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Carta de Opinião

quarta-feira, 10 julho 2024 13:43

As viagens dos candidatos presidenciais

No preâmbulo de qualquer eleição presidencial é normal que os candidatos façam viagens, incluindo internacionais, umas divulgadas e outras ocultadas, que me fazem lembrar despedidas de solteiro nas vésperas do casamento. 

 

Historicamente, os ingredientes de despedidas de solteiro, sobretudo os ocultos, quando vêm à superfície têm sido o prenúncio da perturbação e até do desfecho da relação entre o casal e com consequências na família e amigos, tudo por conta de um e outro ingrediente tóxico da despedida de solteiro.

 

E tal como reza o registo histórico das despedidas de solteiro, a par da máxima de que a história repete-se, receio por ingredientes tóxicos nas viagens dos candidatos presidenciais nas vésperas de eleições.   

 

De toda a maneira, e entre portas, tenho fé na prudência e sentido de Estado de qualquer um dos candidatos presidenciais para as eleições de 09 de Outubro de 2024, que me levam a acreditar que nenhum deles, nas suas viagens e não só, tenha feito compromissos ou actos que possam lesar o bem-estar e a integridade do país.    

sexta-feira, 05 julho 2024 07:44

Macacos me mordam! Diabos me levem!

AlexandreChauqueNova

Toda esta enxurrada que parece levar-nos ao pricipício, onde nos esperam as verrumas do diabo, pode não ter volta, não haverá espaço para o recomeço. Vivemos dias das maiores incertezas, ninguém sabe para onde vamos nem o que nos espera. As crianças, como guerreiros desarmados  nas savanas, enfrentam os seus próprios docentes nas escolas, encurralando-os como o fazem as hienas em matilhas ferozes nos momentos de desespero, desmentindo assim a realeza dos leões.

 

Perdemos o medo, e quando isso acontece significa que já não há outro caminho, já não há mais montanha para subir, então vamos morrer vivos nos combates, tendo a música como estandarte e toda a poesia das matas da libertação como azagaia lançada no espaço. Não podemos vacilar, o novo amanhecer está hipotecado. As ribanceiras do nosso país descem todas para o inferno, e quando é assim é preciso cingir o lombo e mudar o rumo, nem que seja pela última vez.

 

O pão é escasso nas nossas mesas, dançamos nas noites o remoínho do “nhau” que ressurge do estômago vazio, e vamos dormir sem fazer sexo porque estamos com fome, somos a geração dos novos escravos. Os feudais voltaram com outras roupas, estão aqui... na nossa casa. Organizam seminários e palestras em hotéis de luxo para nos enganarem, para falarem da nossa vida, daquilo que devemos fazer, e no fim servem-nos chamussas e rissóis e sumos duvidosos e ficamos contentes com isso. Os ministros do governo anunciam rigozijados, investimentos bilionários das multinacionais como se o dinheiro fosse nosso, como se os proventos viessem para nós!

 

A EN1 está absolutamente rebentada, mas se o rosto do homem é um pouco a janela da alma, então nós também estamos rebentados, não somos nada. É por isso que nos cavalgam, fornicam a nossa dignidade à frente dos nossos filhos. Por exemplo, no tempo em que Helena Taipo era governante, os chineses de uma empreitada qualquer na cidade da Beira, defecavam em sacos plásticos e mandavam os moçambicanos recolher a merda deles.

 

Temos no nosso país, compatriotas que segurariam com firmeza, concerteza, os remos da almadia onde todos nós iamos caber e navegaríamos em marés tranquilas, mas esses marinheiros da esperança foram abatidos como lobos solitários. Outros fugiram e remeteram-se ao silêncio com medo de que sejam os próximos. Já não temos baluarte, o que nos resta é construir outra arca para enfrentar as tempestades que virão dos ventos que estão sendo semeados na nossa terra.

 

O receio é de que o sol não nasça mais, ou nasça com luz de sangue a gotejar sobre nós. Somos nós próprios, em apoio a eles, que vamos criando condições para a última chacina. Seremos, com este andar das coisas, enterrados sem túmulo, outra vez como no tempo das correntes ao pescoço. Morreremos sem glória. Nem nós o povo, nem os combatentes da libertação, que se esvaziaram na ganância.

 

Macacos me mordam! Diabos me levem!

Adelino Buqueeeee min

Por estes dias paira um certo entusiasmo e apoio popular em defesa da renovação do contracto de Chiquinho Conde, actual seleccionador nacional dos “Mambas”. O mesmo frenesim em torno da candidatura presidencial do político oposicionista Venâncio Mondlane. Ambos com um histórico recente de turbulência institucional com as respectivas chefias.

 

Estes dois concidadãos partilham uma titânica semelhança: o espírito de rebeldia. Cada um deles um “Enfant-terrible”. Uma expressão utilizada para designar uma pessoa por acharem-na inoportuna, contestatária e de difícil trato, mas que por conta disso, a par da sua inteligência, idealismo, inovação e ousadia, também atrai o fascínio e admiração da sociedade.

 

Feitas as apresentações fica a pergunta: será que o entusiasmo e apoio popular em prol de Chiquinho Conde e de Venâncio Mondlane correm por conta dos seus bons resultados? Quer os desportivos do primeiro, quer os políticos/eleitorais do segundo? Ou decorrem da rebeldia que emanam?

 

Pessoalmente tenho a nítida impressão de que os bons resultados são o pretexto e a rebeldia a causa do entusiasmo e apoio popular que Chiquinho Conde e Venâncio Mondlane granjeiam.

 

Em jeito de fecho, um bom exemplo para suster esta asserção é o caso do antigo presidente dos assuntos tributários e das estatísticas nacionais, o “Capim Alto”, que é corrente ser lembrado, admirado e querido mais pelo seu legado de um “Enfant-terrible” do que pelos seus bons e comprovados resultados institucionais.

sexta-feira, 28 junho 2024 08:28

É preciso matar Samora outra vez

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Samora Machel é imortal. Um leão que ruge na memória dos algozes como a comporta da devastação. Ele ressurge nas efemérides esvaziadas, encimando os mastros e vibra na voz tinotroante pedindo contas aos traidores. As massas populares continuam a segui-lo no fracasso dos mercados onde o negócio sossobra, ninguém compra nada, não há dinheiro. E o povo não se cansa de gritar, lembrando um homem que nos catapultava e dizem: “se Samora estivesse vivo não haveria estes abusos”.

 

Ocuparam o nosso país outra vez. Esta terra deixou de novo de nos pertencer, e toda a epopeia da luta das matas foi vituperada pela ganância. Não é verdade o que o Primeiro-ministro Adriano Maleiane disse, de que o povo sofre de síndrome de impaciência e quer ganhos imediatos. Mas o gás brota em Moçambique há cerca de trinta anos em Temane, onde a Sasol suga o nosso recurso numa acção de saque, e nunca ganhamos com isso de forma justa, nem pelo menos as comunidades locais. E Maleiane vem a terreiro fazer-nos de tolos. Maleiane disse ainda que o gás não começou a sair e “nós já estamos a reclamar”.  Ora! Quem não sabe que o gás já jorra e já faz dinheiro?

 

Joaquim Chissano, ex-presidente da República, também veio cá fora afirmar que o problema é a formação, por isso não estamos a usufruir da riqueza existente no subsolo, mas não é isso! O verdadeiro problema é a desonestidade dos acordos  estabelecidos com as multinacionais, que exploram os nossos recursos a seu bel prazer. Humilham-nos. Riem-se de nós. Matam-nos nas minas.  

 

As grilhetas voltaram aos nossos pés e, no roçagar das correntes, ouve-se a voz de Samora. O povo quer de volta a almadia que nos levava aos estádios e às praças onde sonhavamos com o crepúsculo do amanhecer, e essa almadia já não existe. Caíram os pilares da integridade. Esboroou o compromisso de criar felicidade para o povo, e o que resta agora parece ser a resignação perante os novos colonos que regressam triunfantes, entrando pelas portas mais sofisticadas.

 

É preciso matar Samora Machel outra vez, para  voltarmos a encher as ruas com lágrimas e revigorarmos o espírito, cantando as canções da nossa luta, hoje enterradas na escala diatónica do infortúnio.

 

- A luta contunua!

 

 - Continuaaaaaaaaa!

 

- Viva o povo moçambicanos do Rovuma ao Maputo!

 

- Vivaaaaaaaaaaa!

 

- Abaixo a exploração do homem pelo homem!

 

- Abaixoooooooo!

 

É preciso matar Samora Machel outra vez para que a Praça dos Heróis se escancare e o povo encha as ruas como as marés enquinociais. Mas os verdugos continuam assustados.  O povo estava nas mãos de Samora, e hoje não está nas mãos de ninguém, foi abandonado no deserto sem fim. Então é preciso matar Samora outra vez para que as nossas lágrimas voltem como as albufeiras da esperança.

 

- A luta continua!

 

- Continuaaaaaaaaaa!

 

- Independência ou morte!

 

- Venceremos!

sábado, 22 junho 2024 08:43

Amarra-se o burro à vontade do dono

(a propósito da conferência de imprensa do presidente da FMF)

 

Na senda da conferência de imprensa do presidente da Federação Moçambicana de Futebol (FMF) ocorrida no passado dia 19 de Junho de 2024 alguém mandou para a minha caixa esta notícia https://lance.co.mz/artigo/chiquinho-conde_-amarra-se-o-burro-a-vontade-do-dono-e-quem-dita-as-regras-sou-eu_ que reporta uma entrevista concedida pelo actual seleccionador nacional de futebol, vulgo “Mambas”, ao canal desportivo da Rádio Moçambique, em meados do ano passado (2023).

 

Na citada entrevista foram abordados assuntos correntes da altura como a renovação do contracto do seleccionador, que findaria a 31 de Julho de 2023; a presença dos “Mambas” na Taça COSAFA; e ainda a polémica sobre a não convocatória de Zainadine Júnior e Lau King para a jornada frente ao Ruanda. Da notícia, e cruzando-a com a conferência de imprensa, ressaltou-me um ponto de convergência entre o presidente da FMF e o seleccionador nacional que exponho-o mais abaixo.

 

O seleccionador, debruçando na entrevista sobre a não convocatória de Zainadine Júnior, afirmou que diz sempre aos seus jogadores, e cito: “…para não se esquecerem que eu sou o treinador e quem dita quem toma as decisões relacionadas com a parte técnica e táctica sou eu. Há um velho ditado alentejano que diz assim: amarra-se o burro à vontade do dono. Isto para dizer que enquanto estiver na selecção as regras vão ser estabelecidas por mim, o jogador tem espaço para opinar dentro das balizas, mas com limites. Eu decido em conformidade, o individual nunca pode sobrepor ao colectivo”. Fim da citação.

 

Nestes termos, e decorrente das entrelinhas da fala do presidente da FMF na conferência de imprensa, depreende-se o tal ponto de convergência entre o presidente da FMF e o seleccionador nacional: ambos partilham o mesmo princípio de gestão, ancorado no ditado alentejano que diz “Amarra-se o burro à vontade do dono”. Em outras palavras: que se deve obedecer ou fazer as coisas conforme as regras do chefe/patrão. O emblemático “Patrão é Patrão” do cantor MC Roger.  

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