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Carta de Opinião

segunda-feira, 27 novembro 2023 09:10

Izidine Malache: um “velho lobo” ao pôr do sol

Apesar de estar a viver numa cidade por demais pacata como Inhambane, Izidine Malache passa despercebido, como a lua numa grande metrópole onde quem reina é o néon. Naturalmente que já não vai aos campos de futebol submeter-se aos intensos delírios das massas, com a grande responsabilidade de ajuizar os lances, indicando com o estridente apito os sinais dos jogos, mas ele anda por aqui, mantendo a postura física de quem viveu segundo as regras de um desportista disciplinado.

 

Izidine Malache pertence a uma tribo de árbitros da primeira água, que brilhavam e mantinham ordem nos relvados e nos pelados nas décadas de 80 e 90, quando o futebol que se praticava era de topo, então, eles também – os árbitros – não podiam estar à baixo dessa bitola. Era à volta da sua órbita que gravitava toda a classe suprema dos jogadores. E Malache destacava-se na elite da arbitragem moçambiana.

 

Passou a vida inteira em Maputo, a partir de onde viajava por todo o território nacional a arbitrar jogos dos inolvidáveis campeonatos nacionais, por tudo que nos ofereciam, tendo como actores principais, futebolistas muitos deles injustiçados por lhes ter sido vedado o caminho da glória, por políticos que jamais vão perceber que o desporto ergue a nossa bandeira. E nesse fervor que acontecia do Rovuma ao Maputo, Izidine Malache destacava-se pela competência e serenidade e humildade.

 

Há 25 anos que está em Inhambane, um lugar que entra em consonância com o caracter de um homem feito para não empurrar as pessoas. Investe o seu tempo numa escola de condução onde é gestor, e é admirável a manutenção da sua condição física que parece de um jovem de 20 anos. Ele caminha a pé nas ruas da cidade, e já me disse uma vez, “andar de carro numa cidade tão pequena para quê!”.

 

Pois é! Izidine Malache não reivindica galhardetes. Nunca falou disso nos momentos em que nos encontramos e nos saudamos como velhos conhecidos e falamos de pequenas coisas, mas na despedida nunca vai faltar a lembrança de uma memória dos grandes tempos em que pressão do público era avassaladora. O árbitro precisava de “nervos de aço” para aguentar aquilo, e Malache sempre teve os “badalos” no lugar, até hoje, que não se atrapalha com os desconhecidos, mesmo que estes se aproximem dele prescrutando-o com o olhar, sem dizer nada.

 

Mas se calhar a cidade de Inhambane, composta maioritariamente por jovens, que não acompanharam os tempos áureos do nosso futebol, ainda não percebeu que tem no seu seio um “velho lobo” que anda pelas ruas livremente sem chatear a ninguém. E esse “velho lobo” chama-se Izidine Malache, cujo nome está nos escaparates de ouro da arbitragem moçambicana. O resto ficará por conta da história.

Um amigo, por sinal de infância, que esteve na proclamação dos resultados das sextas eleições autárquicas segredou-me que a sensação que tivera à saída da sala onde decorrera o evento, na UEM, foi igual a que tivera à saída do jogo dos “Mambas” contra a Argélia, no Zimpeto, no pretérito final de semana. Para ele, nas duas situações, o país merecia ter ganho.

 

De toda a maneira, a esperança de que nos próximos jogos os “Mambas” a sorte será outra, pois ficou demonstrado contra a Argélia de que é possível. Quanto aos pleitos eleitorais, a unanimidade de que nos próximos pleitos a sorte será a mesma, pois ficou demonstrado nestas sextas eleições autárquicas de que não basta meter golos.

 

Quando o perguntei “E agora?”, respondeu-me de que a solução para este país passava pelo recurso ao método do “Zero a Zero” que o invocávamos na infância quando a confusão se instalava durante uma partida de futebol ou de qualquer outra modalidade ou brincadeira.

 

O método era simples: na falta de consenso, a unanimidade pelo recurso ao “Zero a Zero” que consistia em recuar tudo às condições existentes no início da partida, incluindo o resultado. No caso em apreço – o rescaldo das sextas eleições autárquicas - o que consistiria o “Zero a Zero”?

 

A pergunta esta no ar, mas vai uma proposta de partida: no mínimo que se levantassem/interditassem os nomes e símbolos da FRELIMO, RENAMO e MDM. Que estes partidos para os próximos pleitos eleitorais procurassem novos nomes e símbolos. Que tal?

 

Nando Menete publica às segundas-feiras

 

PS: Para quem viu a novela brasileira “O Clone”: é de doer ver o nome que trouxe a independência do país “a ser arrastado na Medina”.

Apesar das mudanças profundas na área económica, com efeito a partir do ano 1987, com o PRE – Programa de Reabilitação Económica e com a entrada em vigor da nova Constituição da República em 1990, que advogava o multipartidarismo e a economia do mercado, Carlos Cardoso manteve a sua veia socialista, ou seja, não se aproveitou da posição privilegiada que tinha, para o locupletamento indevido, antes pelo contrário, denunciava esse enriquecimento fácil de muitos “camaradas” e expunha as formas como isso acontecia e muitos não gostavam da nova forma de estar de Carlos Cardoso.

Conheci-o e com ele privei, graças ao meu colega Belmiro Baptista, a quem Cardoso recorria para se consultar sobre assuntos de natureza económica. Hoje, 23 anos depois do seu bárbaro assassinato, quero, através deste pequeno trecho de reflexão, homenagear aquele que considero um dos grandes ícones do Jornalismo Moçambicano. Aliás, Carlos Cardoso merecia que o Sindicato Nacional de Jornalistas de Moçambique organizasse um Simpósio para homenageá-lo. Espero que um dia se lembrem. Bem haja Cardoso.
 
AB

“Os anos 90 trouxeram a paz para Moçambique, mas também uma profunda reestruturação económica e um programa de privatizações. Carlos Cardoso acompanhou, com incredulidade, o emergir de uma classe que enriquecia devido ao seu acesso privilegiado aos antigos recursos estatais. E, ao que parece, a sua determinação em expor as ilegalidades desse processo acabou por lhe custar a vida”.

In BBC para África, o mais mediático Julgamento de Moçambique


“Iniciou a actividade jornalística em 1975, no semanário Tempo. Continuou na Rádio Moçambique e na Agência de Informação de Moçambique (AIM), onde foi director por dez anos. Durante vinte anos exerceu o jornalismo como uma forma de contribuir com o seu país.

O jornalista também se dedicou às artes plásticas e realizou sua primeira exposição de pintura no ano de 1990, na cidade de Maputo, denominada de "Os habitantes do forno".

Depois de vários anos trabalhando em órgãos de imprensa do Estado (os únicos que existiam em Moçambique até à abertura política), Cardoso foi membro fundador da primeira cooperativa de jornalistas, a Mediacoop, proprietária do semanário "Savana" e do diário Mediafax, em 1992. Em 1997, fundou o seu próprio diário, também distribuído por fax, o "Metical" que, tal como o nome indica (Metical é a moeda de Moçambique), era virado essencialmente para questões económicas”.
In Wilkipedia.

Conheci o jornalista Carlos Cardoso e com ele privei por algum tempo, durante a minha iniciação na publicação de artigos que abordavam assuntos de natureza social e económica para os Jornais. Cheguei a publicar nos meios em que esteve envolvido, como é o caso do Mediafax, Savana e Metical. Não me lembro de ter publicado nenhum artigo nos órgãos de comunicação estatal. Carlos Cardoso era exigente do ponto de vista de fontes do que se escrevia e, sempre que possível, procurava informar-se da veracidade, no caso de implicar alguém.

O meu convívio com Carlos Cardoso também se deveu ao facto de ser colega do Belmiro Baptista, na altura, Director Geral da Empresa Nacional de Comercialização EE. Na verdade, Carlos Cardoso encontrava-se muitas vezes com o meu colega, para se consultar sobre matérias relacionadas à economia e factos que Carlos Cardoso precisava de aprofundar mais. Encontrava no meu colega uma fonte segura para se informar. Nessa altura, também se falava de política, sobretudo, devido à falta de confiança que Cardoso começava a ter pelos membros da Frelimo, o partido a que se dizia ser “membro sem cartão”.

Pessoalmente, admirava Carlos Cardoso pela forma directa e destemida como abordava os assuntos políticos e económicos. Lembro-me que, nas eleições de 1999, depois da votação, na companhia do meu colega, encontrei-o próximo do Restaurante Madjedje e, quando questionado sobre o que achava das eleições, disse sem papas na língua: “O Presidente pode ganhar estas eleições, mas a Frelimo não”. Justificava a sua afirmação com o facto de no seio dos membros da Frelimo ter-se perdido o princípio de humildade, que os membros da Frelimo se tinham tornado numa elite de burgueses e não respeitavam o povo.

A área predilecta de Carlos Cardoso no jornalismo foi o jornalismo de investigação. O Banco Comercial de Moçambique e o Banco Austral terão sido, provavelmente, a razão do seu assassinato. Vale lembrar aos mais novos que o julgamento das “dívidas ocultas” não é o primeiro a realizar-se na cadeia de máxima segurança, vulgo B.O. Trata-se do segundo caso. O primeiro foi o caso Carlos Cardoso, por isso Carlos Cardoso marcou, de forma indelével, a vida dos moçambicanos e de Moçambique, sobretudo, daqueles que se batem pelo uso correcto do bem comum.

Os jornalistas moçambicanos, sobretudo o Sindicato Nacional de Jornalistas, parece-me estarem em dívida com Carlos Cardoso. Não faz sentido que um dia como hoje, 22 de Novembro, dia em que foi assassinado Carlos Cardoso, passe sem nenhuma actividade relevante da classe, ainda que fosse somente para uma conversa sobre a vida e obra deste ícone de jornalismo Moçambicano. Algo não está certo na classe. Devemos reflectir.

Adelino Buque

terça-feira, 21 novembro 2023 20:56

Mandela teria evitado o 11 de Outubro

No filme Invictus  (2009), do cineasta Clint Eastwood, Nelson Mandela, o então recém-eleito presidente da África do Sul em 1994, recorre ao campeonato do mundo de rugby, realizado em 1995, na sua terra e ganho pelo seu país, como uma ferramenta política do seu governo (1994-1999) para promover a reconciliação racial entre brancos e negros no pós-apartheid, evitando assim o agudizar do conflito que, na altura, esteve à beira de uma guerra civil.

 

Por alto, retenho uma das passagens do filme, em que a ala dura do partido de Mandela pressionava-o para que se retirassem os símbolos – como a cor do equipamento - que a selecção sul-africana de rugby usava, pois tais símbolos representavam a era do Apartheid.

 

Mandela defendeu para que assim não fosse, acautelando de que não se podia tirar aos compatriotas brancos o pouco que os restava. Deste pronunciamento, subentende-se a preocupação por consequências imprevisíveis por tal acto. Lembrar que o rugby, o desporto-rei da população branca, é praticado na sua maioria por esta franja da sociedade sul-africana e é um seu símbolo identitário. 

 

Intramuros, e no âmbito dos acontecimentos ligados ao 11 de Outubro, o dia da votação das sextas eleições autárquicas, acirrados com a divulgação dos resultados pela Comissão Nacional de Eleições, venho pensando neste filme, sobretudo na mensagem de Mandela.

 

Diante dos dados, ora no Conselho Constitucional, penso que Mandela teria feito semelhante intervenção, evitando assim este escaldante calor social que temo que esteja, por estes dias, disfarçado ou em fermentação, se fazendo passar pelo calor natural que também tem abalado o grosso do país.

 

E porque Mandela esteve ausente na resolução de apresentação e divulgação dos resultados, que haja Mandela no acórdão de validação e proclamação mais esperado de sempre.

 

Nando Menete publica às segundas-feiras

“Não há dúvidas de que a agricultura, indústria transformadora e o turismo são os sectores que deveriam merecer a melhor atenção para o relançamento da nossa economia, contudo, para que esses sectores tenham sucesso, é importante que se relance o princípio de “produza e consuma Moçambique” e dar primazia a instituições que assim se comportam nos concursos públicos de fornecimento de bens e serviços, através da atribuição do distintivo “Made in Mozambique”, um selo que premeia as empresas que se distinguem no consumo de produtos nacionais. São o exemplo a seguir no trabalho digno e são pagadores das suas obrigações fiscais e outros”.

 

AB

 

“Num País, com o nível de dificuldades que nós temos, do financiamento à economia, era possível haver uma estratégia relacionada ao Banco Central e … numa definição, dois ou três sectores prioritários, para o relançamento da economia e pedir aos Bancos que canalizem até um determinado montante aquilo que eles depositam nas reservas obrigatórias. Canalizassem a esses dois ou três sectores a taxas bonificadas porque ganharíamos todos, ganharia a economia a ser financiada, ganhavam os Bancos que não estavam a taxa zero no Banco Central e ganha a economia como um todo”.

 

In João Figueiredo, no Economic Briefing CTA

 

Tem sido objecto de debate o financiamento da nossa economia e, pelos dados que amiúde vêm sendo divulgados, os recursos financeiros são canalizados para os sectores menos produtivos e com baixo contributo para o PIB nacional, como é o caso do comércio. No entanto, a agricultura contribui com 25% do PIB, mas recebe qualquer coisa como 3 a 4% do financiamento, ou seja, o financiamento à agricultura, que é o suporte da economia, é feito com base em recursos familiares, o que parece uma distorção e que deve ser corrigido com urgência. Entretanto, a questão é: quais são os sectores que podem servir de alavanca para a nossa economia? Na minha opinião, são três, a saber:

 

  • Agricultura;
  • Indústria transformadora e;
  • Turismo.

 

Se considerarmos que mais de 80% da nossa população trabalha na agricultura, e que a agricultura, que contribui para o PIB com 25%, é do tipo familiar, isto significa que o potencial de crescimento deste sector é enorme e resolve-nos o essencial de um País, que é o combate à fome e, ao mesmo tempo, pode equilibrar a balança de pagamento, evitando a importação de produtos, cuja produção é possível e sem recurso a grandes tecnologias.

 

A produção Agrícola, à escala comercial, também pode permitir a retenção de jovens nas zonas rurais, limitando, dessa forma, a migração campo/cidade e com as consequências que isso tem trazido para a superlotação das cidades e vilas pelo País. Não só a taxa de desemprego iria baixar, como também a criminalidade, resultante de ociosidade, baixaria e teríamos as cidades e vilas lugares livres de crimes e com boas condições para se viver.

 

Relativamente à indústria transformadora, a ideia seria financiar a transformação dos principais produtos agrícolas e evitar a exportação em bruto da maior parte da nossa produção. Essa indústria poderia, igualmente, conservar produtos cuja produção é sazonal como, por exemplo, tomate, citrinos, algumas hortícolas, carnes, peixe entre outros. Esta indústria, devidamente acarinhada, poderia também empregar muita gente e contribuiria, sobremaneira, para o desenvolvimento da nossa economia, como diz o Dr. João Figueiredo, ficaríamos todos a ganhar, por isso, na minha opinião, seria o segundo sector elegível para o relançamento da nossa economia, mas, não há dúvidas que o processamento dos produtos agrícolas acrescenta valor.

 

Por outro lado, para que os dois sectores tenham sucesso, é imperioso a revisitação do princípio “produza e consuma Moçambique”. Na verdade, não basta que o produtor produza e a indústria transforme os produtos agrícolas, se não tivermos consumidores preferenciais, a economia continuará estagnada e/ou pior do que está hoje. Um dos melhores consumidores destes produtos é o Estado Moçambicano, através da saúde, sector militar, as cadeias e outros sectores afins, mas, se estes sectores de grande consumo continuarem a preferir compras de produtos importados, esqueçamos a ideia do relançamento da economia. Se estamos recordados, o slogan “produza e consuma Moçambique” tirou da falência muitas empresas nacionais, foi quando se introduziu o selo de “Made in Mozambique” que parece ter caído em desuso.

 

O terceiro sector de economia a relançar, na minha opinião, seria o Turismo. Não há dúvidas de que o Turismo é o sector transversal, pode e alavanca muitos sectores da nossa economia, ou das economias que levam a sério esta indústria. O Turismo consome quase tudo, desde os bens alimentares de agricultura, os bens do artesanato, oferece emprego a milhares de pessoas, que transportam pessoas e bens, cuida, através dos serviços de saúde, exige formação dos tendentes do sector, enfim, o Turismo pode relançar a economia em muitos sectores da nossa vida.

 

Dito isto, quis contribuir e reforçar a ideia do Dr. João Figueiredo e suportada por muito mais colegas do sector privado sobre a necessidade de olhar para Moçambique e sua economia, não somente na perspectiva de “enxugar” os recursos financeiros disponíveis para evitar a inflação, mas e sobretudo, fazer com que os recursos financeiros disponíveis e meio estéreis na Banca Central sejam usados para alavancar a nossa economia.

 

PS: Dedico esta reflexão ao meu amigo e jovem empresário Eder Pale. Abraço.

 

Adelino Buque

No nosso desporto, muitos erros, quais “grãozinhos de areia”, foram sendo cometidos e que, somados, acabaram não “parindo” a montanha que o talento desde sempre demonstrado, justificaria.
 
Falemos do futebol, onde o nosso produto não se compara ao dos tempos de Eusébio, Coluna e outros, em quantidade e qualidade. Um ou outro triunfo, porque esporádico, não nos deve adormecer. Daí que, ao contrário do que nos é proporcionado a partir de outros quadrantes, teremos mesmo que nos (re)descobrir.
 
PESADELO DE GANHAR UM CAMPEONATO
 
Ganhar um Campenato Nacional ou a Taça, entre nós, ao contrário do que acontece na maioria dos países, traz consigo um verdadeiro pesadelo: o da participação nas provas africanas. Enquanto os adeptos da equipa festejam, o presidente e o tesoureiro desdobram-se em contactos para conseguir apoios e vão rezando para que lhes saia no sorteio um adversário aqui à mão, de preferência Eswatine, África do Sul ou Zimbabwe, para realizarem a deslocação de automóvel. Mas mesmo assim, o pesadelo é sempre grande, pois as receitas são ínfimas comparadas com as despesas, em moeda externa, para pagar a árbitros e comissários, depauperando as magras economias do clube. Ao contrário do que acontece na Europa, em que a passagem de duas eliminatórias nas provas internacionais pode render mais do que a receita de um campeonato, por cá é exactamente o inverso.
 
Pode pensar-se em progresso, perante este quadro?
 
Longe da vista, perto do coração. É a verdade. Em dia de jogo/grande do Campeonato português, os moçambicanos vibram. A “química” da colonização não passou, particularmente no futebol e, ao que tudo indica, tende a aumentar. Estamos a falar da paixão, numa auto-estrada que só tem um sentido.
 
E é assim que nossos Ministros, Directores nacionais, juristas e até jornalistas - desportivos ou não – param tudo em dia de ‘derby-tuga” para vibrar. Muitos deles, nas deslocações a Portugal, é vê-los a exibirem as camisolas nos Estádios da Luz ou Alvalade, sem nunca conhecerem ou terem pisado os recintos locais do Costa do Sol ou Black Bulls. Nas prendas para os aniversários de familiares ou amigos, é impensável oferecer a camisola de um clube nacional, ao invés de a de um grande europeu.
Assim sendo, teremos moral para culpar as nossas instituições desportivas de não funcionarem, as empresas por não patrocinarem – porque dificilmente terão retorno - quando o “produto” não é por nós próprios consumido e estimulado, pelo estatuto de “matrequice” que lhe atribuímos? Vivi, vi e agora sinto-me mal, quando vejo, por exemplo, o futebol tanzaniano, com os campos a abarrotar de assistentes, sem que isso represente que as suas estrelas estão muito longe do nível das nossas...
 
A quem devemos culpar?
 
Citando Mia Couto: “nós, moçambicanos, conseguimos encontrar culpados em todos... menos em nós próprios”.
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