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Carta de Opinião

sexta-feira, 02 agosto 2024 07:08

A extracção da matequenha

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O Ministro dos Transportes e Comunicações,  Mateus Magala, desempenhou, entre 2015 e 2018, as funções de Presidente do Conselho de Administração da empresa Electricidade de Moçambique (EDM).

 

A missão de Magala na EDM era hercúlea,  pesadissima: ele devia estancar uma prolongada hemorragia financeira de que padecia a empresa pública,  pois tinha as suas veias rebentadas por incríveis teias de corrupção e de gestão empresarial ruinosa.

 

A existencia de “empresas” de consultoria dentro da empresa, que “ganhavam” concursos internos, era uma calamidade pública antiga e bem investigada e denunciada pelo Centro de Integridade Pública (CIP). E as contas da empresa, junto da Hidroelectrica de Cahora Bassa (HCB) e de outros fornecedores de serviços eram insustentáveis. E Magala devia arrumar a casa!

 

Chegou com ideias.  Fez contactos e alianças estratégicas. Formulou seus planos de acção e os pôs em marcha.  Mas rapidamente sentiu-se cercado por todos os lados: um cepticismo geral elevava-se à sua volta. “Você não vai conseguir nada aqui! Isto está de tal modo viciado... que não há por onde pegar!”, diziam-lhe muitas vozes. Incluindo vozes de quem ele esperava encorajamento.

 

Em parelelo, surgiu alguma imprensa tambem discrente. Noticias foram aparecendo aqui e ali, incluindo com tom calunioso, alegando decisoes “desumanas” do novo gestor, que estaria a “humilhar”  “velhos quadros experimentados” da empresa, que a mantiveram em pé, desafiando  actos violentos de sabotagem da Renamo, durante a guerra dos 16 anos. “Onde ele estava durante esses anos todos em que sofremos?”- diziam, questinando a sua legitimidade para  introduzir reformas estruturais na empresa.

 

Nessa mesma senda, um dia um jornal divulga uma noticia em que afirma que Magala ter-se-á atribuido a si próprio  um salário na ordem de um milhão de meticais! A noticia é baseada em fontes oficiais, porém com números mal interpretados pelo jornalista (o que é aliás muito frequente na nossa media).

 

Para dissipar este e outros equivocos, Magala convida a imprensa para um “briefing”, durante o qual ele não só  esclarece a folha salarial dos gestores seniores da empresa, onde ele está incluso, como tambem partilha informação em primeira mão,  sobre os primeiros resultados das reformas na EDM. Esperou, o gestor, que no dia seguinte a imprensa se referisse a informação partilhada na véspera: em vão!

 

Passaram-se dias e praticamente nenhum orgão de informação divulgou as informações de progresso nas reformas profundas em curso na EDM, nem mesmo aquele jornal corrigiu a informação errada sobre o salario “milionario” de Mateus Magala: ele começou a questionar-se profundamente sobre o sentido destes eventos. Custava-lhe entender a sociedade moçambicana, que se recusava a segui-lo nos progressos que ia alcancando na reforma da EDM – incluindo a própria imprensa. 

 

Aí um dia ele convida-me para um café no seu escritorio, em que me  pergunta: “Afinal por que as pessooas, incluindo a imprensa, são tão ..negativas, pessimistas e até cínicas?”.  Eu respondi  imediatamente assim:

 

“As pessoas já não acreditam em nada! Porque já receberam demasiada mentira oficial e por tempo demasiado longo. As pessoas sentem-se defraudadas, enganadas! A sociedade não acredita nas instituições públicas. Ninguém vai acreditar que o Dr. Magala está mudar a EDM...ninguém! Tudo o que disser que tenha feito vai ser considerado como mera propaganda do regime...”.

 

Aí ele perguntou: “então o que achas que deve ser feito, para a sociedade voltar a acreditar nas instituições públicas?” Aí eu respirei fundo, e disse-lhe:

 

“Será necessario refundar este Estado!  Recomeçar...E isso implica visão, determinação e muita coragem. Porque o Estado foi , desde há demasiado tempo, tomado por uma praga de matequenha, aquela pulga que penetra por debaixo da unha do pé e cresce e se reproduz lá dentro. A sua extracção implica uma pequena cirurgia...que faz sangrar!”

 

Eu diria exactamente o mesmo ao candidato da FRELIMO, Daniel Chapo: a larga maioria dos moçambicanos está profundamente decepcionada com a FRELIMO: já o disseram, e de forma eloquente, nas urnas! E os motivos para isso são, há várias décadas, bem conhecidos: políticas de desenvolvimento falhadas.

 

Essa larga maioria já não “ouve” a FRELIMO! Mesmo os que vão aos seus comícios. Essa larga maioria apenas vai acreditar no seu discurso numa única condição: na de assumir, de forma inequivoca, um compromisso histórico: o de, ganhando as eleições, reformar profundamente o Estado; para  devolver-lhe a dignidade perdida. O que passa por  dele extrair  a matequenha que o tomou de assalto, sobretudo ao longo destes ultimos 20 anos!  Mas consciente de que isso vai-lhe criar muitos inimigos e detractores, saindo de todos os lados: não se tira matequenha sem rasgar a pele!

As “profecias” de TRUMP sobre a Guerra na UCRÂNIA e outros conflitos armados mundiais – Análise!

 

  1. A PENSILVÂNIA de BIDEN e OBAMA, volta a ser palco de terror para TRUMP nas americanas de 2024. Nas últimas eleições, negaram-lhe a reeleição para o cargo de Presidente da República; em 2024, a democracia de Donald TRUMP quase leva um tiro certeiro no coração maldoso. Escapou por um triz! Mas, levou um aviso por parte de um corajoso jovem atirador de 20 anos que, segundo se parece vinha, sofrendo bullying – um crime cometido sobretudo por quem não suporta conviver com a diferença, muito menos aceita a natureza de cada um, feita por Deus, com pretexto na ética e nos valores culturais... (tema para outra discussão). Repudiamos veementemente este ato macabro, do mesmo modo que repudiamos veementemente as ideologias narcisista de TRUMP em várias matérias. Pegando, por exemplo, no caso do atentado: quando o candidato republicano se vira para apontar os dados falaciosos contra as Imigrações é quando o brinco de outro quase lhe é enfiado a sangue-frio na “orelha de burro.” De facto, parece-nos que este Senhor – tirando a condição declinosa que o outro concorrente tem pela força da idade avançada ou outra – continua a não ouvir a ninguém senão a si mesmo. É o Dono da Verdade! Reprovou na reeleição por conta das suas ideologias xenófobas, racistas, populistas, anti-imigração, etc., ideologias claramente incongruentes face aos avanços da ciência, da técnica e da geopolítica mundial. Não basta o Estado ter Dólares Americanos, ser um Estado forte em vários domínios… o Estado que não respeitar a natureza humana já está condenado… na história da democracia americana (a de: um homem, um voto) sempre nos mostrou como é impossível comprar votos a todos americanos… as alternâncias no poder demonstram como a democracia vai de um candidato burguês (TRUMP) para um homem do povo (BIDEN). A verdade é que uma democracia feita na base da compra de votos se pode comparar a um criminoso que tenta encobertar um crime pagando dinheiro ao testemunha do crime… facilmente iria resvalar para uma espécie de Democracia de chantagem… E, repito, uma democracia criminosa destas já está condenada… TRUMP, apesar de ser empresário, está ciente disso; de que precisa do “Zé-ninguém” para reconquistar o poder assim como os chulos da FRELIMO, precisam… portanto, TRUMP, volta a namorar o povo americano e os milhões de americanos espalhados pelo mundo até na UCRÂNIA. Aliás, a conjuntura internacional – nos domínios dos conflitos armados e da economia mundial – mostra-se de suma importância nessas eleições. Sobre tal, retomemos (do seu discurso) algumas das suas ilusórias propagandas políticas…
  2. Consultado sobre a Guerra na Ucrânia, o magnata Republicano, TRUMP, não hesitou nem um segundo a atirar: “(…) acabaria com o conflito em 24 horas se regressasse à Casa Branca” atacando e responsabilizando deste modo ao seu homologo Joe BIDEN pelo permanente ‘estado hobbesiano’, o ‘estado de guerra’, o de todos contra todos (homo homini lupus). Claro que está formula mágica de TRUMP cujos termos não os decifrou, continuam nos segredos dos Deus, são uma clara propaganda eleitoral que tanto lhe pode garantir a vitória ou custar uma estrondosa derrota eleitoral às presidenciais de 2024. Por um lado, afirmar que existe uma “fórmula mágica” e não a indicar é uma clara vigarice política por parte de quem tem, perante o Estado, o dever cívico de o apoiar enquanto Cidadão ativo na política americana… do outro lado, dissemos, pode ser um posicionamento meramente de propaganda eleitoral; tem mais força a segunda opção! Claro que as “ameaças” de TRUMP sobre a Rússia, elevaria geopoliticamente os EUA a posição assumida no término da II Guerra Mundial, a de um dos vencedores da “III Guerra Mundial.”

 

III. Não creio que TRUMP tenha em manga uma fórmula mágica para acabar com conflito armado entre a Ucrânia e a Rússia, muito menos com outros conflitos militares internacionais e/ou regionais sem abrir uma “III Guerra Mundial.” Pensar nas estratégias militares acionadas para assassinar QASEM SOLEIMANI através de uma emboscada desumana com recurso a um ‘drone-bomba’ contra PUTIN seria uma solução sem desfecho feliz. A Rússia de PUTIN, não é a mesma que o IRÃ DE QASANI SOLEIMANI – para os americanos e boa parte da comunidade internacional, terrorista; mas, saudoso General QASANI para os iranianos que choraram sua morte). Para os russos, ainda que não transpareça, PUTIN é claramente uma Máquina Robótica substituível. Não se trata de PUTIN (…), mas da ideologia Putin; uma ideologia, em última análise, russa/nazista, hitleriana… seguida por milhares de russos e pela esmagadora maioria dos parlamentares russos. Pensar, por exemplo, que a agressão (ou melhor: que a Invasão) Rússia à Ucrânia foi legitimada pelo “Parlamento comunista”… enfim, os dias que seguem dirão mais sobre as “profecias demoníacas” de TRUMP. Desta vez, saímos do “coração generoso” de PUTIN – como escrevemos no Semanário, Jornal Canal de Moçambique – e voltamos para as lições dos “versículos satânicos” de RUSHDIE ao “coração generoso” de TRUMP. Enquanto acordamos pela noite histórica nas americanas de 2024 que em muito pode ditar o futuro do mundo, assistimos a outra noite histórica (poucos dias atrás) para alguma alegria nossa: acompanhamos que Parisienses celebram vitória do bloco da esquerda em França de MACRON e MBAPPÉ. Finalmente, um calmante para os nossos corações… PARIS, mantém-se: anti-fascista, anti-racista, anti-xenofaba! O milagre de Deus (e do Amor) sempre acontece!

segunda-feira, 22 julho 2024 14:05

As desconcertantes carnes da mulher

Mas a vida é assim, como as marés que vibram numa época, e baixam na época que vem. As flores também. Acordam vigorosas nas manhãs com os cheiros perfumados da noite, e ao picar do sol  cedem. Perdem a graça, e ninguém as quer. É o interminável recomeço do ciclo. Que nos faz acreditar na força interior da utopia.

 

Eu também sou assim, sigo, ou sou levado a seguir pelos espíritos, esse caminho do sol que nasce  no esplendor do amanhecer, exubera em todo o dia, porém vem o anoitecer e apaga essa luz que supera todas as estrelas. É por isso que não tenho medo, aliás perante as pedras do caminho visto o escafandro da música dos bitongas, para ver se amanhã acordo outra vez, com as mesmas azagaias. Com os mesmos ritos.

 

É o mar a minha prancha para os voos da imaginação, então volto sempre a este lugar para ouvir a ressonância das ondas que se esbatem na areia. E hoje cheguei a meio da manhã com a maré vaza e, para minha surpresa, está no meu lugar habitual uma mulher desconhecida deitada de barriga, deixando as fartas nádegas ressurgindo do fio do bikini, e eu ainda me perguntei: mas o que é isto?!

 

Sentei-me ali mesmo, ao lado dela, baralhado pela sensação de alta voltagem que me percorria por inteiro, não sabendo bem se por causa de uma mulher deitada no meu lugar, deixando as nádegas cheias de carne em exposição, ou porque sou fraco. Esqueci-me completamente de contemplar os pernilongos dos flamingos que dançam na esgravatação dos moluscos, e já estou em ebulição, sou feito de carne também.

 

Bebi um gole da cachaça que sempre levo no bolso à praia para que a harmonia entre mim e a natureza se aclare, mas este gole foi longo demais. Os meus olhos não saem das nádegas livres de uma mulher que está deitada na areia da praia, sòzinha, ainda por cima no meu lugar onde implantei uma sombra de folhas de palmeira para estar sozinho na minha solidão, e eu jamais imaginei que isto podia acontecer num retiro que ainda perserva os tabus.

 

Bebi outro gole numa altura em que ela se revirava, deitando-se agora de costas com as pernas estendidas, meio afastadas uma da outra, para gáudio da loucura. Os seios são perenes, oprimidos porém no soutean, e o bikini só protege a parte mais macia de um corpo esculpido por mãos invisíveis, o resto está fora. E essa mostra não será propriamente um problema, estamos na praia.

 

A maré está a encher e os flamingos vão bater as asas em liberdade, rasgando os céus em fila para outros  poisos, mas eu estou hipnotizado por um ser feminino deitado no meu lugar, na minha sombra. Na sombra das minhas lucubrações.

 

Então ela agora levanta-se. Espreguiça-se.  Olha para mim despreocupada.

 

- Oh, desculpa, o senhor é o dono desta sombra?

 

- Sim, sou eu.

 

- Avisaram-me uns miúdos que passaram por aqui, disseram-me que é um sítio privativo, desculpa pela invasão.

 

- Você não invadiu o meu lugar, você adornou a minha sombra.

 

Afinal somos conhecidos. Estudamos na mesma escola primária, e depois o tempo separou-nos, cada um para o seu destino. Mas, como o próprio mar, voltamos para a nossa terra, depois de muitas escalas pela vida, com muitas alegrias e derrotas até hoje, que recusamos ser vencidos.

 

Abraçamo-nos longamente. Bebemos juntos a cachaça, e eu disse assim para ela, a vida dá-nos sempre um espaço para recomeçar! E ela respondeu: é verdade!

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“A falta de alimentos, como resultado da deslocação das populações por causa da guerra, devido a calamidades naturais ou outros fenómenos naturais, ate é compreensível, contudo, hoje, depois de celebrarmos os 49 anos da nossa independência, falarmos de 45% de população subnutrida, com destaque nas crianças, parece-me exagerado. Se considerarmos que Moçambique realiza estudos periódicos para aferir o grau em que se encontra em matéria de nutrição, é pior ainda, ou usamos mal os estudos que realizamos ou andamos “brincando” aos estudos.

 

Devemos, como moçambicanos, cada um no seu sector, combater as causas da malnutrição, sobretudo em crianças e mulheres grávidas. Mas também devemos educar a mulher a evitar a gravidez, quando as condições não são favoráveis. Todos devemos ser activistas de saúde alimentar”.

 

AB

“Moçambique é um país deficitário em alimentos, classificado em 103º de 107º no Índice Global da Fome de 2021. Além disso, o conflito no Norte afectou cerca de 1,5 milhão de pessoas - deslocando 1 milhão de pessoas nas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa, sendo 55 por cento crianças. De Outubro de 2022 a Janeiro de 2023, a situação de insegurança alimentar em aproximadamente 36 por cento dos agregados familiares, provavelmente, atingiu níveis críticos (Fase 3 do IPC), uma vez que a época de escassez começou em Novembro de 2022, aumentando as vulnerabilidades existentes. Quase 1,45 milhões de pessoas enfrentam actualmente níveis elevados de insegurança alimentar aguda, das quais 932.000 se encontram na província de Cabo Delgado”.

 

In UNICEF

 

Algo está a falhar nos sucessivos Governos de Moçambique, no que respeita ao combate à insegurança alimentar e subnutrição crónica. Existem várias narrativas sobre o assunto, mas o facto é que nada muda, continuamos a reportar graves bolsas de Fome em determinadas regiões e em outras, reporta-se fartura, que deixa os camponeses com os nervos à flor da pele, porque não conseguem vender os seus excedentes agrícolas, o que os leva a diminuírem as áreas de produção.

 

Para minimizar os impactos da insegurança alimentar e subnutrição, o Governo tem vindo a criar organizações e ou institutos, como por exemplo o Instituto de Cereais de Moçambique, que deveria ser a instituição que cria a balança de alimentos, através de compra de último recurso, encaminhando esses alimentos para as zonas onde se antevê bolsas de fome. Temos ainda o prognóstico facilitado pelo Instituto de Meteorologia, que produz Boletins de previsão de chuvas no País. Contudo, pelo que parece, o trabalho de todas essas instituições não é usado para o bem-estar das populações. Veja a seguir as atribuições do Instituto de Cereais de Moçambique.

 

“a) Intervir, como agente de comercialização agrícola de último recurso para assegurar a compra, agenciamento, intermediação, armazenamento, conservação, o escoamento de excedentes agrícolas contribuindo para a estabilização de preços; b) participar e contribuir no estabelecimento de reservas estratégicas de cereais, leguminosas e oleaginosas para a segurança alimentar; c) promover e coordenar parcerias público-privadas para o desenvolvimento de programas e projectos estruturantes sobre a cadeia de valor da comercialização agrícola, com enfoque para os intervenientes; d) contribuir, em coordenação com outras entidades, na instalação de infra-estruturas de armazenagem e conservação para dinamização do comércio rural nas zonas fronteiriças; e) colaborar no mapeamento, registo e monitoria das acções realizadas pelos intervenientes da cadeia de valor da comercialização agrícola; f) identificar fontes, facilidades e oportunidades de investimento e financiamento às actividades da cadeia de valor da comercialização agrícola e agronegócio; g) mobilizar recursos financeiros e materiais, por via de entidades públicas, parceiros de cooperação e de desenvolvimento, para o estabelecimento, em parceria com instituições financeiras, de linhas especiais de crédito e outras formas alternativas de inclusão financeira para apoio à cadeia de valor de comercialização agrícola; h) estabelecer uma base de dados sobre as necessidades do País em cereais e outros produtos agrícolas, com vista a contribuir para a normalização no mercado interno destes produtos; i) gerir as infra-estruturas de armazenagem, conservação, silos e agro-indústrias; j) assinar protocolos, memorandos e contratos de gestão de infra-estruturas públicas adstritas à cadeia de valor da comercialização agrícola; e k) apresentar propostas sobre o quadro de políticas, legislação e demais regulamentação sobre cereais e outros produtos da comercialização agrícola”.

 

In, Regulamento Interno do Instituto de Cereais de Moçambique

 

Mas não só, Moçambique tem gasto rios de dinheiro em estudos do fenómeno desde a independência nacional. Se podemos atribuir a falta de informação, no tempo colonial, depois da independência, sobretudo na primeira República, muito se fez para reverter a situação alimentar e nutricional em Moçambique. Muitas organizações nacionais e estrangeiras foram sendo criadas para lidar com o fenómeno da subnutrição. Mas se antes se falava de localização geográfica específica ao nível nacional, hoje, é o País inteiro que apresenta índices de desnutrição. Veja, abaixo, os estudos que Moçambique realiza, de forma sistemática.

 

“Em Moçambique vários estudos são feitos para avaliar a situação de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), nomeadamente: (i) Inquérito Demográfico e Saúde (IDS), (ii) Inquérito aos Orçamentos Familiares (IOF), (iii) Inquérito sobre Indicadores Múltiplos (MICS), (iv) Estudo de base de SAN, (v) Avaliações anuais de segurança alimentar e nutricional. Os primeiros quatro estudos medem a Insegurança Alimentar e Nutricional Crónica (InSAN Crónica), enquanto as avaliações anuais medem a Insegurança Alimentar e Nutricional Aguda (InSAN Aguda).
As avaliações anuais da InSAN Aguda são coordenadas pelo SETSAN e participam os seguintes sectores: Agricultura, Pescas, Saúde, Educação, Águas e o INGC. Contam com assistência técnica e financeira do Programa Regional de Avaliação e Análise da Vulnerabilidade (SADC/RVAA) e parceiros locais (Agências das Nações Unidas, FEWSNET) ”

 

In Situação de Segurança alimentar e nutricional, Ministério de Agricultura.

 

Dito isto, talvez seja altura de reavaliar a forma como a mensagem chega aos interessados (população) porque, 49 anos depois da nossa independência nacional, falarmos de 43% de população em insegurança alimentar e nutricional é bastante preocupante. Devemos rever a mensagem difundida e propor novas formas de abordagens, reconhecendo que, muitas vezes, os políticos têm se aproveitado da ignorância das pessoas para tirarem proveito e é nestes casos que se pode dizer que o Estado Democrático atrasa o desenvolvimento humano.

 

Adelino Buque

quarta-feira, 17 julho 2024 11:16

Chapo: O Pagador de Promessas?

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Nos últimos tempos estamos a ser, literal e sistematicamente, inundados com a figura de Daniel Chapo, o candidato presidencial da Frelimo às eleições de Outubro próximo. Chapo é já uma vírgula nacional. Nascido em Inhaminga, distrito de Cheringoma, Sofala. Chapo chegou a este vale de lágrimas no ano em que organização que o endossa, se assumia em congresso (o Terceiro) de orientação marxista-leninista, abraçando o doce socialismo científico, na esperança certa de instalar o homem e uma sociedade novas onde cada qual viveria conforme as suas capacidades e cada qual segundo as suas necessidades. Curiosamente, o ano do início da guerra entre os moçambicanos.

 

Em 1994 quando Moçambique realizava as suas primeiras eleições gerais e multipartidárias, Chapo navegava ainda nas turbulentas e doces águas da puberdade, ainda não podia votar. Hoje 30 anos se passam da única eleição que ele não terá votado, e o bebé de 1977, já adulto e senhor, é um dos em quem se espera votar e, para sua felicidade, que a maioria o confie e escolha.

 

Na eventualidade de ser eleito, será de facto o marco da propalada transição geracional na Frelimo e no estado moçambicano. O primeiro, que vive os seus momentos mais moribundos da sua existência; sem ideologia, sem valores e o segundo, arrastado pela indefinição e incapacidade agravada pelo recuo tribalista de um partido que se diz de “massas”. “A Frelimo é o Povo!” gritava Samora, mas que guarda as ma$$as para um grupo cada vez mais reduzido.

 

A utopia que pairava no ar quando Chapo viu a luz do dia no agora longínquo ano é uma doce recordação de um país martirizado por um liberalismo bandido, pela consagração de uma burguesia prostituída aos sabores e encantos de grupos criminosos internacionais e pela cada vez mais ousada e desavergonhada malandragem local.

 

A burguesia, outrora combatida num hino “Avante operários camponeses/ na luta contra a exploração (...) Somos soldados do povo marchando em frente na luta contra a burguesia”. Hoje o revolucionário refrão foi substituído pelo liberal “pela paz, pelo progresso” vincando uma união quase incestuosa numa Frelimo bipolar onde Chapo não é nenhum extraterrestre nas metamorfoses que atravessam a história do partido e do país.

 

Aliás, Bob Dylan anunciara nas vésperas da queda do murro de Berlim que “the times are changing” e a Guerra Fria hoje decorre sob outros prismas e em pequenos tamanhos, onde a economia é campo fértil. Chapo pode agarrar o ceptro mas o consulado de Nyusi pode deixar-lhe de herança, tal como Guebuza deixou a Nyusi, uma realidade minada e múltiplos barris de pólvora com os rastilhos acendidos:


1.) as Dívidas Ocultas: apesar das boas notícias recentes;
2.) Cabo Delgado: onde ainda se escondem na noite os feiticeiros da estranha guerra que martiriza inocentes e fortalece um grupo específico que ainda esconde-se nas sombras; e
3.) o tráfico de drogas: que ganha mais terreno na nossa sociedade que assaltou muitas instituições e já gangrena o país.

 

As notícias falam de um Nyusi que levou Chapo pelas mãos para Kigali para o chancelar junto ao General Paul Kagamé, (O Mau) o verdadeiro Comandante em chefe da luta contra o terrorismo e da protecção dos interesses gauleses na região Austral de África. Uma iniciação que pode custar muito caro a Chapo.

 

Chapo é um dos “quadros” saídos dos bancos da Faculdade de Direito da maior e mais importante universidade pública moçambicana. Certamente, aprendeu dos seus professores e mestres, conhecimentos sólidos sobre as múltiplas dimensões da natureza do Estado de Direito democrático, do primado da lei e dos riscos da sua subversão. Não é de todo desavisado.

 

Outro dinamismo que nos é dado a assistir é a romaria do entrosamento apressado, nos círculos partidários de um Chapo (já) Presidente e da repetição da entronização do líder visionário no movimento associativo de “Amigos de Chapo”, “Família de Chapo”, “Tias de Chapo”, “Colegas de Chapo”, “Vizninhos de Chapo”. Tal como aconteceu com Nyusi, mas na versão exagerada da então Anyusi. Sendo, sempre, os seus mentores movidos por muito boas intenções, as tais que enchem o inferno e a terra infernizando a nossa já mísera vida.

 

Assiste-se nas televisões ou em leaks imprudentes, um Chapo bastante ocupado ou uma multidão bastante agitada em tê-lo como seu, ou à espera da sua atenção. Empresários, académicos, políticos, músicos, homens, mulheres e crianças, santos e pecadores. Todos estão à espera do Mano Chapo para lhe renderem as vénias e o colocarem no panteão de líder visionário e colherem os frutos dessa entronização enganadora para anos depois falarem mal dele e o acusarem de não ouvir ou de ser alguma coisa até incapaz e ambicioso.

 

Numa organização já assumidamente assaltada, falta apenas assaltar o próximo timoneiro e tudo está a ser feito nesse sentido. Deste lado, pedimos e alertamos, Mano Chapo, que ponha a família de lado e acima de tudo proteja os seus filhos das tóxicas poeiras do castelo do poder quando escolher seguir esses grupos de malandros e abandonar os desejos e vontades adiadas de um país e um povo que até aqui, quando não faz guerra, só tem vivido de bichas, reuniões e promessas.

 

Esperamos, rezamos e esperamos que seja finalmente o tão esperado Pagador de Promessas.

segunda-feira, 15 julho 2024 16:02

Eu sou a tempestade do povo

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Não sei bem onde moro. É por isso que você nem sequer me procura. Na verdade eu vivo neste buraco escuro, sem estrelas, ao lado de outras ratasanas que saem nas noites a procura de alimento inexistente nos celeiros. Mas eu não tenho medo das pessoas, você é que tem medo de mim. Sou ratasana da nova espécie, não violo as machambas. Mesmo que quisesse fazer isso, aqui não há terra cultivada, a mandioca secou com o tempo, então as minhas mãos vão criar novas searas.

 

Não sei bem onde moro, moro em todas as tocas sombrias onde já não espero nada, nem de você. Aqui não há pássaros. Morreram todos, deixando o cheiro das melodias que se transformaram em sinfonia do diabo na memória de mim. Nunca amanhece neste lugar, então é mentira a poesia de Jorge Rebelo.

 

Não sei bem onde moro, e todas as minhas forças estão se esvaindo no escuro. A chuva que cai neste lugar, todos os dias, é pegajosa e mal cheirosa. É por isso que o sol tem medo de raiar, faz muito frio. E os pássaros têm medo do frio e da chuva, fugiram sem deixar vestígio. Nem os sons sobrevivem onde eu moro. E já não oiço a fala do próprio silêncio, moro numa tumba.

 

Não sei bem onde moro, mas eu existo. Definhando em cada palavra dos discursos vazios anunciando as vitórias que no fundo são uma falácia, não há vitória nenhuma, tudo isto é mentira. Se houvesse vitória eu retumbaria dos abismos onde não há música nem poesia, e de onde não vejo a possibilidadde de sair e vir cá fora rebolar na dança. E você entregou todas as minhas canções buriladas na honestidadde e integridade, e voltei a ser um escravo desprezível. Um cão sem nome, sem lugar para viver. As minhas terras estão sendo levadas e entregues aos poucos e poucos. Outra vez!

 

Mas eu estou cansado de ser ratasana, não é essa a minha vocação. Eu sou orca, a fúria dos mares! E você tem medo da minha revolução. Eu sou a turbina do povo e vou chegar a todas as tumbas e ressuscitar todas as ratasanas e transformá-las em orcas também, como eu. Eu não sou ratasana, porra! Sou uma das lenhas amarradas no feixe da luta popular, e não é você que vai quebrar este feixe! A este feixe não se quebra.

 

Eu sei bem onde morava, morava na tumba como as ratasanas do fim do mundo, mas agora acabou, não volto mais para lá. Sou o remoínho das canções transformadas em comportas que enchem albufeiras inteiras: Eyuphuru, Gorhwane, Kapa Dêch, Djaka, Massuku, Alambique!

 

Eu sou a tempestade do povo!

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