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Carta de Opinião

segunda-feira, 17 julho 2023 05:36

Isaac Zita

mhd

“– Ele vai bater! Hê! Hê! Bate mesmo!...

 

– Deixa lá isso!... – interrompeu o estudante, num tom de voz contrariada e que parecia mais apropriada para um professor.

 

– Olha, n´duwê, eu paguei dez escudos, como você...

 

– Pôrra! Que merda é essa?... Mas não quero que conte!... – replicou o estudante, já com a voz a ficar rouca de ira.

 

– Faz o que quiser, mas eu farei aquilo que entender!...

 

– Merda, pá! Ficar com molwenes, pá, é chato!

 

– Não fala assim para mim, ouviu? Se sou molwene, qual é o mal? Sou molwene e também sei isto – mostrou o punho cerrado com vigor – e isto! – bateu no crânio -  A chim-butso!, irmão...sou de Bilene Macia, nwana mamana! – e abanou a cabeça. – Preto é duro!

 

Bateu com o punho no peito, posto a descoberto pela camisa desabotoada, até ao sítio  onde começava o ventre.”

 

(“Os Molwenes”, Isaac Zita)

 

Não fosse o infortúnio da sua prematura entrevista com a morte, a 17 de Julho de 1983, Isaac Zita ter-se-ia afirmado, indubitavelmente, como o primeiro talento de verdadeiro gabarito na ficção moçambicana no pós-independência, tão surpreendentes quanto invulgares eram as suas qualidades como prosador. A sua erupção literária, no entanto, foi brevíssima, contudo dela ficou o espólio do seu raro dom narrativo. Quis o destino tecer-lhe outros acasos. Um deles este absurdo silêncio em que o seu nome se encontra obnubilado.

 

Albino Magaia, homem culto e de grande generosidade, que me incumbiu de editar a “Gazeta de Artes e Letras”, da ínclita revista “Tempo”, quando eu era apenas um efebo, e que me falava com entusiasmo deste nome assombroso, no prefácio que haveria de redigir para “Os Molwenes”, editado em 1988, pela AEMO, faz uma das pouquíssimas descrições que se conhecem deste jovem escritor, de fina estirpe, desaparecido cinco anos antes: “Era alto, gestos largos, olhar inteligente. Trazia na mão três cadernos escolares, enrolados. Na conversa que se seguiu fiquei a saber que os cadernos continham contos de sua autoria. Vinha pedir que eu lesse e desse a minha opinião sobre eles”.

 

Isaac Zita fora ao encontro do então chefe de redacção da “Tempo”, jornalista, poeta, cronista e ficcionista consagrado. Tinha o aspirante 18 anos. Magaia, quando leu os textos, percebeu, de imediato, que estava perante um “caso” invulgaríssimo: “Isaac Zita era, indubitavelmente, um jovem talentoso e com um poder de observação extremamente agudo”. Publicar-lhe-ia dois contos no hebdomadário. Anos depois, o mestre do nosso jornalismo está entre os que promovem a edição póstuma do livro de contos “Os Molwenes”.

 

A estudiosa Fátima Mendonça redigiria para essa publicação um pungente posfácio. O texto tem um tom pessoal infrequente, o que se justifica pela proximidade e amizade de ambos. É outra peça valiosa sobre o escritor. Isaac Zita fora seu aluno e ela tomara contacto com os seus textos também em 1979: “Isaac Zita, apesar dos seus imaturos 19 anos era senhor de uma escrita segura, reveladora de grande maturidade e possuidor de uma invulgar capacidade de narrar acontecimentos, colhia do real aspectos aparentemente mais irrisórios para os transformar, pelas vias da ficção e da criatividade, em produto estético capaz de exercer forte atracção sobre o leitor”.

 

Isaac Mário Manuel Zita nascera a 2 de Fevereiro de 1961, em Maputo, sexto filho de uma numerosa família de 9 irmãos. Teve uma infância duríssima e uma adolescência inclementemente pobre. Obstinado, fez dos estudos uma forma de vencer aquela maldição. Fê-lo com tenacidade. Estudou sucessivamente na Escola Primária das Mahotas, na Secundária Estrela Vermelha e no Instituto Industrial 1º de Maio. Tendo concluído o curso de Química, em 1978, é afecto à Faculdade de Educação e, durante o ano de 1979, frequenta o curso de formação de professores. Em 1980, concluído o curso, será colocado, a seu pedido, em Cuamba, como professor na Escola Secundária. Tinha formação para leccionar 5ª e 6ª classes. Depois da sua experiência em Cuamba retorna a Maputo em 1982 e retoma a Faculdade de Educação. Seria para uma formação que o capacitasse a dar aulas a alunos de 7ª, 8ª e 9ª classes. Foi quando fazia este curso que a morte o quis no seu conclave.

 

Em 1980, o INLD quis publicar-lhe um livro de contos. Extremamente modesto, confessava à sua professora Fátima Mendonça: “penso que ainda estou ´verde´”. Foi naquele ano em que se iniciou a publicação da mítica colecção Autores Moçambicanos e que deu estampa a obras de José Craveirinha (“Cela 1” e “Xigubo”), Luís Carlos Patraquim (“Monção”), Orlando Mendes (“Lume Florindo na Forja” e “Portagem”), Carneiro Gonçalves (“Contos e Lendas”), Sebastião Alba (“O Ritmo do Presságio” e “A Noite Dividida”), Rui Nogar (“Silêncio Escancarado”), Jorge Viegas (“O Núcleo Tenaz”) e Albino Magaia (“Assim no Tempo Derrubado”).

 

Anos depois, Zita integraria, no entanto, a colecção Karingana, da AEMO, que antes dele publicara: Mia Couto (“Vozes Anoitecidas”), Albino Magaia (“Malungate”), Aníbal Aleluia (“Mbelele e Outros Contos”) e Calane da Silva, “Xicandarinha na Lenha do Mundo”. Estava em boa companhia. Falhara a ideia de o editar como primeiro nome da colecção “Início”, que era dedicada a jovens talentos e que revelou, entre outros, o arrebatado e arrebatador poeta Eduardo White, com o livro  “Amar sobre o Índico”.

 

Fátima Mendonça, que manteve correspondência com o jovem escritor, quando ele se encontrava em Cuamba, cita parte da mesma, com data de Março de 1980: “Sobre os livros, aqui na escola há uma biblioteca que tem livros sem interesse: são “metafísicos” ou algo parecido porque isto era coisa de padres. Só levei três que são: “O Jogador” de Dostoievsky, “A Morte de Ivan Ilich” de Tolstói e outro de Tchekhov, “A Enfermaria nº 6 e Outros Contos”. Zita era um leitor exigente, com critérios. Escrupuloso.

 

A sua escrita para além das características que lhe apontaram Albino Magaia e Fátima Mendonça, denota, quanto a mim, uma grande e prematura erudição, uma riqueza vocabular e um domínio linguístico irrepreensível. A sua dicção é extraordinária, o recorte das personagens patenteiam a sua sensibilidade, os ambientes descritos com firmeza de um verdadeiro mestre da narrativa. Aliás, mesmo a esta distância, não abundam, entre nós, indivíduos da mesma casta e com as mesmas qualidades na fábula. Isaac Zita era um escritor admirável. Precisaria de tempo para se afirmar, é certo. Esse tempo os deuses, sempre caprichosos, não lhe quiseram dar.

 

Para além de dominar a descrição, é habilidoso nos diálogos. Os diálogos são, na ficção narrativa, de difícil conseguimento. É uma das técnicas mais árduas. Poucos escritores sabem fazer diálogos. A escrita de Zita ostentava já, não obstante a sua idade, uma acurada carpintaria literária. Os temas ou os motivos são aparentemente sem grande relevância, mas depois, na sua indústria, desencadeiam conflitos e tensões que nos colhem de surpresa.

 

Creio não estar muito longe da verdade se asseverar que Isaac Zita é, à época, o mais directo e dilecto herdeiro de Luís Bernardo Honwana. Os seus textos são sempre muito breves, numa notável e sedutora prosa, de uma elegância incensurável, translúcida e bem urdida. Há outras afinidades com o autor de “Nós Matámos o Cão Tinhoso”: os temas da infância e juventude, os ambientes e as personagens.

 

Isaac Zita está, por conseguinte, na tradição dos grandes contistas moçambicanos, daqueles que sabem armar uma história, contá-la sem artifícios desnecessários. Um narrador de grande quilate. Produziu abundante e febrilmente, devia suspeitar que teria uma curtíssima vida. Os contos, que estão reunidos no livro “Os Molwenes”, são parte um acervo que a família confiou, quando ele morreu, à Associação dos Escritores Moçambicanos.

 

Quarenta anos depois do seu ocaso, sobreveio-lhe o oblívio, comum aos nossos melhores. Esta parece ser a sina a que estão fadados os autores moçambicanos. Isaac Zita subscreve uma espécie de fatalismo trágico na nossa literatura. Há uma data de escritores que morreram muito jovens e, no entanto, deixaram, alguns deles, obras notáveis. Muitos deles, ou quase todos, porém, não sobreviveram à desmemória e permanecem soterrados num espesso limbo de esquecimento.

 

Esta escrita, iminentemente biográfica, tem marcas, muito presentes, da sua infância e adolescência extremamente pobres. Isaac Zita, sabe-se, ficou órfão muito cedo, sendo criado pela mãe (um dos contos é justamente “A Mãe”). A figura do pai aparece subliminarmente em algumas passagens do seu livro, mas as personagens essenciais da sua obra literária são aquelas que estão desprovidas de tudo, as que vivem submergidas na miséria, aquelas cujo futuro é, seguramente, a marginalidade ou a morte. Esta escrita não esconde a angústia e o desespero, o desengano e o desencanto.

 

Por outro lado, está aqui magistralmente cartografada uma época e as suas profundas fissuras sociais, muitas destas anomias apenas se travestiram, mas permanecem duráveis na sociedade. Pese embora muitos dos seus textos se situem temporalmente no período anterior à independência, os problemas que sondam são actuais. Isaac Zita é, por conseguinte, um escritor actualíssimo. Aliás, a sua escrita dá-nos notícia de um tempo, o que é, afinal, um dos avatares da literatura - a grande literatura faz justamente isso mesmo.

 

Vivemos, temo-lo dito, num país que se compraz com o esquecimento e desdenha os seus melhores. Mortos ou vivos, alguns dos nossos mais altos criadores, alguns dos nossos singulares intérpretes, não escapam ao opróbrio do esquecimento, ao oblívio, à omissão, à supressão, à deslembrança, ao olvido. Parece um anátema da moçambicanidade.

 

Existe, em Maputo, uma rua Isaac Zita (no caso até com o nome mal grafado, o que revela falta de diligência dos intendentes camarários), mas não há notícia de muito mais que se tenha feito pela obra e pelo nome deste escritor. A fortuna, nos nossos dias, cobre nomes adiposos. Ou aos que se prestam ao ufanismo - à estouvada algazarra sobre a Pátria.

 

Retorno, todavia, ao texto lancinante de Fátima Mendonça:

 

“Em 1982 Isaac Zita regressou à U.E.M. para completar a 2ª fase do seu curso. Fui então de novo sua professora. Continuava a escrever. No bairro de Hulene onde vivia com a mãe idosa e alguns dos numerosos irmãos numa modesta casa que fazia lembrar a casa descrita no conto “O Areal”. Não era de alvenaria. Não tinha electridade. Isaac escrevia “romanticamente” à luz de um candeeiro de petróleo. Sobre uma tosca mesa rectangular. Pouco mais.

 

3 dias antes de a vida o abandonar mostrou-me um poema. Notava-se a presença de Craveirinha em casa verso. Disse-lhe com a franqueza que a nossa amizade autorizava: Isaac, deixa-te de versos! O que tu vais ser é um grande prosador! Trocámos  mais algumas palavras sobre as dores de cabeça que ultimamente vinha sentido. Lês demais, disse-lhe, deves andar cansado! Despedimo-nos. Até segunda. Era uma sexta-feira de Julho e o sol estava frio. Na segunda-feira de manhã fui colhida com a notícia brutal: O Isaac morreu. Durante momentos o sentido das coisas perdeu-se. Depois família, amigos, colegas, professores fomos deixar o Isaac para sempre na terra. Durante semanas as nossas aulas eram tristes e o lugar do Isaac ficou vago.”

 

Com este testemunho doloroso balizo, aqui, esta memória de Isaac Zita, que morreu com apenas 22 anos, a 17 de Julho de 1983 – passam hoje 40 anos! Era um escritor de primeiríssima água, narrador de finíssima sensibilidade, homem que cauterizava as injustiças sociais e que buscava, empenhadamente, iludir o destino que lhe parecia ter cabido na dura infância e na árdua adolescência tão luminosamente descritas em “Os Molwenes”, livro que, conjecturo, deve pertencer, sem favores, ao cânone literário moçambicano.

IsidorosKarderinis

Robert Kennedy, filho do assassinado em 1968 Robert Francis Kennedy, procurador-geral dos Estados Unidos, senador por Nova York e candidato presidencial democrata em 1968, e sobrinho do também assassinado em 1963 presidente dos Estados Unidos John Fitzgerald Kennedy, será candidato à unção do Partido Democrata para a eleição presidencial de novembro de 2024.

 

Mas quem é Robert Kennedy? É advogado-ativista, especializado em questões ambientais, 69 anos. Criado no ambiente político dos Kennedys e abraçando os valores e visões políticas que lhe foram transmitidas, ele disse: "Meu pai me disse quando eu era criança: 'As pessoas no poder mentem. E se quisermos continuar vivendo em uma Democracia, devemos entender que as pessoas no poder estão mentindo, as pessoas no poder estão abusando do poder que demos a elas'.

 

É ao mesmo tempo uma figura importante do movimento antivacinação. O ataque público de Robert Kennedy ao "filantropo" promotor das "vacinas" Bill Gates causou sensação global com sua postagem, descrevendo como Bill Gates está usando a "vacina" para impor uma ditadura global (Europost, 9-4 -2020): "Vacinas para Bill Gates é uma filantropia estratégica que alimenta suas muitas atividades de negócios relacionadas para obter para si um controle ditatorial da política global de saúde, a ponta de lança do neo-imperialismo".

 

Robert Kennedy, antes do início das vacinações para COVID-19, enviou uma mensagem à comunidade global em dezembro de 2020 soando o alarme sobre as vacinas de mRNA dizendo: “Evite vacinações a todo custo, a todo sacrifício”, “Pela primeira vez em o histórico de vacinações a tecnologia de mRNA utilizada interfere diretamente no material genético do paciente-receptor e conseqüentemente esta intervenção envolve modificação genética, que já é internacionalmente proibida e considerada criminosa", "Caros futuros receptores saibam que após receber a vacina você não será mais capaz de controlar os sintomas da vacina de maneira eficaz. Você terá que conviver com os efeitos, pois não conseguirá eliminar as toxinas do seu corpo. O dano genético causado a você por essas vacinas será irreversível e irreparável", "Na minha opinião, essas novas vacinas tecnológicas representam um crime contra a humanidade que nunca aconteceu antes e nessa escala".

 

Em 11 de fevereiro de 2021, o "Instagram" encerrou a conta de Robert Kennedy por "notícias falsas!". “Removemos esta conta porque ela postou repetidamente falsas alegações sobre o coronavírus e as vacinas”, disse o Facebook, empresa controladora do Instagram, em um comunicado. Na época, Kennedy tinha cerca de 800.000 seguidores em sua conta. É óbvio que os promotores de "vacinas" não gostaram das posições públicas de Robert Kennedy, porque ele próprio se opôs veementemente às chamadas "vacinas!".

 

Então, em novembro de 2021, ele visitou a Itália e falou em Milão na Piazza dell 'Arco della Pace em uma grande manifestação, onde foi recebido como herói por muitos milhares de pessoas, contra o chamado Green Pass, o certificado COVID-19, caracterizando-o como "instrumento de opressão". E falando aos repórteres no início do dia, Robert Kennedy disse: “O Green Pass não é uma inovação de saúde pública, é um instrumento de obediência e controle econômico, assim como os panfletos emitidos pelo Terceiro Reich”.

 

Durante seu discurso na manifestação de Milão, ele encorajou os manifestantes a sair, lutar e resistir, dizendo-lhes: "Recuperem seu governo, recuperem suas vidas, recuperem sua liberdade para seus filhos, para seu país, para as gerações futuras", e terminou dizendo em meio a aplausos e aprovações prolongadas: "Estarei ao seu lado, e se for preciso morrerei por isso. Morrerei nas minhas botas".

 

Em agosto de 2022, Robert Kennedy esteve em Berlim e falou sobre o orwellianismo moderno e a agenda de bioterrorismo das empresas farmacêuticas multinacionais. Entre outras coisas, ele disse: “Os governos amam as pandemias da mesma forma que amam as guerras, porque lhes dá poder, lhes dá controle e lhes dá a capacidade de impor obediência aos seres humanos. E hoje temos a distorção das novas tecnologias que dão aos governos a capacidade de impor controles às populações que nunca imaginaram”.

 

Em novembro de 2022, Robert Kennedy fez declarações chocantes sobre os efeitos colaterais das vacinações em massa, dizendo: “Estamos vendo um aumento de 40% nas mortes inexplicadas, em excesso de mortes, e estamos vendo isso acontecer especialmente com os jovens! O número de pessoas que morrem de vacinação em massa é muito maior do que o número de pessoas que morrem de COVID-19. Alguns médicos dirão que não sabemos se é da vacina. Então, por que o CDC desencoraja médicos legistas e autoridades de saúde pública a realizar autópsias em pessoas cujas mortes são suspeitas?'.

 

Sobre a chamada "mudança climática", falando durante uma entrevista com o produtor de rádio Kim Iversen em abril de 2023, Robert Kennedy alertou que a elite está usando a "mudança climática" para introduzir o controle total da população e tirar as liberdades individuais.

 

Quanto à guerra que se desenrola na Ucrânia, sua posição é clara. Em suas declarações em maio de 2023, ele disse o seguinte: "Sejamos honestos! Esta é uma guerra dos EUA contra a Rússia por razões geopolíticas! São maquinações geopolíticas que acontecem desde 2014 com agências de inteligência (dos EUA) e neoconservadores. Eles são essencialmente sacrificando a "flor" da juventude ucraniana em um matadouro de morte e destruição pela ambição geopolítica dos neoconservadores nos bastidores. Depor, mudar o regime de Vladimir Putin e exaurir os militares russos para que não possam lutar em nenhum outro lugar do mundo".

 

Assim, vemos, com base em toda a trajetória de Robert Kennedy, que temos diante de nós um candidato anti-establishment, um candidato que não tem medo de se chocar com enormes interesses financeiros, um candidato que não tem medo de ir contra o sistema dominante, desafiando os riscos.

 

Para encerrar, gostaria de enfatizar enfaticamente que a esmagadora maioria dos políticos que se apresentaram no passado, antes das eleições, contra o sistema dominante, quando chegaram ao poder, não só não trocaram um fio de cabelo dele, como se transformaram em componentes do sistema. Esperemos que no caso de Robert Kennedy, se ele ganhar a nomeação do Partido Democrata e for eleito presidente dos Estados Unidos, o mesmo não aconteça.

 

*Romancista, poeta e jornalista grego. Exclusivo para Carta de Moçambique

Renato CaldeiraOs fazedores do desporto, sobretudo nas modalidades ditas pobres, passam a vida de mão estendida em busca de apoios para movimentarem uma actividade que a todos beneficia. Quer isto dizer que os clubes e a realização de uma qualquer prova, estão dependentes da visão e dos gostos de quem decide nas empresas. Daí a tendência para se escolher para os órgãos directivos das Federações, Associações e Clubes, não os mais capazes, dedicados ou “carolas”, mas os mais influentes, gestores ou proprietários de marcas ou unidades de produção.
 
Esta é a realidade que faz com que certas modalidades e actividades, de sucesso, dependam apenas da insuficiente dotação do Fundo de Promoção Desportiva para sobreviverem.
 
O tempo do pagamento regular das quotas nos clubes, já lá vai. Quanto a bilhetes de entradas, poucos “graduados” seguem o exemplo do governador de Inhambane, Daniel Chapo... E como o estamos numa terra de seguidismos, em que a maioria das acções são foto-cópia das chefias... 
 
 
INVESTIMENTO SEM RETORNO?
 
Devido às extremas dificuldades em chegar ao retorno directo e concreto, as empresas pouco apostam na publicitação dos seus produtos, através do desporto. Há excepções dos tradicionalmente apoiantes, sem as quais o cenário seria dramático.
 
De tudo isto, resulta a pergunta/questão de fundo: quando se apoia, de uma ou de outra forma o desporto, está-se a fazer um favor, ou a cumprir uma obrigação?
 
Que diferenças existem entre um país que cultiva a movimentação do seu povo no desporto, nos diversos escalões etários e extractos sociais, de outro que subalterniza essa prática?
 
As respostas são óbvias, visíveis e “sentíveis”. Tudo aponta para a falta de uma visão geral, colocando esta actividade como um “parente pobre”, nesta sociedade assoberbada pela sobrevivência, de um lado, e pelo acumular de riquezas pessoais do outro.
 
Daí que se esqueça que:
 
-    Um investimento forte e sério no desporto, reduz substancialmente o recurso às farmácias. Basta recordar o que dizia o saudoso presidente Samora Machel: “onde entra o desporto, sai a doença;
 
-    Que o aumento da nossa auto-estima deixaria de ser um mero “slogan”;
 
-    O turismo, através da divulgação dos nossos valores e estrelas, trazer-nos-ia um substancial retorno;
 
-    Devido ao talento nato da nossa juventude, provado e (com)provado por várias gerações, deixaríamos de ficar nas primeiras eliminatórias competitivas, passando a rivalizar com outras latitudes.
 
Não estará aqui matéria para reflexão profunda, pouco abordada nos vários fóruns deste “país sentado”, de forma a despertar o sentido colectivo de cada um de nós, para daí todos sairmos valorizados?
 
sexta-feira, 14 julho 2023 07:09

Sou mulher chopi pronta a esfarrapar-me

AlexandreChauqueNova

A minha síntese está na timbila, é aqui onde todos os sentidos de mim se juntam e se unem, e produzem o remoínho que sou. Venho do mwenje, árvore dos meus antepassados, resistente aos temporais sem fim até hoje. É por isso que todos os movimentos que faço, sonorizam. Ou seja, a música da minha tribo sou eu. A dança também, sou eu.

 

Os festivais de timbila jamais serão realizados sem a minha participação, o meu corpo é o centro da engrenagem. Sou a matchatchulani elegida, direcciono o movimento das orquestras e mantenho a erecção espiritual dos insrumentistas, sou a catapulta deles. O meu ndjele (chocalho) não perde o rítmo, o compasso vem de mim.

 

Agora estamos em preparação do Msaho que vai acontecer daqui a pouco em Quissico, terra onde nasci numa manhã solarenta, e recebida com cânticos de pássaros poisados nas copas das árvores de fruta espalhadas em todo o perímetro da casa dos meus pais. É por isso que já estou em submissão ao ritual estabelecido para que nada falhe, meu marido não pode tocar-me por estes dias.

 

Mas eu fui feita para enlouquecer aos homens e às próprias mulheres, na rua ou em casa ou em qualquer lugar. Eu não sou esfinge, por isso não finjo. Cada movimento que faço é real como as águas despejadas pelas nascentes, toda a sensualidade está depositada em mim, é só ver como esvoaço nos palanques, sou o pássaro do passado, vou mover moínhos até nunca terminar.

 

A minha vocação é ser ao mesmo tempo porto de partida e porto de chegada, e vou mostrar tudo isso na festa que vai acontecer daqui a pouco, Não precisarei de vos dizer que sou eu, não proclamo a minha existência, não preciso, pois essa parte está reservada ao derramento de mim através da dança. Eu sou a dança dos chopi.

 

Nunca me importei com os nomes que me chamam, e eu nem sei aonde é que se localiza o Céu. O meu céu é o palco e as ruas e todos os lugares por onde passo espalhando o perfume de mulher chopi que valoriza o sexo, o sexo é o ponto final  da humanidade, é por isso que depois do acto queremos dormir, já não há mais nada a fazer.

 

Sou a matchatchulani, mulher mais do que falada durante a vibração das orquestras e durante a ressaca, pela leveza e versatilidade que desnudo como as gazelas dançando nas planícies nas manhãs, em agredecimento ao Deus vivo pelo Sol que vai iluminar o dia inteiro. Eu também sou o sol dos chopi.

 

Espero por vocês daqui a pouco em Quissico. Tragam os corações abertos e prepararem-se para juntos sermos a albufeira onde se vai derramar todo o leite e mel da timbila.

“Nas eleições autárquicas, a opção deve ser pelos melhores, independentemente da sua filiação partidária, se o melhor cabeça-de-lista é da Renamo, não importa que eu seja da Frelimo, a bem do meu Município, devo votar naquele, se o melhor é da Frelimo e eu sou da Renamo idem. Está em causa a governação local, do meu bairro, minha autarquia, conheço as pessoas nele residentes e sei quem pode trazer solução para os problemas. Se os partidos políticos não propõem pessoas que nos convençam, como residentes, podemos nos organizar para nos candidatarmos para a liderança do nosso Município. Deve se dar primazia à decisão dos governados sem amarras políticas.”

 

AB

 

Como princípio consagrado, regra geral, quando falamos das eleições das Autarquias Locais, estamos a dizer que as pessoas escolhem, de entre si, aqueles que são os melhores para a Governação Local. É verdade que, segundo o nosso sistema de organização, os partidos políticos têm o privilégio de indicar candidatos, mas nada obsta que grupos de cidadãos se organizem para perseguirem esse interesse. Se os residentes de uma determinada Autarquia fossem bem organizados, até poderiam dar uma “boa lição” aos partidos políticos e não alinharem com o “nepotismo, amiguismo” na indicação do candidato.

 

Essa “boa lição” dá-se através da orientação do voto. É preciso notar que uma coisa é eleger alguém para a Assembleia Nacional e outra, bem diferente, é eleger alguém que vai dirigir o meu bairro, o meu quarteirão e as nossas dez casas. Essas pessoas são nossos vizinhos, vivem connosco e possuem mesmos problemas que todos nós. A questão é de olhar para o vizinho e/ou amigo e dizer “tudo bem, você avança para nos ajudar a resolver este e outro problema que nos afecta e te afecta também”. Aqui, caros compatriotas, a mensagem partidária não deve ser aquela que orienta o voto, se não aquilo que é a sensibilidade e conhecimento de cada um sobre os problemas do Município.

 

Se o seu partido X ou Y escolheu alguém que à partida sabe-se que não é capaz de levar o barco a bom porto, então, porque votar nele! Ainda que seja do seu partido? É que, ao agir assim, estarás a perpetuar os problemas locais e, quando se der conta, será tarde de mais para a reversão dos problemas. Sejamos objectivos e esclarecidos sobre o que queremos para as nossas autarquias. Não nos devemos deixar influenciar pela nossa filiação partidária, salvo se pudermos influenciar o partido a indicar aquele que para nos é o melhor dos melhores.

 

Na curta vivência que tive com o falecido António Simbine, Ex-Primeiro Secretário da Cidade de Maputo, ele dizia: “olha Buque, se a Frelimo teve problemas de Quadros entre 1975 a 1990, esse problema já não se coloca, o grande problema da Frelimo hoje é gerir Quadros pela quantidade e qualidade que tem” cito de memória. Para dizer que existem muitos Quadros nos Municípios com quem, por várias razões, os partidos não contam, mesmo por questões de gestão. São muitos, mas se o Município acha que aquele Quadro que foi preterido pelo partido é o melhor, porque não se organizar para candidata-lo!

 

Eu sei que a experiência não é boa e não abona a pessoas filiadas na Frelimo a ousar nisso. O exemplo vem da tentativa de candidatura do Samora Moisés Machel Júnior pelo PODEMOS, mas temos que ter fé. É importante mostrar ao partido que está a preterir os melhores Quadros em determinadas ocasiões e isso não significa, de forma alguma, estar contra o seu partido do “coração”. Nestas eleições autárquicas de 2023, parece-me que a sociedade civil está parcialmente “domada”, não aparece e nem sequer se sabe do seu pensamento nas diferentes Cidades e ou Vilas Autarcizadas. Dirão que foram impedidos, o tempo não espera!

 

Mulheres pouco visíveis a cabeça-de-lista!

 

Aqui, subscrevo a opinião da minha amiga Ana Maria Albino, quando diz: “as mulheres são a maioria neste país, mas são poucas as caras que aparecem como cabeças-de-lista”. É verdade, é preciso desmistificar isto e válido para todos os partidos políticos. As caras femininas são cada vez mais raras, mas as próprias mulheres são campeãs em “combaterem-se”, o que não abona em nada para a sua ascensão política de uma forma geral. Aqui, também, seria de aconselhar que as mulheres se fizessem ouvir nos seus partidos políticos e ou que se façam ouvir através das organizações locais para “atacarem” o poder.

 

A minha reflexão acima não deve deixar o partido Renamo e MDM sossegados, até porque, na minha opinião, estes dois partidos com assento parlamentar são os piores quando se trata de indicação de pessoas para lugares de destaque. Tanto na Renamo como no MDM existem pessoas sem nenhum histórico de militância político-partidário que chegam e ocupam lugares de destaque em detrimento dos que militam faz muito tempo. E para agravar a situação, nestes dois partidos não se fazem eleições sequer, é tudo ao “gosto” do chefe, isto, também, não nos levará a nenhum lugar.

 

Por isso repito, no seu Município, se a Frelimo acertou no candidato, se estás filiado à Renamo ou MDM, mas sabes que o candidato da Frelimo é o melhor no Município junte-se a ele, o mesmo pensamento é válido para quem é membro da Frelimo ou MDM, se o melhor candidato para o seu Município foi indicado pela Renamo, junte-se a ele e vote nele, MDM idem. O que pode piorar esta forma de eleição é o modelo de cabeça-de-lista, pois não permite que o seu partido esteja devidamente representado. Mas quem decidiu assim? Alguma vez te ouviram para a tomada dessa importante decisão no quadro eleitoral! Nada.

 

Adelino Buque

segunda-feira, 10 julho 2023 11:00

A demissão do povo

Helio Guiliche

O povo foi demitido!!!

 

O povo foi demitido do seu papel de fiscalizador. Foi demitido de monitorar, de reclamar, de pedir para ter dignidade mínima.

 

Foi demitido de ser parte integrante do processo de governação da coisa pública. De ser um agente de participação, transformação e de mudança.

 

É triste, mas é a verdade. Chegamos a um estado de lamentação, consternação e lamuria em que o tanto fez é igual ao tanto faz. E agora parece que tudo é “swa fana” – na língua ronga – é mesma coisa.

 

O cansaço tomou conta; a frustração generalizou-se e a descrença tornou-se o respirar deste povo sonhador e lutador.

 

Como e quando isso aconteceu? De quem é a culpa? E como nos permitimos descer o penhasco desta forma, chegar quase no fundo sem estrondo, mas com impacto?

 

Na minha jovem trajectória, não tenho memória anterior de estar e participar em conversas várias, com diversas franjas sociais, e com alguma preocupação notar que o pulsar da apropriação nacionalista e patriótica esta em queda acentuada (não trago aqui nenhum barómetro capaz de servir como evidencia). As várias premissas foram paulatinamente me conduzindo a afirmar que o povo foi sendo demitido das suas tarefas principais.

 

O povo já sofrido e cioso de alguma mudança estrutural e estruturante, foi dando votos e confiança e, foi acreditando de forma cega na tão propalada mudança. Acreditou que a situação que vivia – boa ou má – era parte de um processo e de uma conjuntura histórica, política, económica e social, ou seja, era parte do processo de construção de um país novo.  Alias, muitos de nós nascemos e crescemos sob a atmosfera de uma narrativa segundo a qual estamos num processo de construção e afirmação da nossa identidade enquanto povo. Processo este complexo e demorado que vai desde a conquista da tão sonhada e almejada independência aos nossos dias.

 

Um processo, diga-se, em que a tese principal era a expulsão do colono e da sua máquina opressora que chicoteava, humilhava, segregava e desumanizava o homem negro (moçambicano neste caso). A antítese era o direito a autodeterminação, o direito a liberdade de decidir os destinos do país.

 

A mítica noite de 25 de Junho de 1975 foi mais do que uma reunião de moçambicanos e moçambicanas no Estádio Machava. Foi o renascer e um inaugurar de uma página que se sabia de antemão nada fácil, mas desejável e necessária.

 

O povo enfrentou uma longa noite escura com os 16 anos da guerra civil – uma longa noite de horrores e dissabores. O mesmo povo chorou de alegria quando, em Roma se assinou o fim das hostilidades com um abraço fraterno entre dois irmãos outrora desavindos. Esse mesmo povo se fez as urnas de forma altamente patriótica e organizada para celebrar e contribuir para o lançamento das fundações basilares da nossa frágil e incipiente democracia.

 

De lá para cá, vimos de tudo um pouco; desde o empoderamento a marginalização do povo. O povo foi-se imunizando de esperanças, e se mascarando de crenças. Foi também se maquilhando de um cansaço disfarçado de força. Era importante estar alinhado e acreditar que o futuro e a mudança estava a chegar. Futuro este que até chegou – mas para alguns – novas elites emergiram e novas formas de exploração do homem pelo homem onde nacionais exploram e subjugam nacionais. Sedimentamos uma nova colonização com timbre local protagonizada por burgueses nacionais.


Entre avanços e retrocessos, vitorias e derrotas, júbilo e frustrações – um fenómeno ganhou forma – O Povo foi demitido!!!

 

A pobreza generalizou, as assimetrias agudizaram, a corrupção institucionalizou-se, as liberdades reduziram-se, o espaço cívico afunilou-se, e o povo começou a sentir-se estranho na sua própria terra.

 

A redistribuição da riqueza foi se tornando cada vez mais desigual; educação foi sendo paulatinamente escangalhada, saúde mais precária, emprego cada vez mais elitista, infraestruturas degradadas e inviáveis, transporte público paupérrimo, segurança publica caótica, raptos, crime, assaltos, etc. Alguns dos factos que trago para justificar a demissão do maior e mais valioso recurso de qualquer país.

 

E quem assinou a carta de demissão do povo? Que consequências essa demissão pode trazer?

 

Há quem diga em jeito de gozo: melhor mudar de país.

 

Há que questiona: Será que ainda somos um país?

 

Há quem indaga sobre o país e o legado que deixaremos às gerações vindouras; sobre o legado histórico e político, sobre a nossa soberania e sobre os limites do nosso endividamento.

 

Há quem prefere simplesmente olhar e calar.

 

Eu, na altura era Ministro para os Assuntos do Povo (ainda que sem despacho). Tinha um dossier muito vasto e complexo por analisar. Confesso que foi difícil ajuizar e tomar uma decisão que fosse de encontro com aquilo que havia sido exposto.

 

Precisava agir com sabedoria. E quando me preparava para assinar a carta que recebera do povo (do povo que também represento e sou parte), o sono acabou e o sonho terminou.

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