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Política

“Carta de Moçambique” conversou ontem com Peter Fabricius, o jornalista do Daily Maverick que escreveu a peça onde Lindiwe Sisulo (Ministra das Relações Exteriores da RAS) é citada a dizer que Manuel Chang vai ser extraditado para Moçambique. Fabricius, que já foi durante muitos anos o editor diplomático do "Star" (ele escreve sobre relações internacionais) disse que, após uma colectiva de imprensa com Sisulo na semana passada, a Ministra sul-africana recebeu-o no seu gabinete e falou-lhe em exclusivo durante 25 minutos.

 

"Ela disse taxativamente o que escrevi. A intenção do Governo sul-africano é a de mandar Chang para Moçambique. Os tribunais vão fazer o seu trabalho, mas o poder político, de acordo com a Lei de Extradição sul-africana, tem a última palavra", disse Fabricius. Mas qual é o “quid pro quo?”, perguntámos-lhe.

 

O editor do Daily Maverick, um jornal digital de investigação altamente reputado na RAS, não conseguiu apurar. Mas na RAS começam a emergir especulações segundo as quais a visita recente de Cyril Ramaphosa (Presidente sul-africano) a Maputo foi decisiva para a definição do sentido de decisão de Pretória nesta matéria. A Sasol, a multinacional sul-africana que explora o gás de Temane, é tida como tendo entrado na equação, cujos detalhes desconhecemos. (Carta)

Eis o comunicado da Anadarko, na sequência dos ataques ocorridos na passada quinta-feira, que atingiram uma caravana sua e uma viatura da empresa portuguesa Gabriel Couto, contratada para edificar o aeródromo da companhia norte-americana na região de Afungi. No segundo ataque houve uma vitima mortal:


" É nosso entendimento que ocorreram dois ataques relacionados na estrada de Mocímboa da Praia para Afungi pelas 17h00, no dia 21 de Fevereiro. Os ataques ocorreram a cerca de 20 km do local de construção. O primeiro envolveu uma caravana, onde seis trabalhadores de empresas contratadas sofreram ferimentos que não representam risco de vida, tendo recebido ou estando a receber tratamento. A situação de todos os colaboradores encontra-se salvaguardada. Tragicamente, o segundo ataque, que envolveu uma empresa contratada para a construção de um aeródromo do projecto, resultou numa vítima mortal. Expressamos as nossas sinceras condolências e pedimos que quaisquer questões relativas a este segundo ataque sejam dirigidas à empresa contratada, a Gabriel Couto.
 A segurança, protecção e bem-estar nas nossas pessoas é sempre a nossa principal prioridade. Como tal, os trabalhos no local de construção foram suspensos e a movimentação encontra-se restringida. Não discutiremos medidas de segurança específicas. Estamos ainda a trabalhar para recolher informação e continuamos activamente a monitorar a situação. Mantemo-nos, ainda, em estreito contacto com as autoridades governamentais no sentido de assegurar que são tomadas as medidas apropriadas para proteger os colaboradores do projecto. Até que tenhamos um quadro completo dos acontecimentos de ontem, seria prematuro tecer mais comentários.” (Carta)

A aturada investigação de “Carta de Moçambique” destinada a identificar propriedades de moçambicanos ligados ao calote, nomeadamente empresas e investimentos abertos ou registados na África do Sul, começa a produzir resultados. Um dos implicados já detido, o suspeito Teófilo Nhangumele, abriu uma empresa na África do Sul, de nome Rootlinks Holdings, registada em 13 de Junho de 2016 como “private company”. A empresa apresentou-se, no acto do registo, como tendo endereço no número 97 do Eagle Trace, em Daifren, Sandton, Gauteng, 2191. Não conseguimos apurar o objecto social da Rootlinks Holdings. De acordo com documentos em nossa posse, a empresa não apresentou outro sócio sendo, portanto, uma ventura pessoal de Nhangumele. Falta apurar se o endereço do escritório foi alugado ou comprado. O pequeno vale de Daifern é uma zona de elite, com casarões avaliados em vários milhões de Randes. (Carta)

A “Reformar” e mais 14 Organizações da Sociedade Civil (OSC) nacionais pedem à Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) e ao Provedor de Justiça, Isac Chande, a tomada de uma posição sobre o exercício do direito de cidadania na vertente do direito dos reclusos ao voto. Assim, a “Reformar” e 14 OSC querem que a CNDH e o Provedor de Justiça pressionem a Comissão Nacional de Eleições (CNE) no sentido de criar condições para permitir que os 20 mil reclusos existentes em todo o país possam exercer o seu direito de votar nas eleições de 15 de Outubro deste ano.

 

Segundo a “Reformar”, a Constituição da República de Moçambique (CRM), no seu artigo 61, número 3, estabelece que nenhuma pena implica a perda de quaisquer direitos civis, profissionais ou políticos, nem priva o condenado dos seus direitos fundamentais, exceptuando-se as limitações inerentes ao sentido da condenação e às exigências específicas da respectiva execução. Para a “Reformar”, o artigo 61 da Lei-Mãe demonstra que os reclusos não perdem o seu direito político de votar. Aquela organização refere ainda que no contexto politico interno, a CRM de 1990 expressa de forma inequívoca o direito ao voto no seu artigo 73, ao dizer que “o povo moçambicano exerce o poder político através do sufrágio universal directo, igual, secreto e periódico para a escolha dos seus representantes, por referendo sobre as grandes questões nacionais e pela permanente participação democrática dos cidadãos na vida da nação”.O mesmo princípio foi reiterado na CRM de 2004, e por sinal no mesmo artigo 73.

 

A “Reformar” salienta que Moçambique é signatário de vários diplomas legais internacionais, devendo por isso implementá-los na íntegra sem exclusão de ninguém. Face a estas evidências, aquela organização e outras que apoiam o pedido ora submetido a CNDH e PJ esperam que a CNE garanta que a partir das eleições de Outubro de 2019 todos os reclusos irão votar.

 

Condições para os reclusos votarem

 

Outra exigência da “Reformar” é a criação de condições necessárias para que os reclusos possam registar-se e votar em locais devidamente organizados, e que não se continue a ignorar a lei e os demais dispositivos legais vigentes no país.(Omardine Omar)

sexta-feira, 22 fevereiro 2019 07:36

Docentes da UP escrevem ao Presidente Nyusi

Dezassete docentes da recentemente extinta Universidade Pedagógica escreveram uma carta ao PR Filipe Nyusi, contestando a recente decisão do Conselho de Ministros, que repartiu a instituição em 5 novas universidades. A carta foi remetida ao gabinete de Nyusi no passado dia 6 de Fevereiro.  Os subscritores dizem  desconhecer os fundamentos que conduziram à tomada de decisão da extinção da UP e que nunca foram consultados, como foi invocado pelo Ministro Jorge Nhambiu (Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional). Os docentes mostraram-se agastados e, como parece não haver mais nada a fazer, dada a aparente irreversibilidade da medida, apelam, no mínimo, para que “se possa preservar o nosso nome, salvaguardando a nossa história, a nossa imagem, a nossa marca, o conhecimento acumulado, os acordos de cooperação, entre muitos e complexos aspectos que a extinção da UP necessariamente trará”.

 

Acrescentam que “temem pela identidade de dezenas de milhares de graduados, Mestres e Doutores que ficarão prejudicados pelo facto de apresentarem diplomas de uma Universidade extinta, o que terá certamente implicações negativas para a sua vida profissional”. A missiva ao PR detalha um processo (descentralização da UP), iniciado em 2015, mas que nunca chegou ao fim, pelo menos no que tange à consulta aos visados. 

 

Em Fevereiro de 2015, o então Magnífico Reitor da Universidade Pedagógica, Rogério Uthui, solicitou aos órgãos da Universidade Pedagógica um estudo visando a sua descentralização, em face do seu crescimento. Para responder a essa solicitação, recordam agora os docentes, foi apresentada uma reflexão em que colocava 3 cenários possíveis, nomeadamente: i) uma reorganização global do ensino superior, integrando todas as diferentes Instituições do Ensino Superior do Estado em polos nos quais estivessem incorporadas todas as áreas do saber divididas por Faculdades (Ciências Naturais, Ciências Sociais, Ciências de Educação, Engenharias, Biomedicinas entre outras); ii) caso a reorganização pretendida devesse recair apenas sobre a UP, a criação de três polos só desta instituição, nomeadamente UP-Sul, UP-Centro e UP-Norte, congregando as delegações das respectivas regiões e c) finalmente, a manutenção da UP na concepção/organização em que se encontrava, redefinindo-se os níveis de autonomia administrativa dos seus gestores regionais.

 

Mas, essa reflexão terá ficado na gaveta. Em 2016, os docentes da UP foram surpreendidos por um despacho do Ministro Jorge Nhambiu, que decretava a divisão da UP em 4 universidades, e a criação das suas respectivas comissões de instalação. Mas, dizem os professores na sua missiva, “as comissões reuniram com os órgãos centrais da UP uma única vez. Nessa reunião, os docentes apresentaram a sua preocupação pelo facto de se ter tomado uma decisão sem qualquer processo de avaliação e sobre o impacto de tal medida na actividade académica e cientifica”. Ao despacho de Jorge Nhambiu, os docentes manifestaram-se “apreensivos pelo facto de as comissões instaladoras serem compostas por docentes e outros quadros exteriores à UP, colocando de lado todo o conhecimento e experiência por nós acumulada, já que nenhum docente da UP estava envolvido”. 

 

Os docentes denunciam agora que, decorridos 2 anos após o despacho de Nhambiu, nunca “mais fomos chamados a nenhum debate sobre o assunto”. O anúncio recente da extinção da Universidade refere que esta medida se fundamenta numa proposta que partiu da UP, mas de acordo com a missiva “os órgãos colegiais da UP nunca se pronunciaram favoráveis à sua extinção”. Para eles, a reestruturação de uma Universidade devia ser acompanhada de um processo de avaliação institucional com carácter objectivo e com reconhecida isenção.

 

Críticas ao despacho de Jorge Nhambiu anunciada

 

 A divisão da UP em 4 unidades, conforme vinha anunciado no despacho de Nhambiu, foi severamente critica pelos docentes, questionando a validade da proposta, nomeadamente de “reduzir” os níveis de duplicação de cursos e Unidades Orgânicas, de “racionalizar” o uso de recursos humanos, patrimoniais e financeiros e de tornar a Universidade eficaz e produtiva. Para eles, era necessário um diagnóstico prévio.

 

“Não tendo existido qualquer diagnóstico, não se percebia como a simples divisão da UP em 4 universidades resultaria automaticamente na racionalização dos recursos, redução de despesas e melhoria a sua eficiência como era afirmado no despacho já deliberativo, antes de qualquer análise sistematizada”, tanto mais que “ a nossa impressão era a de que a criação de 4 universidades traria exactamente um aumento de custos e a redução da concentração de esforços que o modelo estratégico da UP praticava e que conduzia objectivamente a uma racionalização dos recursos e uma melhor qualidade de ensino”. 

 

Os docentes fizeram questão de alertar que “o plano estratégico, os currículos e o sistema organizativo da UP foram desenhados por um longo e aturado trabalho de estudo e reflexão, envolvendo todos os docentes da UP ao nível nacional” e, por isso, a sua extinção, agora decretada, significava toda essa experiência e saber acumulado.

 

A Universidade Pedagógica iniciou a sua actividade no ano de 1985 com a criação do Instituto Superior Pedagógico. Em mais 30 anos, a UP formou milhares de graduados, maioritariamente professores. No ano de 2007, a UP elaborou um plano estratégico e operacional que resultou no seu crescimento qualitativo e quantitativo. A universidade tornou-se na instituição nacional que mais quadros de nível superior graduou (aproximadamente 65000), tendo estendido a sua intervenção ao nível nacional com instalações próprias. Abriu programas de pós-graduação, onde já formou 1 155 Mestrandos e 10 Doutorandos, e criou parcerias com cerca de 100 instituições nacionais e internacionais. Tem hoje aproximadamente 200 docentes Doutorados e 900 Mestrados. (Carta)

A extradição do ex-ministro das Finanças moçambicano Manuel Chang, detido na África do Sul a pedido dos Estados Unidos, só acontecerá depois de concluído o processo judicial, disse hoje um porta-voz do Governo, contrariando declarações da chefe da diplomacia. "Os dois pedidos de extradição [dos EUA e de Moçambique] foram encaminhados para os nossos tribunais para uma determinação, tal como é requerido pela nossa lei. A decisão final será feita quando se concluir o processo que corre nos tribunais", declarou o porta-voz do Ministério da Justiça e Serviços Prisionais, Max Mpuzana à agência noticiosa Bloomberg.

 

Contactado pela Lusa, o porta-voz do Ministério das Relações Internacionais e Cooperação, Ndivhuwo Mabaya, afirmou apenas que o Ministério da Justiça da África do Sul “está a atender" a um pedido das autoridades moçambicanas para a extradição do antigo ministro das Finanças Manuel Chang. "O Governo sul-africano recebeu um pedido de extradição de Maputo, o nosso Ministério da Justiça está a atender ao pedido", disse hoje à Lusa Ndivhuwo Mabaya, porta-voz do Ministério das Relações Internacionais e Cooperação, sem precisar mais detalhes.

 

A ministra das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, Lindiwe Sisulo, disse em entrevista ao jornal sul-africano Daily Maverick que Manuel Chang será repatriado para Moçambique e não será extraditado para os EUA, onde é procurado pela justiça norte-americana.

 

"Vamos enviá-lo para Moçambique e acreditamos que essa é a coisa mais fácil de fazer para todos", declarou. Lindiwe Sisulo adiantou que o Governo sul-africano entende que será conveniente que Manuel Chang seja julgado em Moçambique pelo seu papel na contração das chamadas "dívidas ocultas". O antigo ministro das Finanças, detido a 29 de dezembro de 2018 na África do Sul a pedido da justiça norte-americana, será ouvido no dia 26 no tribunal de Kempton Park, arredores de Joanesburgo, que recusou a sua libertação sob fiança a 15 de fevereiro.

 

A Justiça sul-africana iniciou no dia 5 de fevereiro a audição sobre o pedido de extradição feita pelos EUA, em que o procurador do Ministério Público da África do Sul, J.J. du Toit, procedeu à entrega ao tribunal da documentação completa, assinada pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, para audição no dia 26, afirmando que o ministério recebeu a 4 de fevereiro a documentação final da justiça norte-americana. Os EUA acusam o ex-ministro moçambicano de fraude eletrónica, fraude informática e branqueamentos de capitais, pela sua participação na operação que resultou nas chamadas "dívidas ocultas".

 

De acordo com a acusação norte-americana, foi no mandato ministerial de Manuel Chang que o executivo moçambicano da altura avalizou dívidas secretamente contraídas a favor de três empresas públicas ligadas à segurança marítima e pescas, entre 2013 e 2014 e terão servido de base para um esquema de corrupção e branqueamento de capitais com vista ao enriquecimento de vários suspeitos na ordem de 2,2 mil milhões de dólares.

 

Moçambique enviou a 4 de fevereiro, um pedido diplomático concorrencial para requerer a extradição de Manuel Chang, disse à Lusa Zacarias Cossa, adido de defesa da Embaixada de Moçambique na África do Sul.

 

Manuel Chang foi ministro das Finanças de Moçambique durante a governação de Armando Guebuza, entre 2005 e 2015.Chang foi detido a 29 de dezembro do ano passado na África do Sul, quando se preparava para embarcar para o Dubai com um visto de negócios embora tenha declarado ao tribunal sul-africano, quando tentava negociar a sua liberdade sob caução, que "ía de férias de final de ano".

 

Além do ex-ministro das Finanças de Moçambique, três ex-banqueiros do Credit Suisse e um intermediário da Privinvest foram detidos em diferentes países desde 29 de dezembro a pedido da justiça norte-americana.

 

No âmbito do processo das dívidas ocultas, oito pessoas foram detidas no passado fim-de-semana em Maputo e uma responde ao processo em liberdade, depois de ter pagado caução.

 

Entre os recentes detidos, encontra-se Ndambi Guebuza, filho do antigo Presidente moçambicano Armando Guebuza.(Carta)