Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Textos de Marcelo Mosse

terça-feira, 18 maio 2021 06:02

O fim da saga de Manuel Chang em Moderbee?

Esta nova posição da PGR, através da firma de advogados que contratou na RAS, segundo a qual a justiça sul-africana deve extraditar Manuel Chang quanto antes é correcta. Aqui sim! Finalmente nosso Estado surge em defesa de um cidadão nacional preso no estrangeiro. Atenção: o que a PGR pede não é que Chang seja extraditado para Moçambique. Pede que seja extraditado para onde Pretoria decidir.

 

É certo que esta nova posição decorre de um experto calculismo político. A guerra em Cabo Delgado estreita os canais diplomáticos entre Maputo e Pretória e haverá mais forças dentro do ANC inclinadas a favor de Maputo. Por outro lado, mesmo que Chang seja enviado para os EUA, o julgamento de Jean Boustani já fez jurisprudência: ele não ludibriou investidores americanos...na mesma lógica, Chang também não e a sua absolvição é uma hipotese certa.

 

Por outras palavras, se Pretoria decidir por enviar Chang para os EUA, é de crer que a PGR não vai recorrer, ao contrário do que sugeria o Daily Maverick ontem. É, pois, de crer que a saga de Manuel Chang nas masmorras de Moderbee esteja a chegar ao fim.

quarta-feira, 28 abril 2021 06:49

Querem esconder mais o quê?

Emanuel Macron convidou Nyusi para uma conversa em Paris à margem da Cimeira França/Africa. O assunto é Cabo Delgado. Encurralado num colete de forças, Nyusi uma opção: aceitar a intervenção da força da SADC já, antecipando-se a qualquer oferta francesa de intervenção militar. Trata-se de uma força regional e não do exército de um único país metendo suas patas cá dentro. Neste momento, argumentos tipo protecção da soberania ja não servem. Essa toda "soberania" ja foi oferecida de bandeja ao senhor Dyck, o velho mercenário a quem confiaram a defesa dessa soberania. Depois do ataque a Palma, ele se pôs a vender para o mundo toda a informação sobre nosso miserável exército e sua cúpula.

Naquela peça de Alex Crawford, da Sky, há um contigente de homens com fome, em Quitunda. Fugidos de Palma. O INGD estima em 30 mil os deslocados nos arredores de Palma. Sem contar com mulheres e crianças. É um pesadelo. Estes números só agora estão a ser revelados. Mas alimentar esta gente é urgente. Não alimentar pode ser fonte de revolta, incluindo, quem sabe, alistar-se ao terrorismo. O Governo percebe isso e abriu Quitunda à Sky, num golpe sensacional de "tou pidir" (e virá certamente muita mola e novamente gente esfregando as mãos de contente com o caos e a desordem no cabo das tormentas), que coube no estilo barulhento do canal londrino. Sim, há fome e dor, horrores e tragédia mas nada impedirá que os abutres deste país confluam em mais uma festança regada de sangue e vidas decapitadas. Esta desordem é intrisicamente necessária. Mas será que Patrick Chabal chega para explicar tudo? Que teoria?

Ontem, para lograr entrar em Palma, os “insurgentes” usaram uma tática. Bloquearam o cruzamento de Pundanhar para impedir que as FDS se reforçassem com tropa instalada em Mueda e atacaram a aldeia de Manguna. Porquê Manguna? Porque daqui o único sentido de refúgio da população seria correr em debandada para Palma. Desde há uns meses que Palma é quase que uma vila e sitiada – e só entra lá quem tenha consigo uma espécie de “guia de marcha”. Com tiros no ar e gente em fuga, esses procedimentos são letra morta.

 

Foi justamente isso que aconteceu. Por volta das 16 horas, os atacados de Manguna estavam a chegar a Palma com suas trouxas. Era uma situação de emergência...Devido ao ataque, as FSD foram mobilizadas para Manguna, deixando Palma de portas abertas e com proteção diminuída. Os terroristas tinham-se infiltrado no seio dos fugitivos de Manguna, entrando também em Palma com suas mochilas armadas. Dentro de Palma, abriram as mochilas, sacaram das armas e desataram a atacar alvos militares e civis.

 

O centro dos combates localizou-se na zona da Igreja Católica. Desconhece-se ainda a magnitude dos danos e perdas humanas e de um propalado ataque ao balcão do BCI. Ontem, por volta das 16 horas, a rede da Vodacom foi cortada. Tudo feito milimetricamente. Houve disparos contra a uma avioneta que descia para o aeródromo local.

 

Hoje, por volta das 10 horas da manhã, quem estivesse refugiado no principal hotel da cidade (que possui um heliporto) podia ouvir tiros dispersos. Estima-se que pouco mais de 100 terroristas estiveram envolvidos neste ataque, cujas características mostram que foi planeado com muita antecedência e... inteligência militar.

 

Os mercenários da DAG foram envolvidos nos combates, lançando bombas contra os terroristas. Hoje, um helicóptero da DAG, de 6 lugares, começou a evacuar as cerca de 200 pessoas que receberam a guarda do referido hotel para o acampamento da Total em Afungi. São os expatriados quem tem acesso aos voos, mas também moçambicanos funcionários da banca. Esta tarde, o exército mandou reforços de Maputo para Palma, incluindo fuzileiros navais. Carta obteve estes detalhes de várias fontes. (M. Mosse)

quarta-feira, 17 março 2021 09:22

Dos tomates resilientes de Juma Aiuba

Poucos minutos depois que o corpo de seu marido foi engolido pela terra, a viúva de Juma Aiuba recebeu uma chamada de uma figura de Maputo, sugerindo a publicação imediata das crônicas do autor editadas na “Carta”. Ela ainda mergulhada no pranto e alguém já lhe propondo um “negócio”, na boa maneira selvática do capitalismo intramuros. A mulher não respondeu ao visado. Delegou um amigo da família, que privou com Juma. O amigo perguntou ao visado se vinha por intermédio da “Carta”, se tinha falado com o Marcelo Mosse. O visado não respondeu e desapareceu de cena.

 

O amigo do Juma ligou-me no dia seguinte a dar-me conta desse ataque de rapina. Estava agastado. Sabia da relação cordial entre Juma e a “Carta”. E sabia que Juma era pago por suas publicações na “Carta”, e que uma vez falou-lhe sobre a iniciativa da edição de um livro.

 

Nesse dia o amigo Juma perguntou-me sobre o livro, e eu nem conseguia falar doutra coisa senão da perda de um homem recto que abraçou o projecto da sem reticências. No espírito e na letra. “Deixa isso para depois”, retorqui. E até hoje ainda não tivemos vagar para mexer os pauzinhos dessa tão esperada edição livreira.

 

Com o Juma falávamos sobre o assunto. Seis meses depois da “Carta” ter nascido, a atração popular por sua escrita estava sedimentada. Uma empresa robusta abordou-nos, oferecendo patrocínio. Pensamos que podíamos ter um livro logo na celebração do primeiro ano da “Carta”, mas perdemos-nos nos afazeres do dia-a-dia. Essa empresa continua disponível. Nossa pressa nunca foi grande!

 

Dois meses antes da partida do Juma, um amigo meu noutras andanças pediu-me o contacto do Juma, encarecidamente. Toma! Dias depois ligou-me o cronista, a revelar-me: esse meu amigo estava lhe propondo a edição das crônicas. Eu disse ao Juma que havia empresas robustas, moçambicanas, que patrocinariam seu livro sem interesse lucrativo. Ele concordou. E recordei-lhe de uma coisa: quando a crise da pandemia começou a sufocar a tesouraria da “Carta”, uma empresa dignou-se, sem pestanejar, a pagar-lhe a avença, tendo até subido o bolo.

 

O título deste texto decorre, no entanto, de outro episódio, contado pelo amigo do Juma. O cronista, segredou-me o amigo, tinha um grande apreço pela “Carta”, que vezes sem conta fora aliciado por outras publicações para deixar a “Carta” mas ele manteve-se fiel, comprometido, resiliente, mostrando que tinha os tomates no lugar e que não era aliciado por tuta e meia. (Marcelo Mosse)

terça-feira, 09 março 2021 13:51

Uma lufada de ar fresco para Armando Inroga

O antigo ministro de Guebuza acaba de ser enquadrado numa empreitada do Governo, de onde sairá com uns bons milhares de USD. Ele faz parte da equipa multidisciplinar formada para conceber a Estratégia de Desenvolvimento Resiliente e Integrado do Norte, que deverá ser concluída até Julho, para que, enfim, a ADIN comece a trabalhar. Quando saiu do Governo em fim de mandato, ele ainda foi nomeado para PCA da TVM, mas durou poucos dias. Depois veio o julgamento do camarada Jean Boustani, em Nova Iorque. Seu nome foi citado lá, era dado como imputável. Houve quem batesse as palmas e com cores garrafais pintasse seus embrulhos com conteúdo inquinado>>> vai dentro! Não foi, não! Mrs Buchile fechou os autónomos das "dívidas ocultas", já lá vão 2 ou mais meses e dai soube se que não havia evidência suficiente dele se ter molhado no banho verde do calote. E então porque não um tachozinho?

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