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Carta de Opinião

quarta-feira, 24 maio 2023 20:04

Impunidade total

MoisesMabundaNova3333

A impunidade é um mal muito grave para uma sociedade. Estamos diante de impunidade quando, em clara violação da lei e das regras de convivência social, humana, a instituição (ou indivíduo) de direito não sanciona, não toma as medidas que devia tomar para restabelecer a ordem normal, a justiça e a harmonia. Uma sociedade em que grassa a impunidade é uma sociedade em que a justiça não tem significado nem a sublime importância devida. É uma sociedade em que reina o mais forte, não o justo, o correcto, ou o ético. É uma sociedade sem razoabilidade, sem equilíbrio, nem estabilidade social. Reina quem pode e como pode; manda quem pode; faz quem pode e como quer e pode. Como na selva!

 

Numa sociedade onde reina a impunidade, não há justiça, não há harmonia, não há felicidade, não é sadia; as acções em contra-mão são toleradas, aceites, e sempre passam aparentemente despercebidas. Os injustiçados sofrem, sofrem até ao sufoco, até à morte espiritual, ou mesmo e muitas vezes material. Uma sociedade sem justiça é uma sociedade insegura, propensa a uma ruptura social, à violência: os injustiçados não toleram a injustiça para todo o sempre, tenderão sempre a fazer justiça à sua maneira e com as suas próprias mãos. Procurarão recorrer à vingança, à desordem e à violência.

 

Uma sociedade de impunidade e de vingança não é uma sociedade com valores sociais aceitáveis, de ética, desenvolvida, estável, em concórdia; é uma sociedade em guerra, sem paz, sem sossego. A justiça traz consigo a harmonia e esta leva ao desenvolvimento social, econômico e político. Não há uma sociedade em guerra que esteja a desenvolver-se.

 

A nossa tende a ser uma sociedade de impunidade. Exemplos são aos magotes, dia após dia! Práticas e procedimentos que noutros quadrantes dariam claras penas de morte, entre nós passam despercebidas. E mesmo se percebidas, faz-se de contas que o não foram. A corrupção campeia aos olhos menos atentos,  e não há nenhuma acção enérgica séria visível. Parece que todos estamos amarrados aos rabos uns de outros. Aqueles que deviam exercer a justiça parecem presos aos prevaricadores. São revelações atrás de revelações bombásticas, escandalosas, irracionalidades e irracionalidades, mas nada acontece, aqueles de direito deviam, nunca fazem patavina. Ou, se fazem, é para distraírem as atenções dos injustiçados e ou sedentos de justiça, dos incautos, ou dos que advogam uma sociedade de justiça - “para inglês ver”, como se diz.

 

Um dos muitos bons exemplos de impunidade é do que falava há dias. Depois de uma deslocação a Hati Hati, algures em Gaza, falava eu das péssimas condições em que se encontra o troço Mohambe-Maqueze-Hati Hati-Chigubo. O que afinal eu desconhecia era que sobre o troço há contratos entre a ANE - Delegação Provincial de Gaza e a S Construções  Xai-Xai, um ainda em vigor e outro terminado em Junho de 2021, para a sua manutenção. Curiosamente, os dois contratos foram com o mesmo empreiteiro, a S Construçōes - Xai-Xai.

 

O contrato em vigor, de 1/06/2021 a 30/06/2023, com o custo de 6 446 287,80Mt, visava especificamente a “manutenção de rotina da estrada terraplanada R855 Maqueze- Changanine, extensão 30 km, na base do sistema do acampamento”. Fiscal é a Nippon Koei Mozambique. Nem acampamento, nem manutenção, nem uma buldozer avariada e abandonada, nem nada. Nada! Junho é já para a semana, o contrato vai terminar, a estrada continuará péssima como está e vai piorar a cada chuvada que aparecer e os nlhanganinenses, esses, continuarão a sofrer a bom sofrer.

 

O contrato que já expirou tinha como propósito a “manutenção do troço Mohambe-Maqueze, 54km”, o mais crítico agora, e tinha como período de implementação Dezembro de 2019 a 30 de Junho de 2021, com o custo de 11 260 951, 31Mt e fiscal a COTOP. Certo, certo, é que o contrato terminou e de estrada não se viu patavina e muito menos agora, passado um ano e tal - que o digam os maquezianos e outros compatriotas daquelas bandas, como o comerciante local Betuel. Se tivesse havido um bom trabalho de base, a estrada não estaria tão péssima como está! E com as chuvas…

 

Cerca de 18 milhões de meticais saíram dos cofres do Estado para a manutenção da estrada. Foram embolsados. Nheto feito. A população de Maqueze, Nlhanganine, Hati Hati, Chigubo continua a sofrer como sempre, sem estrada! Com aquela estrada que só danifica as pobres viaturas que conseguem comprar com muito sacrifício. Onde estão as autoridades de direito? O dono da obra? O fiscal fez/faz alguma coisa? O empreiteiro, cadê ele? Entregou ele a obra? Quem a recebeu?... E as Unidades anti não sei o quê!...

 

Impunidade total. Inação, omissão, indiferença, deixa-andar, cumplicidade…. Impávido e sereno está quem devia mexer a palha. Que sociedade pretendemos? De impunidade! De revoltosos? De justiça com as próprias mãos? De tumultos…

 

ME Mabunda

terça-feira, 23 maio 2023 09:18

Zimbabwe homenageia Samora Machel!

Adelino Buqueeeee min

Na recente visita do Presidente da República de Moçambique ao Zimbabwe, foi lançada a pedra para a edificação de um Museu denominado Samora Machel, com o objectivo de valorizar os feitos heroicos deste e, acima de tudo, render-se homenagem aos Libertadores de África. Na minha opinião, antes tarde do que nunca, pois Samora Moisés Machel merece isso e muito mais por toda a região da África Austral e no mundo. Moçambique foi dos poucos países que aplicou as sanções Económicas decretadas pela ONU contra a Rodésia de Ian Smith e os prejuízos causados à nossa Pátria estão, de forma geral, na caixa abaixo.

 

“No relatório da Comissão Nacional do Plano de 1984, estimava-se em cerca de 556 milhões de dólares o custo total dos prejuízos dos quatro anos que precederam a independência do Zimbabwe. Por seu turno, o Conselho Económico e Social das Nações Unidas estimou os custos entre £70.000.000 e £82.000.000. Alguns países responderam ao apelo das Nações Unidas para a ajuda económica de Moçambique, mas no geral a sua contribuição foi muito insignificante para reparar os danos causados. Foi neste contexto que em 1979 os países capitalistas avançados providenciaram 70,6 milhões de dólares, ou seja, 24,7% de toda a assistência prestada, a Escandinávia o equivalente a 50,5%, os Estados Árabes 23,2% e os países socialistas cerca de 0,3% do total.”

 

In Joel das Neves Tembe, Cadernos da História de Moçambique, UEM

 

Devo referir que a adesão da República Popular de Moçambique às sanções decretadas pela ONU foi consciente e tinha a noção dos prejuízos que adviriam desse acto. Moçambique tinha contabilizado tudo e acreditava nas promessas de apoio por parte dos países desenvolvidos e não só. Veja-se o Relatório apresentado na Organização da Unidade Africana em 1976.

 

“Entretanto, o relatório do governo de Moçambique apresentado ao Conselho de Ministros na 27ª Sessão Ordinária da OUA em 24 de Junho de 1976 indicava os seguintes problemas e consequências:

 

Que 2/3 das actividades do Porto da Beira e 1/5 do Porto de Maputo serviam os interesses da economia rodesiana;

 

O número de trabalhadores ferro-portuários era estimado em 30.000, dos quais se devia

 

acrescentar outros 6000 empregados nas agências directamente envolvidas nestas actividades;

 

Os trabalhadores de Moçambique nas áreas fronteiriças que formalmente trabalhavam na Rodésia, agora em Moçambique à procura de emprego podiam ser estimados em 37.000;

 

Na Rodésia existiam 8000 trabalhadores com trabalhos sazonais e outros 80.000 com empregos fixos;

 

O encerramento da fronteira com a Rodésia resultava em perdas nos rendimentos do tráfego de mercadorias de e para a Rodésia e os outros territórios do interior na ordem de 72 milhões de dólares para o ano de 1976;

 

A aplicação de sanções resultava na perda de montantes avaliados em um milhão de taxas de aeroporto, 10 milhões por ano de serviço de carga, 750.000 de linhas aéreas;

 

Que o turismo estimado em 50.000 turistas/ano sofreria perdas no valor de 4,5 ou 5,5;

 

As exportações e importações com a Rodésia em 1975 eram estimadas em 5 milhões e 20 milhões respectivamente; segundo os resultados da Missão das Nações Unidas as perdas anuais em exportações eram calculadas em 3 milhões por ano e o aumento do preço das

importações era de 10 milhões; o défice total do comércio era estimado em 16 milhões, enquanto a balança de pagamentos sofria uma oscilação de 175 a 200 milhões de dólares nos dois anos seguintes;

 

Em termos financeiros Moçambique iria sofrer perdas no valor de 110 a 135 milhões;

 

A estas perdas se juntavam-se os problemas com as telecomunicações e com a água e energia eléctrica na região de Manica e Espungabera”;

 

in Cadernos da História de Moçambique.

 

 Conclusões

 

“Qualquer conclusão a apresentar teria de ser feita com um carácter preliminar, pois as grandes dificuldades no acesso a fontes primárias documentais e a necessidade de realizar entrevistas com as populações alvo constituíram as grandes limitantes. Todavia, depreende-se neste estudo o papel histórico que assumiu a posição tomada por Moçambique na alteração da correlação de forças na região a favor do movimento de libertação.

 

Não se tratou apenas de um simples encerramento de fronteiras, mas sobretudo de tomar posição no xadrez político e ideológico regional.

 

Por esta atitude, Moçambique transformou-se na principal vítima das sanções ao ver as suas escassas infra-estruturas a serem destruídas. Moçambique como país periférico e historicamente integrado no subsistema económico dominado pelos seus inimigos não poderia evitar ser a principal vítima. Este é o caso típico em que as sanções prejudicam a terceiros.

 

A aplicação de sanções à Rodésia para além de ter contribuído, em termos gerais, para a definição de um novo mapa ferroviário na região, ao se procurarem alternativas para os países do hinterland, consolidou a hegemonia da economia sul-africana, em particular do seu sistema ferro-portuário, sobretudo a partir de 1977 com o apetrechamento de Richards Bay e com a rápida instalação do sistema de contentorização.”

 

In Cartas da História de Moçambique, ©Joel das Neves Tembe

 

Departamento de História

 

Hoje propus-me a fazer a reflexão, trazendo dados e informação produzidos no tempo em que Moçambique decidiu aderir às sanções. Muitos poderiam pensar que foi uma decisão emocional, até porque alguns países beneficiários da benevolência de Moçambique não têm dado mostras de reconhecimento a Moçambique do sacrifício que consentiu para a libertação destes Países do sistema do Apartheid e do colonialismo interno, como foi o Zimbabwe.

 

Como consequência deste posicionamento dos beneficiários da nossa solidariedade, muitos moçambicanos se questionam sobre porquê Moçambique aderiu a uma luta de outros com consequências desastrosas para o País. Veja a satisfação de Samora Machel pela libertação do Zimbabwe.

 

“Ainda muito antes da independência nacional, o povo moçambicano não hesitou em verter o seu suor e seu sangue para apoiar a luta do povo irmão do Zimbabwe. Para que o Zimbabwe fosse livre, o nosso povo sofreu massacres, agressões, destruição sistemática de seus bens, actos de terrorismo e de subversão sem que, por um só momento, vacilasse a sua determinação.

 

Pelo contrário, a cada golpe do inimigo, mais se reforçava a nossa convicção de que só seríamos totalmente independentes quando o Zimbabwe fosse livre”.

 

In Samora Moisés Machel.

 

Por isto e muito mais, que o digam as províncias como Manica, Sofala o quanto sofreram com a guerra movida pelo “TABAQUEIRO” Ian Smith, enfim, a história vai se acertando aos poucos e, por isso, congratular o Governo do Zimbabwe.

 

Adelino Buque

segunda-feira, 22 maio 2023 12:32

Benedito Guimino no fim da carreira

AlexandreChauqueNova

Receio que Benedito Guimino, actual edil da cidade de Inhambane, enlouqueça espiritualmente depois de deixar o cargo. Pode ser que fique com a sensação – após dez anos de mandato – de ter feito pouco pelo seu município, e isso vai frustar qualquer pessoa de bom senso. Tinha espaço para no mínimo, ordenar o território das zonas de expansão, na impossibilidade de fazer voos de grande altitude, mas esse desafio carece de audácia, ou seja, de juramento. Guimino não tomou essa atitude.

 

As vias de acesso constituem – isso todos nós sabemos – pontos cruciais para o desenvolvimento da comunidade. Houve uma tentativa no sentido de se melhorarem os acessos.

 

Construíram-se algumas ruas de pavêt de certa forma aplaudidas, mas não passou muito tempo, percebeu-se que a qualidade das obras é fraca. Em alguns troços o pavimento está a destroçar-se, mesmo antes de Guimino entregar o testemunho.

 

Pode ser que Guimino saia da cadeira com remorsos, não consegue manter a cidade limpa. Prometeu construir um mercado do peixe na Mafurreira. Desalojou as vendereiras há mais de dois anos, tendo-as colocado em condições mais do que deploráveis, à espera que o edifício fosse feito, qual!. O tempo passava com peso esmagador sobre as mulheres e, do novo mercado, nada! A única coisa que o Município fez foram as fundações numa zona de pântano com riscos ecológicos, e até hoje nem água vai, nem água vem. O mais triste é que o edil costuma passar pelo local no seu carro luxuoso, desfrutando do ar-condicionado e todo o conforto, sem ao menos parar para saudar “aquele povo” que, cansado de esperar, regressou ao seu lugar agora com as circunstâncias pioradas pelas fundações.

 

Tenho receio que estes fracassos esmaguem a alma de Benedito Guimino, um professor outrora elogiado por ter a Escola Secundária de Muelé bem organizada, quando era director. O município de Inhambane tem um ordenamento territorial caótico. As novas ruas foram feitas sem valas de drenagem. O mangal que veio retirar a vocação de cidade de veraneio, agravou ainda mais o estado de abandono, onde a “mão” do presidente do Município faz-se sentir pouco, em alguns momentos inoportuno.

 

Guimino entrou em colisão com os moradores do bairro Matadouro, que se sentiram não só burlados, mas sobretudo desprezados e esmagados na sua dignidade. O Banco de Moçambique propôs a construção de um monumento na referida zona, com a contrapartida de retirar as pessoas e coloca-las num outro lugar com casas construídas pelo município com dinheiro desembolsado pelo Banco, são cerca de sessenta famílias.

 

Até aqui estava tudo bem, mas Benedito Guimino, no lugar de construir casas condignas, conforme propunha o Banco e com condições criadas, foi erguer casebres inóspitos, que foram prontamente rejeitados pelos moradors. O presidente do município ainda ameaçou os moradores, pretendendo tirá-los à força, usando a polícia, mas eles foram firmes, exigindo seus direitos. Até hoje estão nas suas casas, à espera que sejam consideradas como pessoas, conforme dizia uma moradora em confronto com Guimino.

 

São estes alguns dos pontos que podem contribuir para que Benedito GUimino saia chamuscado. O que será muito triste não só para ele, como para todos aqueles que esperavam dele um grande desempenho! 

 

quarta-feira, 17 maio 2023 08:30

O herói Azagaia e a Toponímia!

“Os quatro jovens que colocaram a placa nomeando uma rua de “AZAGAIA” foram todos recolhidos para as celas e a placa foi removida”

 

In Adriano Lázaro, Facebook

 

“Desde já, manifesto minha solidariedade para com os jovens detidos e encarcerados nas celas, ao mesmo tempo que manifesto o desejo de correcção dos métodos que se deve usar para atingir um determinado objectivo. Não basta eu acordar e decidir que as coisas devem ser assim ou assado, sobretudo, quando a coisa entra na esfera pública. Uma coisa é eu adorar e admirar alguém, outra, bem diferente, é fazer com que a pessoa que eu adoro seja adorada por todos ou pela maioria e merecer espaço no lugar público. Haverá que se fazer algum percurso para que tal desiderato aconteça e, no caso da Toponímia, as regras existem e são conhecidas. Finalmente, um apelo às autoridades, ainda que reconheça que os jovens não seguiram os trâmites da toponímia, por favor libertem-nos e eduquem-nos!”

 

AB 

 

Herói “homem ilustre por feitos guerreiros ou de grande coragem, protagonista de uma obra literária ou cinematográfica etc.”

 

Heroico “próprio de herói, que denota heroísmo, enérgico, muito eficaz, ousado, diz-se de verso de dez sílabas com acento predominante na 6ª e na 10ª, designativo de estilo ou do género literário em que se celebram façanhas de herói”

 

In Dicionários do Estudante, Porto Editora.

 

Na manhã de 15 de Maio de 2023, vejo nas redes sociais que “quatro jovens foram recolhidos às celas”. Motivos: decidiram nomear uma Rua de AZAGAIA e a reacção dos internautas não se fez esperar. Alguns consideram os quatro jovens de “presos políticos” outros simplesmente escrevem nos comentários “é o País que temos” e pura e simplesmente, ficam-se por aí. O que julgo não ajudar para o aprofundamento de debates sobre o nosso pensamento individual e/ou colectivo.

 

Não existe nada de errado em um grupo de pessoas, devidamente identificado, decidir propor que o nosso ícone da música moçambicana ora falecido seja indicado como Herói. É claro que não será nada fácil, sabemos todos que as coisas não funcionam assim entre nós. Sabemos que, regra geral, quem identifica os Heróis é um determinado grupo seleccionado a “dedo” e sob orientações superiores do Governo do dia e “penetrar” nesse meio não é fácil, mas nem por isso deve-se menosprezar a sua existência. Deve-se começar pelo princípio e, caso não se dê ouvidos, entra-se por esta via da confrontação e não partir do princípio da confrontação!

 

Apesar de reconhecer a dificuldade de “penetração” não se deve encorajar a “rebeldia” porque, na minha opinião, as pessoas que encorajam ou que encorajaram esses jovens a enveredarem por essa via, hoje e neste momento, estão assistindo via Facebook, Whatsap e outros meios a sorte dos mesmos. Provavelmente, irão aparecer nas TVs a falarem da falta de “liberdade” em Moçambique, esquecendo que existe uma diferença entre a Liberdade e a Libertinagem ou anarquia. Pouco se importam porque quem sofre não são eles, mas os quatro jovens recolhidos às celas.

 

Admirar alguém, adorar alguém, qualquer um pode o fazer, mas o faz no recanto da sua casa, entre amigos e/ou grupo de pessoas. Mas quando essa admiração se pretende “impor” que todos o façam, transcende o direito de liberdade e passa a ser ditadura. Qualquer um não deseja ser imposto seja lá o que for. Diz a máxima que “a tua liberdade termina onde começa a liberdade do outro” por isso eu julgo que, no lugar de “Heroicizar” os quatro jovens, deve-se aconselhar sobre que procedimentos devem ser seguidos para se atingir um determinado objectivo e, caso não sejam ouvidos, poderem enveredar por outras vias.

 

Esta minha reflexão pode não merecer a atenção e respeito de muitos, sobretudo, aqueles que enveredam pelo uso do “sensacionalismo”, aqueles que gostam de confrontar-se com as autoridades estatais, que gostam de publicitar as incapacidades institucionais, esquecendo-se que essas instituições são nossas e a nós cabe capacita-los para melhor servir-nos. Vamos criticar sim, mas não vamos fazê-lo simplesmente para aparecer, devemos fazê-lo dentro de um quadro de legalidade e de justiça, partindo do princípio de que “não faça a outro o que não gostaria que te fizessem a ti”.

 

Aos jovens detidos, vai a minha solidariedade e correcção, solidariedade porque, na minha opinião, a prisão é o último recurso a ser usado pelo estado e acontece porque o indivíduo se mostrou recalcitrante e não me parece que seja o caso desses quatro jovens, salvo melhor opinião. Correcção porque, na minha opinião, no lugar de prisão, merecem ser corrigidos e orientados sobre os seus desejos, mostrando-lhes os caminhos a seguir para conseguirem esse desiderato. Não se deixem enganar jovens, a pátria é vossa e o futuro vos pertence!

 

Adelino Buque

terça-feira, 16 maio 2023 12:35

Entre a honestidade e a fome

AlexandreChauqueNova

Por estas alturas estaríamos a desfrutar das deliciosas laranjas cultivadas em Nhacoongo, aqui perto no distrito de Jangamo. Outras chegariam de lugares um pouco mais longe como Murrombene e Massinga, os mercados estariam cheios, apelativos. O ananás viria de Muchúngwè em camiões abarrotados de doçura, e de Inharrime também, então a cidade inteira transformava-se em feira de fruta, era a festa da vitamina em si. E depois eram as tangerinas, famosas em todo o mundo por via do poema de José Craveirinha “As doces tangerinas de Inhambane”.

 

Mas toda essa fruta continua a ser despejada por uma espécie de básculas, inunda os mercados. Há compradores que mesmo assim não vão em avalanche, se calhar porque o dinheiro escasseia. Porém há um interveniente que nos faz balançar de forma particular perante a oferta, que é o paladar, redondamente descompensado, ou seja, a maior parte desses produtos que nos são dados a consumir não estão maduros, são arrancados verdes da árvore, antes da formação.

 

Ainda há dias fui ao mercado, queria comprar maracujá. A própria casca falava, dizia-me que a fruta não está apurada e, portanto, não devia estar ali à venda para consumo. Perguntei – de propósito – à vendedeira, se aquela maracujá estava madura, ela respondeu-me assim, não está bem madura! Eu ainda retornei, porquê que vende se sabe que não está bem madura, mamã? E ela, sem receio disse, “É fome, papá”.

 

A mulher estava a ser honesta. Sabia da violação do direito do consumidor que estava cometendo, mas também tinha fome e precisa de se alimentar, a barriga não sabe esperar. É assim com a laranja e o ananás e a tanjerina, são comercializados na sua maioria em estado de imaturidade, não nos permitindo por conseguinte, ter o prazer de degustar de um ananás doce ou de uma laranja apetitosa, esse tempo já passou, sem que ninguém saiba se vai voltar um dia, e o presente leva-nos a pensar que não temos outro caminho que não seja o de aceitar o que nos dão, ainda por cima com o nosso dinheiro.

 

É um doloroso dilema das vendedeiras dos mercados, que vêm de longe penduradas em carrinhas de caixa aberta do tipo “My love”, chegando a dormir ao relento nos mercados enquanto o produto não acaba. Podem ficar dias assim mesmo, pior agora que o frio chegou, elas precisam de levar pão para casa, não importa o caminho a seguir para conseguir isso. Essa é a realidade.

 

Por outro lado, todas as semanas há camiões cheios de banana que chegam e baldeam a mecadoria que depois é levada em “thxovas” em estado verdíssimo, mas no dia seguinte o mesmo “thxova” leva a mesma banana que ontem estava verdíssima, já em condições de ser consumida. É estranho porque a casca, depois da fruta amadurecida de um dia para o outro, apresenta um aspecto deplorável, mas os que vendem dizem, não se preocupe com a casca, a fruta lá dentro está boa. 

 

É isso: estamos na época da fruta. Há muita fruta, mas........!

NandoMeneteNovo

Um sénior citadino da capital do país foi interpelado, na esquina das avenidas 24 de Julho e Guerra Popular, por jovens estudantes que discutiam sobre uma obra que decorre bem próximo e em pleno passeio central da Av.24 de Julho.

 

Pelo que pude apurar os jovens são estudantes de um instituto que leciona matérias sobre transportes e discutiam se a obra acima referida era ou não uma estação (paragem) do BRT (Bus Rapid Transit), o retomado projecto de faixas/corredores exclusivos de transporte público urbano, recentemente anunciado pelo titular do Ministério dos Transportes e Comunicações

 

Porque o consenso roçava a impossibilidade os jovens decidiram solicitar a opinião do citado citadino, que por ali ganha o pão. Este, um velho ardina e engraxador da esquina, que depois de (supostamente) reflectir – os sinais do exercício não deixavam dúvidas – respondeu com sotaque de José Maria Relvas: “Se é uma estação do BRT? Não, é uma retrete pública!”.

 

O sotaque e o termo “Retrete Pública” deixaram-me com alguma curiosidade a ponto de deslocar-me até a dita obra a fim de conferir a placa. Entre outros dados, constava que a obra é do Município de Maputo e de que era um sanitário público. Confesso que enquanto aproximava-me da placa rezava para que a obra fosse uma estação-modelo do BRT.

 

Prontos: a obra é de facto uma “Retrete Pública” localizada no coração da cidade entre quatro faixas de rodagem (duas de cada lado) da movimentada Av. 24 de Julho. Imagino que aliviar por ali o número dois não será fácil. A cada buzinadela, uma interrupção. E esta pode até ser divina e como causa da morte: “Acidente fatal de viação em posição fecal”. Assim constará na certidão de óbito.

 

Decerto que alguém pensou, alguém decidiu, alguém financiou e a obra decorre. Igualmente decorrem inquietações cidadãs quer sobre a localização e segurança quer as de ordem estética, sociológica e antropológica, quer ainda da ligação desta obra com o BRT, uma vez que se encontra postada no percurso de uma potencial via BRT.  

 

Em retirada, solene e fúnebre do local, e diante dos jovens estudantes, que se haviam também aproximado da placa, disse-os de que temia que esta retrete pública fosse o retrato público do destino a ser dado ao projecto do BRT. Na verdade, o endereço final de anteriores projectos similares e afins.

 

Por ora, e a fechar, que se espere pelo dia da inauguração, principalmente pelos discursos e outros actos da ocasião, um momento que aguardo ansioso, pois nunca vi e não sei como é que se inaugura um sanitário público, sobretudo quando a M… já está, previamente, feita.

 

Nando Menete publica às segundas-feiras.

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