerce o mandato em nome do partido, pois ele não é eleito directamente pelos eleitores. Perdendo o apoio do partido que o apoia o mesmo pode ser convidado a se retirar de forma voluntária, como aconteceu com Mbeki e Zuma e agora pode acontecer com o Ramaphosa.
Dércio Alfazema
Há muitos drogados e prostitutas nesta cidade que já perdeu o estatuto de “ A mais sossegada do país”. E ladrões, que em muitos casos não esperam pela calada da noite para violar residências e roubar, fazem-no a descarada. É uma onda, ou melhor, são várias ondas compostas por jovens que podem estar completamente frustrados. Desesperados. Desnorteados. Então perderam o medo e a vergonha, e agora partem rumo a violência gratuita, com o objectivo aparente de encontrar qualquer coisa alheia que será depois transformada em elemento de troca. Eles têm que alimentar o vício e matar o tédio que lhes rói.
Já não há sossego em todos os bairros da urbe, os munícipes não sabem o que lhes pode acontecer durante a noite enquanto dormem, contrariando os tempos em que você podia recolher aos aposentes sem precisar de trancar as portas. Os bandidos entram por via de arrombamento, rebentam as grades e surripiam o que encontram, sem que os donos da casa se apercebam de algum movimento estranho, e tudo isso já se tornou cíclico. Todos os dias há notícias de assaltos, como nunca antes houvera.
No locais onde se vende aguardente, vulgo thonthontho, ou sura (seiva de palmeira), há jovens frequentadores desses lugares que ficam desde o amanhecer até a altas horas da noite. Não trabalham e a pergunta que subjaz é: onde é que eles encontram o dinheiro para pagar a bebida! Mas eles bebem a rodos. Todos os dias. Estão numa saga de autodestruição e nas condições em que se encontram, com os rostos tumefactos, podem estar a incubar a doença do fígado. Perderam o hábito saudável de beber água.
Mas há um outro grupo que se entrega diariamente a um tipo de droga que ultrapassa a mera cannabis. Se calhar são entropecentes pesados de diversas variantes. Muitos desses jovens são conhecidos pela comunidade, que vive entre o medo e a dor de ver seus filhos na orla do abismo. E é sabido que não trabalham, então o dinheiro usado na sustentação desse vício vem de onde? O pior é que estão a degradar-se, autoflagelando-se. Eles perderam completamente o controle e meteram-se num beco que pode não ter saída. Estão espalhados em todos os bairros.
Outro fenómeno novo na cidade de Inhambane é a prostituição explícita, no sentido de haver lugares para esse efeito, que serão, indiscutivelmente, galerias do diabo. Nunca houve antes esses escaparates, embora se saiba que sempre houve esta prática na cidade, mas de forma discreta. Era tudo feito no silêncio. Hoje não! As miúdas escancaram-se em “oásis” conhecidos e prontas a serem abusadas. Já não se escondem e eu não tenho moral de chamar a isso falta de pudor. Apenas estou a narrar factos existentes. Tristes e dolorosos.
A verdade é que a cidade de Inhambane já não é a mesma. Já não é tão segura, nem de dia nem de noite. E a sensação é de que as coisas estão de mal a pior.
No décimo mês de confrontação no Podzol ucraniano, com a União Europeia totalmente de rastos para manter a Ucrânia em pé de igualdade no campo de batalha e a Rússia encurralada politica e economicamente, os credores da guerra já têm assegurado o retorno da sua ajuda financeira. Seja com contratos de lend-leasing, ou pacotes de sanções feitos à medida da inutilidade do papel da ONU e suas agências especializadas, agora é tempo de se discutir a gestão dos proventos da guerra, no break-even criado pelos recursos financeiros congelados da Federação Russa.
Cai por terra o argumentum ad nauseam Europeu da ameaça do totalitarismo ao seu estilo de vida impoluto, para se livrar do espartilho energético russo e do colete de forças de mão-de-obra chinesa, quando se assiste ao ocidente em corrupio pelo mundo afora, assinando tratados com estados não menos totalitários e corruptos, em condições financeiras pouco favoráveis e risco sistémico, encarecendo os custos das suas cadeias de produção.
Joe Biden tem contudo muitos motivos para sorrir e acreditar na reviravolta económica dos EUA face ao ameaçador papão chinês que lhe ameaçava tirar o almoço. Conseguiu numa assentada tudo o que queria. Derrotou os adversários políticos internos e externos. Arrumou com a rebeldia económica da Alemanha e da França por muitos anos. Transformou a Grã-Bretanha num novo Estado Associado dos EUA. Vergou o bicentenário falso moralismo nórdico com a teoria do Medo. E – o mais importante - convenceu o seu eleitorado das intercalares que a velha fórmula da política da canhoeira está viva e recomenda-se, quando se sabe esperar e se tem como aliado idiotas úteis endinheirados, instantaneamente paridos pela Quarta Revolução Industrial.
Sem surpresas, produziu-se uma imediata inflexão no habitual tom exaltado do comediante de Kiev. Fala-se agora de paz. Mas pouco se sabe ainda o preço que todos estaremos dispostos a pagar por ela. Porque os termos actuais dos credores da guerra, não encontram ainda o eco do lado de Moscovo. E com isso, as hipóteses de descarrilamento das boas intenções podem se confirmar depois do Inverno, com outros actores e consequências imprevisíveis.
O ponto de partida é saber se os EUA estarão dispostos agora a abdicar da doutrina Wolfowitz, que faz da Rússia um inimigo eterno que deve ser esmagado económica e politicamente pelo ocidente, no limbo de uma confrontação nuclear. A questão ucraniana mostra que a corda já esticou até ao limite aceitável pelas partes, logo os tortuosos caminhos para paz devem ser pensados com a cabeça fria.
Em primeiro lugar, há que discutir os termos de um Tratado de Paz com garantias geopolíticas suficientes para acalmar os receios da Rússia. Parece óbvio que a aproximação geográfica da NATO ao perímetro de defesa russo se adensou com o conflito ucraniano, tanto no Báltico, como no Mar Negro, não ajudando a resolução do conflito por meios pacíficos. Sendo assim, nada mais resta a Moscovo do que se preparar para uma longa confrontação militar na Ucrânia, que a maioria dos países da NATO não deseja prolongar.
Por isso, o estatuto neutral da Ucrânia, similar ao que alguns países nórdicos então abraçaram é o ponto de partida para qualquer negociação, nem que isso tenha de ser equilibrado com a devolução dos territórios ocupados por Moscovo ao arrepio dos tratados internacionais que, apesar tudo, ainda são a única bússola orientadora que nos resta no meio da tormenta. Esta necessária cedência russa daria vazão a posição ucraniana em ver preservada sua integridade territorial nos limites herdados da ex-URSS em 1991.
No entanto, a resolução do problema tem de ser encontrada com paciência e de maneira construtiva. Existem casos precedentes no Direito Internacional que podem servir de base para um putativo acordo conducente a paz, por exemplo, atribuir a Crimeia um estatuto que resvale entre Guantánamo e Hong-Kong.
O caso Guantánamo é aqui trazido à colação para relembrar como a Emenda Platt levou um estado soberano latino-americano enfraquecido pela ajuda internacional, hipotecar a sua independência politica em favor de interesses geopolíticos dos EUA para se libertar do jugo da potência colonizadora europeia, com um contrato de arrendamento vitalício de uma base militar. E a resolução do problema de Hong-Kong parece ser útil para se entender como uma futura superpotência, então derrotada militarmente por uma potência colonizadora global, concorda em adiar por século e meio a discussão da sua integridade territorial até ao momento em que a geopolítica estivesse alinhada com a sua economia.
Por outras palavras, a devolução da Crimeia pela Rússia antecedida de um tratado de aluguer das instalações militares estratégicas que Moscovo actualmente mantém naquele território por 50 anos, tal como hoje se verifica no cosmódromo de Baikonur no Cazaquistão, é uma boa hipótese de trabalho que as partes poderiam explorar, pois daria tempo suficiente para Moscovo refazer sua politica de defesa militar em relação a NATO e a maturidade politica para a Ucrânia se movimentar no concerto das nações.
Em segundo lugar, temos a questão do Donbass e outros territórios recentemente incorporados na Federação Russa, onde também é legitima a pretensão ucraniana em reavê-los sem restrições, mas não menos é o anseio dos seus habitantes nativos em preservar tradições religiosas, culturais e linguísticas seculares. E aqui a ONU deveria ter tido um papel mais actuante e não servir de mera caixa de ressonância dos interesses geopolíticos do ocidente. Sem querer falar de possível genocídio pelo volume de morte e destruição que se assiste desde 2014, é incompreensível que às autoridades de Kiev seja dada carta branca para expurgar tudo que seja russo dentro e fora das suas fronteiras, abrindo a caixa de Pandora no desporto, cultura e até na ciência. Os fait-divers da qualificação europeia e a tentativa de substituição do Irão pela Ucrânia no Mundial de Futebol no Qatar, são exemplos refinados desta hipocrisia politica.
Esta postura xenófoba de Kiev não tem paralelo senão nos anais do Holocausto Judeu ou nas famigeradas bulas papais do tempo da Inquisição. Quando as pessoas comuns são multadas por falar russo. Ler livros em russo. Ou simplesmente escrever a Letra Z para soletrar Zubaida. Então perde-se a essência da causa.
E isto está evidenciado no Diário Oficial daquele país a quem a União Europeia promete acolher de braços abertos no metafórico Jardim de Josep Borrell. Esta mesma Europa, que tanto se indigna nos fóruns internacionais com as atrocidades no Afeganistão, no Myanmar ou no Irão. Imagine-se o que não faria se estes países multassem os seus cidadãos por falar Inglês em público.
Com tanto extremismo exacerbado no leste Europeu, o precedente da Bósnia-Herzegovina ganha corpo na futura organização politica do estado Ucraniano, que se deveria transformar num Estado federal, com as liberdades religiosas, linguísticas e culturais fosse preservadas por leis aprovadas por seus próprios concidadãos. Nada obsta que o ucraniano se torne naturalmente numa língua franca disseminada pelo Donbass pela ordem natural das coisas. Sobretudo quando este país se unir cada vez mais a União Europeia, pela imensidão de recursos humanos e materiais relativamente baratos que possui, que certamente estarão na linha da frente para contrapor o expansionismo económico chinês.
Com as vantagens socio-económicas daí advindas, grandes investimentos da União Europeia e dos EUA vão ser guiados por factores sociológicos e antropológicos, onde o ucraniano terá precedente em relação ao russo como língua de trabalho. O mais provável é que os ucranianos do Donbass se tornem bilingues ou trilingues. O caso dos EUA – que não tem nenhuma língua oficial federal - e de Hong-Kong também, mostra como a adopção de um idioma oficial pelos habitantes nativos se faz mais pela necessidade financeira e integração social, do que por meras disposições judiciais e incitação do ódio travestidos de patriotismo.
Em terceiro lugar e como consequência directa das questões anteriores, há o aspecto económico que está na génese do presente conflito. Sendo irreversível a integração da Ucrânia na União Europeia, será necessário revisitar as causas que estão na base da crise económica que debilitou o então regime pró-russo de Yanukovich e culminou com a revolução da praça Maidan. Que é o efeito plano inclinado que a chamada Zona Franca da UE criou no primeiro momento em que a Ucrânia teve de alterar o seu quadro legislativo para se aproximar economicamente de Bruxelas. Criou-se uma situação em que o fluxo de bens e serviços europeus transitavam livremente para o mercado russo isentos de taxas, mas o percurso contrário oriundo da Rússia era bloqueado pelas imposições europeias.
Ninguém acredita que com a paz novamente instaurada naquelas paragens, as fronteiras e os negócios com a Rússia permaneçam fechados. Pois se houver alguma legitimidade da ONU em apelar ao pagamento de indeminizações pela Rússia por causa do presente conflito, então que se faça também com investimento russo igualmente na Ucrânia, em termos aceitáveis nos tratados da OMC e não guiado por proteccionismo económico da União Europeia ou da OCDE.
Porque não interessa ao ocidente que este imenso país da Eurásia se vire definitivamente para a Ásia. E nem que espere que Moscovo se conforme com a adesão ucraniana a Europa sem entendimentos prévios sobre o levantamento progressivo das sanções económicas e futuras alterações aos estatutos da ONU, particularmente, na quadro de actuação do FMI, Banco Mundial e OMC, face ao papel das emergentes potências regionais do BRICS na arquitectura de segurança mundial. Nada será como antes.
Sem estas medidas cautelares, serão letra morta quaisquer “linhas vermelhas” que as partes contendoras vierem a estabelecer para a preservação da paz na Ucrânia, incluindo a não proliferação nuclear, cibersegurança, preservação do meio ambiente e outros tópicos não menos importantes.
Ricardo Santos
A Procuradoria-Geral de Angola emitiu um mandato de prisão contra a empresária angolana Isabel dos Santos por suspeita dos "crimes de peculato, fraude qualificada, participação ilegal em negócios, associação criminosa, tráfico de influência e lavagem de dinheiro que, de acordo com a referida nota, a Empresaria “lesou” o Estado Angolano em 200 milhões de Euros entre os anos de 2015 e 2017 quando esteve na Administração de Sonangol, veja abaixo o extracto da publicação da VOA Citando a Lusa.
“De acordo com o mandado de captura internacional, Isabel dos Santos terá prejudicado o Estado angolano nos montantes totais de mais de 200 milhões de euros, cometendo crimes de peculato, fraude qualificada, participação ilegal em negócio e branqueamento de capitais.
Segundo o documento a que a Lusa teve acesso na quinta-feira, entre 2015 e 2017, a empresária angolana criou mecanismos financeiros "com intenção de obter ganhos financeiros ilícitos e branquear operações criminosas suspeitas”, através de "informação sobre dinheiros públicos do Estado angolano" que conseguiu na qualidade de administradora da petrolífera estatal Sonangol”.
In VOA Citando a LUSA
Mas, de acordo com as mesmas publicações, incluindo a Reuters, a Empresária diz não estar a par desse mandato emitido pela PGR e tão pouco da Interpol, contudo, não seria de estranhar, a atitude das instituições estatais de Angola, neste caso da PGR, pois, na minha opinião, chegou a hora de vingança de João Lourenço pelo mau período que passou em tempo de campanha eleitoral que não desembocou em “banho de sangue” porque Adalberto Júnior não seguiu os conselhos dos seus apoiantes.
Na verdade, as recentes eleições Angolanas ainda têm muito por que se diga. Os resultados divulgados pela Comissão Eleitoral Angolana sobre a vitória do MPLA e seu candidato João Lourenço são poucos credíveis, mas, como era de esperar, de políticos como o Presidente João Lourenço, a caça à família dos Santos retomou e a questão que coloco é: o Partido MPLA não tem espaço para desaconselhar essas práticas a João Lourenço?!
Sim, porque, para qualquer um que esteve a acompanhar a par e passo o processo eleitoral, desde a morte e a procura de extradição do corpo de José Eduardo dos Santos, com forte oposição familiar, desembocando com a extradição e o “ignorar” da chegada do corpo pelas autoridades Angolanas, não restam dúvidas que estava preparada a “hora de vingança” em caso de vitória do MPLA.
Para mim, causa-me alguma estranheza que um partido como MPLA paute por atitudes desta natureza por parte dos seus dirigentes, MPLA é um partido libertador a par da UNITA em Angola. A sua direcção deve estar mais lúcida e clara sobre os objectivos de luta e da independência. Os dirigentes do MPLA não podem ficar indiferentes perante o desvio da linha política do MPLA, sobretudo quando o referido desvio visa um dos seus carismáticos dirigentes, o José Eduardo dos Santos.
O mandato de prisão internacional contra Isabel dos Santos não passa de um expediente que visa a família de José Eduardo dos Santos por tudo que representa para Angola e particularmente ao MPLA. Pretende-se colocar o nome de José Eduardo dos Santos no lamaçal de modo a emergir outros nomes, mas as coisas não são bem assim, cada nome emerge em função do seu contributo real e não por expedientes.
Eu, como pessoa, começo a ter receio destes partidos libertadores porque, no lugar de serem aqueles que mantêm a linha política coerente com as causas libertárias, parece que passam a servir de espaço para o enriquecimento e vinganças pessoais. Entristece-me ainda saber que vários quadros do MPLA estão a colocar-se numa posição de indiferença, talvez devido a ganhos financeiros do seu silêncio. Triste isto!
Adelino Buque
“Qual é a instituição, em Moçambique, que se responsabiliza pela recepção de investidores internos e externos? Essa instituição possui no seu cadastro terra arável, terrenos disponíveis quer para indústria hoteleira, indústria propriamente dita, para disponibilizar a quem queira trabalhar?
Por outro lado, qual é a instituição responsável por contabilizar apoios prometidos por parceiros internacionais. É que quase todos os dias a comunicação social fala de apoios em milhões de USD, mas, na prática, nada acontece e as mesmas instituições, sem cumprir, primeira promete, segunda, terceira e até quarta vez e fica a sensação de estar a entrar para o País muito dinheiro. Há que colocar um basta nisto!”
AB
O Governo moçambicano, nos últimos tempos, tem se desdobrado na procura de investimentos externos e internos para Moçambique, em diferentes áreas económicas, desde a Agricultura, Energia, Mineração, Indústria Hoteleira, entre outros sectores. Contudo, o que não sei e gostaria de saber é o seguinte: se eu me apresento como investidor para a agricultura, existe espaço previamente demarcado para eu chegar e meter as máquinas a funcionarem! Se eu me apresento como potencial investidor industrial, existe espaço previamente definido para esse efeito? Se me apresento como investidor da Indústria Hoteleira, haverá espaço previamente delimitado para o efeito!
Quando o Governo apresenta interesse nos investidores agrícolas, está a pensar em colocá-los nas zonas recônditas onde não há potencial conflito de terras! Sendo assim, existe noção do que representa isso em termos de custos de produção para esses potenciais investidores? Se a ideia é virem requerer a terra para o efeito, o Governo terá noção do que representa em termos de tempo e dinheiro ao privado, fazer consulta comunitária, reassentar pessoas e depois gerir hipotéticos conflitos de terra?!
Por exemplo, a Indústria Hoteleira deve instalar-se em zonas já habitadas, zonas devidamente parceladas com energia e água, não se instala um hotel ou restaurante numa zona de hipotética expansão, sem delimitação das zonas de estrada, talhões de habitação entre outras infra-estruturas públicas obrigatórias, como sejam hospitais e escolas, esquadras e reservas para parques infantis e reservas do Estado para o futuro. A minha questão é: existe esta consciência ou quando se faz convite aos investidores o fazemos como algo de rotina e para constar!
Na província de Maputo, existe muita terra ociosa em zona de potencial agrícola e que ninguém faz nada, mas essas áreas, aparentemente, não estão livres porque possuem “donos”. Ora, por aquilo que está consagrado na Constituição da República de Moçambique, a terra pertence ao Estado, as pessoas ou entidades colectivas adquirem o direito de uso e aproveitamento da terra e, nos casos em que não honram esse direito, a terra reverte a favor do Estado, respeita-se este quesito constitucional? Se não, então, o que estará a falhar!
Se o Governo, através da Cultura e Turismo, convida investidores para a área, terá noção este sector do custo de instalação de um Hotel na Cidade e Província de Maputo? É verdade que a terra não se vende e nem pode ser hipotecada de qualquer jeito, no entanto, todos lemos nos Jornais e outras publicações, como redes sociais, sobre a venda de terra e nenhuma instituição intervém, é uma forma de institucionalizar a venda de terra em contramão à Constituição da Republica de Moçambique!
Vamos convidar investidores externos e internos sim, mas, primeiro, devemos fazer o trabalho de casa, quer através de Municípios quer através dos Governos Distritais e esse trabalho de casa consiste em identificar lugares apetecíveis para investir num Hotel, Restaurante, Guest House ou outra estância de Hotelaria e Turismo e, com isso, devidamente mapeado. Chegar a Portugal, por exemplo, dizer, olha para a indústria hoteleira, temos terrenos em Marracuene para Hotel de três estrelas no local X, temos espaço para Restaurante de classe Y na zona H, temos espaço para isto e aquilo no lugar tal. Isto válido para todos os Distritos, Municípios e capitais provinciais!
É que, se não dispomos de espaços disponíveis previamente, para qualquer actividade económica e andamos por aí a convidar investidores, significa que, à partida, não estamos a ser coerentes com o exercício que fazemos, se convidas alguém que não sabes onde colocá-lo, creio que a falta de seriedade começa com a entidade que convida e quer me parecer que isso que acontece connosco. Propalamos disponibilidade para investidores, mas não sabemos onde colocar esses mesmos investidores. Este exercício é por de mais desgastante.
Outra coisa que acontece no nosso País é que muitos parceiros prometem apoios em áreas diferentes. Por exemplo, hoje estamos com uma calamidade, chega e diz “eu apoio com 200 milhões de USD” amanhã, a mesma instituição, porque temos problema na outra zona aparece e diz “eu apoio com 150 mil USD”. Mas, na verdade, essa instituição ainda não desembolsou a promessa anterior e vamos contabilizando apoios “vazios” e, aos olhos do público, esses valores já estão com o Governo, quem é responsável por fazer cumprir promessas feitas por essas instituições internacionais!
Aqui, vejo, infelizmente, que fazemos um exercício ingrato, prometemos disponibilidade para investidores e, quando chegam, são obrigados a um ritual de consulta que não conhecem, mas que a lei determina. São obrigados a um reassentamento de pessoas que não estava previso no seu orçamento, são obrigados a juntarem-se a pessoas cuja idoneidade nem sequer conhecem. Em contrapartida, também nos prometemos milhões de USD que nunca chegam e todos ficamos felizes com essas promessas vazias. Para onde vamos com isto!
Adelino Buque
Estamos sentados na varanda da casa do Khwambe Makhwandra, um homem que passou a vida inteira esgravatando terrenos agrestes, porém sem conseguir juntar nada nas mãos, nem por coincidência. Só agora, a caminho dos oitenta, é que sente a chuva fininha a cair-lhe na alma, sem saber como, pois nunca houve antes sinal algum da materialização de tal fenómeno no seu caminho. Mas Khwambe Makhwandra, mesmo assim, tem dito com entusiasmo nas conversas banais e outras profundas, depois da pinga que lhe ajuda a aclarar as ideias, que esta chuvinha retemperadora polvilha-lhe porque nunca deixou de andar enquanto atravessava o inferno.
Khwambe Makhwandra vive agora em Linga-Linga, para onde regressou depois de várias idas à antiga Lourenço Marques, que não deram em nada. Tentou ainda o “Hunderground” da África do Sul, também nada! Até que, já no fim da linha, apareceu o filho de um amigo dele que, sabendo da luta dos dois nos tempos da juventude, convidou-lhe a ser seu fiel de armazém na Maxixe, onde trabalhou nos últimos dez anos, até que, já exausto nas bases do corpo, houve um entendimento mútuo de que devia repousar.
Khwambe Makhwandra vive agora da reforma concedida, mais pelo respeito que o armazenista tem por ele, por ter sido amigo do pai, do que propriamente pelo tempo de trabalho. Construíu uma casa de dois quartos com uma ampla varanda virada para o mar, na qual passa a maior do tempo ruminando com riso e alegria, as peripécias de um passado que lhe lembra os ossos secos que ele tentou dar vida e não conseguiu, mesmo tendo dado até ao limite, toda a energia do seu porte físico e espiritual.
Temos na mesa uma jarra de sura, essa bebida alva brotada da árvore da vida e um petisco de carangueijo fresco refogado com cebolinha orgânica tirada da horta feita ali mesmo, no quintal, e tomate cereja que rebenta espontaneamente a toda volta da casa, como dádiva de Deus. Tudo isto é natural e puro como o próprio ar que respiramos, e o banho que tomamos da brisa vinda do mar. E para que este encontro, também espontâneao como o tomate cereja, a melhor coisa que podemos fazer é falar das memórias do passado, porque nós também pertencemos ao passado. O futuro não é nosso.
Veio a terceira jarra e Khwambe Makhwandra, no auge, perguntou-me se eu estava a ver “aquela gaiola”. E eu, no lugar de lhe responder que sim, que estava a ver a gaiola, retorqui assim, você sabe que está a agredir o direito daquele passarinho? Você sabe que a vocação daquele passarinho é voar em liberdade? Você sabe que a parte mais importante daquele passarinho está nas asas? Você sabe que o lugar daquele passarinho não é aquele estúpida gaiola?
Khwambe Makhwandra, que não se importava e se deliciava com o canto triste e doloroso da ave encarcerada, bebeu, ante a minha inquirição, num trago, o copo de sura que tinha a sua frente e disse assim, tens razão, meu irmão, a principal vocação daquele passarinho é voar! Levantou-se, abriu a gaiola com as mãos e deixou o pasarinho em liberdade. Então, lembrei-me de um poema que o Guita Jr. enviou-me e que dizia assim: no dia que libertei o meu escravo, fui com ele!