Director: Marcelo Mosse

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segunda-feira, 04 janeiro 2021 06:03

Vamos adiar a exploração do gás do Rovuma!

O ataque perto do acampamento da Total de Afungi foi um ataque ao âmago do gás do Rovuma. A decisão da Total de evacuar os moçambicanos de Palma (não apenas por causa das questões de seguranças, mas também por uma alegada vaga de Covid 19, que assolou o acampamento, de acordo com fonte reputadas de “Carta”) é um indicador de que a exploração do gás vai sendo adiada. Adiar a exploração do gás é o mais sensato da fazer hoje. É certo que a economia presente precisa das suas receitas, mas os moçambicanos do futuro podem muito bem tratar do assunto.

 

Moçambique não tem estrutura de poder capaz de conduzir a exploração do gás ao almejado “El-dorado”. A abordagem da guerra é titubeante (com contratos secretos e compra de equipamento quase obsoleto) e essa mesma guerra começa a ser uma justificação do negócio de rapina que se está a implantar no sector, cada vez mais com termos de troca prejudiciais para a sociedade moçambicana. Ao invés de construir um acampamento sólido, usando nossa pedra e areia, a Total mandou vir pré-fabricados lá da Europa. Nosso conteúdo local está vendo navios. Aliás, esses módulos residenciais chegaram de navio.

 

Se este regime não consegue impor o conteúdo local e terminar com esta guerra, então paremos com o gás. Esta guerra parece um instrumento de saque. Saque externo e interno. E temos cerca de 500 mil deslocados, empurrados para distritos recônditos da Zambézia. Como? De Macomia para a Zambézia? E aqui são tratados como estrangeiro, desterrados? E quando a guerra terminar, sua terra já foi tomada? E o gás esgotado? Não!

 

A exploração do gás nas actuais condições não serve aos moçambicanos. Nem com famigerados fundos soberanos. Aliás, o maior fundo soberano são nossas florestas e nossos mares, que, mesmo sem guerra, esta geração que fez a luta armada não consegue gerir de maneira dignificante. A rapina chinesa comanda. Eles lá na China sabem quanto cada um dos moçambicanos deve ao Estado chines. Nós cá em Moçambique não conseguimos calcular quanto dessa dívida já estaria paga, em espécie, através da nossa madeira e frutos do mar. (Sim! A ponte para a Catembe poderia ser paga dessa forma, e não com portagens astronómicas, como foi anunciado). É intrigante como esta elite no poder não consegue corrigir os desmandos nas pescas e florestas. No gás, corremos o mesmo risco. Melhor parar! Já! (Marcelo Mosse)

quarta-feira, 30 dezembro 2020 09:56

Cabo sangrento

Terra ardente
Riqueza abundante
Povo combatente
Morre inocente
 
Cabo sangrento
Paz enjaulada
Terrorista maldito
Assassina rapaziada
 
Guerra fedorenta
Tanto combatida
Militar eremita
Pátria defendida
 
Juventude enganada
Pátria ameaçada
Casa queimada
Cultura renegada
 
Cabo sangrento
Lágrima derramada
Governante esquisito
Verdade desmentida
 
Criança faminta
Mãe aflita
Vida maldita
Sofrimento aumenta
 
Cabo sangrento - queremos a paz!
 
Omardine Omar - Maputo, Dezembro de 2020
terça-feira, 29 dezembro 2020 07:04

A minha figura do ano

Cansei de esconder. A minha figura do ano 2020 é aquele senhor que escreve aqueles discursos que o Presidente Nyusi lê no Parlamento a cada fim do ano. Prontos! Já falei! Aquele senhor que diz 'portanto, moçambicanas e moçambicanos, o estado da nação é isto, aquilo, assado, frito, cozido'. É a minha figura.

 

Simplesmente o gajo é f*dido. O gajo está há seis anos a inventar adjectivos para alcunhar o país. Assim, que estamos aqui a beber e a comer, tipo estamos a festejar, o gajo já deve estar com o dedo do manguito mergulhado no meio do dicionário a procurar um molho de palavras para nos dar no próximo ano. Aquele senhor trabalha muito, vocês!

 

Sinceramente! Se fôssemos um povo organizado e que sabe o que quer estaríamos, neste momento, a homenagear o gajo. É verdade! Um povo que sabe agradecer estaria a fazer uma festa surpresa de fim do ano para ele. Rotular um país a cada ano não é fácil. Marrou maningue.

 

O gajo é bom. Não reconhecer isso também é inveja. Quando começou, usava apenas uma palavra: bom, próspero, resiliente, firme, etecetera. Mas, quando as coisas começaram a amargar, começou a usar muitas palavras de uma só vez, muitas delas sinónimas: desafiante, mas encorajador (2017); estável e que nos inspira confiança (2018); de esperança e de um horizonte promissor (2019). Então, este ano ele me ganhou de vez: resposta inovadora e renovada esperança. Caí de vez!

 

Desta vez, já não tenho como evitar. O gajo é mesmo a minha figura do ano. O gajo me ganhou. Conseguiu colocar o país numa igreja: Igreja Evangélica da Renovada Esperança. O país está a orar... está de cócoras. Nesse andar, não esteremos espantados se no próximo ano o estado da nação for 'Allahu Akbar!' ou 'Aleluia Jeová!'. Não será de estranhar que até ao fim do mandato cheguemos ao estado da nação 'Deus nos acuda!'. 

 

Dizia, esse poeta da Ponta Vermelha é a minha figura deste ano. O gajo está a acompanhar bem o país. Ele consegue descrever fielmente a nossa evolução decrescente rumo ao fundo do poço. Assim que ele colocou o país na igreja vai acabar por levar à sepultura. Não falta muito para ouvirmos que o estado da nação é 'que a sua alma descanse em paz, Moçambique!'.

 

Nessa cena de figura do ano, cada um com a sua. 

 

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segunda-feira, 28 dezembro 2020 12:42

E o fundo do Fundo Soberano?

“O que me preocupa não é o grito em torno do que será feito com o  Fundo Soberano (FS), mas sim o silêncio sobre as suas fontes de financiamento”. Volto a esta frase, mas antes um lembrete: na novela brasileira “O Bem Amado”, o perfeito Odorico Paraguaçu atribuía ao poeta Rui Barbosa algumas das suas eloquentes frases. Questionado sobre a  autenticidade de uma delas, o  Odorico  respondeu: “Se o Rui Barbosa não disse, devia ter dito”. O mesmo com a frase acima: se Martin Luther King ou uma outra figura mundial não disse, devia ter dito”. 

 

A citação é a propósito da auscultação em curso sobre o FS. Ao que parece, o FS é uma resposta para alojar e distribuir a (excedente) verba do gás de Palma e não só (rubis, grafite, etc), tendo a diversidade das fontes sido até teor de  uma recente observação do presidente da República na cidade da Beira, aquando da inauguração do edifício do Banco de Moçambique, a instituição na liderança da proposta e debate sobre o FS. E ainda a propósito: “Por acaso já houve uma auscultação sobre as fontes de financiamento do FS? Quiçá, por aqui fosse um caminho a considerar, lembrando, à luz da citação,  que não é só o ponto de chegada (destino)  do dinheiro  que preocupa, mas sim, e sobretudo,  o seu ponto de partida (origem) e este pode até não ser soberano, atendendo que o país não controle o negócio, e nem saudável, atendendo, por exemplo, a certas  circunstâncias do processo de exploração/produção como as de guerras e de violação dos direitos humanos, tal o caso do mundialmente famoso  “diamantes de sangue”, e ainda de políticas (fiscais, laborais, etc)  prejudiciais ao país.

 

E  longe de qualquer analogia (tipo “gás de sangue”), e bem  para concluir, urge que se traga  à mesa do debate as fontes de financiamento do FS, e do desenvolvimento em geral, e ainda, e é imprescindível, a necessidade de  aferir quão soberanas e saudáveis  elas são sob pena do FS ser, a partida, um fundo com um fundo falso e problemático. De contráio, e também dizia o citado perfeito: “Em cavalo manso todo o mundo monta”. E já agora: caso o perfeito Odorico Paraguaçu não tenha o dito, que tivesse dito.

segunda-feira, 28 dezembro 2020 09:46

Estou no zénite

O demonstrativo desse sentimento é a minha obsessão por lugares abertos com pouca gente, como aqui onde me encontro, na Praia da Barra, testemunhando a derrocada do próprio fascínio. Vejo o Índico avançando devagar, porém resoluto,  ao encontro das dunas ocupadas pelos homens, e parece já não haver nada a fazer perante a fúria do mar. Que vai destruir tudo isto.

 

Tenho o celular no dispositivo do silêncio, pois não quero ser interrompido nesta audição à música do oceano e dos pequenos montes de areia que vão sendo deluidos pelas ondas. Eu oiço esses montículos cantando dentro de mim a melodia da dor, composta pela ganância e estupidez. E nós mesmos não quisemos perceber os limites da nossa liberdade, indo até onde não deviamos, tocando em obras da natureza feitas apenas para a contemplação.

 

Eu também faço parte desta praia que vai sendo demolida pelas águas, pedaço a pedaço. Estou aqui há muitas horas e ainda não vi ninguém passando ou chegando, a não ser as aves marinhas voando rasante por sobre as ondas, outras passando perto de mim, saudando-me, ou simplesmente para admirarem alguém que ousa estar sozinho num sítio em decomposição. Sem medo de nada, nem da imensidão assustadora do mar determinado na devastação da terra.

 

Na verdade não tenho medo de estar aqui, e isso pode significar que estou no zénite, e a solidão, como se sabe, é o ponto mais alto da vida, e eu já estou lá, onde posso delirar livremente nas minhas alucinações provocadas pela incenssante imaginação. Aliás a minha vinda à Barra revela isso, mas no fundo é mentira, nunca estou sozinho. Tenho o mar como almofada, as dunas ruindo, as aves planando, e a presença magnética do silêncio que me faz viver como nunca.

 

Se há uma ave por estas bandas, arrebatada e desfrutando  deste encanto sem limites, eu sou! Não me importam os ponteiros do relógio, nem as chamadas dos amigos que ligam ao meu telefone activado para o silêncio, esses podem esperar, contrariamente a esta consonância entre mim, o Índico, as dunas, os ventos, e o próprio silêncio. Até porque cheguei a pensar que a praia estivesse vazia, ela está repleta desta poção mágica vertida por sobre a minha alma.

 

A praia da Barra dói-me na música que ela canta, composta no conservatório do fundo dos mares. Ninguém a quer escutar, pois cada vibração  é uma facada na esperança. A Barra pende num fio frágil que vai rebentar daqui a pouco, e  eu estou aqui assistindo a esse momento dramático, com o celular no silêncio. E como o sol já está a cair no horizonte, por hoje basta, vou-me embora, entristecido, desolado como todo este espaço esplendoroso. Se calhar volte outro dia, sem expectativa, quem sabe!

quarta-feira, 23 dezembro 2020 07:34

Se os que querem ajudar ajudassem apenas

Foi lançada uma campanha de angariação de fundos para ajudar o músico, produtor e empresário Bang que se encontra gravemente doente. O cartaz propagandístico mostra as modalidades e os requisitos do tal ofertório. Tem números de conta, NIBes, SWIFTes, Eme-Pesas, etecetera. Só não estou a entender uma coisa: por que é que as pessoas que têm vontade de ajudar estão a perder tempo em discutir sobre ética e solidariedade com as que não têm vontade de ajudar. O que é que as pessoas que querem ajudar ganham com isso? Evidentemente, nessa discussão quem ganha são os que não querem ajudar.

 

Por ser um acontecimento que está a acontecer no planeta Terra, há terráqueos que querem ajudar e há os que não querem ajudar. Isso é 'normal'. O que não é normal é os que querem ajudar gastarem o seu tempo a discutir com os que não querem ajudar. É isso que não entendo. Enquanto o Bang está a espera que a ajuda chegue a ele o mais rápido possível, os que têm vontade de ajudar estão a dar aulas de ajuda aos que não têm vontade de ajudar.

 

O normal seria, no meu ponto de vista, que os que querem ajudar ajudassem simplesmente e deixassem no seu cantinho os que não querem ajudar. Ou seja, eu pensava que os que querem praticar o bem só iriam praticá-lo de boa fé sem se importarem com nada. Pensava que os que querem apoiar o Bang só iriam transferir o dinheiro sem se preocuparem com os que não transferiram ou os que estão a maldizer o Bang.

 

A solidariedade não é discursiva, ela é prática. A empatia deve ser demonstrada pela ação. Ela deve ser praticada. A indiferença é não fazer nada. A insensibilidade é ficar de braços cruzados. Enquanto isso, a bondade é prática. Os bons devem ser bons pela prática. Ou seja, se os bons travarem guerra contra os maus, Bang estará a espera de ajuda até ao dia que a guerra acabar. A ajuda não irá chegar a família Bang, se os que querem ajudar pararem de ajudar para discutirem com os que não querem ajudar. O que a família Bang necessita neste momento é de ações práticas e concretas de apoio e não de sermões no cume dos Alpes.

 

Então, por favor, aconselho aos que querem ajudar o Bang a fazerem com a máxima urgência sem se importarem com os que não querem. É assim que o bem vence o mal: praticando e fazendo. Se os que querem ajudar ajudarem de boa fé sem se importarem com os insensíveis estarão de alma e consciência tranquilas. E é isso que importa.

 

Se você quer apoiar o Bang, então, faça a sua parte e durma tranquilo! Poupe-se desse evangelho desnecessário! Não discuta os motivos dos outros. O Bang está a espera do seu gesto. É tempo de ajudar e não de filosofias. Não é tempo de perceber os motivos dos outros nem de argumentar os seus. Quer ajudar, ajuda! Conhece alguém que não quer ajudar, isso é com ele. Não gaste o seu tempo tentando-lje perceber. Isso não vai ajudar muito. Em tempos de guerra não se limpam armas.

 

Então, você que quer ajudar o Bang já ajudou? Você que quer ajudar já transferiu alguma coisa para a família ou está apenas preocupado em mostrar aos que não querem ajudar que você quer ajudar?

 

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