O carro parava, uma senhora abria uma das portas e Marcelino surgia pouco a pouco como uma semente brotando da terra. Primeiro pingava o pé direito metido em uma meia preta e depois a esquerda, as mãos, o tronco e o corpo de Marcelino completava-se fora do carro. Às vezes, antes dos pedaços de Marcelino saírem, a senhora entulhava a blusa no antebraço e estendia o braço a Marcelino para usá-lo como corrimão dos dois degraus da viatura.
Marcelino descia do carro, olhava para os lados e levantava-nos a mão. E nós gritávamos "vovô Marcelino du Santo". E ele sumia-se pela porta da casa da mãe. Marcelino já tinha a coluna meio curvada e na cabeça a calvície já era regada por pingos de cabelos brancos.
Uma empregada com um avental igual ao lenço que trazia na cabeça abria a porta a Marcelino; e ele sumia-se aos pedaços. A mãe de Marcelino era uma velha mulata que passava as tardes na varanda. Encostada na sua cadeira de rede, com as veias do pescoço desenhando-se a cada respirar e com os pés enterrados num manto xadrez. De quando em quando entravam, naquela casa, senhoras com bacias de frutas. Ora era o homem da electricidade que batia duas vezes na porta e enfiava, da folga da porta e do chão, a factura mensal. E há vezes que a casa enchia-se de jovens mulatos e todos parecidos com a velha.
Talvez Marcelino chegava à mãe, chorava nos seus braços e uma vez mais deitava-se no seu peito como uma criança. As mães são almofadas com um tecido que não se gasta. Quanto mais envelhecem mais macias ficam. Tenho a certeza que a velha passava a mão sobre cabeça calva de Marcelino e tornava-lhe uma vez mais um menino.
Depois a mãe de Marcelino morreu. A rua da sua casa ficou cheia de folhas secas na porta, nunca mais fomos ver Marcelino e a cadeira de descanso na varanda ficou vazia. Passo por lá, todos dias, e espreito para ver um mínimo sinal da mãe de Marcelino; mas a varanda contorce-se de vazio e a poeira dos cantos das paredes tem teias de aranhas que caçam moscas, a voz de Marcelino chorando no peito da mãe e a velha mulata do manto xadrez.
E nunca mais vi Marcelino no Chamanculo. Vi-lhe pela última vez arrastando passos num andador de alumínio, parecia um bailarino exausto e prestes a fazer a vénia a plateia; Marcelino a cada passo abria os seus braços como se quisesse, uma vez mais, regressar a Chamanculo correndo e abraçar a sua mãe guardada na gaveta sem chave da morte.
Espero que o leitor não chore no final do texto. E já adianto que o assunto não são os impostos e muito menos os últimos acontecimentos políticos do país. Aí vai: guardo lembranças da luta cívica do Reverendo Desmond Tutu , o primeiro Arcebispo negro da Igreja Anglicana da cidade sul-africana de Cabo. Ainda guardo de outras do tempo em que ele - também Prémio Nobel da Paz em 1984 - chefiara no período pós-apartheid a Comissão da Verdade e Reconciliação da África do Sul. Nesta comissão o relatado pelos agentes ao serviço do Estado sul-africano e respectivas vítimas na época do apartheid, levara com que Desmond Tutu chorasse. Abaixo volto ao assunto depois de contar dois episódios intramuros.
O primeiro: um dia e na temporada da revolução dei de caras com uns polícias no cruzamento da Vladimir Lenine com a Rua da Rádio. Foi do lado do Jardim Tunduru. Não portava comigo o BI e como alternativa o polícia procurou saber onde eu morava. Apoiado com um caniço de uns 50 centímetros indiquei a direcção de casa que por coincidência foi na exacta direcção do brasão da república cravado no chapéu do polícia. Foi um 31 cujo desfecho foi graças a uma intervenção solidária de solícitos transeuntes. Não me recordo dos argumentos do polícia, mas creio que o único mal tenha sido a “coincidência” dos aposentos: o meu e O do Estado. Do episódio retenho a lembrança da choradeira de menino em direcção à casa.
O segundo: há uns dias contei o episódio acima a um amigo de Nampula. E este disse que tal não foi nada e que o polícia apenas excedera no zelo. Segundo ele, muito grave e desagradável foi o dia em que ele vira um polícia, em Nampula, a exceder na falta de zelo e sentido de estado. Um 31 de avesso: um 13 da sexta de Agosto em pessoa. Nesse dia e numa acção rotineira (de saque) de um polícia este interpela um cidadão estrangeiro – a partida oriundo da África ocidental ou dos Grandes Lagos - que farto de ser interpelado pela polícia e quiçá pelo mesmo polícia desobedece a ordem de paragem e continua a sua caminhada. O polícia insiste e o forasteiro, uns bons metros distante , vira e com elevado desprezo atira ao ar uma moeda, provavelmente de cinco meticais, caindo a bons passos de distância do polícia.
- O que fará o polícia? cutucava curioso o meu amigo. Em seguida o polícia – imbuído com as insígnias do Estado - caminha lastimosamente em direcção do local da queda da moeda e agacha vergonhosamente para apanhá-la. Segundo o meu amigo: foi horrível e arrepiante ver o Estado moçambicano (território, poder político e população) a ser vulgarmente humilhado e espezinhado em praça pública por conta de uns míseros cinco meticais jogados ao ar e com altivo desdenho. Nem que o polícia tivesse tirado o chapéu – como o fazem ao entrar num bar - ou que fossem milhões de dólares atirados à rua tal acto é inaceitável e imperdoável para a dignidade de um Estado que se preze e queira ser respeitado.
Enquanto o meu amigo contava o episódio fúnebre à rodos decolavam lágrimas nos nossos olhos. E aqui aterra de regresso o Reverendo Desmond Tutu. Sobre ele é contado que no tempo da Comissão de Verdade e Reconciliação a dada altura ele fizera questão de reservar uma bacia no gabinete anexo ao de trabalho. E cada vez que ele ouvisse um relato funesto dos tempos do Apartheid era em tal gabinete em anexo que se refugiava e chorava aos prantos. Consta que a bacia chegara até a transbordar de tanta lágrima.
Aposto que se a mesma ou semelhante bacia estivesse diante de nós – do meu amigo e eu no dia do relato das exéquias do Estado e hoje, adicionando o leitor depois da leitura deste texto - transbordaria do mesmo jeito que transbordara com Desmond Tutu.
Era uma fogueira admirável. Desafiava as fortes chuvas que vinham, por exemplo, de Maputo e Nampula e Xinavane e Sofala e de dentro da sua zona de influência. A precipitação caía em catadupa sobre as fortes labaredas dessa lareira, que entretanto, no lugar de desvanecer, ressurgia. E triunfava nos combates. A equipa do Gomes da Maxixe, como também vai ser conhecida esta formação, tornou-se um elo. Unia todos os bitongas e todos os vathswa e todos os vatchopi e todos os vandawu que desciam de Mambone para festejarem a magnificência de um conjunto de mito.
Mesmo assim, ainda alguém tentou contrariar o rumo fervoroso de uma formação que tinha um patrão forjado para as sagas. Reuniram-se dirigentes e antigos jogadores de futebol nascidos em Mucucune, um arquipélago discreto que fica à ilharga da cidade de Inhambane, e o obejctivo era reformular a equipa local para, com todas as armas possíveis, parar com as “brincadeiras” desses senhores.
Tocaram-se as trompetas em toda a província, anunciando o grande jogo que vai colocar frente a frente o Nova Aliança da Maxixe e o Mucucune, numa luta em que a equipa do Gomes da Maxixe tinha que ganhar para se manter no Campeonato Nacional, e os “ilhéus” também precisavam da vitória para ascenderem à panóplia dos grandes. No fundo o Mucucune tinha bons executantes, capazes de contrariar todas a expectativas, é por isso que o Gomes da Maxixe passou noites e noites sem dormir, enquanto o jogo não se realizasse.
A província inteira borbulha porque, como se propala pela voz do povo, alguém vai morrer. Foi convidado um grupo de zorre para abrilhantar a festa que se espera intensa. O farfalhar dos trazeiros das mulheres, libertados na dança, segundo se diz por aqui, é um forte incentivo para os jogadores. E como se isso não bastasse, vem aí a orquestra de Tmbila ta Mwaneni e a sua louca matxatxulani, que vai nos mostrar o feitiço das coxas e das ancas. Os locutores da Rádio Moçambique não páram de anunciar a realização da partida. E em todo o lado a conversa é essa, ou seja, ninguém sabe o que na verdade vai acontecer, porque esses tipos de Mucucune podem fazer das suas. Outros ainda diziam, agora é que o Gomes vai sentir o sabor do sal. E o sal vem de Mucucune.
O Nova Aliança da Maxixe era isso, um desiquilibrador dos prognósticos. Não é por acaso que no seu logotipo vamos ter uma gaivota ( nhalégwè em bitonga). Significa que é uma equipa concebida para atravessar mares e oceanos. Não há vento que o desvie do seu azimute. É como se todas as suas realizações fossem feitas a partir do topo, de onde já não se pode ir a mais nenhum lugar, ou melhor, de onde só se pode partir para a levitação.
Eles eram a glória da Maxixe, e de toda a província de Inhambane, até ao dia em que o eixo de toda a gravitação, o Gomes da Maxixe, deu o último suspiro sobre a terra. Aí tudo começou a desmoronar, até entrar em derrocada. O que nos entristece é que até hoje nunca ouvimos, a nível oficial, nada sobre uma homenagem a um homem que deu tudo de si e da sua fortuna, para alegrar o povo, onde os políticos se emiscuíam. Agora a gaivota já não voa. E o mais provável é que sucumba de vez. O que seria muito lamentável!
Dissiparam-se as dúvidas sobre a saída do Reino Unido da União Europeia e, passaram a realidade, criando alguma instabilidade, dada a incerteza de muitos dossiers por esclarecer, que levarão muitos anos. Os Ingleses fecharam os olhos e avançaram. Podia descrever inúmeras teorias desenvolvidas ao longo dos 24 meses de prolongadas discussões internas em UK, e externas, UE, ou vice-versa.
Porém, ficou claro que, independentemente das incertezas, ameaças e riscos do BREXIT pela UE, os ingleses optaram claramente usaram a sua soberania e decidiram o seu futuro. Europa sim, mas sem os burocratas da União Europeia. Em outras palavras, os ingleses sabem que, cedo ou tarde, estarão de volta ao mercado europeu, continuarão a partilhar aspectos de interesse comum como segurança, neo-colonialismo, e muitas outras, conforme dita a história. Os interesses que lhes une, UK e UE, são maiores que os factores de divisão.
Apesar de estarmos num mundo “globalizado”, os benefícios dessa integração global continuam a ser apenas para os que podiam mais. Quando elementos novos no mercado, como a China, Índia, Brasil e outros integram-se e tornam-se competitivos globalmente, ameaçando a hegemonia dos que podiam, acabam-se todas as regras de comércio livre.
A famosa teoria dos mercados livres muito propaladas nas academias e bibliotecas dos USA e UE, as regras da Organização Mundial de Comercio (OMC), que foram criadas pela dupla USA e UE e mais meia dúzia de países como Moçambique para legitimar a tal Comunidade Internacional, estes últimos aliciados por falsas promessas de ajuda ao desenvolvimento, deixa de fazer sentido porque os seus (UE/USA) interesses falam mais alto. Estas são as “regras da hipocrisia”, quando os seus interesses estão em jogo, tudo o resto não conta, como por exemplo o Trumpismo e as relações comerciais com seus parceiros tradicionais, como Canadá, México e China.
No último ciclo governativo, que terminou a 31 de Dezembro de 2019, os chamados doadores em uníssono suspenderam a relação de financiamento em aproximadamente 40% ao Orçamento Geral do Estado (OGE). Qual o impacto que essa suspensão teve na vida das famílias e gestão do país?
Imagine caro leitor, amanhã acordar e perceber que no seu salário foram retirados 40%, as suas poupanças valem menos 50%, e terá que fazer face as mesmas responsabilidades domésticas, familiares, pagamentos de compras a prazo, financiamentos, etc, etc.
Mais grave se torna porque devido ao impacto dessa suspensão ao OGE, a economia nacional retraiu, originando uma desvalorização do Metical a 100% e a taxa de juro bancária comercial aumentou 150%, e, como consequência, as suas responsabilidades financeiras duplicaram, os preços dos produtos alimentares básicos aumentaram entre 50% a 100%, só para citar alguns casos dramáticos como desemprego, perdas de empresas e habitações, divórcios e suicídios, etc.
Como é que o leitor resolveria o seu plano de obrigações e responsabilidades, mantendo-se vivo com a sua família ? O parágrafo anterior não é ficção, nem um excerto de um texto teatral dramático. Foi exactamente o que aconteceu aos 30 Milhões de moçambicanos nos anos de 2015, 2016, 2017, quando os parceiros/doadores/financiadores/especuladores tiraram o tapete a Moçambique, com a desculpa das dívidas ilegais. Os moçambicanos foram duplamente penalizados pelos corruptos das dividas ilegais, entre os quais alguns dos nossos governantes em conta com a justiça, banqueiros suíços e a tal Comunidade Internacional.
Como consequência desse boicote, o Governo de Nyusi, desesperado, procurou soluções como a maior parte dos chefes de famílias moçambicanas o fizeram, reinventando-se.
Surpresa para muitos, incluindo os doadores/boicotadores que esperavam tudo, menos a continuidade da vida dos moçambicanos, perante tamanha adversidade.
Verdade seja dita é que o país continuou timidamente a crescer, os salários foram pagos, o serviço da divida externa gerido, infra-estruturas básicas como escolas, postos de saúde, sistemas de abastecimento de água, bancos nos distritos, transporte público urbano e rural foram cumpridos.
O que é que BREXIT tem haver com MOZEXIT? O paralelismo entre o BREXIT e o MOZEXIT deve-se ao facto de os ingleses assumirem o princípio da sua soberania acima de todas as certezas que a UE lhes proporcionava, mesmo sabendo que os dias que se avizinham serão muito difíceis.
Com MOZEXIT, os moçambicanos poderão finalmente continuar a gerir os seus próprios destinos sem a hipócrita ajuda dos doadores, bem como decidir sobre políticas de desenvolvimento, alianças sem ameaças, acordos bilaterais e ou multilaterais, etc.
Moçambique é membro das instituições de Breton Woods (FMI e BM), com quem devemos manter relações, porém, mesmo aí devemos filtrar o que nos convém.
Moçambique, ao ser expulso em 2015 das saias dos “doadores e ou comunidade internacional” teve que apertar o cinto. Contudo sobreviveu pela primeira vez sem depender dos que dizem que nos dão mas de facto são os mesmos (maioria) que sempre nos tiraram e implementaram contra nós políticas de empobrecimento.
Passamos o teste da maioridade, em que provamos que podemos viver com aquilo que temos e, com o que é nosso, fazendo as opções que acharmos certas, com todos os riscos de cometer erros e aprender desses mesmos erros. Sucesso é um acumular de erros aprendidos!
O MOZEXIT é uma oportunidade única dos moçambicanos se livrarem da má influência desses países, a fim de fazermos o caminho que muitos países africanos cada vez mais fazem e merecem a nossa admiração.
Se Moçambique sobreviveu um ciclo governativo com os seus próprios meios pela primeira vez desde a Independência, o caro leitor deve estar a questionar-se :
Então para onde íam as centenas de milhões de dólares americanos que os doadores diziam que davam?
Há vários estudos e relatórios nacionais e estrangeiros que abordam desapaixonadamente a questão dos “doadores”, afirmando que aproximadamente 66% dos valores declarados para ajuda aos nossos países regressam ao país “doador” pela via de consultorias, salários dos expatriados, auditorias, procurement condicionado e outras, entre elas a corrupção cá e lá. Esta conclusão, confirmada pela escritora africana Moyo, no seu livro “best seller” Dead Aid denuncia esta falsa e hipócrita ajuda.
Faço votos que o governo não recue na pressão que os doadores já começaram a exercer em criar um novo “formato de cooperação”. Aprendamos com eles próprios “doadores” como defender os maiores interesses dos nossos cidadãos, olhando para um horizonte de médio prazo, como fez o Reino Unido com o BREXIT.
Senhor Presidente e senhores Ministros, por favor, tenham coragem e façamos o MOZEXIT.
A luta continua!
A professora e académica Iraê Lundin (1951-2018) contara uma vez – na verdade mais do que uma – que no seu tempo de juventude e estudante universitária na Suécia ela perdeu o verão por culpa de umas horinhas a mais de sono. Ela contara que certo dia e depois de meses molestada pelo frio sueco foi anunciado que no dia seguinte seria o esperado verão e daí uma oportunidade tropical para ela matar as saudades do sol e reviver o Brasil, a sua terra natal. O momento mereceu uma saída “by night” de despedida do inverno da qual se arrependera pelo resto da vida: por conta de excessos dessa noite ela teve que dormir um pouco mais e quando acordara o verão já se tinha ido.
Imagino que o mesmo esteja a acontecer com os actuais Governadores Provinciais (GPs): logo que os Secretários de Estado da Província (SEPs) tomaram posse de repente o verão que se pensava igual aos anteriores durou apenas umas horinhas. Assim e contra todas as previsões “políteorológicas” da corrente do Poder o inverno cinzento do processo político moçambicano continua com a diferença de que para além de longo, agora chove intensamente no inverno.
Nas cerimónias oficiais de abertura do ano lectivo e mais recentemente as do 3 de Fevereiro, o dia dos heróis, foram avistados - logo pela manhã - aguaceiros locais no semblante dos GPs que denunciavam uma temporada de intensa chuva cujas inundações a História encarregar-se-á de registar e estudar as consequências. Agora e diante das inundações cabe aos GPs escolher a melhor estratégia para a própria sobrevivência política.
E em matéria estratégica de sobrevivência recomendo aos GPs que recorram à uma estratégia dos tempos de moleque do bairro. Nesses tempos e perante um sinal de algum perigo, principalmente de agressão exterior e diante da nítida inferioridade na capacidade de resposta, a estratégia de defesa (preventiva) passava pelo recurso ao “agarrem-me senão não respondo por mim”. No caso, os GPs podem adaptar a estratégia para o “agarrem-me se não desisto/bato-lhe”.
E assim segue a democracia à moda moçambicana onde a política também ( como em outros quadrantes) não se difere tanto do clima. Nos dois casos não se celebra uma previsão, sobretudo quando a partida ela é boa. E por estes tempos de mudanças climáticas/políticas não se guie pelo embrulho é necessário que saiba previamente o seu conteúdo e o quanto é resiliente às intempéries dos ventos que sopram do norte.
Um grupo de assaltantes de bancos depois de uma das suas incursões - das mais ousadas e lucrativas - delibera que a divisão do dinheiro seria feita no dia seguinte logo que soubessem do valor através da imprensa. Para eles não havia necessidade para tanta massada, pois alguém faria por eles. O mesmo raciocínio para a limpeza que é feita nas praias do Conselho Autárquico da Cidade de Maputo (CACM), sobretudo as situadas na Av. Marginal: porquê deixar limpa se alguém (associações/voluntários) virá limpar?
Num texto recente e sobre a cidade defendi que não se consegue combater os males e lutar pelo desenvolvimento da cidade sem a participação activa dos seus munícipes e visitantes. E de que uma “cidade bela, limpa, próspera e empreendedora” ( a visão do CACM) só seria possível ser alcançada quando os próprios munícipes (e visitantes) se apropriarem da cidade e no caso das suas praias.
O intróito foi a propósito da realização (30 de Janeiro) da primeira auscultação pública da proposta de postura sobre a protecção, gestão e utilização da costa de Maputo e em particular das jornadas regulares/sistemáticas e pontuais de educação cívica e de limpeza que são feitas tendo como epicentro as praias de Maputo. Pelo que se consta o resultado não difere do da Ajuda Pública ao Desenvolvimento: os respectivos destinatários resistem veementemente aos esforços empreendidos por quem quer ajudar. Alguma coisa não está a bater bem. O que será?
Creio que a abordagem que é feita devia ser alterada. A boa vontade e os recursos existentes deviam ser reorientados/centrados na capacidade municipal de encaixe e recolha do lixo (recipientes e transporte) nos pontos previamente definidos. Quanto a limpeza ao longo das praias que ficasse uma responsabilidade cívica dos seus utentes. Estes - na sua maioria frequentadores cativos - seriam os próprios protagonistas e fiscais do asseio da praia.
Em resumo e uma dica para a postura em elaboração: recolher apenas o lixo depositado nos pontos definidos e o resto deixar ao critério dos utentes. Do caos pode emergir a ordem. Mboralá experimentar!