Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Carta de Opinião

Group 262mmmm

“O Regadio de Chókwè, assim como outros regadios de grande e pequena dimensão, devem merecer um debate público para o seu melhor aproveitamento. Ninguém se deve sentir mal por causa do debate e ninguém se deve sentir “dono” da verdade. Se a nossa agricultura está como está é porque nos escusamos a debatê-la e aqueles que, de uma forma ou de outra, detêm extensas áreas de terra continuam se julgando “donos” de Moçambique, não deve ser assim, não pode ser assim”.

 

AB

 

“O Regadio foi construído nos anos 50 do século XX e funcionou regularmente até 1974, com um sistema de ocupação da terra que assentava no colonato, que consistia nos grandes exploradores agrícolas. Em 1972, começou-se a construção da barragem de Massingir para mitigar os efeitos da seca depois da grande seca dos anos 60”

 

In ALTomaz

 

Pego emprestado o título desta reflexão do meu amigo Almeida Tomaz, primeiro, para concordar com tudo o que escreveu no seu artigo de opinião que, quanto a mim, constituem as etapas importantes pelas quais o regadio passou. Mas, feliz ou infelizmente, muitos produtores e/ou agricultores se “recusam” a debater este assunto de forma pública, por temer ferir suscetibilidades. Há caso de um operador que prometeu dar mais detalhes ao Tomaz, mas em “OFF”. Motivos disso, claramente, somente ele saberá!

 

A questão do Regadio de Chókwè não mudou somente em 1977, com a criação do CAIL – Complexo Agro-Industrial do Limpopo, mas muito antes, com o abandono dos colonos da zona e o cancelamento dos serviços públicos que eram oferecidos pelo Estado Colonial para aquela região agrícola. Refiro-me: 1) Controlo de pragas e doenças, através da pulverização periódica intra-domiciliária; 2) Serviço de controlo de doenças nos campos dos agricultores; 3) Difusão de informação periódica sobre os cuidados a terem as populações e os agricultores. Por exemplo, num determinado período, era proibido o consumo de pássaro morto, proibida a caça de pássaro de ratazana e outros animais que, para a população, constituíam um bem alimentar.

 

O sistema de regadio do colonato era feito na base de concreto aéreo, aquilo que localmente se designava de “marrondoro”. A água não se perdia por filtração no solo porque o agricultor abria quando dela precisasse para a sua rega. Eu vi isto na minha infância, devia ter por aí quatro a cinco anos. Vivi com os meus pais em Guija e os meus irmãos estudavam na actual Escola Básica Agrária de Chókwè. Na altura, ministrava-se artes e ofícios incluindo a agricultura. Será justo, deste modo, dizer-se que a estrutura produtiva não muda em 1977, mas um pouco antes, aliás, como toda a estrutura produtiva de Moçambique.

 

Depois de 1980, tive a felicidade de trabalhar com o CAIL porque representava a HORTOFRUTICOLA – Empresa Nacional de Comercialização; EE. Nessa qualidade, interagia com o próprio Director-Geral, Carlos Tembe, de que ganhei muita simpatia e respeito porque, nas suas qualificações e atendendo à sua ocupação, nos tempos que correm, seria normal mandar-me um funcionário qualquer para comigo trabalhar. Mas, felizmente, Carlos Tembe, que Deus o guarde, foi aquele dirigente que não tinha desprezo por ninguém. Muitas vezes ficava no gabinete dele até altas horas e depois mandava o motorista levar-me à acomodação.

 

O segundo momento, em que tive de lidar com o Regadio de Chókwè, da minha parte ainda como Técnico da Hortofruticola – Empresa Nacional de comercialização EE, foi quando a direcção da UDA - Unidade de Direcção Agrícola, sob direcção do Dr. João Mosca, decidiu estabelecer-se no Chókwè para melhor controlar as suas unidades económicas. Devo dizer que foi um período desafiante porque havia muito debate sobre o futuro da agricultura no País e deixa-me dizer que, no tempo do CAIL – Complexo Agro-Industrial do Limpopo, também tive a grata oportunidade de trabalhar com as Cooperativas Agrícolas. Aqui devo salientar, devido ao seu peso comercial, a Cooperativa Heróis Moçambicanos, cujo dirigente, salvo erro, era membro da Assembleia Popular.

 

Um dos desafios que se colocou ao Dr. João Mosca, espero que a memória não me falhe, foi o redimensionamento das Unidades produtivas. Devo dizer que, neste aspecto, o Dr. Mosca enfrentou uma grande resistência interna dos seus Diretores. Muitos não concordavam com o redimensionamento que tendia a reduzir as unidades produtivas para muito menos do que estava. Nesta altura, lembro-me bem, na Fábrica de Chouriços de Lionde, estava afecta a Dra. Maia de Bragança, de quem recebia autorização para a compra de alguns chouriços e outros fumados. Ai que tempos bons.

 

Meus amigos, antes destas “aventuras” todas e aqui para subescrever no espírito e na letra o que o Dr. Tomaz diz, fui afecto ao Ministério da Agricultura, no GODCA – Gabinete de Apoio e Desenvolvimento às Cooperativas Agrícolas. Nessa qualidade, fui apresentado ao CEA – Centro de Estudos Africanos da UEM – Universidade Eduardo Mondlane, eu e um colega meu de nome Luciano Fabião Massango, infelizmente, não está entre nós. Depois do GODCA, foi afecto à Província de Tete de onde nunca mais saiu e por lá ficou para sempre.

 

Ora, o GODCA – Gabinete de Organização e Desenvolvimento das Cooperativas Agrícolas, estava inspirado num programa desenvolvido pela República de Cuba, que tinha em vista a fixação das populações de origem montanhosa. O Governo de Fidel Castro, de repente, viu-se com o êxodo das populações das montanhas para as zonas baixas, o que constituía um perigo para a vida na montanha. Segundo esta teoria, as populações das planícies dificilmente poderiam se adaptar às montanhas, logo, era preciso conceber um programa que pudesse interessar aos jovens a fixar-se na montanha. Diz-se que o homem da montanha é muito mais forte e resistente que o da planície, mas não entrarei nesse debate agora.

 

Por isso, uma das coisas que enferma o desenvolvimento rural é: a) êxodo da população maioritariamente Jovem para as zonas urbanas; b) se este facto foi motivado pela guerra, convenhamos, hoje, trata-se de fracas políticas para o desenvolvimento rural; c) falta de infra-estruturas básicas nas zonas rurais ou pelo menos, nas consideradas de grande potencial agrícola, como sejam, ensino superior, Unidades produtivas, que não devem ser necessariamente agrícolas, mas de toda a cadeia de valor. Como consequência disso, temos: 1) Pobreza nas zonas rurais, de onde, no tempo colonial, sublinhe-se, provinha mais de 80% de produtos que alimentavam as famílias nas zonas urbanas; 2) Crescimento exponencial de pobreza urbana resultante desse êxodo. As pessoas que vêm às cidades engrossam, grosso modo, os desempregados e a delinquência para a sobrevivência; 3) Importação de produtos de todo o tipo, desde couve, repolho, tomate, alface entre outros.

 

Por tudo isto e mais que não se disse e não escrevi, penso que é altura de se pensar, de forma aberta e pública, nas razões do excesso de exportação e baixo nível de exportação. Hoje, no interesse dos produtores de commodities, a nossa balança de pagamento está a melhorar, mas não são esses os produtos que fazem a diferença. No ano passado, na negociação com os produtores de Algodão, o Ministro Celso Correia desafiou-os a dispensarem uma área para a produção de comida, mas creio que não basta esta vontade do Ministro. Todo o Governo deve estar comprometido com essas políticas através de programas concretos.

 

Adelino Buque

Com a sua ascensão ao poder, em 2017, João Lourenço tinha duas opções, a saber: manter o establishment criado e consolidado pelo seu antecessor, Eduardo dos Santos, durante os seus 38 anos na direcção dos destinos de Angola como uma nação (1979-2017); ou, criar uma ruptura com o neopatrimonialismo político e económico que caracterizou a governação do Zédu.


No seu longo percurso de governação, Eduardo dos Santos criou uma teia complexa de corrupção, envolvendo seus filhos, familiares, amigos, generais (antigos combatentes do governo e da UNITA, cooptados para não cogitar a possibilidade de regressar as matas e atrapalharem suas contas de manter-se no poder por longos anos).


José Eduardo dos Santos criou um Estado à sua imagem e semelhança (Estado Família) ou um verdadeiro regime neopatrimonialista, com seus filhos e várias figuras a si ligadas a controlarem sectores nevrálgicos na geração da riqueza e desenvolvimento da economia angolana. São os casos da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangola) e Fundo Soberano, que eram as galinhas de ovos de ouro de Angola cuja sua direção máxima era assumida por Isabel e José Filimone dos Santos, respectivamente. Ainda na busca da consolidação de um "Estado Família" Zédu colocou, nas eleições de 2017, a sua filha, Welwitschea José dos Santos, mais conhecida por Tchizé dos Santos como deputada da Assembleia Nacional, onde assumiu o cargo de primeira vice-presidente do Grupo de Mulheres Parlamentares de Angola, do qual são membros todas as deputadas de todos os partidos políticos e coligação com assento no parlamento.


Uma das filhas do antigo homem mais forte de Angola, Isabel dos Santos, foi considerada a mulher mais rica e poderosa de África e, segundo a revista Forbes, a sua fortuna alcançara a marca dos mil milhões de dólares no início de 2013, passando a três mil milhões de dólares, em menos de um ano. Em 2016, ela assumiu a gestão da Sonangol. Isabel dos Santos tem participações na empresa de telecomunicações Unitel, na Santoro Finance, na Efacec Power Solutions e na rede de hipermercados Candando, entre outros. Como foi retro mencionado, o seu irmão, José Filimone dos Santos assumiu a gestão máxima do fundo soberano angolano, entre 2013 à 2017.


Enquanto por um lado, o neopatriminialismo político e económico criado por Eduardo dos Santos deve ser entendido como uma ordem política na qual quem rodeava o príncipe participava do processo de apropriação, por outro, destaca-se elementos que favoreciam a personalização da autoridade e a confusão entre espaço público e espaço privado. Deste modo, a governação de Zédu foi caracterizada pelas enormes dificuldades em compreender os seus limites de actuação e teve a máquina estatal como um instrumento ao serviço dos seus interesses privados e dos que por ele eram coopatados (clientes) e legitimados para fazer parte da máquina.


Perante o cenário acima descrito, Joao Lourenço tinha poucas opções: manter a estrutura corrupta e neopatrimonialista, criada pelo Zédu e que acomodava os apetites dos príncipes e princesas da antiga família real de angola e das elites ligadas ao "monarca", ou concertar o pais. Entretanto, não seria possível uma concertação sem dor. Aliás, numa das suas primeiras visitas presidências à Portugal, João Lourenço teria dito ter noção de que o verdadeiro combate à corrupção em Angola criaria choro e ranger de dentes. Foi nesta senda que teria afirmado que ao escolher o caminho de combate à corrupção sabia que estava a mexer com o ninho dos marimbondos ou vespas.
A coragem e assertividade de João Lourenço no que concerne ao combate à corrupção tem incomodado as elites económicas e politicas ligadas ao regime do Zédu, incluindo seus filhos que enriqueceram usando Estado como vaca leiteira. Na verdade, estes é que constituem o ninho dos marimbondos e que hoje uniram-se para destilar o seu veneno contra João Lourenço e combate-lo a todo custo.


Portanto, é nesta lógica que na corrida ao poder em curso, em Angola, Adalberto Costa Júnior aliou-se às elites ligadas aquele que transformou Angola e seus recursos num quintal privado, saqueando-os em benefício próprio e daqueles que lhe prestaram lealdade. Ao aceitar esta aliança, o Júnior tornou-se num instrumento ao serviço das antigas elites corruptas do MPLA, incluindo dos filhos de Zédu cuja justiça está ao seu encalço. Caso os angolanos decidam, amanhã (24 de Agosto), eleger ao Adalberto Costa Júnior, como seu Presidente, será, por um lado, o símbolo da vitória e o regresso ao poder da elite corrupta e sanguinária do MPLA que desiludiu e traiu as expectativas de angolanos, durante 4 décadas. E a derrota de João Lourenço será, por outro lado, o fim do progressista que ousou sonhar e lutar por uma Angola livre da corrupção e dos crimes do colarinho branco.

terça-feira, 23 agosto 2022 12:52

O atribulado percurso das TIC’s entre nós!

MoisesMabundaNova3333

Numa daquelas situações em que sem esperar ligam-te e dizem que teus cheques estão prontos, podes vir levantar e tu ficas muito empolgado e começas a fazer as contas de algum material que dá para ajeitar/comprar, do fim-de-semana e de mais alguma coisa… foi como fiquei quinta-feira da outra semana, quando cerca das 11 e tal me ligaram a partir de uma instituição onde colaboro. Já não dava para ir levantar os tais cheques naquele mesmo dia, estava apertado com o trabalho. Agradeci e passei o resto do dia e dormi a assobiar!

 

Dia seguinte, até cheguei mais cedo no job, o que espantou alguns colegas, despachei o que tinha a fazer e… zás… pelas 11 e tal disparei para o sítio e lá peguei os tais cheques. Ambos os cheques não totalizavam um valor tão alto assim, mas dava para alguma coisa. Não fiz mais nada, fui a correr para o banco, por acaso, o meu banco, os cheques eram de lá. Eu, que contava que em menos de uma hora estaria de volta ao serviço com a massa bem no bolso!...

 

Chegou a minha vez, estendi-lhe os dois chequinhos juntamente com o meu BI e fiquei a olhar para ela, a senhorita da caixa. Teclou, teclou… parou de teclar, voltou a teclar e… pousou um pouco. E voltou a teclar. Depois olhou para mim e perguntou:

 

  • Sr. Mabunda, não quer depositar na sua conta estes valores?

 

Respondi que no caso preferia ter cash, tinha algumas despesas para dar azo. É que, redarguiu ela, “assim tem que esperar pela autorização. O sistema não está a reconhecer automaticamente as assinaturas e assim pedi autorização ao domicílio da conta e… não estão a responder, parece que ninguém está on-line…”

 

Primeira contrariedade. Eu que desde ontem estava a esfregar as mãos e dormi a assobiar… engoli em seco. Optei por voltar ao serviço e, mais tarde, voltaria para recolher o cash. Simpática a senhorita, ainda solicitou o meu número para que, logo que houvesse autorização, me chamar. Fiquei animado. Estávamos nas 12 horas e picos. Fui para o serviço, trabalhei com os olhos e ouvidos no celular.

 

14:30!… nada! Fiz-me de novo ao balcão. A senhorita não estava, mas estava a colega, também simpática. Perguntou ao que vinha, contei e ela logo respondeu: “Ainda não temos autorização… aconselho o Sr. a depositar na sua conta!” Insisti que queria em dinheiro e a resposta foi a mesma… “tem que esperar, então!” Segunda contrariedade.

 

Estávamos em sexta-feira e eu pretendia aproveitar o sábado para resolver alguns problemas… nada. Não me chamaram mais naquele dia e nem na segunda-feira, até que às 11 e tal voltei àquele balcão e, já encontrei a primeira moça! Reconhecendo-me, disparou logo: “Ainda não deram autorização da sede dessa conta… aconselho-o a ir até eles lá; nós não podemos pagar sem essa autorização…” Terceira contrariedade.

 

Tive que ir ao domicílio da conta dessa instituição e, chegada a vez de ser atendido, expliquei o assunto. Houve teclados, mais teclados e mais teclados e até veio uma das chefes e ficaram as duas a teclar e, cerca de cinco minutos depois, vi na cara das duas um “ufff”… “já autorizaram…” E pagaram. Tudo o que queria fazer ao longo do fim-de-semana, nada!

 

É isto o que é o dia-a-dia dos moçambicanos! As tecnologias de informação e de comunicação não vieram para facilitar nada! Com as novas tecnologias, era suposto que o reconhecimento de assinaturas não fosse mais “bico de obras”! Continuamos como se estivéssemos nos meados do século passado. Vezes sem conta, depois de aturarmos uma grande fila, quando chega a nossa vez, é-nos dito que “não há sistema”! Tenho ouvido que mesmo nos locais onde contribuintes querem pagar impostos há muitos problemas do… sistema! "Não há sistema, volta depois ou amanhã…" E nesse ‘depois’ ou 'amanhã' há também problemas do sistema!

 

Mas não ficamos somente aqui, com o problema do sistema. Mandamos um e-mail para alguém - seja nosso amigo, colega, chefe, ou não sei mais quem -, aquele e-mail não é visto até telefonarmos para a pessoa e perguntar se viu o e-mail ou não! E, muitas vezes, responde que “não vi”, ou “ainda não vi”… Hoje por hoje, mandamos uma mensagem em WhatsApp ou SMS para alguém… ainda temos que telefonar para perguntar se (ainda) não viu a mensagem que mandamos… cumulo dos cumulos, envia um convite por estas vias a alguém e não obténs reacção nenhuma, muito menos resposta!...

 

Dá a ideia de que as TIC’s não são para nós. Conosco não funcionam.

 

Compatriotas, tal como a máquina a vapor, a mecânica e a eléctrica, as tecnologias de informação e de comunicação vieram para ficar. Compete-nos a nós embarcarmos ou não e ficarmos para trás para todo o sempre. Não consigo compreender como é que nestas alturas há compatriotas estudados e a assumir estatutos sociais que não querem saber das TIC’s! Dos e-mails, dos whatsapps, dos internets banking e de mil e uma plataformas que só facilitam a nossa vida!

 

A opção é nossa. Ou abraçamos verdadeiramente as novas tecnologias e delas tiramos proveito, ou ficamos como alguns meus colegas que se recusaram a abandonar a máquina de dactilografar para passarem a usar o computador… e ficaram no tempo para sempre!

 

ME Mabunda

segunda-feira, 22 agosto 2022 13:01

Angola: Eleições de 24 de Agosto de 2022!

Group 262mmmm

“Tudo indica que o Partido libertador, o MPLA, sairá vencedor nestas eleições, a se confirmarem as sondagens aqui reproduzidas. Resta felicitar os vencedores e que os vencidos considerem uma etapa menos boa, que melhores dias virão. A Democracia veio para ficar em Angola, de cinco em cinco anos, realizar-se-ão eleições. Parabéns ao MPLA e parabéns à UNITA, por terem realizado uma campanha eleitoral exemplar”.

 

AB

 

  

“O que resulta da análise que fazemos das sondagens é que a previsibilidade normal aponta para uma vitória do MPLA numa percentagem que oscila entre os 54% e os 61% e um substancial reforço da UNITA para 40%, havendo uma diminuição acentuada dos outros partidos, aquilo a que se chama em Ciência Política uma bipolarização.

 

Note-se, contudo, que atendendo à percentagem de Não Respondentes, estes números não são fixos e definitivos. São uma fotografia em dado momento, mas tudo pode mudar”.

 

In CEDESA – Centro de Estudos Angolanos

 

 

 

Provável quadro de resultados

 

“Em relação às quatro restantes, procedemos a uma distribuição gaussiana eliminando os extremos e mantendo a distribuição padrão - de Agosto de 2022 normal. Nesta medida não consideraremos a sondagem POBBrasil que dá uma vitória extrema ao MPLA, como a Mudei que dá uma vitória extrema à UNITA.”

 

In CEDESA – Centro de Estudos Angolanos.

 

Há um consenso em relação às eleições Angolanas de 24 de Agosto de 2022, consenso em relação às sondagens de que:

 

  1. Serão as eleições mais disputadas do período pós-guerra 2002, isto, sem incluir as eleições de 1997, por terem sido realizadas num contexto de Acordos de Bicesse;
  2. Que Angola caminha para uma Bipolarização no seu sistema Democrático, os Partidos pequenos provavelmente irão sair do Parlamento;
  3. Que a margem da Vitória do MPLA não lhe permitirá a alteração da Constituição nos próximos nove anos;
  4. Que o Partido UNITA sobe de fasquia de representação Parlamentar em relação aos períodos anteriores.

Bom, como escreve o CEDESA, são sondagens de opinião que podem mudar na prática, no caso de os que dizem se abster decidirem votar, os indecisos se posicionarem, mas existe uma sondagem que não entra na apreciação do CEDESA, que é da Euresia. As sondagens desta instituição também dão vitória ao MPLA com margem mínima, o que obrigaria o Governo a cingir-se em assuntos de natureza macroeconómica, para diminuir o custo de vida em Angola, desemprego, diminuir a inflação galopante entre outros.

 

Ou seja, a vitória do MPLA será por margem mínima e, por via disso, o Presidente João Lourenço, no lugar de passar os cinco anos de Governação a “folhear” dossiers de pessoas, terá de tratar de Governar Angola, o que é um bom sinal. Quanto à UNITA, espero que aperfeiçoe mais a sua actuação política, a sua intervenção com relação aos assuntos que preocupam os cidadãos angolanos, pois um dia poderá tomar o poder.

 

Fica, aqui, a lição. A sociedade vive o dia-a-dia do seu país, acompanha as realizações dos Governantes e espera por um momento certo para sancionar, o MPLA, da posição Parlamentar que ocupa hoje, para uma situação em que poderá estar e, a agravar a situação, sem muitos Partidos de Oposição no Parlamento. Ou seja, Bipolarizado, MPLA e a UNITA, não será fácil para o Partido libertador, Partido do Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos, mas esta pode ser a realidade política do pós-eleições de 24 de Agosto de 2022.

 

Sendo certo que o MPLA irá vencer estas eleições, com ou sem a margem mínima, resta desejar os parabéns antecipados ao Partido de João Lourenço, a UNITA, que aceite os resultados a serem anunciados pela CNE de Angola e se conforme, mantendo viva a sua chama política no território, porque qualquer forma de contestação pode trazer mais problemas do que soluções para Angola.

 

Adelino Buque

quarta-feira, 17 agosto 2022 06:31

RUTH FIRST

NelsonSaute

“...ela estava entre as estrelas mais brilhantes deste país, no sentido próprio da palavra.”“...ela estava entre as estrelas mais brilhantes deste país, no sentido próprio da palavra.”

 

Nelson Mandela


Naquele infausto dia 17 de Agosto de 1982, há precisamente 40 anos, quando ouvi, na rádio, a notícia do brutal assassinato de Ruth First, por intermédio de uma carta-bomba, eu não passava de um adolescente de 15 anos. Vivíamos, é certo, tempos vertiginosos e empolgantes, ulteriores a uma emancipação política recente. Eram tempos de engajamento, tempos de exacerbamentos ideológicos, tempos disjuntivos, sem dúvida, entre a revolução e os seus acérrimos defensores e aqueles que eram os inimigos figadais da mesma, ou que estavam nos seus antípodas. Mesmo sendo um jovem adolescente, tinha a noção do que estava a acontecer no território movediço da política em Moçambique e da África Austral, então em ebulição, numa encarniçada e violenta disputa.  


Os virulentos ataques da então Rodésia do Sul (actual Zimbabwe, independente em 1980) e os da África do Sul do apartheid, quotidianamente demonizados na imprensa, estavam na origem de mossas visíveis no tecido social e económico. Para além disso, os indícios da guerra de agressão eram já ineludíveis. O nosso apoio sem tréguas às lutas pela libertação do Zimbabwe e pelo fim do apartheid na África do Sul traduziu-se numa impiedosa agressão, cuja devastação tem efeitos ainda hoje.  Os nossos dias, nos quais tudo escasseava, de bichas para tudo e de uma miséria material e social inelutáveis, eram já o testemunho do desastre. Tínhamos, afinal, consignado o nosso presente e o nosso futuro a esta causa. Teríamos nós a noção do que estávamos a penhorar? Ou estávamos cegos imbuídos pelo arroubo do proselitismo que nos movia?  


Quando o infortúnio atingiu Ruth First, eu já estivera em comícios na Praça da Independência, vira Samora Machel de mãos dadas com Oliver Tambo, ouvira as suas diatribes contra o regime vigente na África do Sul, marchara a favor da libertação de Nelson Mandela, abominava visceralmente o regime do apartheid, tinha devotado muito antes a mesma bílis em relação a Ian Smith. Era já, de algum modo, um jovem politizado. Não estava imune à propaganda e à ideologia dominantes. Antes pelo contrário. Os meus versos daquela noite foram de ira, ódio, fúria, repulsa. Não os tenho mais, perderam-se, mas guardei a lembrança do facto de terem desencadeado, em mim, naquele momento de cólera, o escritor que se iria revelar com tempo. Ali, naquele acontecimento plangente, estava inscrito, de algum modo, o meu destino literário e o nome sacrificado de Ruth First ficaria assim ligado à minha mitologia pessoal. 


Heloise Ruth First, filha de judeus oriundos do Mar Báltico, entre a Lituânia e a Estônia, no Leste europeu, nascera, em Joanesburgo, a 4 de Maio de 1925. O pai era um dos membros fundadores do Partido Comunista Sul-africano. As causas que ela iria abraçar e o seu aguerrido carácter parecem advir da ascendência. A estirpe da lutadora tem uma origem indissimulável. Na Universidade de Witwatersrand, que frequentou entre 1942 a 1946, foi contemporânea do futuro marido e companheiro de vida e de luta - Joe Slovo -, bem como de Nelson Mandela. Estudou ciências sociais que lhe garantiram os instrumentos para o combate intelectual e político. Estava do lado dos oprimidos, dos vexados pela História, dos amofinados pelo regime – os violentados, os aviltados, os molestados, os injustiçados. Sempre esteve. A sua vocação, por assim dizer, era o jornalismo, era a denúncia, era a contestação, era a rebeldia. Apoiou a luta dos mineiros em 1946, esteve na campanha da resistência pacífica dos indianos em 1950, ou nos protestos contra o banimento do Partido Comunista nos anos 50. Esteve sempre do lado certo da História. 


Casa-se com Joe Slovo em 1949. A casa de ambos converter-se-ia numa célula política, lugar importante para a conspiração, para reuniões e debates, naqueles duros anos 50. Ela é já então uma activista intrépida. O legendário fotógrafo Peter Magubane, que tem a provecta idade dos 90 anos, tem uma fotografia de Nelson Mandela confabulando com Ruth First nos tempos em que ambos combatiam o apartheid. É uma belíssima imagem desses tempos acirrados e fascinantes da História - testemunho e testamento da História. First e Slovo são brancos e combatem a supremacia racial e incivil instalada no seu país.


Ruth é presa, tal como Nelson Mandela, no processo e, depois, Julgamento por Traição (1956-1961). No entanto, as acusações do regime foram retiradas e todos os réus absolvidos. Aquando da declaração do estado de emergência, na sequência do massacre de Sharpeville e da dura repressão, foge do país, contudo retorna a Joanesburgo seis meses depois. Torna-se editora do “New Age”. Importa citar a sua passagem pelo “The Guardian” e pelo “Fighting Talk”, igualmente. Aliás, seria novamente detida, em 1963, por conta do seu activismo e dos artigos que escrevia. Esteve na solitária 117 dias e redigiu um testemunho dessa experiência. Foi, indubitavelmente, a primeira branca a experimentar essas agruras.


Nelson Mandela e muitos dos seus companheiros, na sequência da “Operação Mayibuye”, são presos. As anotações de Mandela sobre a guerrilha e os seus diários da sua célebre viagem de 1962 (ilegal para o regime) eram incriminatórios. Walter Sisulu, Dennis Goldberg, Govan Mbeki, Ahmed Kathrada, Raymond Mhaba, ou Andrew Mlangeni estão entre os réus. Estavam todos arrolados no célebre Julgamento de Rivonia. Oliver Tambo, Joe Slovo e Ruth First também foram envolvidos.  


Joe Slovo exilara-se no Reino Unido. Quando Ruth ganha o direito à liberdade, ela e as três filhas, juntam-se-lhe. Nas décadas 60 e 70, a viver na Grã-Bretanha, é uma activista anti-apartheid destemida e escreve uma série de livros audazes e tem uma brilhante carreira acadêmica. A sua história em Moçambique está umbilicalmente ligada ao Centro de Estudos Africanos, onde desempenhará o papel de directora de pesquisa, coadjuvando Aquino de Bragança, seu director, pela mão de quem viera. Ao abandonar o Reino Unido juntava-se a uma geografia que lhe devolvia a proximidade com o seu país e a sua luta. À época, Slovo vivia em Angola. Posteriormente, estabelece-se em Maputo. A fronteira era importante para a luta e para as actividades do Umhkonto we Sizwe. 


Quando chega a Moçambique, em meados dos anos 70, Ruth First é uma intelectual afirmadíssima e autora de uma importante obra. O Centro de Estudos Africanos, inspirado no remoto CEA criado em Lisboa por Mário Pinto de Andrade e seus companheiros nacionalistas africanos, que funcionou inicialmente em casa da Tia Andreza, tia da santomense Alda do Espírito Santo, é uma experiência, de laboratório social, reproduzida não só em Moçambique. Na Guine Bissau, o próprio Mário de Andrade será propulsor de um dos CEA mais activos e formará importantes investigadores e intelectuais, entre os quais está o proeminente Carlos Lopes, uma das mentes cintilantes de África hoje, que é dessa fornalha. 


Em Moçambique, o CEA tem um papel decisivo no estudo e na problematização social do novo país.  Uma abrangente pesquisa colectiva de campo, por si dirigida, entre 1977 e 1979, sobre a situação do trabalhador migrante moçambicano de origem camponesa, nas minas sul-africanas, é um dos trabalhos pioneiros no campo da economia política ou da sociologia económica em Moçambique, ou, se quisermos, das ciências sociais moçambicanas, e um dos vibrantes legados de Ruth First. Seriam estes camponeses migrantes, expostos à indústria do Rand, fautores da industrialização na nova realidade social e política de Moçambique?


Ruth era uma militante engajada na luta anti-apartheid, mas nem por isso deixava de ser uma cientista social de grande gabarito intelectual e com um aparato metodológico inatacável. As suas causas não lhe tolhiam a racionalidade. Sendo uma socióloga marxista, por assim dizer, mesmo quando a realidade social desmentia a ideologia ou aquilo que se pretendia politicamente, não pervertia os números. Os seus trabalhos estavam alicerçados em dados estatísticos e em evidências empíricas sólidas. Não os torcia a favor da política.


Gillian Slovo, a sua filha do meio, é uma escritora reputada no Reino Unido. É autora, entre muitas obras, de “Every Secret Thing”, um relato biográfico onde retrata, com evidente e comovente candura, a sua mãe, os seus pais - melhor dizendo -, as suas lutas e as suas heranças políticas. É um poderoso testemunho. Por outro lado, Rob Davies, que chegou a Moçambique em 1979, jovem branco activista anti-apartheid, integrou a equipa do CEA, trabalhou com Ruth, faz o testemunho disso no seu mais recente livro “Towards a New Deal – a political economy of the times of my life”. São as suas memórias depois de servir os governos do ANC ao longo de duas décadas. Ele relata os tempos de Moçambique e da revolução e dos sonhos que então acalentavam naqueles anos. Chegou a estar na mira de Craig Williamson, o carrasco de First.


Williamson é uma figura tenebrosa. Está na origem de assassinatos e atentados em vários países, de Angola ao Reino Unido, passando por Moçambique, visando activistas e combatentes anti-apartheid. Seria, no entanto, beneficiário de uma amnistia da Comissão da Verdade e Reconciliação, o que exasperou as filhas de Ruth First e Joe Slovo, que intentaram, inclusive, a postergação da mesma. Paradoxos da nova África do Sul. 


No dia em que a mataram, no Centro dos Estudos Africanos, que tem um memorial com o seu nome e o de Aquino de Bragança, Ruth estava na companhia de Aquino, que ficou ferido, bem como do seu camarada Pallo Jordan e da investigadora americana Bridget O´Lauglin. As imagens deste atentado são pungentes. Depõem sobre um tempo que tendemos a esquecer e que foi distinto na história entre os nossos países. No ano anterior, Matola tinha sido atacada, resultando na morte de activistas sul-africanos e de moçambicanos inocentes. O que quitávamos deste esforço era a destruição da nossa economia e a morte dos nossos concidadãos. Dois anos depois, em 1984, Samora Machel e Pieter Botha intentam um Acordo de Nkomati. O ANC viu-se atraiçoado. Ainda hoje vivemos contrafeitos desse pacto e as nossas relações continuam irresolutas. 


A distância destes 40 anos não vejo referida, entre nós, a sublime figura de Ruth First. É a nossa congénita amnésia? Não fosse o seu vulto de intelectual, ou o seu combate intrépido contra o regime de segregação racial, a sua marcante passagem pelo CEA, em Moçambique, num tempo e numa circunstância em que as ciências sociais procuravam ser o laboratório da revolução em curso, ela mereceria de nós, no mínimo, um preito, um tributo, um reconhecimento. Para além da desmemória e do descaso, somos desagradecidos e deslembrados. Há uma história de sangue que nos une à África do Sul, contudo somos incapazes de a nobilitar. Dos dois lados da fronteira. O Acordo de Nkomati – e todas as contradições que encerra – não pode explicar tudo quanto à nossa displicência e omissão. Moçambique hipotecou, severamente, o seu presente e o seu futuro para a liberdade dos sul-africanos. A remuneração disso não pode ser a desatenção, o lapso e a indiferença. 


Ruth First não viveria os tempos da liberdade que chegariam na década ulterior. Joe Slovo, o seu companheiro de vida, ainda viu a África do Sul livre e foi, por alguns parcos meses, ministro de Nelson Mandela, antes de ser tolhido pela doença e pela morte. Uma pintura emblemática pintura do seu marcante rosto, numa das casas sociais do bairro de Langa, na Cidade do Cabo, à beira da estrada, ilustra o lugar de Slovo na história da África do Sul. 40 anos após a sua morte, Ruth continua a ser, para mim, uma figura inspiradora. Descobri, amarrado, por uns dias, numa das docas da mesma Cidade do Cabo, há dois anos, um navio patrulha, com o seu nome e, confesso, fiquei emocionado. Sabia que o seu nome dera crédito à toponímia em algumas cidades da África do Sul, mas desconhecia a monta inscrita naquele navio. 


Em Moçambique, a despeito da pedra evocativa no CEA, não lhe conheço outra valia que a tenhamos prestado. A Slovo concedemo-nos a honra de uma rua na baixa da cidade de Maputo. Não obstante, o nome de Ruth First está irreversivelmente ligado à minha humilde história pessoal. Afinal, foi naquela noite ominosa que eu cometi os meus primeiros versos. Passam 40 anos! Lembro-a não apenas por isso. Ela é uma grande intérprete do destino da África do Sul, de Moçambique e da África Austral. É evidente que laboramos hoje no lodo de outros equívocos e outros ímpetos, aluviões incapazes de sufragar o que a História de bom nos designou, ou de autuar os excessos – afinal de contas assim ditam os eufemismos! – que estarão na origem dos desacertos que ainda hoje nos perseguem e assombram.


KaMpfumo, 17 de Agosto de 2022

terça-feira, 16 agosto 2022 10:16

Como? Um novo MATAMA?

MoisesMabundaNova3333

Pág. 62 de 167