Do mesmo jeito que o cineasta norte-americano Woody Allen disse um dia – de que não podia escutar muito Wagner, maestro e compositor de ópera alemão que o ditador nazista Adolf Hitler adorava escutar, porque ficava com vontade de invadir a Polónia – eu tenho a mesma vontade em relação a Rússia depois que vejo um Telejornal que debruce sobre a invasão da Rússia à Ucrânia.
Agora estou curioso em saber o que Vladimir Putin, o presidente russo, adora escutar. Mais curioso ainda estou em saber se tal música fora a que ele, eventualmente, escutara na madrugada de 24 de Fevereiro de 2022, enquanto as suas tropas iniciavam a invasão à Ucrânia.
Mas vendo bem, não vou fazer essa pesquisa. E seja lá qual for a música ou músico que Putin goste, certamente que os efeitos de a escutar não são boa coisa.
Ademais, aconselho até a nossa classe política a não procurar saber e muito menos escutar tal música, pois os tempos eleitorais que se avizinham, a começar pelas hostes do partido glorioso, não são propícios para o tipo de música que Putin escute.
Por enquanto, e para fechar, partilhar que para conter os meus ânimos belicistas depois de cada Telejornal, tenho escutado muito a música ligeira moçambicana. Esta, talvez por ser ligeira, deixa-me manso. Porventura até seja o tipo de música que os líderes do Ocidente estejam a ouvir por estes dias.
Razões de ordem técnica dos requerimentos e a pandemia são os subterfúgios a que se recorre para indeferir as comunicações para a realização de marchas/passeatas/ manifestações pacíficas para todos os enteados do governo do dia. Por outro lado, os filhos do governo do dia só precisam de comunicar no partido que pretendem enaltecer ou endeusar a liderança máxima para sair à rua sem máscaras e abraçados! As referidas manifestações de apoio ou reconhecimento dos feitos da chefia, conforme são apelidadas, nunca foram impedidas, mesmo no auge das vagas de infecções com a Covid-19.
Já, enquanto os enteados procuravam marchar contra a onda de raptos que minetou o sistema policial e judicial. Contra as portagens que cercaram Maputo e outras que estão a ser colocadas em zonas com estradas sem qualidade. Contra a violência policial que se fez sentir em vários locais do país. Onde vendedoras ambulantes eram arrancadas peixe, bananas, bolinhos e depois espancadas por indivíduos vestidos de farda policial, o engraçado é que mesmo com os vídeos que viralizaram nas redes sociais, os dirigentes não estão nem aí – talvez tenha sido por isso que homens subversivos levaram um caixão para a casa de um chefe municipal e dias depois invadiram a casa, agrediram o homem e morderam o "mangalho do homem" deixando-o entre a vida e a morte.
Os dias passaram, veio mais uma audiência do mediático julgamento das dívidas odiosas – um peixe grande da nação foi ouvido – durante a sessão citou por várias vezes o outro peixe grande. A comunicação social deu eco àqueles dizeres. Vários debates foram travados em canais com dimensão nacional e internacional e o facto irritou as lideranças que orientaram que deveriam ser realizadas marchas por tudo que é canto, demonstrando de que lado os filhos estavam!
Para os filhos do governo do dia, a Constituição funciona sem precisar seguir o protocolo institucional recomendado. Até se for uma marcha de apoio a um dirigente pedófilo, as autoridades dão parecer até de madrugada. Mas se fores um enteado, mesmo que cites rigorosamente o Artigo 51 da Constituição da República de Moçambique (CRM) e o requerimento tenha sido feito pelo reconhecido cientista jurídico Diogo Freitas de Amaral ou a Juíza- Presidente do Conselho Constitucional (CC), o assessor jurídico do Edil ou do Governador/ comandante identificará os erros e irá indeferir o referido documento que visava simplesmente comunicar.
É complicado quando filhos do mesmo pai e mãe são tratados como enteados, simplesmente porque um reclama por melhores condições e outro agradece por viver na miséria e ser minetado longamente! Seria interessante que, enquanto a bandeira for essa, a constituição a mesma e o governo vigente tenha sido aquele que escolhemos que não houvesse filhos e enteados. Que todos os movimentos sociais e políticos tenham seu espaço de intervenção e exigência. Não devemos alimentar que a sociedade exija seus direitos da forma como o fizeram os trabalhadores da açucareira de Xinavane!
Ninguém deve ser obrigado a viver no silêncio e em constante medo, quando a nação onde todos vivem tem único nome – Moçambique. Tem única bandeira e mesma nacionalidade – moçambicana. Mas apenas alguns pensam de uma forma diferente sobre um determinado problema. Daí que alguns se identificam com os grupos sociais e políticos existentes. É importante que cultivemos as diferenças de pensamento, sem cortar as liberdades de cada um e criar inimigos públicos simplesmente porque o que ele fala denuncia as nossas falhas ou injustiça a maioria.
Pancho vivia na senzala ao lado da mansão da linda Ester como inquilino. No quintal era visto como esquisito e profundo memorizador das músicas românticas, em especial as brasileiras e norte-americanas – no seu quarto era comum ouvir pela madrugada as músicas de Roberto Carlos e Celine Dion. Às vezes, o homem sonhava em cantar.
O que Pancho não sabia é que na janela da mansão defronte ao seu humilde quarto dormia uma elegante moça. Dona de um corpaço extravagante e que despertava o olhar e atenção de todo o senhorio com quem se cruzasse pelo caminho.
Num belo dia, enquanto os pássaros animavam o som ambiente do quintal, Pancho interpretava a música de Roberto Carlos, com o título: "esse cara sou eu"! Foi quando a Ester abriu a cortina do seu quarto, vestida de um roupão vermelho e apertado, mapeando todos os atributos do corpo. Surpreendido com o que acabara de ver, Pancho a saudou e, com uma voz dócil, Ester correspondeu à saudação.
Naquele momento, nascia uma relação amorosa que infelizmente o fim da escuridão da noite e os raios do sol se encarregaram em destruir.
De olhar em olhar. Saudação em saudação, Pancho e Ester começaram um romance. Entretanto, entre milhares de qualidades que a Ester tinha, estavam os seus seios que deixavam Pancho e os admiradores da zona com a cabeça nas nuvens e loucos.
- Conta Pancho que, a cada toque entre os corpos, o "pigmeu" do Pancho ficava com a altura da montanha. Pancho não resistia aos abraços da Ester, que mesmo vestida com a toga de Procuradora ou Juíza os cinematográficos seios ficam expostos e apetitosos.
- Durante o acto sexual entre Pancho e Ester, o prazer era inesgotável, uma vez que a cada round dado, o "pigmeu" do Pancho rapidamente levantava logo que olhasse para os seios da Ester.
- Talvez não estejas a vislumbrar como são os seios da Ester, lendo até aqui o texto. É que, embora fosse uma jovem das bandas de Chuabo Dembe, em Quelimane, ela tinha as características de Denise Milani, a dona dos seios mais bonitos do mundo. As curvas da actriz que em tempo deixaram um júri de caça-talentos norte-americano rendido.
- A diferença entre Denise e Ester é que uma estava em Quelimane e com todos os atributos naturais e a Denise em Los Angeles, e teve que fazer algumas intervenções médicas. A Ester alimenta-se com frutos caseiros e Denise vive de takeaways e dietas ferrenhas. Mesmo assim, os seios da Ester continuam picantes e com a estrutura arquitectónica da pirâmide de Quéops ou de Khufu do Egipto que, embora tenham passado milhares de anos, ainda continua intacta.
- Devido à beleza e estrutura corporal da Ester, Pancho a chamava de "boneca negra humana", que jorrava nos seus seios um líquido com o sabor a mel e o frio de um sorvete russo.
A madrugada ia clareando, os pássaros cantando, as mamanas do bairro caminhando e os motores dos veículos roncando, quando Alberto, pai de Pancho, bateu à porta do quarto do filho, alertando-o para acordar e preparar-se para ir à escola. E lá se foi o sonho do Pancho em ter uma Ester com os seios deliciosos e um corpo da actriz norte-americana Maria Halle Berry (…)!
- Agora, Pancho só tinha de lavar a roupa interior que estava banhada de sémen – afinal tudo não passava de um sonho molhado de um jovem carente de amor e sem companheira por satisfazer…!
O Presidente Filipe Nyusi engendrou esta remodelação para fazer uma nova arrumação das suas peças no xadrez. Mas qual é o seu objectivo central?
Ela tem como pano de fundo o Congresso da Frelimo, que terá lugar algures neste ano. Nyusi está a lançar aos militantes da Frelimo (e à Sociedade) a ideia do inconformismo, que ele também partilha da crise que o país vive. A economia tarda em relançar-se, depois da Covid 19, e vem aí mais choques externos, provavelmente nos combustíveis e pão, por causa do ataque russo à Ukrania.
Então, a ideia de um novo governo mostra um cometimento para a mudança, representa a imagem de um novo arregaçar de mangas. De resto, a nova disposição das pedras no tabuleiro é mais forte. Há poucos meses do Congresso, Nyusi não pode ser acusado de ter ficado de braços cruzados; até trocou um Primeiro-ministro, colocando Adriano Maleiane, uma figura mais afável embora acusado de nunca impor sua autoridade.
Esta remodelação faz também uma coisa: deixar cair o voluntarioso Ministro das Obras Públicas e Habitação, de uma forma suave, aliviando o peso de uma demissão por eventual mau desempenho. A forma como Machatine sai do Governo, ele que era uma das principais pedras do Presidente, foi muito bem estudada. Machatine não foi afastado como um inútil. Com ele, Nyusi demitiu quase que solidariamente o PM Carlos Agostinho do Rosário, numa perspectiva de controle de danos. Se Machatine tivesse saído sozinho, todo mundo estaria hoje concentrando seu debate nas Revimos e estradas deficientes, mas o mal foi distribuído pelas aldeias.
João Machatine é um homem que arregaçou as mangas e fez os trabalhos que lhe competia. Mas caiu na armadilha de uma conjuntura hostil, uma economia política das obras públicas marcada pela corrupção e compadrio, empreiteiros piratas, engenheiros falsários, concursos manipulados, onde pastas de dinheiro são distribuídas pelas escadas de serviço, ditando a adjudicação de obras. Nos últimos dias, João Machatine denunciou alguns desses males mas, em véspera de Congresso, Nyusi preferiu fazer as vontades das correntes internas que lhe arrastaram para a mudança.
Mais uma vez, o Congresso como ponto de chegada – e quem sabe de partida para o PR se propor para um terceiro mandato – foi um factor determinante para a mudança.
O homem escolhido para as Obras Públicas e Habitação, Carlos Mesquita, é uma figura de respeito e com uma folha limpa. Um empreendedor que conhece muito bem as artimanhas de quem está no sector privado e que vai ter que dar tudo para defender seu prestígio. Seus maiores desafios são a reabilitação da EN1, com 600 milhões de USD já assegurados pelo Banco Mundial, a retenção e provisão de água e a reconstrução de Cabo Delgado,
A demissão de Augusta Maíta decorre do mesmo objectivo de Nyusi se pacificar com algumas correntes internas descontentes. Maíta, mal assessorada, entrou em guerra com os generais das pescas, retirando-lhes, sem justificação plausível, suas quotas de pescaria para a presente época. Isso aconteceu em Dezembro de 2021. Nas últimas semanas, Maita foi inundada de cartas de armadores reclamando contra suas decisões. É muito bem provável que o generalato tenha ido bater à porta de Filipe Nyusi.
De resto, Augusta Maíta já estava em guerra contra tudo e todos. Contra os armadores de pesca industrial e contra os kapenteiros (pescadores do peixe kapenta) da Albufeira de Cahora Barra. Todos eles disputam a aplicação retroactiva no novo regulamento de pescas, que institui os novos Direitos de Pescas. É uma espécie de DUAT das pescas, que não reconhece os direitos adquiridos de quem está operando há mais de 30 anos. O Conselho Constitucional já deu seu parecer desfavorável contra essa aplicação retroativa, mas Maíta fez vista grossa. Sua saída do Governo é completamente inglória.
A nova titular do Mar e Águas Interiores e Pescas, Lídia de Fátima da Graça Cardoso, tem um ar de senioridade (e serenidade) suficientes para marcar sua governação com um estilo de diálogo e mais conciliatória com os principais “stakeholders” do sector. Mas, para isso, ela deve se precaver com a assessoria que vai lá a encontrar. Seu desafio maior é a pesca furtiva, nunca atacada de forma incisiva.
Já Carlos Zacarias é o “faxineiro do gás” que chega ao topo a carreira no MIREME (eles conhece os cantos da casa) e que, no leme do Instituto Nacional de Petróleos, esteve a frente dos mais recentes concursos de prospeção de petroleio e das intricadas negociações com os operadores do gás do Rovuma. Ele conhece toda a cadeia de valor da indústria. Sua escolha só poder ser por sugestão de Max Tonela. Isto significa que Tonela pode continuar a ter algum espaço de opinião sobre o sector, dentro do Conselho de Ministro, alargando sua margem de influência no processo decisório governamental, sobretudo em relação ao gás do Rovuma.
Em suma, esta remodelação veio em bom momento. O governo arregaça as mangas e recupera alguma adrenalina para os últimos dois anos do mandato de Nyusi, que sai reforçado. Fica um senão: ele não tocou nalguns ministros com demonstrada incompetência, como nos Turismo e Cultura, Transportes e Comunicações e Terra e Ambiente. Uma pena! (Marcelo Mosse)
Eis a conjectura geral dos comentários que recebi logo após o anúncio da demissão de 6 ministros, 5 de sectores económicos, logo uma remodelação de fundo, que no essencial serve para recolocação das pedras e não é o afastamento por mau desempenho (Janfar Abdulai seria o primeiro da fila), como seria noutras democracias em que a responsabilização é um factor de melhoria da governação.
Consta que há quem pediu para sair (Carlos Mesquita), por razões pessoais. Seu contributo no relançamento da indústria é visível. Sua maior virtude é acarinhar iniciativas e ideias novas. Não aquele tipo de dirigente típico da casta libertadora, que não faz nem deixa fazer. É também provável que ele vá para o MIREME. Aquele Ministério precisa de dirigentes com senioridade quanto baste. Tirar Max Tonela para meter uma figura menor é meter àgua, todo o FIPAG junto.
Mas a grande novidade é a demissão de Max Tonela, a melhor pedra do Governo neste momento. Tonela arrumou as coisas do gás do Rovuma, pelo menos onde não foi entravado pela guerra, faz o pleno na eletrificação rural e na produção (Central Térmica de Temane) e relançou Mphanda Kuwa no meio de suspeições sobre ausência de mercado quando já há potenciais investidores.
Mais: colocou Moçambique no mercado mundial dos diamantes, com a adesão recente ao Processo de Kimberley. Max Tonela encaixa perfeitamente na ideia de recolocação de pedras. Seu desempenho é visível. A conjectura aponta-lhe para Ministro da Economia e Finanças. É uma pasta que lhe calha bem, dado a sua formação. Se isso acontecer, Tonela se tornará numa figura de referência para a Governação de Moçambique nos próximos 20/25 anos, por causa da bagagem acumulada nos sectores por onde tem passado, dando-lhe uma perspectiva holística sobre os grandes dossiers dos pais, os desafios que temos pela frente.