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Roma é uma aldeia que fica a poucos quilómetros da sede do posto administrativo de Diaca, em Mocímboa da Praia. Nesta aldeia, por volta das 05:00h de quinta-feira, os insurgentes atacaram uma viatura Canter que fazia o trajecto Mueda – Vila de Mocímboa da Praia.

 

Trata-se duma viatura que, normalmente, fazia "chapa 100" naquele troço e cujo proprietário é um agente económico de Awasse.

 

Fontes disseram que, na emboscada, três pessoas foram atingidas mortalmente: o motorista, o seu ajudante e mais um passageiro. Os outros ocupantes da viatura escaparam “por um triz”, uma vez que, no final, a viatura foi incendiada pelos insurgentes.

 

Tratava-se da segunda viatura que, na manhã da última quinta-feira, transitava naquele, ora perigoso, troço. A primeira, pertencente a um outro agente económico da vila de Mocímboa da Praia, passou sem ter sido alvo dos insurgentes.

 

Entretanto, no troço entre a vila de Mocímboa da Praia e a aldeia Anga, um cidadão escapou a uma tentativa de assalto por um grupo que trajava farda militar na manhã da mesma quinta-feira. Quando viu os assaltantes, que estavam armados, a sua frente, o indivíduo abandonou a sua motorizada e pôs-se em fuga. A motorizada acabou incendiada.

 

Refira-se que uma unidade de Militares posicionada na zona alta do bairro Milamba é acusada de protagonizar maus tratos, contra as populações circunvizinhas. No local onde estão acampados, existem mangueiras, mas nem adultos muito menos crianças podem ir colher as frutas, pois acabam sendo vítimas de maus tratos.

 

O local é um caminho “tradicional”, porém, quando as pessoas passam também são escorraçadas pelos militares. Entretanto, na comunidade de Moma, localizada entre Ulo e Nabadje, os malfeitores incendiaram várias palhotas dos residentes, sem causar mortes na mesma quinta-feira.

 

Noites intranquilas em Magaia depois de ataques dos insurgentes


Residentes da aldeia Magaia, no distrito de Muidumbe, em Cabo Delgado, afirmam que depois dos ataques protagonizados por insurgentes, nos dias 10 e 11 de Janeiro, vivem-se momentos de incerteza e de muito medo.

 

Em contato com “Carta”, um residente de Magaia disse que, no primeiro dia, os insurgentes escalaram a aldeia e mataram três pessoas, sendo que algumas casas foram incendiadas. A incursão aconteceu às 5 e às 11 horas da manhã. Enquanto os residentes se refugiavam nas matas, os meliantes permaneceram na aldeia, cozinharam, comeram e só depois saíram.

 

Dos três mortos, todos jovens, do sexo masculino, dois eram elementos da população, enquanto o terceiro era membro do fórum de policiamento comunitário.

 

Já no segundo dia, os insurgentes voltaram a Magaia, às 13:00 horas, desta feita para incendiar casas. Permaneceram na aldeia, onde circularam a bel-prazer até perto das 16:00 horas. Toda a aldeia estava agitada e os residentes refugiaram-se todos no quarto bairro.

 

“Não comemos nesse dia, pois muitos produtos queimaram-se no interior das casas, mas a nossa salvação foram as mangas. Apanhamos mangas e comemos. Dormir também foi “à maneira”, já que, tristemente, não houve resposta por parte das Forças de Defesa e Segurança” – descreveu a fonte.

 

Em Magaia, vive-se com muito medo, não há noites tranquilas, nem dias felizes desde esses ataques. (Carta)

Os ataques protagonizados pelos insurgentes que atacam alguns distritos de Cabo Delgado estão a alastrar-se um pouco por toda a região.

 

Ontem sabíamos que os ataques afectavam os distritos de Mocímboa da Praia, Palma, Nangade, Macomia e Muidumbe, mas, hoje, quem assim pensa engana-se. Os ataques já atingiram o distrito de Mueda, terra natal do Chefe do Estado, Filipe Nyusi, do Comandante Geral da Polícia e do cessante Ministro da Defesa.

 

Fontes da “Carta” contaram que, na semana passada, foi atacada uma viatura Land Cruiser muito próximo da aldeia Chapa, no troço Mueda a Montepuez, na estrada que passa pela zona de Nairoto.

 

Segundo as fontes, o ataque, que não causou mortos e nem feridos, foi protagonizado por indivíduos vestidos com farda da Polícia de Trânsito e de Protecção, que se acredita fazerem parte dos insurgentes, que há dias atacaram a aldeia Magaia, no distrito de Muidumbe.

 

Numa outra revelação, as fontes afirmaram que o primeiro ataque no território do distrito de Mueda aconteceu nas baixas da aldeia Nastengi, posto administrativo de Namatil, em Novembro do ano passado.

 

O grupo que atacou um centro de produção frequentado por residentes de Nastengi teria, na mesma semana, atacado uma outra aldeia nas baixas de Nangade e mais tarde a sede da localidade de Litingina.

 

Três agentes das Forças de Defesa e Segurança afectos no posto administrativo de Mucojo, distrito de Macomia, estão a contas com a polícia naquela região acusados de roubo de bens (no domingo passado) em alguns estabelecimentos comerciais na sede do mesmo posto.

 

Os três agentes que, até terça-feira, deviam ser levados à sede do distrito de Macomia, são acusados de vandalizar três barracas. Numa delas, ao tentarem arrombar o portão, acabaram sendo flagrados, devido ao som provocado pelos ferros do mesmo.

 

Nas tais barracas, os três agentes das FDS surripiaram um rádio, latas de atum, uma embalagem de bebidas alcoólicas e valores monetários.

 

Antes desta acção, os militares que aparentemente estavam sob efeito de álcool, primeiro, dispararam para uma casa (no bairro Muituro, arredores de Mucojo), onde havia pessoas a assistirem a um jogo de futebol da pela TV.

 

Já que, até às 19 horas, maior parte das pessoas recolhe devido à situação de insegurança que se vive na região, os três agentes aproveitaram o silêncio para protagonizar o roubo, mas, graças a um guarda de uma das barracas, foram descobertos.

 

Na segunda-feira, um dos lesados foi fazer queixa do ocorrido no posto policial e os meliantes foram localizados, conduzidos à polícia e obrigados a devolver os bens.

 

Naquela região, não é a primeira vez que elementos das Forças de Defesa e Segurança se envolvem em actos de extorsão às comunidades.

 

Segundo fontes, por várias vezes, logo a seguir aos ataques de insurgentes, elementos das FDS que acorrem ao local, ao invés de ajudar as populações, primeiro saqueiam os seus bens.

 

Em 2018, graças à denúncia popular, militares acampados na aldeia Ilala, foram obrigados, (por intervenção da administradora Joaquina Nordine), a devolver muitos painéis solares da população de Namaneco, em Quiterajo.

 

Naquelas zonas, os militares também exercem a função de polícias de trânsito: mandam parar carros, motorizadas e até cobram dinheiro. No ano passado, eram conhecidos por “Não tem 20 aí?”, pois sempre que interpelavam cidadãos pediam 20 meticais. (Carta)

“Os insurgentes não são pessoas para brincar. Além de corajosos são cruéis” – conta um dos 12 pescadores sobreviventes que, no mês de Dezembro, caíram nas malhas dos atacantes que, há mais de dois anos, criam terror em alguns distritos da província de Cabo Delgado.

 

Hoje internado na ortopedia do hospital provincial de Cabo Delgado, em Pemba, Abacar Cheba, de 48 anos de idade, ainda lembra o episódio como se tivesse acontecido hoje e explica: “Eu estava na companhia de outros 11 colegas, todos pescadores da mesma aldeia de Ilala, a que outros chamam de Cobri, fomos à praia pescar. Saímos de casa de bicicleta até à praia de uma zona chamada no Abibo, não muito distante da aldeia Pequeue.

 

Estávamos na praia, a puxarmos as redes, quando vimos os insurgentes a vir pelos coqueiros. Eram cinco homens, vestidos com farda das Forças de Defesa e Segurança. A dada distância, chamaram-nos e todos fomos. A nossa ideia era de que se tratava de agentes das Forças de Defesa e Segurança e que tínhamos de colaborar. Quando nos aproximamos, eis que nos puxaram a todos para o mesmo lugar e começaram a disparar. Primeiro para as pernas para não fugirmos, mas naquela confusão alguns dos meus colegas, mesmo com tiros, conseguiram fugir, tendo sido socorridos e levados para a aldeia Pangane, num barco a motor e de lá para o hospital de Macomia e, finalmente, foram transportados para Pemba”.

 

A vítima conta mais: “Naquele instante, os meus cinco colegas teriam sido mortos e decapitados à minha frente. Eu escapei porque enquanto atiravam quatro tiros para a minha perna esquerda, eu gritava «não há Deus, apenas um único criador», em língua árabe, foi daí que me deixaram, dizendo que «este era muçulmano». Disseram-me que iria ser salvo no hospital, levaram o nosso peixe, e as nossas bicicletas foram ali mesmo destruídas e então foram-se. Dali fiquei inconsciente até que, no dia seguinte, veio o grupo de pessoas da aldeia para enterrar os corpos dos meus colegas e eu fui resgatado”.

 

No hospital, diz estar a sentir-se bem devido aos tratamentos, entretanto, confessou que estava mais chocado quando ouviu dizer que a sua aldeia fora novamente atacada na última sexta-feira. Pelas notícias que recebeu, a sua casa foi de novo incendiada, os seus bens que estão enterrados numa mata, podendo apodrecer no esconderijo, porque a sua esposa e filhos migraram para Mocímboa da Praia, onde foram acolhidos em casa de irmão. (Carta)

Os insurgentes continuam a atacar comunidades da província de Cabo Delgado, apesar da presença das Forças de Defesa e Segurança.

 

É uma guerra que teima em progredir, numa altura em que, à escala nacional, cresce de tom o protesto da sociedade, que clama pelo fim da situação que dura há mais de dois anos.

 

O discurso da elite política para pôr fim à situação é repetitivo e em nada tem evitado a perda de vidas humanas e a danificação de vários bens.

 

Nestas suas mais recentes incursões, os insurgentes atacaram uma viatura na tarde de quinta-feira, muito próximo da aldeia Mumu, no distrito de Mocímboa da praia, mas não há registo de mortos. A viatura atacada fazia o trajecto Palma – cidade de Pemba.

 

Segundo relatam fontes, outro ataque ocorreu na madrugada desta sexta-feira, nas comunidades de Mungue e Criação, em Mocímboa da Praia, e Magaia no distrito de Muidumbe.

 

Todas estas comunidades estão próximas da estrada que vai dar ao cruzamento de Awasse.

 

As mesmas fontes descreveram à “Carta” que foram registadas quatro mortes na aldeia Criação, local onde foram igualmente incendiadas várias casas.

 

Na aldeia Magaia, foi sequestrado um jovem e um outro foi morto pelos mesmos insurgentes. O jovem sequestrado era estudante da Escola Secundária em Mocímboa da Praia, e esteve em Magaia a gozar as suas férias.
Sabe-se que os atacantes entraram na aldeia por volta das 05:00h da manhã e viriam a sair perto das 07:00h.

 

As nossas fontes asseguram ainda que não houve qualquer resposta das Forças de Defesa e Segurança.

 

Depois de Magaia, os insurgentes tentaram atacar uma viatura Land Cruiser que fazia o trajecto Mocímboa/Montepuez, muito próximo da aldeia Chapa.

 

Um grupo envergando uniformes da Polícia de Trânsito e Polícia de Protecção preparava-se para mandar paralisar o carro, mas quando o motorista viu o sinal de longe, fez manobras e inverteu a marcha, porque poucos minutos antes teria passado por um posto de controlo policial. Apercebendo-se, os atacantes abriram fogo contra a viatura.

 

Outro carro, um Nissan que seguia o Land Cruiser, também voltou no mesmo instante.

 

Os desmandos não pararam, as fontes da “Carta” disseram ter sido realizado outro ataque na aldeia Ilala, posto administrativo de Quiterajo no distrito de Macomia. As mesmas fontes afirmaram ter visto muito fogo na mesma zona (aldeias circunvizinhas a Ilala) entre 20:00h e as 21:00h, desta quinta-feira. (Carta)

Foto: O PAIS, Supostos homens armados da Junta Militar da Renamo capturados em Sofala

Três meses depois de ter apresentado seis alegados recrutadores e militares pertencente à Junta Militar da Renamo (JMR), em Quelimane, a Policia da República de Moçambique (PRM) em Sofala, veio a público esta Quarta-feira (08), apresentar mais seis supostos homens integrantes do movimento armado liderado pelo general Mariano Nhongo.

 

De acordo com a PRM em Sofala, os seis homens foram capturados no passado Domingo (05), na estação ferroviária do Dondo. Eles são oriundos de Marromeu e pretendiam seguir viagem para a região de Macorococho, no distrito de Nhamatanda. Um dos integrantes do grupo – supostamente sobrinho de Mariano Nhongo – que responde pelo nome de Aniva Bernardo, encontra-se internado no Hospital Central da Beira (HCB), após ter sido baleado na zona do tórax pelas Forças de Defesa e Segurança, quando pretendia empreender uma fuga.

 

A Polícia apresentou ainda, António Julião Mbawazi, membro da Assembleia Municipal de Marromeu, pela Perdiz, como sendo um dos principais recrutadores do grupo ora detido. Entretanto, “Carta” soube que Mbawazi terá renunciado à qualidade de membro da Renamo, após o VI congresso, alegadamente porque apoiava a lista liderada por Elias Dlhakama, candidato derrotado por Ossufo Momade.

 

Aliás, segundo fontes da “Carta”, António Julião Mbawazi é actualmente membro do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), onde terá concorrido a membro da Assembleia Provincial nas eleições de 15 de Outubro último.


Entretanto, as autoridades dizem não ter dúvidas de que os homens ora capturados pertencem à JMR e que serão levados à “barra do Tribunal”.


Segundo revelaram os mesmos terão sido aliciados com promessas de emprego.

 

No entanto, segundo a PRM, o alegado sobrinho do general Mariano Nhongo, terá confessado que participou num ataque a uma ambulância, em Agosto do ano passado.  Curiosamente, um dos indivíduos capturados afirmou nunca ter sido guerrilheiro da Renamo, mas sim militar das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), que terá sido capturado por duas vezes, sendo a primeira pela JMR, com a qual permaneceu por três meses, de onde terá fugido, até ser (re)capturado, só que desta feita pelos homens residuais da Renamo, liderados pelo Presidente Ossufo Momade. Dias mais tarde viria a ser detido pela Policia.

 

De salientar, que a apresentação destes homens acontece numa altura em que a Procuradoria-Geral da República (PGR) notificou quatro “figuras de proa” da Perdiz –  Ivone Soares, actual chefe da Bancada Parlamentar; Manuel Bissopo, deputado e antigo secretário-geral; José Manteigas, Porta-Voz e António Muchanga, deputado – cujas audições começaram esta Quarta-feira (08), em Maputo. (O.O.)

Figuras de proa da Renamo, o maior partido da oposição no xadrez político nacional, foram notificadas para prestar esclarecimentos na Procuradoria-Geral da República (PGR). Trata-se de Ivone Soares (chefe da bancada parlamentar da Renamo), José Manteigas (deputado e membro da Comissão Permanente e porta-voz do partido), Manuel Bissopo (deputado e membro da Comissão Permanente) e António Muchanga (deputado). Para já, a audição de Manuel Bissopo está agendada para o dia 8 do presente mês de Janeiro.

 

Em causa, soube “Carta”, estão os ataques que têm estado a ocorrer nas províncias de Sofala e Manica, região centro do país, cuja autoria moral e material, de acordo com a Polícia da República de Moçambique, é imputada à auto-proclamada Junta Militar da Renamo, liderada por Mariano Nyongo.

 

A notificação, da lavra de Beatriz de Buchili, Procuradora-Geral, é datada da última sexta-feira, 03. O expediente, endereçado à Presidente da Assembleia da República, deu entrada na Secretaria daquele que é o mais alto e importante órgão legislativo do país na própria sexta-feira.

 

A notificação deriva do facto de estarem a correr “termos autos de instrução preparatória registado sob o número 1621/2019”.

 

O processo nasce na sequência das declarações proferidas por um grupo que confessou pertencer à auto-proclamada Junta Militar da Renamo, o qual depois de ter sido capturado pela PRM, na Zambézia, acusou os deputados da Renamo de serem os financiadores dos ataques armados na região centro e, consequentemente, a própria Junta Militar.

 

Para além de Ivone Soares, Manuel Bissopo e António Muchanga, o grupo mencionou os nomes de Elias Dhlakama, irmão mais novo do então presidente do partido, Afonso Dhlakama, e do deputado Sandura Ambrósio.

 

O grupo foi preso no dia 12 de Novembro de 2019, quando levava a cabo um recrutamento de jovens para a implantação de bases daquele movimento rebelde, na província da Zambézia, concretamente nos distritos de Morrumbala, Milange e Namarroi.

 

“Carta” falou com os visados

 

Ainda na tarde de ontem, “Carta” chegou à fala com alguns dos visados. José Manteigas e António Muchanga foram unânimes em afirmar que receberam as respectivas notificações. No entanto, os dois deputados disseram que ainda não tinham qualquer informação concreta sobre a razão para a sua convocação pela PGR, prometendo dar mais detalhes esta terça-feira.

 

Todas as tentativas de entabular conversa com Ivone Soares redundaram num autêntico fracasso, precisamente porque esta simplesmente não atendeu às nossas insistentes chamadas. Também não conseguimos falar com Manuel Bissopo porque os seus números encontravam-se desligados. “Carta” contactou também Elias Dhlakama, igualmente mencionado pelo grupo como sendo um dos financiadores. Este, de forma peremptória, afirmou não ter ainda recebido qualquer notificação da PGR. (Carta)

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