Um amigo recém-chegado das províncias contou-me da turbulenta experiência de tomar um café e a de passar em revista alguns periódicos num café da Av. Julius Nyerere, a parisiense ChampsÉlysées da Cidade das Acácias. O motivo: a poluição sonora soberana e conexa.
Mal ele chegara ao café, e ainda na matinal solenidade dos cumprimentos, as sirenes da Ponta Vermelha interromperam a fala da cortesia. “Ainda não é nada Boss”. Era a voz do servente que o atendera e que decidira intervir diante dos sinais de estupefação do seu mais recente cliente.
Depois da ordem do pedido: uma outra sirene, um outro órgão de soberania. Com a chegada do café: idem. No decurso do manuseamento do adoçante: ibidem. E assim sucessivamente até que ele, penosamente, terminara o café.
Pelas suas contas todos os órgãos de soberania já haviam desfilado na passerelle e de que chegara, finalmente, o momento para a sua habitual leitura matinal. "Boss, agora é a vez da Segunda Liga Sonora”. E da passerelle, o desfile sonoro de outros timoneiros da governação nacional e municipal.
Do pouco que o amigo conseguira ler dos periódicos, uma das notícias reportava sobre o impacto sinistro, entre outros males, da corrupção, da falta de transparência e do défice de comunicação pública na governação do país e na vida do cidadão.
"A conta". No decurso do seu pagamento, o amigo visitante, que enquanto mostrava ao solícito servente a notícia acima, segreda-o: "Por conta disto era suposto que eles passassem de fininho".
Nando Menete publica às segundas-feiras
A primeira impressão que tenho dele, ao vê-lo, é de que estamos perante uma figura frágil, pela forma como se move pisando a terra na vertical. Fica-nos a imagem de um taciturno. Um indivíduo com medo de avançar. Ele tacteia o chão com a perna direita que baila no ar antes de assentar a leve planta do pé. Dança hesitante uma dança desconhecida, em contraste com a voz límpida onde mora toda a sua alma. Aliás, é com a voz timbrada que combate todas as vicissitudes, e leva os delírios dos estádios à todos os cantos das nossas casas. E a todos os lugares.
Mas também com o nome de João, tinha poucas possibilidades de não luzir, e ele fez isso, como se as auroras lhe pertencessem. João de Sousa é um megafone elegido, através do qual vamos receber todo o turbilhão dos campos de jogos, que agora voltam a vibrar depois do silêncio após o último suspiro de uma estrela que nunca descansou. E se a vida é inesperada, então a própria morte também o é. Como agora, que ruíu para sempre esse pilar que sustentava na sua medida e peso, a plataforma do desporto nacional.
Os xiricos e os grundigs e os philips, derrubados pela tecnologia imparável, lembram-se com certeza, mesmo nas catacumbas, da voz do João de Sousa. Ele vibrava com as multidões que foi alimentando durante tempos sem fim. Como se cada relato fosse o último, ou o primeiro, numa longa jornada de vida levada na intensidade. A sua arma era o microfone, funcionando como escafandro na penetração das peripécias do jogo. E tudo o que ele fazia, passava primeiro pela filtração do fogo, como o ouro que se pretende puro.
É esta a figura que excedeu os limites, mostrando igualmente, a par do conhecimento profundo sobre o desporto, a sua desmedida paixão pela música. Pela boa música. E nunca será repetitivo dizer isso, pois, programas como “O fio da memória” e “História das Músicas”, trazem-nos uma pessoa culta e preocupada em renovar as memórias. Ele tinha medo que a juventude se perdesse, por não saber de onde vêm estes ventos todos que fundamentam a arte e a cultura. Não queria ser cúmplice da falta de testemunho.
Agora cabe-nos prestar vénia ao homem de convicções inabaláveis. Que se recusou a abandonar os mares, pois sem as águas, as guelras do João de Sousa deixariam de insuflar oxigénio para alma. Haveria a morte por dentro. É por isso que estava sempre alí, no centro social da Rádio Moçambique onde se juntava aos amigos, aos velhos amigos, atraindo também a juventude que queria ser como ele. Eram as pessoas e os jogadores e os amantes do desporto que lhe faziam viver, como se estivesse no marulhar dos grandes estádios, onde a sua voz de ouro misturava-se com o entusiasmo das multidões.
João de Sousa, um facebookista generoso, nunca se cansou de nos lembrar os feitos de grandes figuras do desporto e da cultura, e também da política. Esse gesto deixava-lhe com o coração cheio. Os likes e os comentários que recebia de inúmeros facebookistas que lhe seguiam, eram o sinal de que a vida só é bela quando a partilhamos. E João fazia isso com alegria. Com entusiasmo. Com engajamento. E continuou a fazê-lo mesmo estando no derradeiro desfiladeiro da vida, sem saber que estava.
Quando ele partiu, para sempre, era como se o estádio da Machava estivesse abarrotado no tempo dos Xiricos e dos Grundgs e dos Philips, aplaudindo um jogo que vai começar daqui a pouco. Os que não puderam ir estão em casa colados aos receptores, ansiosos, e no estúdio da Rádio Moçambique está um locutor que chama: alô João de Sousa, alô João de Sousa! E o relator não consegue entrar em linha, há um problema de retorno. Alô João de Sousa, alô João de Sousa! Nada!
Os técnicos que estão no campo, e outros técnicos que estão na sede, entram em pânico porque não conseguem ouvir do outro lado a voz do João. Alô João de Sousa, alô João de Sousa! Também nada!
O ambiente do público é que triunfa: hooooooooooo!!!! Hooooooooo! Mas João de Sousa, nada! Os técnicos insistem e....nada! E o jogo já decorre há meia hora, intenso, com a nossa selecção a ganhar por duas bolas a zero.
Alô João de Sousa, alô João de Sousa! Até que o relator, finalmente, passado o tempo de sofrimento, responde quando decorria o segundo tempo: Boa tarde estimados ouvintes! Faltam dez minutos para terminar a partida, Moçambique ganha por duas bolas a zero. O estádio está completamente cheio, com pessoas penduradas nos postes de iluminação. A nossa selecção está endiabrada. É indiscritível o que está a acontecer no Estádio da Machava......
Apesar de nos dizer que é indiscritível o que está a acontecer, ele descreve tudo de forma detalhada, numa situação em que o tempo não lhe dá muito pano para mangas. O juiz apitou pela última vez, permitindo a que João de Sousa gritasse: termina a partida! Moçambique ganhou por três bolas a zero!
Mas o guerreiro deixou as armas cá fora para quem as quiser aproveitar. O cheiro do João de Sousa impregna-nos como país, que ainda tem muitos golos por marcar. Ainda teremos muitos jogos por realizar, com a voz do João em “off” na memória. As músicas do “O fio da memória” e de “História das Músicas”, iremos cantá-las nas madrugadas em que já não seremos nós os ouvintes, mas o João que nos escutará no silêncio do pós-atmosfera. Também os pavilhões de básquetebol ressurgirão sem o João, lembrando as noites de glória. Era o João que gritava: sacôôôôôô!!!!!!!
*Texto em homenagem a João de Sousa, pela pasagem dos quatro anos após a sua morte
O processo de libertação nacional e o pós-independência permitiram que moçambicanos de várias regiões buscassem novas oportunidades de vida, alguns devido a circunstâncias obrigatórias e outros por motivos profissionais. A reestruturação estatal levou muitos militares macondes e não só a se deslocarem em massa para Maputo, onde estabeleceram residência e formaram famílias. Algo profundo com eles veio - a identidade cultural.
Desde que se fixaram por aqui, os ritos de iniciação e as manifestações culturais do povo maconde sempre estiveram presentes. Uma área específica tornou-se a catedral deles - a capela da zona militar e as casas à sua volta. Esse local não se tornou apenas um centro de encontro para os macondes, mas também um ponto de convergência para todos os moçambicanos.
O espaço não está em condições e sequer um dia mereceu algo que pudesse incentivar a prática e a preservação da identidade cultural. Maltratados, mas resilientes, jovens descendentes e naturais de Cabo Delgado ainda mantêm viva e firme a prática de mapiko, n’goma, nkamango, likumbis e demais manifestações.
Apesar de não estar em condições ideais, esse espaço, especialmente próximo à capela, deve ser reconhecido como uma reserva cultural urbana de importância internacional. Deveria ser um local dedicado à preservação da história e das tradições macondes que por ali se enraizaram.
Infelizmente, a zona militar é subutilizada e merece uma reestruturação. Poderia se transformar num ponto turístico de destaque na cidade, semelhante à Mafalala, mas com um toque sofisticado, oferecendo hospedagem, restaurantes e eventos culturais regulares.
Precisamos de uma visão que reconheça e promova as manifestações culturais já presentes no local. Turistas nacionais e internacionais têm interesse em testemunhar a arte e aprender mais sobre a cultura maconde e não só.
Que a vontade de transformar em condomínios de luxo aquela zona não mate o traço único dos macondes, que carregaram consigo do planalto e, hoje, exaltam na capital de todos nós.
O processo de libertação nacional e o pós-independência permitiram que moçambicanos de várias regiões buscassem novas oportunidades de vida, alguns devido a circunstâncias obrigatórias e outros por motivos profissionais. A reestruturação estatal levou muitos militares macondes e não só a se deslocarem em massa para Maputo, onde estabeleceram residência e formaram famílias. Algo profundo com eles veio - a identidade cultural.
Desde que se fixaram por aqui, os ritos de iniciação e as manifestações culturais do povo maconde sempre estiveram presentes. Uma área específica tornou-se a catedral deles - a capela da zona militar e as casas à sua volta. Esse local não se tornou apenas um centro de encontro para os macondes, mas também um ponto de convergência para todos os moçambicanos.
O espaço não está em condições e sequer um dia mereceu algo que pudesse incentivar a prática e a preservação da identidade cultural. Maltratados, mas resilientes, jovens descendentes e naturais de Cabo Delgado ainda mantêm viva e firme a prática de mapiko, n’goma, nkamango, likumbis e demais manifestações.
Apesar de não estar em condições ideais, esse espaço, especialmente próximo à capela, deve ser reconhecido como uma reserva cultural urbana de importância internacional. Deveria ser um local dedicado à preservação da história e das tradições macondes que por ali se enraizaram.
Infelizmente, a zona militar é subutilizada e merece uma reestruturação. Poderia se transformar num ponto turístico de destaque na cidade, semelhante à Mafalala, mas com um toque sofisticado, oferecendo hospedagem, restaurantes e eventos culturais regulares.
Precisamos de uma visão que reconheça e promova as manifestações culturais já presentes no local. Turistas nacionais e internacionais têm interesse em testemunhar a arte e aprender mais sobre a cultura maconde e não só.
Que a vontade de transformar em condomínios de luxo aquela zona não mate o traço único dos macondes, que carregaram consigo do planalto e, hoje, exaltam na capital de todos nós.
“O Cidadão Armando Emílio Guebuza e a Cidadã Maria da Luz Dai Guebuza não passam por momentos de muita felicidade, em suas vidas privadas! Lembre-se que a filha, Valentina Guebuza, foi barbaramente assassinada e o filho, neste momento, encontra-se enclausurado devido às famosas “dívidas não declaradas”. Contudo, porque Armando e Maria não se conheceram num passeio de praia ou de lazer, são pessoas que se conheceram no sofrimento, com a celebração dos 50 anos de casamento, vulgo “BODAS DE OURO”, mostram-nos que na vida existem momentos de felicidade e de tristeza, mas o mais importante é saber viver e conviver com tudo, porque a vida continua. Obrigado Armando Emílio Guebuza! Obrigado Maria da Luz Dai Guebuza, por mais esta lição de vida.”
AB
“A única coisa de que me lembro vivamente é de um acidente que tive. Estava fazendo um carrinho de criança. Para fazer as rodas utilizava caniço e era preciso cortá-lo com a faca para fazer o encaixe. E então, saiu-me este dedo aqui. Fiquei marcado para toda a minha vida.”
Armando Guebuza, In 69 anos, 1943 – 2012.
Não fui convidado, na celebração dos 50 anos do casamento entre Armando Emílio Guebuza e Maria da Luz Dai Guebuza, mas assisti parte da cerimónia, através das redes sociais, que desde as primeiras horas foram divulgando o evento ao pormenor, tornando-o mais popular do que se podia imaginar. A força das redes sociais, hoje, é superior a qualquer canal televisivo e as redacções de órgãos de comunicação, quer públicas ou privados, devem ter consciência disso.
Aquilo que para certos círculos poderia se considerar sem relevância nacional ou pública, tornou-se o assunto de suma importância, na minha opinião, por duas razões, a saber:
1) Armando Guebuza, para além de funções recentes de Chefe do Estado, desempenhou funções relevantes desde 1963. Sim, em 1963, quando decidiu aderir à FRELIMO em pleno Lourenço Marques e, nessa altura, já era uma pessoa a ter em conta, no âmbito do associativo estudantil;
2) Armando Emílio Guebuza é um exemplo no que diz respeito à solidariedade matrimonial, quer como Presidente da República e, sobretudo, como cidadão, mostrou, publicamente, o comprometimento familiar, estando sempre ao lado da sua amada esposa. O caro leitor pode questionar sobre a educação dos filhos, mas isso pode ser a consequência da entrega à causa do povo, do empenho nas tarefas político-partidárias e do Estado Moçambicano que, como se pode ver, ocuparam Armando Guebuza, pela vida inteira. Veja abaixo.
As tarefas aqui elencadas referem-se, tão somente, ao período do Governo de Transição e no Pós-independência. Mas, na verdade, Armando Guebuza, como referi atrás, vem se ocupando de causas de todos nós, desde a tenra idade. Das pesquisas que fiz sobre Armando Emílio Guebuza, por exemplo, fiquei a saber que começa a fumar na Cadeia Civil de Lourenço Marques, para onde fora preso, enquanto estudante e deixa de fumar nos anos 1967, devido à pressão de activistas anti-tabagistas. Entretanto, retoma o consumo do tabaco nos anos 1980, aquando da independência do Zimbabwe, passando do cigarro para o Charuto e do Charuto para o Cachimbo. Muito interessante esta constatação para mim, porque mostra, de forma clara e objectiva, que mesmo aquilo que aos olhos do mundo parecia vício de um jovem como outros, não é bem assim!
Falar de Armando Emílio Guebuza, é falar de um cidadão comprometido com a causa nacional, quiçá, com causas do mundo. Armando Guebuza é um cidadão cuja presença não deixa ninguém indiferente, seja porque se simpatiza com ele ou porque se trata de alguém com quem não se tem nenhum prazer de cruzar na rua. Mas, para todos os efeitos, provoca a sensação de presença de alguém, a quem se deve respeitar ou simplesmente odiar. Essa é, na minha opinião, a personalidade de Armando Emílio Guebuza. A nível pessoal, não tenho muito a dizer, mas a forma como se apresenta publicamente, com a sua esposa Maria da Luz Dai Guebuza, faz de Armando Guebuza um homem de quem nos devemos inspirar.
Acredito que existam muitas pessoas anónimas, como o casal Guebuza, contudo, no que diz respeito a figuras públicas, sobretudo, figuras políticas, Armando Emílio Guebuza e Maria da Luz Dai Guebuza são um caso particular, um caso a parte! Isto, claro, na minha opinião pessoal, por isso, dedico-lhes esta reflexão, uma reflexão por ocasião dos seus 50 anos de casados e devo dizer, aqui e agora, que esta reflexão surge, ou melhor, a ideia de uma reflexão surge depois de ver a abertura de sala por ocasião do casamento ou das bodas de Ouro. Uma música bem sugestiva, uma música que revela a essência de Armando Emílio Guebuza, um Pan-africanista!
“Talvez sejamos o único continente que partilha tantas cores nas bandeiras nacionais onde predomina o verde, amarelo, azul, preto, branco, que procuram expressar, de forma gráfica, o nosso património material e imaterial, bem como o orgulho que sentimos de sermos africanos, donos dos nossos recursos e o reconhecimento de quão custou a nossa liberdade e o nosso apego à paz e à unidade”.
“Retribuindo a solidariedade que recebemos, acolhemos nas nossas Zonas Libertadas, em Moçambique, neste processo de Luta de Libertação, ainda como Movimento de Libertação, outros nacionalistas que connosco vinham aprimorar os fundamentos da guerra de guerrilha. Depois de hastear a nossa bandeira multicolor, acolhemos igualmente os movimentos de libertação e cidadãos perseguidos por se oporem aos regimes ditatoriais nos seus países”,
In Armando Guebuza, Adis Abeba, por ocasião dos 50 anos do Pan-Africanismo e Renascimento de África.
O Cidadão Armando Emílio Guebuza e a Cidadã Maria da Luz Dai Guebuza não passam por momento de felicidade social, lembremo-nos que têm o filho preso e ainda choram a morte da filha, mas sendo uma família criada e temperada no sofrimento, não quiseram deixar este marco histórico, ou seja, os 50 anos de casamento passarem em claro, mostrando as famílias moçambicanas que na vida há de tudo, o importante é saber viver e conviver com isso. Mais uma vez, motivo de evocar e homenagear este casal que se conheceu nas matas de luta de libertação nacional de Moçambique e, apesar de estarem em nova fase, continuam juntos e firmes, vieram, publicamente, renovar o matrimónio. Obrigado família Guebuza, por este gesto humano!
Adelino Buque
Mas o que retornou ao pó de onde veio é a minha carne, não sou eu. Eu continuo viva em espírito, levitando nos mesmos palcos que fizeram de mim a parte pequena da luz do universo. Estou nesses escaparates em silêncio, sem dizer nada, mantendo porém o entusiasmo e a euforia dos tempos em que, como uma das pétalas do Eyuphuru, esvoaçava com alegria, usando a minha voz de passarinha matinal. Não me canso de agradecer aos briosos rapazes macuas que me encontraram na rua sem direcção e disseram, Zena, venha connosco!
Vivi os momentos mais felizes da minha vida, amalgamada numa banda alimentada por búzios de Muhipiti, parecia eu o motor, mas não, o motor era o próprio Eyuphuru, então esses rapazes eram a minha catapulta, sem eles jamais seria alguma coisa.
Recordo-me ainda das actuações inolvidáveis que fizemos no Mundo, com batuques e violas acústicas, aplaudidos sem parar pelas massas populares que vinham até nós, de vários cantos, atraídos pela nossa perfomance e pela voz do Gimo e da minha também. O Eyuphuru colocava-me como a estrela deles, são eles que me davam a luz, como o sol que faz isso à lua. Na verdade a luz que acendia em mim não era minha.
Hoje estou aqui de novo para agradecer ao Eyuphuru, não me canso, é por isso que sou feliz. Quando eles vão aos palcos, agora que sou uma galaxina, vou também e fico em silêncio ouvindo tudo e no fim do espectáculo recuso-me a ir com eles aos camarins, desço ao chão da plateia onde me junto ao mar de gente e ovaciono juntamente com aqueles que sempre nos aplaudiram. E como tenho esta possibilidade, aclamo também o Gimo Remane lá longe.
Sou eu, a vossa paixão, que um dia teve o privilégio de ser um poço elegido, ao mesmo tempo uma passarinha, como é bom! Afinal o meu corpo não passava de uma carcaça onde minha alma morava! Mas passei toda a vida cuidando dessa carne agora putrefatacta e tornada banquete dos vermes, com banhos diários e perfumes e batons e cremes, para que houvesse nela o brilho. Porém isso não me entristece, sem o corpo que me acolhia, não teria sido conhecida por vós.
Agora estou aqui em cima ouvindo música sem fim, e cantando também em coros transcendentais no seio dos meus antepassados e dos anjos anunciados. Os movimentos que aqui se fazem são comandados pelas harpas e cítaras e solfejos. E tudo isso faz-me lembrar os tempos áureos do Eyuphuru, é por isso que vim hoje para dizer Ochukuru!