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Carta de Opinião

quinta-feira, 08 agosto 2024 08:30

Um ex-ministro absolutamente frustrado

AlexandreChauqueNova 1

Ele já estava no local combinado, quando cheguei, virado de costas para a entrada do bar, sentado numa mesa sobre a qual a empregada acabava de deixar uma chávena de café fumegante. Apagou o cigarro no cinzeiro com a mão a tremer e logo a seguir iniciou o desfrute. Assisti a estes movimentos de forma dissimulada, a partir do balcão onde me sentara sem pedir nada, fingindo que não estava a vê-lo, sem saber se tomava a iniciativa de me aproximar, ou esperaria até que me reconhecesse e  desse algum sinal.

 

Bebia o café com tremelique nos lábios e na mão direita que segurava intermitentemente a chávena. Parecia ter medo de olhar para as pessoas que estavam ali com canecas de cerveja celebrando a vida logo de manhã. Naquelas circunstâncias, não passava de uma silhueta varrida até às vísceras, contrariando os tempos em que, mesmo não exalando soberba, era um personagem da primeira linha, que jamais poderia passar despercebido.

 

Mas eu já não podia esperar mais no balcão, de uma pessoa que estava à espera de mim, então era necessário que chegasse até ele. Vou ter com alguém com quem me relacionara, quando eu praticava jornalismo activo. Tornamo-nos confidentes um do outro. Há muita coisa que eu sei dele. Ele também, tem muita coisa que sabe de mim, das minhas incongruências, mais do que das minhas virtudes, que nem as tenho. Criamos um ambiente de amizade, quando era um ministro de proa e me convidava amiúde para um café onde falávamos de tudo, menos do futuro. E o futuro dele agora é este, desastroso. Cheio de frustrações. De mágoas.

 

O que o ex-ministro quer de mim é que o ajude a escrever qualquer coisa sobre a sua vida. Qualquer coisa que seja sincera e hosnesta em forma de livro. Na verdade nunca pisou a ninguém. Tratou sempre as pessoas com respeito. Cumpriu, durante o seu mandato, todas as orientações do presidente, e tornou-se um profissional irrepreensível.

 

Estamos sentados frente a frente, ele de costas para a porta de entrada do bar e para as pessoas que conversam bebendo cerveja livremente em grandes canecas, e eu encaro o ambiente como os cowboys nos saloons buliçosos de Farwest.

 

Vai um café? Perguntou-me tirando um cigarro do maço da marca Palmar azul, e eu disse que não ia beber café, por causa da cafeína, sou hipertenso. Então peça alguma coisa do seu gosto, pedi água. Já tinha tomado o pequeno almoço em casa, sardinhas fritas com salada de alface e chá de cidreira.

 

O homem já não treme, nem nos lábios, nem nas mãos, o café e o whisky trouxeram-lhe à falsa sensação de bem estar. E assim começou dizendo: olha, meu caro, estou profundamente frustrado por não ter feito nada pelo meu país.

 

- Mas porque é que você não fez se tinha condições e a obrigação de o fazer, tomando em conta o lugar privilegiado que ocupou durante dois mandatos?

 

O ex-ministro pediu mais um duplo e olhou para mim com incisão: eu podia ter feito muito, com certeza, porém estava atado, não me deixaram fazer. Pior do que isso, obrigaram-me a cometer erros, a cometer crimes.

 

- Então, se fizeram isso contigo, porque é que continuou a seguir um caminho que não será o mais correcto?

 

- Essa é a pergunta mais perfurante que me faço a mim mesmo todos os dias. Perdi a oportunidade de acender luzes para o povo, e já não posso voltar para trás. Sou um pulha!

 

A frase "nepotism baby" (ou o diminutivo "nepo baby") tem permeado as redes sociais desde os anos 2022, em expressões de seguidores dos famosos que são denominados por nepo baby e em séries de surpresa na TV.  É uma adjetivação corriqueira que vai ganhando espaço formal, particularmente para denominar os artistas da Hollywood que chegam ao topo da carreira por via de influências dos seus pais (cfr. NYT, 2022).  A popularidade do termo é resultado da “geração Z”, particularmente da mídia periférica.   Segundo The New York Time (2022), esta expressão ganhou mais voz nos últimos anos “quando uma fã de Maude Apatow soube que a atriz tinha pais famosos, ela tuitou sua surpresa e inspirou uma série de piadas sobre os chamados “bebês do nepotismo” (NYT, 2022).

 

É facto que durante séculos, as crianças nascidas em famílias ricas, famosas e poderosas tiveram uma vantagem na vida, herdando monarquias, impérios empresariais, riqueza e poder estelar. Em alguns casos, eles ultrapassaram o status de seus pais. Isso é o que a maioria dos pais deseja para seus filhos. Também é muitas vezes como o poder funciona, especialmente em Hollywood (NYT, 2022).

 

Ora, a política não escapa a esta realidade, particularmente em Moçambique. Entre eventos políticos midiatizados, assistimos nas últimas semanas a publicação de listas de candidatos para serem os novos inquilinos da Ponta Vermelha, da Assembleia da República, governadores e assembleias provinciais, por parte dos partidos políticos, que por sua gênese, são totalitários à não virtude política, que resulta nos “ridículos políticos” (TIMBURI, 2018). Paralelamente ao fenômeno de “ridículos políticos”, que caracteriza a corrida eleitoral para as próximas eleições, temos visto proliferar mais um, o dos bebês políticos filhos do nepotismo partidária. 

 

Estamos objetivamente falando dos “bebês do nepotismo político” gestados nos partidos para a praça pública, na maioria das vezes, protagonistas do ridículo político. É gente sem projeto político e nem mínima visão de Estado e nação. São, alguns deles, desconhecidos na militância e nas fileiras políticas, portanto, desprovidos de qualquer preparo. São estes nepo baby, que de uns tempos para cá têm tomado “de assalto” as instituições de soberania, como seja o parlamento e, aos poucos, a presidência. Não engrossam por vontade genuína de fazerem diferente como legisladores e fiscalizadores, ou por terem um projeto de desenvolvimento do país, pois nem sabem como e por que estão lá. Atufam o círculo de múmias vivas, que mais não sabem senão torrar o dinheiro do Estado e, no caso do parlamento, para mostrar alguma subserviência partidária, reproduzindo hinos panegíricos em hosanas aos chefes.

 

Tal fenômeno é facilitado pela promiscuidade de relações estabelecidas e vividas dentro das organizações políticas moçambicanas, sobretudo se considerarmos que a condição necessária para adesão a um partido político é a “filiação partidária” e os seus afetos relacionais ao nível de graus de confiabilidade paternal. Os partidos se tornam hoje, em Moçambique, um berço fértil para incubação e exportação de nepo baby nos espaços do poder político.

 

Além do mais, cabe sublinhar que filiação é o vínculo que estabelece a relação entre pais e filhos. Ela pode ser biológica ou por adoção. A filiação partidária, por sua vez, deveria ser inegociavelmente um vínculo de natureza jurídica entre o cidadão e o partido político. Esse vínculo asseguraria os direitos e a imposição dos deveres aos cidadãos e aos partidos no cuidado do povo e da “coisa partidária e pública” (Estabelecidos na Constituição da República e no Estatuto Partidário).

 

Na verdade, o vínculo de paternidade é o mais comum na prática da “política ativa partidária” do que o “vínculo de natureza jurídica partidária” (abundam as reclamações nos órgãos deliberativos partidários) e, deste nepotismo partidário resulta igualmente o atual Estado Paternalista Moçambicano, fruto do nepotismo político generalizado que tem a sua origem nos partidos políticos que gestam bebês do nepotismo para a esfera política moçambicana. No contexto político, o Estado paternalista intervém nas decisões governamentais, assumindo o papel de um pai que define regras para o bem-estar dos cidadãos, independentemente de concordarem ou não (no fundo, é o misto entre a aparente democracia do cuidado do povo e o totalitarismo).

 

Se governar é arte e ciência de dirigir a partir da deliberação daquilo que é bom para uma sociedade, bens simbólicos e materiais; e se a votação é o momento em que escolhemos aqueles que acreditamos terem confiança e competência para nos dirigir; então o dia de votação pode ser comparado ao momento em que atravessamos a rua das nossas expectativas, entregando um veículo que irá circular nas nossas estradas aos motoristas certos para dirigirem. Ora, “habitualmente as pessoas atravessam a rua apenas quando acreditam que está desimpedida. Têm todos os incentivos para olhar para ambos os lados. Também têm todos os incentivos para formular crenças de forma racional sobre se a rua está desimpedida. Quando veem o que parece ser um camião Mack desgovernado na sua direção, não se atrevem a pensar que se trata de uma ilusão ótica (BRENNAN, 2020). 

 

O que estamos argumentando? Que os partidos políticos, se fossem sérios e com responsabilidade social, como pais, categoricamente, deveriam escolher dentro dos quadros existentes “adultos políticos”, os seus mais bem filiados; posto que “há uma base ampla de investigação empírica que mostra que, em quase todas a tentativas de medir o conhecimento político, o seu nível em termo de média, moda e mediana entre os cidadãos nas democracias contemporâneas é baixo” (BRENNAN, 2020). 

 

Entretanto, recorrentemente e à surdina, não tardam queixas de listas ao estilo norte-coreano. Mas também vieram, nas últimas semanas, vídeos de descontentes a relatar listas forjadas à base de relações de influência e não como resultado da democracia interna: constam marido e esposa, amantes, filhos de altos dirigentes dos partidos, propagandistas de ocasião que pululam os programas de TV e rádio, ora premiados pela sua falta de escrúpulo. Ao fim e ao cabo, esses novos atores, os filhos do nepotismo político, mais do que agregar, só vem deteriorar o já exaurido ambiente político moçambicano, pois os meios pelos quais ascendem são parte de um problema danoso para o fortalecimento democrático (BAQUERO, 2003). Sabemos que quando a ética não for capaz de dar conta desse rol de problemas ao nível interno (dos partidos), o caminho mais razoável seria o rigor da lei. Mas porque a nossa legislação é porosa nessa matéria, o que dá livre curso às arbitrariedades, descambamos nos interesses subjetivos e desejos perversos daqueles que se perpetuam no poder por meio do clientelismo, personalismo, patrimonialismo.

 

Por isso, em última instância caberá ao cidadão o poder de decidir se corrobora esse modelo que nos é impingido por boa parte dos partidos políticos. Para tal, torna-se necessário um amplo domínio não só dos processos políticos, mas também dos internos (ao nível dos partidos), que culminaram com o tipo de candidatos a vários órgãos, e, por fim, a pertinente reflexão em torno dos projetos políticos. É que num país em que as discussões políticas, sobretudo neste período pré-eleitoral, resvalaram para a fulanização, precisamos de insistir que há um país e várias gerações, cuja sobrevivência dependem de um projeto comum e supra partidário.

 

Ora se a atividade política profissional pressupõe um modelo de democracia que conceba a ação política como um espaço de circulação de conhecimento e informação para transformação e provisão do bem comum, algo está falhando na democracia partidária em Moçambique. Estamos falando das dimensões social (axiológica) e pragmática (deliberativa) da atividade política como critérios de eleição dos representantes do povo. Parece consensual a acepção de que “a reflexão sobre a política é sempre [uma] reflexão sobre a natureza humana, sobre as “modalidades reais de conexão de indivíduos” (TUNHAS, 2012).  Mas este facto não justifica a coragem de visibilizar os nepotismos partidários através de figuras que esteticamente denominamos no presente texto por “bebês do nepotismo político”, os filhos partidários que podem, nos próximos cinco anos, assinar um contrato social com o povo moçambicano para dirigir os destinos do país nas duas dimensões contratuais: legislativo, executivo.

 

Com efeito, se faz necessário voltar a humanizar a nossa democracia, nos libertando dos inimigos cívicos, os filhos do nepotismo partidário - bebês do nepotismo político. Pois, “só nos tornamos mais humanos à medida que nos tornamos mais políticos no sentido de Seres cientes da relação de poder e violência, como forma de sustentar a convivência, que é o elemento mais simples da condição política da espécie humana” (TIMBURI, 2018).  É também necessário a renovação de um contrato social que não mate ao circular nas estradas do nosso tecido social moçambicano, e que não entregue os destinos da nação aos "nepo baby" da política. 

 

A renovação do contrato social acarreta, no plano prático, uma sociedade permanentemente educada e mobilizada em torno do bem comum. Nesse sentido, um político que ascende por competência e mérito próprio e não como um “filho do nepotismo político” – que emerge pela influência do poder de quem o endossa – será o corolário de uma transformação estruturalmente necessária da sociedade. Não é por acaso que em “A República”, Platão já asseverava a necessidade de depuração de comportamentos e práticas de carácter privado na vida política. Por isso não é de admirar a visão de uma educação que inculque no cidadão a capacidade de separar as relações de fórum familiar das relações de carácter republicano, norteadas pela impessoalidade da justiça. Um dos maiores legados deste modelo – também alvo de críticas – é uma educação política direcionada ao bem comum, muitas vezes conflitante com apetites egoístas e excludentes, como as que caracterizam a elite política moçambicana.

 

Urge, por fim, um novo contrato cultural que seja a condição de possiblidade moderadora entre a inegociabilidade da condição jurídica democrática (constituição) e a dimensão ética da convivência entre os homens dentro da democracia (tolerância). Neste sentido, a dimensão axiológica da democracia impõe o fim do ridículo político, de uma maneira apodítica e não negociável, a igualdade entre os cidadãos e o respeito pela dignidade das pessoas dos direitos do homem, e também a igualdade entre os cidadãos e o respeito pela dignidade das pessoas (NGOENHA, 2016). Ainda podemos dizer não à avalanche dos nepo baby da política. Cabe a nós!

 

Referências Bibliográficas

BAQUERO, Marcello. Construindo uma outra sociedade: o capital social na estruturação de uma cultura política participativa no Brasil. Revista. Sociol. Polít., Curitiba, 21, p. 83-108, nov. 2003.

BRENNAN, Jason. Contra a Democracia. Trad. Elisabete Lucas. 3 ed, Lisboa: Editora Gradiva, 2020.

NGOENHA, Severino. Os Tempos da Filosofia. Imprensa Universitária, Maputo, 2016.

TIBURI, Marcia. Ridículo Político: uma investigação sobre o risível, a manipulação da imagem e o esteticamente correto. 4ª Ed., Editora Record: Rio de Janeiro, 2018.  

TUNHAS, Paulo O pensamento e seus objetos. Maneiras de pensar e Sistemas filosóficos, MLAG Discussion Papers, Vol.5, Edições da Universidade do Porto, Porto, 2012. (Págs. 465- 466)

The New York Times. What Is a ‘Nepotism Baby’? Disponível em https://www.nytimes.com/2022/05/02/style/nepotism-babies.html. Acesso a 14/06/2024

terça-feira, 06 agosto 2024 14:11

Já cá não mora ninguém

De que o país vive momentos conturbados da sua história ninguém duvida. Eu ainda tinha alguma esperança, mas neste final de semana ela despencou. E foi num Chapa (transporte público) na rota Baixa-Facim.  

 

O Chapa, que depois de partir da terminal da Baixa com todos assentos ocupados, parou no cruzamento da “Brigada” para levar novos passageiros. Um destes passageiros era um senhor já de idade e com uma vestimenta solene que denunciava que vinha de mais uma jornada dominical com o divino.

 

Depois de ele subir o Chapa, este arranca, e o cota se posiciona no corredor central ao mesmo tempo que passava lentamente o olhar a procura de um assento vago ou de uma alma caridosa que o cedesse.

 

“Pai está com a braguilha aberta”. Era a voz de um dos passageiros que o alertava, na língua ronga, que tinha o zipe das calças aberto. Em seguida, enquanto o cota sentava no lugar cedido pelo passageiro que o alertara, ele responde: “ Não te preocupes meu neto, já cá não mora ninguém!” 

 

Esta tirada do cota foi seguida de uma gargalhada dos restantes passageiros, que até então seguiam o trajecto num silêncio religioso.  Em seguida, e em jeito de uma contra-resposta solidária, o jovem disse que o cota ficasse sossegado, pois a actual situação do país era igual a do seu antigo inquilino.   

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Senhor Júlio Parruque, os negociadores de ruas e terrenos alheios estão de volta no bairro Matola Gare. Há uma rua que acaba de ser vendida, no bairro Matola Gare, ali nas complicadas azinhagas do quarteirão 06. Essa rua não tem um segundo de sossego, nunca há um mínimo esboceto de sorriso nos rostos das famílias que dependem dessa rua para terem acesso às suas casas. Essa rua foi improvisada depois de se vender uma rua principal.

 

A primeira negociata da rua, ano passado, foi enxotada pela presidente Calisto Cossa e os mercadores de ruas levaram sumiço num rufo: a rua ficou livre, a rua voltou a ser rua depois de ter sido tatuada como um quintal. E agora a rua foi novamente vendida. E os negociantes, com um olhar dardejado, respondem a qualquer rosto que lhes põe a vista em cima “Calisto Cossa já saiu, queixem onde quiserem”.

 

As estruturas conhecem essa rua, mas ninguém faz nada. Esta, de certeza, é a primeira, de várias ruas que ainda serão engolidas por este grupo. Há gente que já se prepara para ver mais ruas vendidas.

 

Essa rua, que foi vendida, é entrada e saída de diversas famílias, é uma rua que os mocinhos, carregados de cadeirinhas e mochilas, usam como caminho quando vão à escola lá nas bandas da linha férrea. Se calhar, senhor Júlio Parruque, a partir de amanhã teremos de pendurar uma pequena placa a dizer “isto já não é entrada, saída e nem caminho”. O comprador da rua, o segundo, já esteve no local, já viu a rua que será seu quintal nos próximos dias. E a frase de ordem ecoa aos estrondos nos ouvidos dessas famílias “Calisto Cossa já saiu, queixem onde quiserem”.

 

Senhor Júlio Parruque, na Matola Gare as ruas são vendidas aos molhos como legumes, outras famílias são arrancadas terrenos e existem outras que são obrigadas a assistir, sem nada a fazer, os seus terrenos sendo comidos por uma fita métrica desses ilustres negociantes. Neste exacto momento que escrevo este texto, senhor Júlio Parruque, há diversas famílias que se preparam para se colarem asas e voarem para terem acesso às suas residências.

 

Ninguém mexe nesse grupo, ninguém coloca um basta a esse grupo, ninguém tira o apetite por essa e várias ruas a esse grupo. Parece que ninguém tem força suficiente para parar esse grupo. Na Matola Gare, eram os ladrões que tiravam a tranquilidade de todos, mas agora é esse grupo que vai arrancando as ruas, esse grupo que vai transformando ruas em poços e minas de moedas.

 

Venderam uma rua, senhor Júlio Parruque. O senhor Calisto Cossa, de forma excelente e corajosa, tinha colocado um basta a esse grupo, mas o grupo ressurgiu e já anda, à socapa, a fazer inventários de ruas para vendê-las. O grupo desce, pé ante pé, a farejar ruas e terrenos para enriquecer. E, agora, vomita a todos na cara a frase “Calisto Cossa já saiu, queixem onde quiserem”.

sexta-feira, 02 agosto 2024 07:08

A extracção da matequenha

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O Ministro dos Transportes e Comunicações,  Mateus Magala, desempenhou, entre 2015 e 2018, as funções de Presidente do Conselho de Administração da empresa Electricidade de Moçambique (EDM).

 

A missão de Magala na EDM era hercúlea,  pesadissima: ele devia estancar uma prolongada hemorragia financeira de que padecia a empresa pública,  pois tinha as suas veias rebentadas por incríveis teias de corrupção e de gestão empresarial ruinosa.

 

A existencia de “empresas” de consultoria dentro da empresa, que “ganhavam” concursos internos, era uma calamidade pública antiga e bem investigada e denunciada pelo Centro de Integridade Pública (CIP). E as contas da empresa, junto da Hidroelectrica de Cahora Bassa (HCB) e de outros fornecedores de serviços eram insustentáveis. E Magala devia arrumar a casa!

 

Chegou com ideias.  Fez contactos e alianças estratégicas. Formulou seus planos de acção e os pôs em marcha.  Mas rapidamente sentiu-se cercado por todos os lados: um cepticismo geral elevava-se à sua volta. “Você não vai conseguir nada aqui! Isto está de tal modo viciado... que não há por onde pegar!”, diziam-lhe muitas vozes. Incluindo vozes de quem ele esperava encorajamento.

 

Em parelelo, surgiu alguma imprensa tambem discrente. Noticias foram aparecendo aqui e ali, incluindo com tom calunioso, alegando decisoes “desumanas” do novo gestor, que estaria a “humilhar”  “velhos quadros experimentados” da empresa, que a mantiveram em pé, desafiando  actos violentos de sabotagem da Renamo, durante a guerra dos 16 anos. “Onde ele estava durante esses anos todos em que sofremos?”- diziam, questinando a sua legitimidade para  introduzir reformas estruturais na empresa.

 

Nessa mesma senda, um dia um jornal divulga uma noticia em que afirma que Magala ter-se-á atribuido a si próprio  um salário na ordem de um milhão de meticais! A noticia é baseada em fontes oficiais, porém com números mal interpretados pelo jornalista (o que é aliás muito frequente na nossa media).

 

Para dissipar este e outros equivocos, Magala convida a imprensa para um “briefing”, durante o qual ele não só  esclarece a folha salarial dos gestores seniores da empresa, onde ele está incluso, como tambem partilha informação em primeira mão,  sobre os primeiros resultados das reformas na EDM. Esperou, o gestor, que no dia seguinte a imprensa se referisse a informação partilhada na véspera: em vão!

 

Passaram-se dias e praticamente nenhum orgão de informação divulgou as informações de progresso nas reformas profundas em curso na EDM, nem mesmo aquele jornal corrigiu a informação errada sobre o salario “milionario” de Mateus Magala: ele começou a questionar-se profundamente sobre o sentido destes eventos. Custava-lhe entender a sociedade moçambicana, que se recusava a segui-lo nos progressos que ia alcancando na reforma da EDM – incluindo a própria imprensa. 

 

Aí um dia ele convida-me para um café no seu escritorio, em que me  pergunta: “Afinal por que as pessooas, incluindo a imprensa, são tão ..negativas, pessimistas e até cínicas?”.  Eu respondi  imediatamente assim:

 

“As pessoas já não acreditam em nada! Porque já receberam demasiada mentira oficial e por tempo demasiado longo. As pessoas sentem-se defraudadas, enganadas! A sociedade não acredita nas instituições públicas. Ninguém vai acreditar que o Dr. Magala está mudar a EDM...ninguém! Tudo o que disser que tenha feito vai ser considerado como mera propaganda do regime...”.

 

Aí ele perguntou: “então o que achas que deve ser feito, para a sociedade voltar a acreditar nas instituições públicas?” Aí eu respirei fundo, e disse-lhe:

 

“Será necessario refundar este Estado!  Recomeçar...E isso implica visão, determinação e muita coragem. Porque o Estado foi , desde há demasiado tempo, tomado por uma praga de matequenha, aquela pulga que penetra por debaixo da unha do pé e cresce e se reproduz lá dentro. A sua extracção implica uma pequena cirurgia...que faz sangrar!”

 

Eu diria exactamente o mesmo ao candidato da FRELIMO, Daniel Chapo: a larga maioria dos moçambicanos está profundamente decepcionada com a FRELIMO: já o disseram, e de forma eloquente, nas urnas! E os motivos para isso são, há várias décadas, bem conhecidos: políticas de desenvolvimento falhadas.

 

Essa larga maioria já não “ouve” a FRELIMO! Mesmo os que vão aos seus comícios. Essa larga maioria apenas vai acreditar no seu discurso numa única condição: na de assumir, de forma inequivoca, um compromisso histórico: o de, ganhando as eleições, reformar profundamente o Estado; para  devolver-lhe a dignidade perdida. O que passa por  dele extrair  a matequenha que o tomou de assalto, sobretudo ao longo destes ultimos 20 anos!  Mas consciente de que isso vai-lhe criar muitos inimigos e detractores, saindo de todos os lados: não se tira matequenha sem rasgar a pele!

As “profecias” de TRUMP sobre a Guerra na UCRÂNIA e outros conflitos armados mundiais – Análise!

 

  1. A PENSILVÂNIA de BIDEN e OBAMA, volta a ser palco de terror para TRUMP nas americanas de 2024. Nas últimas eleições, negaram-lhe a reeleição para o cargo de Presidente da República; em 2024, a democracia de Donald TRUMP quase leva um tiro certeiro no coração maldoso. Escapou por um triz! Mas, levou um aviso por parte de um corajoso jovem atirador de 20 anos que, segundo se parece vinha, sofrendo bullying – um crime cometido sobretudo por quem não suporta conviver com a diferença, muito menos aceita a natureza de cada um, feita por Deus, com pretexto na ética e nos valores culturais... (tema para outra discussão). Repudiamos veementemente este ato macabro, do mesmo modo que repudiamos veementemente as ideologias narcisista de TRUMP em várias matérias. Pegando, por exemplo, no caso do atentado: quando o candidato republicano se vira para apontar os dados falaciosos contra as Imigrações é quando o brinco de outro quase lhe é enfiado a sangue-frio na “orelha de burro.” De facto, parece-nos que este Senhor – tirando a condição declinosa que o outro concorrente tem pela força da idade avançada ou outra – continua a não ouvir a ninguém senão a si mesmo. É o Dono da Verdade! Reprovou na reeleição por conta das suas ideologias xenófobas, racistas, populistas, anti-imigração, etc., ideologias claramente incongruentes face aos avanços da ciência, da técnica e da geopolítica mundial. Não basta o Estado ter Dólares Americanos, ser um Estado forte em vários domínios… o Estado que não respeitar a natureza humana já está condenado… na história da democracia americana (a de: um homem, um voto) sempre nos mostrou como é impossível comprar votos a todos americanos… as alternâncias no poder demonstram como a democracia vai de um candidato burguês (TRUMP) para um homem do povo (BIDEN). A verdade é que uma democracia feita na base da compra de votos se pode comparar a um criminoso que tenta encobertar um crime pagando dinheiro ao testemunha do crime… facilmente iria resvalar para uma espécie de Democracia de chantagem… E, repito, uma democracia criminosa destas já está condenada… TRUMP, apesar de ser empresário, está ciente disso; de que precisa do “Zé-ninguém” para reconquistar o poder assim como os chulos da FRELIMO, precisam… portanto, TRUMP, volta a namorar o povo americano e os milhões de americanos espalhados pelo mundo até na UCRÂNIA. Aliás, a conjuntura internacional – nos domínios dos conflitos armados e da economia mundial – mostra-se de suma importância nessas eleições. Sobre tal, retomemos (do seu discurso) algumas das suas ilusórias propagandas políticas…
  2. Consultado sobre a Guerra na Ucrânia, o magnata Republicano, TRUMP, não hesitou nem um segundo a atirar: “(…) acabaria com o conflito em 24 horas se regressasse à Casa Branca” atacando e responsabilizando deste modo ao seu homologo Joe BIDEN pelo permanente ‘estado hobbesiano’, o ‘estado de guerra’, o de todos contra todos (homo homini lupus). Claro que está formula mágica de TRUMP cujos termos não os decifrou, continuam nos segredos dos Deus, são uma clara propaganda eleitoral que tanto lhe pode garantir a vitória ou custar uma estrondosa derrota eleitoral às presidenciais de 2024. Por um lado, afirmar que existe uma “fórmula mágica” e não a indicar é uma clara vigarice política por parte de quem tem, perante o Estado, o dever cívico de o apoiar enquanto Cidadão ativo na política americana… do outro lado, dissemos, pode ser um posicionamento meramente de propaganda eleitoral; tem mais força a segunda opção! Claro que as “ameaças” de TRUMP sobre a Rússia, elevaria geopoliticamente os EUA a posição assumida no término da II Guerra Mundial, a de um dos vencedores da “III Guerra Mundial.”

 

III. Não creio que TRUMP tenha em manga uma fórmula mágica para acabar com conflito armado entre a Ucrânia e a Rússia, muito menos com outros conflitos militares internacionais e/ou regionais sem abrir uma “III Guerra Mundial.” Pensar nas estratégias militares acionadas para assassinar QASEM SOLEIMANI através de uma emboscada desumana com recurso a um ‘drone-bomba’ contra PUTIN seria uma solução sem desfecho feliz. A Rússia de PUTIN, não é a mesma que o IRÃ DE QASANI SOLEIMANI – para os americanos e boa parte da comunidade internacional, terrorista; mas, saudoso General QASANI para os iranianos que choraram sua morte). Para os russos, ainda que não transpareça, PUTIN é claramente uma Máquina Robótica substituível. Não se trata de PUTIN (…), mas da ideologia Putin; uma ideologia, em última análise, russa/nazista, hitleriana… seguida por milhares de russos e pela esmagadora maioria dos parlamentares russos. Pensar, por exemplo, que a agressão (ou melhor: que a Invasão) Rússia à Ucrânia foi legitimada pelo “Parlamento comunista”… enfim, os dias que seguem dirão mais sobre as “profecias demoníacas” de TRUMP. Desta vez, saímos do “coração generoso” de PUTIN – como escrevemos no Semanário, Jornal Canal de Moçambique – e voltamos para as lições dos “versículos satânicos” de RUSHDIE ao “coração generoso” de TRUMP. Enquanto acordamos pela noite histórica nas americanas de 2024 que em muito pode ditar o futuro do mundo, assistimos a outra noite histórica (poucos dias atrás) para alguma alegria nossa: acompanhamos que Parisienses celebram vitória do bloco da esquerda em França de MACRON e MBAPPÉ. Finalmente, um calmante para os nossos corações… PARIS, mantém-se: anti-fascista, anti-racista, anti-xenofaba! O milagre de Deus (e do Amor) sempre acontece!

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