Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Sociedade

NamputaCatedral140124.jpg

A Arquidiocese de Nampula avisa que não vai ceder aos cidadãos que na passada quarta-feira (08) invadiram o seu terreno localizado no espaço do Seminário, após a destruição do muro de vedação e a divisão da área em parcelas.

 

Um comunicado assinado pelo Padre Simone Adriano esclarece que a Arquidiocese está a trabalhar com as autoridades competentes com vista a tomar total controlo da área em causa.

 

A nota também alerta que nenhum cidadão deve aceitar comprar as parcelas demarcadas, sob o risco de se envolver num golpe. "Queremos deixar claro aos cidadãos que estão a comprar espaços dos invasores que se trata de uma burla, com o objectivo de se desfazerem dos espaços que ocupam ilegalmente, sob pena de enfrentarem as consequências legais", lê-se no comunicado.

 

Além disso, a Igreja Católica reitera: "o espaço em questão é propriedade da Arquidiocese de Nampula, devidamente registado e não está à venda. Não se deixem enganar, sob o risco de entregarem o vosso dinheiro a mãos alheias. O caso já está sob responsabilidade das autoridades competentes para garantir a reposição da legalidade e da justiça".

 

Enquanto isso, os invasores continuam a usurpar outros espaços mesmo depois do alerta lançado na sexta-feira pelo Conselho Municipal da cidade de Nampula. (Carta)

segunda-feira, 13 janeiro 2025 17:36

Dikeledi já fustiga a província de Nampula

ciclone mz min

O Ciclone Tropical Dikeledi, caracterizado por ventos e chuvas fortes, já está a causar danos na cidade de Nampula com a destruição de casas de construção precária e alagamento de machambas. O sistema está a afectar os distritos costeiros, com destaque para Nacala-porto, Mossuril e Ilha de Moçambique, onde forçou a paralisação total das actividades em instituições públicas e privadas. 

 

Além da destruição de casas, há relatos da queda de postes de energia eléctrica no distrito de Mossuril. Presentemente, os governos dos distritos costeiros, em coordenação com os comités de gestão dos desastres, têm vindo a desdobrar-se na transferência de famílias que se encontram em zonas críticas, assim como no lançamento de mensagens para o efeito. 

 

Aliás, em Angoche, o administrador distrital disse que foi lançado um sistema de segurança para evitar que nenhuma embarcação se faça ao mar. Sabe-se que algumas famílias estão ao relento devido à destruição das suas residências, de postes de energia e interrupção de vias de acesso. Entretanto, o INAM prevê para esta noite a intensificação de chuvas na província de Nampula.

 

De acordo com os dados divulgados esta tarde pelo Instituto Nacional de Meteorologia, às 14h00 de hoje, DIKELEDI encontrava-se no distrito de Mossuril com ventos máximos de 140 Km/h e rajadas de até 195 Km/h, movendo-se à uma velocidade de 13 Km/h.

 

A província de Nampula regista chuvas de 200 mm/24h com trovoadas fortes, nos distritos de Mossuril, Mongicual, Liúpo e Angoche. Também regista chuvas de 100 a 150 mm/24h nos distritos de Larde, Moma, Mogovolas, Meconta, Monapo, Muecate e na cidade de Nampula.

 

Por sua vez, a província da Zambézia regista chuvas de 30 a 50 mm/24h nos distritos de Pebane, Gilé, Mocuba, Mocubela, Maganja da Costa, Muleval_a, Nicoadala, Maquival, Namacura e cidade de Quelimane. (Carta)

Margarida Talap

A nova Presidente da Assembleia da República (a sexta na história do parlamento desde a independência nacional), Margarida Adamugy Talapa, promete aos moçambicanos “debates profícuos” durante a X Legislatura, empossada esta segunda-feira pelo Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi.

 

Discursando hoje, após ser empossada nova Líder do Parlamento moçambicano, Margarida Talapa comprometeu-se a fazer tudo que estiver ao seu alcance para dignificar a Assembleia da República, comumente tratada por “Escolinha do barrulho”, em referência à pobreza dos debates políticos parlamentares ao longo dos tempos.

 

“Posso garantir que tudo faremos para que a Assembleia da República continue a ser digna representante de todos moçambicanos, que devem se orgulhar de ser filhos iguais desta pátria de heróis nos deveres e direitos”, garantiu a ex-Ministra do Trabalho e Segurança Social (2020-2025), num discurso de quase 10 minutos.

 

Segundo Margarida Talapa, o novo Parlamento deve assegurar “os mais profícuos debates das matérias que sejam suscitadas para garantir os consensos que a sociedade espera” para a harmonia e boa convivência e solidariedade de todos cidadãos.

 

“Prometemos oferecer a mais séria cooperação a todos órgãos de soberania e instituições de Estado, assentando nos princípios de separação e interdependência de poderes”, disse, agradecendo pela confiança depositada em si.

 

“Tenho a consciência de estar a assumir a liderança da Assembleia da República num momento desafiante em que o povo espera outras formas de pensar e fazer para termos de mostrar resultados diferentes e com urgência”, sentenciou.

 

Refira-se que Margarida Talapa foi eleita Presidente da Assembleia da República com 169 votos válidos, contra 32 arrecadados por Carlos Tembe (do PODEMOS) e sete de Fernando Jone (também do PODEMOS). Dois deputados, que se supõe serem da Frelimo, depositaram votos nulo e em branco, cada. (Carta)

conselho ministros min

 

Faltando algumas horas para o fim do seu mandato, o Presidente da República, Filipe Nyusi, exonerou esta segunda-feira, através de despacho presidencial, quase toda a sua equipa governamental, à excepção do Primeiro-Ministro (que acumula com o cargo de Ministro da Economia e Finanças) e dos Ministros da Defesa e do Interior.

 

Nestes termos, Nyusi exonerou Carmelita Namashulua, do cargo de Ministra da Educação e Desenvolvimento Humano; Carlos Mesquita, Ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos; Helena Kida, do cargo de Ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos; e Ivete Maibaze, do cargo de Ministra da Terra e Ambiente.

 

Foram ainda exonerados os Ministros da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, Daniel Nivagara; do Mar, Águas Interiores e Pescas, Lídia Cardoso; dos Recursos Minerais e Energia, Carlos Zacarias; da Indústria e Comércio, Silvino Moreno; dos Combatentes, Josefina; e dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala.

 

O Presidente da República exonerou igualmente os Vice-Ministros do Género, Criança e Acção Social, Lucas Mangrasse; do Mar, Águas Interiores e Pescas, Henriques Bongece; da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Olegário Banze; da Economia e Finanças, Carla Fernandes Loveira e Amílcar Tivane; e dos Recursos Minerais e Energia, António Saide.

 

Ainda foram exonerados os vice-Ministros da Saúde, Ilesh Jani; da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Edson Macuácua; da Educação e Desenvolvimento Humano, Manuel Banzo; dos Transportes e Comunicações, Amilton Alissone; e Cultura e Turismo, Fedson Bacar.

 

A exoneração dos membros do Governo ocorreu no dia em que tomaram posse os deputados eleitos para a X Legislatura. Na quarta-feira, 15 de Janeiro, será investido o novo Presidente da República, que irá formar o seu governo. Ainda fazem parte do Governo de Filipe Nyusi Adriano Maleiane (Primeiro-Ministro), Cristóvão Chume (Ministro da Defesa Nacional) e Pascoal Ronda (Ministro do Interior). (M. Afonso)

conflitodeterra130124.jpg
Uma onda de invasão e usurpação de terras alheias na província de Maputo, que supostamente não estão a ser usadas pelos legítimos proprietários está a ser levada a cabo pela população das redondezas. Os invasores alegam que os terrenos servem para albergar cobras e, noutros casos, criminosos e violadores de mulheres.
 
Aponta-se como ponto de partida o município da Matola-Rio, onde populares, após identificarem terrenos ociosos, mandaram “passear” as entidades supostamente responsáveis pelo parcelamento de terrenos e, assumindo a tarefa, começaram a parcelar para benefício próprio.
 
A prática foi se replicando em vários outros municípios, chegando ao ponto de obrigar as edilidades a tomarem as rédeas do assunto, antes que a desordem tomasse proporções ainda maiores. No meio deste cenário, terrenos e quintas da elite política pertencente à Frelimo não escaparam à fúria popular.
 
Numa ronda feita pela “Carta” no Município de Marracuene, várias quintas, algumas inclusive com vedação, foram tomadas pela fúria popular e divididas entre os interessados, até mesmo por quem não sabia o que fazer com a sua parcela.
 
Inicialmente, escalámos a quinta de Manuel Chang, actualmente detido nos Estados Unidos da América em conexão com as dívidas ocultas. Chang é membro da Frelimo e antigo Ministro das Finanças. A sua quinta localiza-se em Marracuene, à beira da estrada, num espaço totalmente vedado. Na propriedade, encontram-se erguidas duas dependências onde residem dois guardas responsáveis pela protecção da área.
 
Parte do muro de vedação foi derrubado e, em conversa com uma das residentes das proximidades, ela contou que a decisão de usurpar o espaço foi tomada pelo facto de a área ser grande e abrigar uma mata extensa donde saem e entram cobras para as residências.
 
“Tomámos esse espaço porque estamos cansados de ver terrenos que não estão a ser usados. O dono só colocou a vedação e nunca mais fez nada, permitindo apenas que o capim cresça. Os guardas que aqui vivem mal conseguem limpar este espaço. Parece não haver lei aqui. Só estamos à espera de ver a Frelimo cair para decidir o que fazer com esse espaço”, disse a cidadã.
 
A mesma opinião é partilhada por Jorge Nhassengo, um dos residentes das proximidades da quinta de Chang. Ele contou à nossa reportagem que os populares também decidiram invadir o espaço onde se encontra o Jardim Botânico de Marracuene, pertencente a um magistrado que pediu para não ser identificado.
 
Nhassengo afirma que, através do diálogo com o proprietário, este decidiu cortar parte do terreno e ceder à população.
 
“O dono deste espaço deu-nos uma parte e, neste momento, boa parte de nós que conseguimos um pedaço de terra aqui pretendemos vender a preços que variam de 10 a 30 mil Mts. Mas para isso aguardamos pela queda da FRELIMO e pela tomada de posse do nosso presidente Venâncio Mondlane. Depois disso, todos os espaços desses chefes serão nossos e vamos vender ou usar para construir casas para quem não tem”, explicou.
 
“Neste espaço saem cobras grandes. Não podemos passar por aqui de noite porque é uma mata grande. O dono não se dá tempo para mandar cortar as árvores e o espaço não está totalmente vedado. Ele usa apenas uma parte onde plantou algumas árvores usadas para tratamento medicinal”, disse Nhassengo.
 
Em contacto com o proprietário do espaço, por sinal portador do Direito de Uso e Aproveitamento de Terra (DUAT), ele confirmou que a população invadiu o terreno e que o caso se encontra no tribunal, aguardando os trâmites legais.
 
Outro espaço que a “Carta” visitou foi o antigo Marracuene Lodge, pertencente a um indivíduo identificado por João Neves. O espaço, de grandes dimensões, está vedado por um muro e dentro da área há alguns apartamentos de tipo 1, com cobertura de palha. No local, a população alegou que decidiu invadir o espaço, alegadamente, porque alberga cobras e bandidos que se escondem nas casinhas. A população lembrou que entre 2020 e 2024 foram encontrados quatro corpos sem vida e atirados naquele terreno.
 
 
Na conversa entre a comunidade e o proprietário, ele comprometeu-se a acabar com as cobras que saem do seu espaço e invadem as residências, mas esclareceu que não poderia oferecer parte da terra antes de consultar os seus sócios. Durante a invasão, vários chefes de quarteirão foram chamados a intervir para conter os ânimos da população. De camarada para camarada, fizeram de tudo para defender João Neves, portador do DUAT (Direito de Uso e Aproveitamento de Terra).
 
Ainda em Marracuene, no bairro Habel Jafar, a quinta de Manuel Tomé, antigo membro da Comissão Política da Frelimo, falecido em Março de 2024, também não escapou à fúria popular. A população invadiu o espaço, fez a divisão e pretende derrubar as árvores que lá se encontram para, posteriormente, decidir o que fazer com o terreno.
 
Facto curioso é que, diferentemente de outras quintas, onde as divisões são feitas com estacas, aqui o parcelamento foi feito com marcos de blocos de construção. Isso demonstra que a população já se considera proprietária do terreno.
 
Já no bairro do Albazine, a população decidiu invadir o espaço da antiga União Geral das Cooperativas. Após a invasão, as ex-cooperativistas sentiram-se injustiçadas e também invadiram o espaço e se intitularam proprietárias, alegando que era uma forma de se indemnizarem.
 
Trata-se, na sua maioria, de mulheres de idade avançada, entre 60 e 80 anos. Num espaço de 15 hectares, elas afirmam que, antigamente, realizavam várias actividades, com destaque para agricultura, avicultura e criação de gado bovino, caprino, entre outras. E, uma vez que o caso se encontra no tribunal há anos, sem nenhuma resposta das autoridades, as ex-cooperativistas intitulam-se proprietárias do local.
 
Em conversa com Adelina Muchanga, ela contou que decidiram invadir esse espaço porque trabalharam nele desde 1983. O patrão prometeu uma indemnização, mas até hoje nada foi feito.
 
“Nós decidimos expulsar a população que invadiu porque este espaço nos pertence. Faz parte das nossas indemnizações, uma vez que o patrão até hoje não disse nada e desapareceu”, disse.
 
“Nós temos processos no Tribunal para indemnizações e até hoje nada aconteceu. Do nada, estamos a ver a população a invadir a nossa propriedade que fomos nós que criamos. Não podemos aceitar isso”.
 
Na Matola Gare, encontramos um espaço pertencente à Escola Cantinho dos Céus, também invadido pela população. No local, vários residentes das redondezas, empunhando paus, catanas, enxadas, decidiram dividir e intitular-se novos proprietários do espaço em questão.
 
Invasão de terras é crime
 
O vereador para área de Habitação da autarquia da Manhiça, Baptista Manusse, explicou que, se o prazo de concessão do terreno tiver expirado, o legítimo proprietário pode perder o espaço. Por exemplo, o regulamento de solos urbanos dá um período de dois anos para o uso da terra, após o qual, se não for usada, o proprietário deve justificar os motivos para que seja concedida uma prorrogação. No entanto, a Lei de Terras dá um prazo de cinco anos para o uso desta mesma terra.
 
“A concessão do espaço tem um prazo, mas o facto de a pessoa não estar a usar pode ter razões justificáveis, como doença ou falta de recursos. Então, é necessário que a entidade concessionária analise o motivo apresentado e tome uma decisão”, explicou.
 
“Quanto aos terrenos vedados, mesmo que tenham apenas árvores, significa que o proprietário está a usar o espaço. Só a vedação já exige custos, e boa parte das quintas são usadas para o plantio de árvores. Nesse caso, a pessoa pode usurpar por questões de ódio ou oportunismo”, frisou.
O jurista Victor da Fonseca explicou, por seu turno, que a usurpação de terras alheias significa que a população está a violar a Lei de Terras – Lei 19/97, de 1 de Outubro, que cria os limites de como os moçambicanos podem adquirir a terra.
 
 “O que temos observado nos últimos dias é que as pessoas entram na propriedade alheia e acabam usurpando-a, o que constitui violação da lei. Nesta lógica, estão a cometer o crime de usurpação de bem alheio, o que é passível de pena. Neste caso, o proprietário do espaço usurpado, se este for utilizado para construção, pode requerer o embargo da obra no tribunal”.
 
“Numa primeira instância, o proprietário pode solicitar o embargo da obra. Posteriormente, o invasor pode incorrer numa pena de seis meses a dois anos de prisão”.
 
Victor da Fonseca vai mais além e cita o artigo 250 do Código Penal que diz: “quem, sem consentimento, se introduzir em habitações, pátios, jardins ou espaços vedados, incorre em responsabilidade criminal, com pena de 1 a 2 anos de prisão”.
 
Vale ressaltar que os principais locais onde as terras estão a ser usurpadas nos últimos dias são o município da Matola-Rio, Marracuene e Matola.
 
Neste contexto, o Conselho Municipal da Matola, na província de Maputo, está a mapear os espaços usurpados pela população, sobretudo no posto administrativo de Machava, como forma de estancar o fenómeno e impedir a sua réplica em outros pontos.
 
Os terrenos dos bairros Tsalala, Matola-Gare, Mathlemele, Machava-sede, Siduava e parte da vila municipal da Matola-Rio foram os principais alvos dos invasores. (M.Afonso)
MocambicanosNoMalawi44444.jpg
Mais de doze mil moçambicanos refugiados no distrito de Nsanje, devido à instabilidade pós-eleitoral em Moçambique, queixam-se de fome, não obstante a assistência prestada pelo governo malawiano e por algumas organizações humanitárias. Em exclusivo à “Carta”, o Alto-Comissário de
Moçambique em Lilongwe, Alexandre Manjate, confirmou a presença de refugiados moçambicanos em Nsanje, numa altura em que a crise pós-eleitoral em Moçambique tende a agravar-se com a tomada de posse hoje dos deputados eleitos e da investidura do presidente-eleito Daniel Chapo.
 
No total, cruzaram a fronteira para o distrito de Nsanje, no Malawi, 12.778 moçambicanos maioritariamente do distrito de Morrumbala, na província da Zambézia. Deste número, a maior parte são mulheres, seguido de crianças e finalmente de homens.
 
Manjate disse que a missão diplomática está a monitorar a situação dos moçambicanos em Nsanje, em coordenação com o Conselho distrital e com os líderes das comunidades moçambicanas, ajudando no acesso de tendas, colchões, cobertores e produtos alimentares. Apesar de todos os esforços, os moçambicanos clamam por ajuda urgente em alimentos.
 
“A assistência prestada pode não ser suficiente, mas há toda uma abertura governamental em particular do distrito de Nsanje em trabalharmos no sentido de apoiarmos esse grupo. Nesse trabalho de assistência aos refugiados estão envolvidas as organizações não-governamentais locais, assim como o Programa Mundial da Alimentação (PMA) na prestação da assistência alimentar. Portanto, temos de agradecer as autoridades malawianas pela sua prontidão em apoiar os refugiados moçambicanos em Nsanje”, apontou o diplomata, sem avançar a data sobre um possível regresso dos moçambicanos ao país.
 
De forma recorrente, Malawi tem sido abrigo seguro de moçambicanos em caso de crises políticas ou de calamidades naturais em Moçambique.
 
INGD ainda não está no terreno
 
Por enquanto, o apoio aos refugiados moçambicanos no Malawi é prestado pelo governo malawiano e por algumas organizações humanitárias locais e internacionais, tendo em conta que qualquer intervenção do Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD) no exterior depende do aval do Conselho de Ministros.
 
Uma fonte do INGD explicou que o mandato da instituição cobre apenas o território nacional e qualquer apoio fora do país está dependente do governo. Por outro lado, a assistência humanitária a estes moçambicanos também se torna difícil pelo facto de os mesmos não preencherem os requisitos previstos na Convenção de Genebra de 1951 sobre Estatuto de Refugiado, podendo ser apenas chamados de migrantes ou de deslocados.
 
De acordo com o Estatuto, eles deviam ter abandonado o país por um receio fundado de estarem a ser perseguidos em razão da sua raça, religião, nacionalidade ou de conflitos.
 
No entanto, o Estado moçambicano não pode abandonar estes cidadãos acomodados em Nsanje que clamam por apoio.
 
 
Fluxo de moçambicanos ao Malawi pode ameaçar segurança nacional
 
A Comissão de Defesa e Segurança do Parlamento do Malawi apelou ao governo para acelerar o registo de moçambicanos que cruzam a fronteira para aquele país devido à crescente tensão pós-eleitoral em Moçambique.
 
Falando em entrevista, o presidente da Comissão, Salim Bagus, destacou os potenciais riscos de segurança impostos pelo fluxo de moçambicanos, sugerindo que alguns dos indivíduos que entram no Malawi podem ser soldados armados.
 
Bagus enfatizou a necessidade de vigilância e documentação adequada daqueles que cruzam a fronteira. "Como país, precisamos de estar em alerta porque alguns deles podem ser portadores de armas perigosas.
 
Embora sejam nossos irmãos e irmãs, precisamos de manter um registo dos estrangeiros que entram. Em breve, entraremos em contacto com o Ministério da Segurança Interna para garantir que o processo de registo seja acelerado", disse Bagus.
 
Por outro lado, o especialista em segurança, Sherif Kayisi, alertou sobre potenciais implicações de longo prazo, recordando eventos semelhantes nas décadas de 1980 e 1990, quando um fluxo de refugiados moçambicanos coincidiu com um aumento de crimes violentos no Malawi.
 
"Naqueles anos, houve muitos relatos de assaltos à mão armada envolvendo armas suspeitas de terem sido trazidas por refugiados. É crucial que o governo leve essas preocupações a sério para fortalecer a segurança e mobilizar recursos de forma eficaz", aconselhou Kayisi.
 
À medida que a situação se deteriora em Moçambique, Malawi enfrenta o duplo desafio de fornecer refúgio aos moçambicanos que fogem da crise pós-eleitoral e, ao mesmo tempo, de salvaguardar a sua própria segurança. (Carta)
Pág. 6 de 664