Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Carta de Opinião

Renato Caldeira

Ao analisar-se o entusiasmo em redor do Moçambola, facilmente se verifica que ele diminui do Norte para o Sul, de forma proporcional à distância. De Lichinga à Beira, o desporto-rei é uma loucura e os adeptos até dão espectáculo nas bancadas, monopolizando conversas e exacerbando paixões, algo que contrasta com a capital do país, onde apesar de haverem os melhores estádios e transportes, as bancadas ficam “às moscas”, mesmo em dia de derby.

 

Em contra-ponto, na capital, em dia de embate Manchester City-Barcelona, Benfica-FC do Porto e outros, os adeptos vestem camisolas e bonés dessas equipas e vibram até à exaustão.

 

Fica claro que para estes, o estatuto do futebol interno e do desporto em geral, é uma coisa menor, um “xitututu” (barulho de uma motorizada), incapaz de ser factor de atracção.

 

DE FORMADOR A ESPECTADOR

 

Recordam-se os mais velhos, que o Norte e o Centro, eram os viveiros e fornecedores da base das selecções nacionais no pós-Independência. Cito algumas estrelas: Nuro Americano, José Luís, Chiquinho Conde, Rui Marcos, Paulito, Jójó e outros. Porém, hoje vivem do recrutamento de treinadores de Maputo, que por sua vez impõem a contratação de jogadores do Sul. Os plantéis ficam completos com o recrutamento de futebolistas nos países vizinhos, muitos deles de categoria duvidosa.

 

E porque os clubes vivem dos orçamentos das empresas e não da publicidade e quotas dos associados, importa apresentar resultados imediatos, para justificar novos desembolsos.

 

O principal “cancro” da formação? Após terem sido “bisnados” – na sua maioria - os espaços vazios, campos e pavilhões, o que escapou tem como prioridade o aluguer a reuniões políticas, cerimónias religiosas e espectáculos musicais. As futuras estrelas que optem pelos “games” nos celulares.

 

Quanto ao futuro dos Mambas? Ressalvando as excepcões, a prioridade para sermos competitivos passa pela naturalização de jovens descendentes de segunda e terceira geração de cidadãos nascidos em Moçambique!

 

Uma pobre herança para estrelas como Eusébio, Coluna, Armando Manhiça, Hilário, Mário Wilson, moçambicanos de raiz que levaram o nome da antiga colónia portuguesa ao Mundo.

domingo, 09 julho 2023 14:03

O inesperado! 

Aida Macuácua
Aconteceu naquela noite
Noite espessa de negrume
Sem brilho, sem estrelas 
Sem luar, sem vaga-lumes
Almas desnudas, escabrosas
 
Corpos quentes, voluptuosos
Mentes turvas, embaciadas
Olhos fixos, esbugalhados
Corações enlameados
Almas assassinadas
 
Respiração ofegante
Penumbra sepulcral 
Fumo espesso, asfixiante 
Silêncio estridente
Cavalgada estonteante
Sem escrúpulo
 
Corpo torpe, pesado, senil
Cheiro cadavérico 
Garrafas, copos esvaziados
Cheiro pecaminoso, genocida 
Respiração pesada, cativa
Alma presa, rodopiante, confusa
Entulhada, violentada por opiáceos 
 
Fumo espesso tragado sem pressa 
Expelido sem expressão 
Ratos, pulgas, percevejos 
Companheiros de opressão 
Pobreza destilada no funil
Mal-coado, sorvido vagarosamente 
 
Rato perambula, esquarteja o cabedal encardido, gasto, velho, fedido
Baratas degustam restos inexistentes
Quão fundo é o buraco
 
Homem esgotado, castigado
Insónia, fome companheiras honradas
Dívidas imensas, infinitas 
Escondidas nos charros, loucura
 
Vida desperdiçada, encurtada
Algemada, corrompida
Desgraça anunciada, queda retumbante!
Sem Jesus!
 
Acabou-se!
 
quinta-feira, 06 julho 2023 06:45

Meu nome é Farrapo

AlexandreChauqueNova
Mas da maneira como bebo como é que podia ser alguém?! Tentei várias vezes ser carvão a ver se dava vida às fervuras mas não ardo. Vivo com a minha mãe, ela também é um farrapo, perdeu completamente a direcção, ou melhor, o farol dela é essa merda que está a chacinar-nos, isto é uma chacina. Então eu e ela somos duas jangadas sem remos, e assim como estamos não temos outra terminal que não seja o pricipício.

 

Mesmo que eu esteja sob domínio do efeito do álcool, não consigo entrar no cosmos da alucinação onde devia ser tomado pela falsa sensação de bem estar. Cada vez que entorno goela abaixo o veneno dessas garrafinhas do diabo, mais lúcido me torno. Fica disponível a minha sensibilidade do corpo e do espírito, e aí sinto toda a dor das minhas feridas vivas e acabo repetindo o refrão dos Rockfeller,s. “Esta vida é uma ressaca”.

 

Submeti-me ao “Senta-baixo” e agora faço parte da roleta. Nas noites quero que amanheça depressa para sair de casa, pois lá fora sinto-me um escravo livre, embora tenha que carregar a machila do Lúcifer e levá-lo a passear nas sombras sombrias onde a música que se ouve é regida pelo próprio diabo e cantada em coro pelos seus sequazes. Um desses sequazes sou eu.

 

Dói-me muito por a minha mãe também fazer parte desta sinfonia da morte. Tenho falado com ela várias vezes, sobretudo quando estamos embriagados, rogando-a a que dispamos as batinas que nos sufocam e atormentam o espírito, e a minha mãe não dá importância ao que digo, “dispa tu a tua batina, meu filho, ainda vais a tempo, eu não!

 

Nunca bebo com ela no mesmo lugar, ninguém a respeita. É bojardeira, e outros jovens como eu deliram com os seus discursos sem pudor e aproveitam-se do seu estado para abusá-la. Mas eu sei disso, porém não posso fazer nada. Sou incapaz de tirar a minha mãe do caminho infestado de vespas que lhe picam em todo o momento sem parar.

 

Eu bebo demais no seio de uma juventude que não sabe para onde vai. Não sei se a culpa deste descalabro é do Estado ou é nossa, nós os jovens. Podiamos fazer qualquer coisa para mudar o rumo do barco, mas não! No lugar de buscar os remos caídos no mar deixando as nossas almadias ao léu, optamos por aceitar e beber o veneno que eles nos dão, e ainda dizem que não se pode proibir o fabrico desse cianeto porque os fabricantes pagam impostos. Então, sendo assim, podem nos matar.

 

Mas essa é a realidade, daqui a pouco seremos cadáveres reais, depois desta farsa toda de que somos pessoas. Na verdade já não somos nós que vamos, eles é que nos conduzem com essas bebidas de merda que nos vão castrando pouco a pouco, dando a florescer o negócio da viagra. Porra!

Adelino Buqueeeee min

“Hoje, o Governo desaconselha viagens à África do Sul: Quando os sul-africanos se manifestaram xenófobos, matando, queimando e saqueando os cidadãos moçambicanos, quando o regime sul-africano treinava seus Cães de Raça caçando ilegais moçambicanos, quando os transportadores moçambicanos se manifestaram contra a queima das suas viaturas e saque de bens dos transportados, quando cidadãos que por várias razões iam à África do Sul eram interpelados, roubados e as suas viaturas queimadas, Moçambique, através do seu Governo, usou a célebre palavra “estamos a trabalhar”, quando deveria ter tomado uma atitude enérgica. Mas nunca é tarde.”



AB



Desde a independência nacional, Moçambique abraçou causas internacionais e, muitas vezes, em detrimento das causas nacionais. Lembramo-nos da aplicação das sanções contra o regime do Apartheid, do regime de Smith e a guerra contra o Apartheid na África do Sul, a luta da Palestina de entre outras causas que Moçambique assumiu como suas, muitas vezes, acredito, ciente de que não teria ganhos para o país.



Na luta contra o Apartheid, Moçambique não só sofreu agressões da África do Sul, como foi severamente afectado em termos económicos, para simbolizar a nossa solidariedade para com a luta do ANC, que é a luta dos sul-africanos. Temos, na Cidade da Matola, o monumento erguido para o efeito, denominado Centro de Interpretação, riquíssimo em informação sobre a solidariedade de Moçambique para com a causa da África do Sul.



Mesmo ciente de que a sua economia é subdesenvolvida, Moçambique embarcou no protocolo da SADC, com vista à liberalização do mercado regional, assumiu as etapas e, muitas vezes, não teve o discernimento de colocar interesses nacionais aos da região. A indústria moçambicana precisava e precisa de acarinhamento para dar salto, mas, por causa dos compromissos da SADC, no seu protocolo de liberalização do mercado, Moçambique é penalizado e, neste momento, assume-se como o mercado de refugo dos produtos produzidos na África do Sul.



A questão que se coloca é: o que a África do Sul tem que ver com os problemas de Moçambique! Provavelmente nada, provavelmente tudo, mas, acima de tudo, na minha opinião, o problema é geral. Os países da SADC, na sua cooperação, privilegiam os Governos no lugar dos povos, os povos são simples seguidistas e os Governos os actores principais. Isto resulta em que os compromissos assumidos entre Estados não vinculem as pessoas desses Estados, aliás, isto acontece com a CPLP, acontece com PALOPs, se a cooperação existente com esses Estados é benéfica, provavelmente para os Estados e os Governantes do dia!

 

Moçambique desaconselha viagens à África do Sul!



Esta é, na minha opinião, a decisão tomada em favor da sociedade moçambicana, uma decisão que deveria ter sido tomada faz muito tempo, desde o período em que os sul-africanos manifestaram a XENOFOBIA, matando, saqueando os cidadãos moçambicanos. O Governo deveria ter-se manifestado de forma enérgica contra a atitude dos sul-africanos, quando, de forma recorrente, cidadãos moçambicanos eram interpelados e seus bens saqueados e as suas viaturas queimadas. Moçambique, digo o Governo de Moçambique, pura e simplesmente, manteve-se mudo e surdo perante toda essa barbaridade, mas porque será!



Moçambique, neste momento, tem condições de fazer boicote ao comércio com a África do Sul, desaconselhando os seus concidadãos a fazerem importação dos produtos daquele País. Moçambique pode, através do sistema de cooperação económica, produzir localmente aquilo que tanto demanda na África do Sul. Por exemplo, o Distrito de Moamba, Magude e parte de Chókwè, que são produtores de Batata Reno, têm as terras em pousio faz muito tempo. No lugar de deixar ao critério de portadores de DUAT, o Estado pode confiscar essas terras e repassá-las aos cidadãos sul-africanos, que não são poucos que querem terras para trabalharem.



O exemplo de Boane e Namaacha na produção de Banana mostra que, com um pouco de abertura, as coisas podem acontecer localmente. Nos casos em apreço, acredito que a contraparte sul-africana encontrou gente, do lado de cá, esclarecida sobre o que pretende e fez-se a cooperação, mas existem casos de gente com extensas áreas de solos aráveis que pura e simplesmente são ociosas à espera da especulação. Essas pessoas, quando contactadas, aplicam a renda/mês, o que torna as coisas inviáveis.



Moçambique deu o primeiro passo, com a chamada de atenção aos seus concidadãos para não se fazerem à África do Sul, devendo fazê-lo em caso de extrema necessidade, mas deve tomar mais medidas ousadas, até que o Governo da África do Sul compreenda que a sua alta taxa de desemprego não se resolve soltando os desempregados para saquearem visitantes daquele País. Acredito que piores dias nos esperam no país vizinho e medidas estruturantes da nossa economia devem ser tomadas já!



Adelino Buque

AlexandreChauqueNova

A  anunciada subida de dois degraus  da selecão nacional de futebol  no raking da FIFA, será outra forma de homenagear a memória de João de Sousa, homem inteiramente dedicado ao desporto  em toda a sua vida.

 

Passam três anos após a sua morte, e a primeira impressão que tenho dele, ao vê-lo,  é de que estamos perante uma figura frágil, pela forma como se move pisando a terra na vertical. Fica-nos a imagem de um taciturno. Um indivíduo com medo de avançar.  Ele tacteia o chão com a perna direita que baila no ar antes de assentar a leve planta do pé. Dança exitante uma dança desconhecida, em contraste com a voz límpida onde mora toda a sua alma.  Aliás, é com a voz timbrada que ele combate todas as vicissitudes, e leva os delírios  dos estádios à todos os cantos das nossas casas. E a todos os lugares.

 

Mas também com o nome de João, tinha poucas possibilidades de não luzir, e ele fez isso, como se as auroras lhe pertencessem. João de Sousa é um megafone elegido, através do qual  vamos receber todo o turbilhão dos campos de jogos, que agora ficam em silêncio após o último suspiro de uma estrela que nunca descansou. Mas se a vida é inesperada, então a própria morte também o é. Como agora, que ruíu para sempre esse pilar que sustentava na sua medida e peso, a plataforma do desporto nacional.

 

Os xiricos e os grundigs e os philips, derrubados pela tecnologia imparável, lembram-se com certeza, mesmo nas catacumbas, da voz do João de Sousa. Ele também vibrava como as multidões que foi alimentando durante tempos sem fim. Como se cada relato fosse o último, ou o primeiro, numa longa jornada de vida vibrante. A sua arma  era o microfone, funcionando como escafandro na penetração das profundezas do detalhe. E tudo o que ele fazia, passava primeiro pela filtração do fogo, como o ouro que se pretende puro.

 

É esta a figura que excedeu os limites, mostrando igualmente, a par do conhecimento profundo sobre o desporto, a sua desmedida paixão pela música. Pela boa música. E nunca será repetitivo dizer isso, pois, programas como “O fio da memória” e “História das Músicas”, trazem-nos uma pessoa culta e preocupada em renovar as memórias. Ele tinha medo que a juventude se perdesse, por não saber de onde vêm estes ventos todos que fundamentam a arte e a cultura. Não queria ser cúmplice da falta de testemunho.

 

Agora cabe-nos prestar vénia ao homem de convicções inabaláveis. Que se recusou a abandonar os mares, pois sem as águas, as guelras do João de Sousa deixariam de insuflar oxigénio para alma. Haveria a morte por dentro. É por isso que estava sempre alí, no centro social da Rádio Moçambique, onde se juntava aos amigos, aos velhos amigos, atraindo também a juventude que queria ser  como ele. Eram as pessoas e os jogadores e os amantes do desporto que lhe faziam viver, como se estivesse no marulhar dos grandes estádios, onde a sua voz de ouro misturava-se com o êxtase das multidões.

 

João de Sousa, um facebookista generoso, nunca se cansou de nos lembrar os feitos de grandes figuras do desporto e da cultura, e também da política. Esse gesto deixava-lhe com o coração cheio. Os likes e os comentários que recebia de inúmeros facebookistas  que lhe seguiam, eram o testemunnho de que a vida só é bela quando a partilhamos. E João fazia isso com alegria. Com entusiasmo. Com engajamento.  E continuou a fazê-lo mesmo estando no derradeiro desfiladeiro da vida, sem saber que estava.

 

Quando ele partiu, para sempre, era como se o estádio da Machava estivesse abarrotado no tempo dos Xiricos e dos Grundgs e dos Philips, aplaudindo um jogo que vai começar daqui a pouco. Os que não puderam ir estão em casa colados aos receptores, ansiosos, e no estúdio da Rádio Moçambique  está um locutor que chama: alô João de Sousa, alô João de Sousa! E o relator não consegue entrar em linha, há um problema de retorno. Alô João de Sousa, alô João de Sousa! Nada!

 

Os técnicos que estão no campo, e outros técnicos que estão na sede, entram em pânico porque não conseguem ouvir do outro lado a voz do João. Alô João de Sousa, alô João de Sousa! Também nada!

 

O  ambiente do público é que triunfa: hooooooooooo!!!! Hooooooooo! Mas João de Sousa, nada! Os técnicos insistem e....nada! E o jogo já decorre há meia hora, intenso, com a nossa selecção a ganhar por duas bolas a zero.

 

Alô João de Sousa, alô João de Sousa! Até que o relator, finalmente, passado o tempo de sofrimento, responde quando decorria o segundo tempo: Boa tarde estimados ouvintes! Faltam dez minutos para terminar a partida, Moçambique ganha por duas bolas a zero. O estádio está completamente cheio, com pessoas penduradas nos postes de iluminação. A nossa selecção está endiabrada. É indiscritível o que está a acontecer no Estádio da Machava......

 

Apesar de nos dizer que é indiscritível  o que está a acontecer, ele descreve tudo de forma detalhada, numa situação em que o tempo não lhe dá muito pano para mangas. O juiz apitou pela última vez, permitindo a que João de Sousa gritasse: termina a partida! Moçambique ganhou por três bolas a zero!

 

 E o guerreiro deixou as armas cá fora para quem as quiser aproveitar. O cheiro do João de Sousa impregna-nos como país, que ainda tem muitos golos por marcar. Ainda teremos muitos jogos por realizar, com a voz do João em “off” na memória. As músicas de “O fio da memória” e de “História das Músicas”, iremos cantá-las nas madrugadas em que já não seremos nós os ouvintes, mas o João que nos escutará no silêncio do pós-atmosfera. Também os pavilhões de básquetebol ressurgirão sem o João, lembrando as noites de glória. Era o João que gritava: sacôôôôôô!!!!!!!

quinta-feira, 29 junho 2023 08:12

Ecos da XVIII CASP!

Adelino Buqueeeee min

Teve lugar, nos dias 21, 22 e 23 de Junho de 2023, a XVIII Conferência Anual do Sector Privado, vulgarmente conhecida por CASP. Foi um momento ímpar de interacção entre o sector público e privado, pese embora o sector público me pareceu bastante “ocupado” com as agendas do sector que, obviamente, não contavam com esta conferência. Estranho, porém, o facto de o Presidente da República ter anunciado a disponibilidade dos seus Ministros e vice-Ministros, mas, provavelmente, não os tenha “consultado”. Mas é necessário consultá-los! Fica a pergunta.

 

Nesta reflexão, pretendo cingir-me nas intervenções do Presidente da CTA – Confederação das Associações Económicas de Moçambique e do Presidente da República. No seu discurso de abertura, o Presidente da CTA, Agostinho Zacarias Vuma conseguiu, na minha opinião, de forma educada e inteligente, diga-se, colocar ao Presidente da República os assuntos mais periclitantes que inquietam o sector privado e, como era de esperar, o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, reagiu às preocupações deste com bastante inteligência e sem nenhuma animosidade. Foi bom ouvir.

 

A XVIII CASP decorreu sob o lema “Transformação, Sustentabilidade e Inclusão para a Competitividade Industrial de Moçambique”, sendo que as grandes preocupações do sector privado apresentadas são:

 

1) Atraso no pagamento das dívidas de empreitadas e fornecimento de bens e serviços e, em 2022, representavam 46 mil milhões de meticais. Neste particular, o sector privado apresenta:

 

         a) Criação do limite máximo de acumulação dos atrasados;

         b) Que o Orçamento Geral do Estado inclua uma rubrica específica para pagamento de facturas em atraso.

 

2) Reembolso do IVA

        a) No ano de 2022, deram entrada um total de 904 processos de pedido de reembolso do IVA, totalizando 25,6 mil milhões de meticais;

        b) Foram somente autorizados 96 processos que, em termos de valores, representam 21%;

 

3) Inflação:

 

a) Um aspecto relacionado à inflação é o excesso de liquidez no sector bancário reportado pelo Banco de Moçambique que, desde Janeiro de 2022, se situa numa média de aproximadamente 60 mil milhões de Meticais. Aqui, o que nos preocupa é o facto deste excesso de liquidez não estar a fluir para as indústrias e, ao mesmo tempo, o Banco de Moçambique oferecer instrumentos de investimento aos bancos (bilhetes de tesouros e operações reversíveis), através dos quais estes fazem a rolagem da liquidez excessiva, preterindo assim a concessão de crédito à indústria, bem assim à economia no geral.”

 

b) “Adicionalmente, temos a destacar os níveis elevados das taxas de juros que desestimulam os investimentos, associados a uma postura de política monetária não consentânea com a facilitação de financiamento ao sector empresarial.”

 

c) Neste ponto, temos a assinalar o efeito nocivo do incremento dos coeficientes de reservas obrigatórias em magnitudes históricas (2800pb e 2850pb para moeda nacional e moeda estrangeira, respectivamente), num horizonte temporal de apenas cinco meses. Esta decisão torna as condições de liquidez bastante restritivas para o sector bancário, tanto do ponto de vista de quantidade assim como de preço, considerando que os bancos irão repassar este choque através do racionamento do crédito e incremento dos spreads.

 

4) “Assim, propomos que o Banco de Moçambique crie um sistema de compensação aos bancos comerciais que aplicassem a Prime rate com um spread negativo, previamente definido, para a agricultura e indústria, particularmente agroindústria. Isto poderia ser materializado através de uma taxa de reservas obrigatórias mais baixa para os bancos que investem na agricultura; e/ou dedução de reservas obrigatórias do crédito que for concedido para o sector da agroindústria baixa. A nossa proposta é que este quadro de política monetária possa ser implementado para se atingir uma taxa de juro de 8% a 12% para produção alimentar, processamento e industrialização. Os ganhos desta política poderiam ser altos, desde a redução da importação dos cerca de 2,1 mil milhões de dólares na Balança de pagamentos, redução da pressão cambial, o que contribuiria para controlar a inflação.”

 

5) Sobre a Carga Tributária:

 

a) Queremos pedir, aqui, ao Governo para colocar uma mão e travão ao que chamamos de “taxas e taxinhas”. Desde os municípios, Distritos, Províncias, Ministérios e instituições autónomas como institutos e tribunais, de forma simultânea, têm estado a introduzir novas taxas ou agravar as existentes. Este tipo de acção vai em contramão com o que VEXA, Senhor Presidente da República, decidiu fazer através do PAE.

 

  1. b) No que concerne à competitividade das empresas, os resultados do estudo recente da nossa CTA mostram que a carga tributária actual de 36.1% está acima da carga tributária da maior parte dos países em vias de desenvolvimento e, se ascender aos 43%, a lucratividade dos empreendimentos empresariais tornar-se-á nula, o que pode inviabilizar a actividade empresarial e industrial do sector privado.

 

  1. c) Diante desse cenário, propõe-se que o nosso Governo continue com o processo de revisão da política tributária, procurando ter em conta estes limites e, tendencialmente, reduzir a carga tributária sobre as empresas para promover a sua competitividade, particularmente a competitividade industrial. Para além disso, propomos uma integração e centralização da política tributária no Ministério da Economia e Finanças para garantir um maior controlo da política tributária e análise dos seus efeitos sobre o desempenho da indústria e da economia num todo.

 

Em reacção, o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, disse:

 

1) Criação de um grupo de trabalho para lidar com matérias de reforma que preocupam o sector privado;

 

2) Mapeamento das indústrias existentes em Moçambique e o que é necessário para a sua revitalização, incluindo a área do Açúcar. O Presidente da República indicou, por exemplo, a Mabor, que fabricava pneus e se questionou: “porque não pode produzir os pneus se já produziu antes!”;

 

3) Mostrou a sua total disponibilidade em trabalhar para reduzir e/ou acabar com tudo aquilo que impede o progresso do sector privado e da nossa economia em geral de progredir;

 

4) Recomendou os seus Ministros e vice-Ministros que, sem tabu e sem qualquer preconceito, tenham mente aberta para ouvir e anotar as preocupações do sector privado e disse:

 

5) Fiquem disponíveis nestes dias da CASP.

 

Bom, quer me parecer que vários Ministros e respectivos vice-Ministros desobedeceram ao Presidente da República neste quesito de disponibilidade para interagir com o sector privado, salvo o da Indústria e Comércio, talvez, por ser a ponte de diálogo.

 

Adelino Buque

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