Pode ser que a espada anunciada já esteja a operar, é verdade. Estamos a ser conduzidos por demónios nos nossos caminhos tornados íngremes e ninguém percebe os sinais. No princípio era o bairro Chalambe o ponto principal da esbórnia dos desgraçados, aqueles que não terão onde ir, nem a quem chorar. Aqui paira vivamente, de dia e de noite e nas madrugadas, o cheiro catalizador da cannabis e o despudor. Ninguém se assusta com isso, nem com os homens rebentados pelo álcool.
Já o dissemos várias vezes mas não nos cansamos de repetir. Hoje, Chalambe não é mais o único lugar da gravitação das grutas, há outros pontos nos bairros onde se bebe aguardente de cana-de-açúcucar ou jambalau e ainda a sura, com mulheres jovens destacando-se na linha da frente, sem preconceitos. Bebem e fumam tudo, desde o cigarro normal até à “cosa nostra”, e já ninguém vê problema nesse gesto que vai se tornando hábito. Um vício mortal.
Não precisa que seja noite, as raparigas e também mulheres maduras, podem ser encontradas nesses esconderijos imundos a consumir tais coisas sem olharem para trás. Outras ainda, fogem temporariamente das suas bancas no mercado e vão beber um trago como forma de afugentarem a dor do tédio criado por um negócio que não anda. Já se descomplexaram, e no seu desespero jamais vão se importar com o que a sociedade fala sobre ela. Aliás, a sociedade tem outras preocupações: o dinheiro que não existe e, consequentemente, o pão que não chega à mesa.
Não precisamos mecionar o nome dos bairros onde em cada esquina há uma toca onde se vende thonthonto (aguardente de cana ou jambalau) e sura, existem em todo o lado, e em algumas delas tem lá mulheres bebendo e fumando, e as conversas que se ouvem não têm futuro. Nem passado. Muitas delas mostram-se com sinais de desitração, facilmente notável por via do rosto. Tumefacto.
Mas de onde é que vem este fenómeno novo, de mulheres jovens e maduras na cidade de Inhambane bebendo cachaça e essas porcarias industrializadas que levam nomes inconsebíveis nos rótulos, como por exemplo “Dinamite”? Se calhar a sociedade está atrasada numa pergunta que não vai fazer sentido, pois se estas jovens estão muito perto do abismo, então todos nós estamos lá. No fundo.
Ninguém as repreende, nunca foram. Jamais tiveram alguém para o fazer, ou seja, os pais quando descobrirem a fossa em que suas filhas se meteram, poderá ser tarde demais para qualquer reparação. O tempo que as move funciona como o relógio da morte, cujas horas correm com tontura em direcção à fornalha do diabo, onde já estão a ser queimadas na ilusão do prazer. Mas a cachaça e o fumo de todos os tipos que consomem e libertam no vazio, é apenas para desfarçar a dor. Elas estão no inferno e não conseguem fugir dalí. E se elas não conseguem fugir, nós também estaremos com elas.
“A aparição pública do político Venâncio Mondlane para entrega da sua candidatura à Presidência da República sem dúvidas que irá tirar sono a vários actores políticos, com destaque para Ossufo Momade, Presidente do partido Renamo. E não se enganem, o partido Frelimo terá de se reinventar, do ponto de vista discursivo.
Terá de dizer o que irá mudar para oferecer emprego aos jovens, o que irá mudar para oferecer habitação aos jovens, acesso ao ensino, dentre várias outras carências que a juventude enfrenta. É hora de reflexões políticas de muita seriedade e antevejo a Renamo de Ossufo Momade, depois das eleições, como um partido irrelevante na política nacional. Se calhar, é antevendo essa irrelevância que alguns falam de alguns militares mortos da Renamo e dizem que estão vivos. Por favor, preparem estratégias para fazerem face ao fenómeno político chamado Venâncio Mondlane”.
AB
Venâncio Mondlane inscreveu-se, a 06 de Junho de 2024, pelas 14h30, no Conselho Constitucional, para concorrer às Presidenciais de 09 de Outubro de 2024. Uma das razões desta reflexão é o número de assinaturas que conseguiu para poder concorrer: nada mais nada menos que 110.000 (cento e dez mil) assinaturas, tendo entregue ao Conselho Constitucional as 20.000 (vinte mil), o máximo permitido por Lei.
Para que não houvesse dúvidas, Venâncio Mondlane e seu mandatário portavam as restantes 90.000 (noventa mil) à porta do Conselho Constitucional e Mondlane desafiou os jornalistas presentes, querendo, para conferir. Ora, quando ouvi aquilo, fiquei estupefacto. Um homem sem suporte de uma organização política conseguir, em tão pouco tempo, aquela quantidade de assinaturas, segundo ele, válidas!
Com efeito, a partir de hoje passo a admirar este homem que, para mim, se torna um verdadeiro fenómeno político. Não haja confusão entre admirar e ser seu seguidor. Não sou seu seguidor, mas admiro a sua crença, persistência, a sua vitalidade e vontade de estar e ser na política. Repito, Venâncio Mondlane é um caso de estudo e faz frente a várias formações políticas existentes há muito mais tempo no País. De forma oficial, convenhamos, não é possível ignorá-lo.
Estive a pensar se realmente o partido Renamo, refiro-me à sua direcção, teve medo da sua participação como concorrente, para a liderança do partido. O que estarão a pensar essas mesmas pessoas com Venâncio Mondlane candidato à Presidência da República. Nas conversas de rua e da esquina, há quem já vaticina a Renamo numa situação de irrelevância política e Ossufo Momade a ser crucificado pelos seus pares.
Ora, a desvinculação voluntária de Venâncio Mondlane do Partido Renamo e da Assembleia da República será explorada até à exaustão pelo próprio e seus seguidores. Aquilo que os dirigentes da Renamo fizeram na posição de “quero, mando e posso” já não poderão fazer na arena de concorrência à presidência da República. Estarão preparados a ter um manifesto que os afaste do fenómeno Venâncio Mondlane? Eis a pergunta que não cala!
A questão não se coloca exclusivamente à Renamo. Que discurso trará a própria Frelimo para a Juventude? Quando falamos de emprego, habitação, formação escolar entre outras exigências de momento, que tem estado a ser motivo de cada vez maior distanciamento entre o Governo e a Juventude! Na condição de partido no poder, a Frelimo deve, desde já, mostrar que, de facto, as coisas irão mudar, mostrar pela prática, por acções no terreno. Não me pergunte como, mas promessas não valem hoje.
Ouvi e gostei de ouvir, do candidato da Frelimo, que pretende resgatar os valores da primeira República, sob liderança de Samora Moisés Machel. Para mim, que vivi esse tempo, faço ideia do que se refere, mas os jovens e adultos, nascidos depois de 1980, não sabem, o que é pior é que não querem saber, querem a solução dos problemas que vivem hoje e a solução era para ontem!
Uma coisa é certa, os partidos políticos, concorrentes às eleições de 09 de Outubro de 2024, devem estar à altura dos desafios de momento, a guerra dos dezasseis anos não é motivação para votação, a luta pela democracia não diz nada aos jovens nascidos depois de 1990, que são a maioria. O “Futuro Melhor” não galvaniza gente com carências de um pouco de tudo. A questão é: e agora?
Adelino Buque
Quando o então presidente americano Barack Obama foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz (2009), ainda no primeiro ano do seu também primeiro mandato, houve quem se interrogou sobre a justeza da atribuição. No debate da altura, e em socorro dos que o atribuíram o prémio, alguém defendeu que a atribuição foi uma forma de comprometer Obama com a paz nos anos que se seguiam, sobretudo, e determinante, pelo facto de ele suceder o presidente George W. Bush com o seu legado letal.
Para os que assim entendiam a Academia de Oslo aproveitou a juventude e a áurea de esperança que Obama exalava, na américa e no mundo, para atingir fins como a paz mundial depois dos pós acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, particularmente com as guerras do Iraque e do Afeganistão.
Lembrei-me disto, e vejo semelhança com o que poderá acontecer com Daniel Francisco Chapo, candidato presidencial da Frelimo, no próximo pleito eleitoral. No fundo, e tal como o entendimento para a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Obama, sem que até a altura ele justificasse merecê-lo, nas eleições de 9 de Outubro os eleitores moçambicanos poderão fazer o mesmo com Chapo o que a Academia de Oslo fez com Obama.
Esta manhã dei-me ainda conta desta possibilidade, escutando conversa alheia entre dois vizinhos da mesa do café matinal. A dada altura, um dos interlocutores, respondendo ao outro sobre se ia a Matola de Chapa (denominação de transporte público semi-colectivo de passageiros), disse: “Se vou de Chapa? Não, vou com Chapo!”. Depois de uma ténue reflexão, o outro retorquiu concluindo: “Se vais com Chapo, então vais de Metro!”.
Antes de mais, o que é um adepto? Independentemente do que seja, para responder a esta pergunta, consultei o Google e veja o que encontrei.
“1- Adepto, que é iniciado e conhecedor de uma doutrina, religião, seita ou ciência, 2 – que adere a uma doutrina ou a um movimento, seguidor, partidário, 3 – que admira muito determinada pessoa ou coisa, admirador”
In Google
Vamos por partes. O Jornal Notícias escreve, na Edição nº 32.255 de 04 de Junho de 2024, página 23, a notícia com o título “Adeptos do Baía de Pemba contestam Artur Semedo”. A notícia é desenvolvida e destaca-se que os adeptos pediram a saída de um jogador de nome Kabine, alegadamente, reforço a pedido do treinador Artur Semedo e pedem a demissão do próprio treinador, Artur Semedo.
Em rigor e no futebol, considera-se o adepto como o 12º jogador, aquele que nos momentos maus e nos momentos bons puxa e moraliza a equipa, aquele que faz de tudo para desmoralizar o adversário a favor da sua equipa, sabido que, no jogo de futebol, existem três resultados possíveis, que são:
1) Vitória;
2) Empate e;
3) Derrota.
No caso em apreço, a equipa do Baía de Pemba teve um empate com o Ferroviário de Lichinga, uma equipa que, em termos de classificação, está acima do Baía de Pemba. Olhemos para os resultados obtidos pelas duas equipas até à 7ª jornada:
a) Baía de Pemba realizou sete jogos, obteve como resultados duas vitórias, dois empates e duas derrotas. Tem oito pontos;
b) O Ferroviário de Lichinga realizou sete jogos, obteve duas vitórias, três empates e duas derrotas. Tem nove pontos.
Ora, analisado desta forma, questiona-se o que os adeptos do Baía de Pemba contestam efectivamente. Estava em causa duas equipes com mais ou menos o mesmo tipo de “performance” no jogo e saíram empatados. É verdade que nenhum treinador, que tenha autoestima, entra para um jogo para perder, nenhum jogador, como avançado, entra para não fazer golos, ou seja, dito desta forma, as primeiras pessoas afectadas pelo grau de desempenho é o jogador e o treinador. Certo que nem sempre os jogadores estão no seu melhor dia, o verdadeiro adepto deve saber isso!
Ora, os senhores Antumane Ndze e Felito Pires Nacaia devem saber do que me referi. Para quem não está a par do assunto, esses dois senhores são os que falaram para o Jornal Notícias, são estes adeptos que obrigaram a direcção do Baía de Pemba a “mobilizar” um contingente policial para amainar os ânimos e permitir a saída do campo. É preciso ter-se muito cuidado com este tipo de adepto porque mais desestabilizam do que apoiam a equipa.
Escrevo esta Carta Aberta aos adeptos do Baía de Pemba para chama-los à razão e pedir que deixem a equipa técnica e os jogadores trabalharem sem pressão. Para já, na minha opinião, a equipa está bem, saibam apoiar nos momentos em que a equipa não está bem, porque, infelizmente, esses momentos existem em tudo. Dizer que a vossa atitude pode representar a desmoralização do grupo de trabalho e os resultados disso forem aqueles que menos desejam para o Baía de Pemba. Sejam pacientes, temos longa caminhada pela frente. Um apelo à direcção do Baía de Pemba para não se precipitar na tomada de decisão. Façam contas e incentivem o balneário para trazer resultados, procurem educar os adeptos para estarem mais com equipa que contra. Como disse acima, no futebol, existem três resultados possíveis e o empate é o menos mau, obrigado.
Adelino Buque
“África do Sul, um país situado no Sul de África, com uma área territorial de 1.219.912 km2, uma população de 57.780.00 pessoas, é banhado pelos Oceanos Atlântico e Índico, com uma extensão do litoral de 2.780 km. Os sul-africanos têm 11 línguas oficiais, cultura diversificada. De 1948 a 1994 teve um regime segregacionista, entre brancos, pretos, mestiços e indianos. O que é o Apartheid afinal? O Apartheid foi um regime político que se pautou na segregação racial e que esteve em voga na África do Sul de 1948 a 1994. Esse sistema foi sustentado por um partido político de extrema-direita, o Partido Nacional. Os direitos da população negra sul-africana foram gradativamente retirados para fomentar privilégios da minoria branca da população. Nesta reflexão, pretendo fazê-lo sem tabus. Não entendam isso como racismo, que não é".
AB
“O governo da África do Sul é formado por um sistema de Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), sendo que o presidente do país, chefe do poder Executivo, é eleito de maneira indirecta, por um sistema que depende do Legislativo. Os representantes políticos do Legislativo são escolhidos pela população, por meio da votação em partidos. A duração de um governo nacional na África do Sul é de cinco anos, e a Assembleia Nacional é composta por 400 representantes. O actual presidente do país é Cyril Ramaphosa
A cultura da África do Sul é muito diversificada e marcada pelos diferentes povos que formaram o país. O território possui 11 línguas oficiais e diversas práticas religiosas. O principal ritmo musical praticado e ouvido pelos sul-africanos é o kwaito, sendo que a música tradicional africana é muito valorizada. Já o prato principal é chamado de braai, uma carne grelhada, muito parecida com o churrasco brasileiro. No Desporto, além do futebol, a África do Sul possui grande tradição no rugby, no críquete e no hóquei em campo”.
In Google
Pessoalmente, considero um ganho enorme para a boa Governação da África do Sul e o Partido DA. Contudo, esta aliança pode ser penalizadora para o ANC nos próximos pleitos eleitorais, não porque o DA seja um Partido que não advoga o desenvolvimento da África do Sul, antes pelo contrário, pelas suas origens, o próprio ANC diabolizou a emergência deste Partido que, hoje, parece certo que com ele formará uma coligação para governar.
Dentro do próprio ANC pode não haver clareza sobre o que advoga o DA para a África do Sul, a sua política externa, sobretudo a relação com as organizações como a União Africana e a própria SADC, sendo que a atitude da direcção do ANC seja aliança por exclusão que propriamente por ideologia e ou estratégia de ganhos repartidos. Neste caso, arrisco-me a dizer que o ANC sairá a perder a médio e longo prazo.
No texto acima, extraído do Google, pode se ler que a África do Sul tem 11 línguas oficiais, com uma cultura diversificada. Isso, para um país com mais de 58 milhões de habitantes, pode ser um suicídio político. Não creio que os dirigentes do ANC não saibam, mas reina neles um sentimento de orgulho. Não podem ensaiar uma aproximação com o MK porque é liderado por Jacob Zuma, com EFF embora não atingisse a maioria que precisa, mas poderia encontrar um partido que, em termos ideológicos, seria mais compreendido que o DA, pelo povo sul-africano.
O Apartheid foi uma realidade na África do Sul, desde o ano de 1948 até 1994. As leis colocavam pessoas em função da sua cor da pele, eram brancos, pretos, mestiços e indianos, e isto ainda está na cabeça de algumas pessoas e o ANC, coligado com o DA, partido considerado de brancos, com alguns pretos, não cairá bem na maioria da população. O perigo é, efectivamente, o ANC passar para a oposição a favor do MK, que ainda representa esperança do povo sul-africano e porque não o EFF, o que seria mais perigoso, devido ao extremismo que advogam. Veja a seguir sobre o estabelecimento do Apartheid na África do Sul.
"Na década de 1940, uma série de transformações estavam em curso na África do Sul. A industrialização e o desenvolvimento económico do país aumentaram as taxas da presença da população negra nos grandes centros. A discriminação racial afectou a acomodação do fluxo de trabalhadores negros, e isso aumentou as tensões entre negros e brancos.
A população branca, principalmente de origem holandesa (então chamada de africânder), reagiu ao aumento da presença dos negros nas cidades e às pressões por melhorias políticas. Esse grupo minoritário e defensor das medidas de segregação foi liderado por Daniel François Malan, pastor filiado ao Partido Nacional.
Nas eleições gerais de 1948, Daniel François Malan iniciou uma campanha pelo Apartheid, isto é, uma extensão das medidas segregacionistas na África do Sul. A defesa do aumento das medidas de segregação racial ecoou entre os eleitores sul-africanos (só os brancos votavam), e isso fez com que o Partido Nacional conquistasse o maior número de assentos no Parlamento. Começava, então, o Apartheid"
In estabelecimento do Apartheid na África do Sul
Por isso, arrisco-me a pensar que a população negra pode considerar a aliança do ANC com o DA um retrocesso nos ganhos do período pós-Apartheid, uma traição a Nelson Mandela, que ficou 27 anos preso pelo Apartheid e cuja libertação simboliza e simbolizou o fim do regime segregacionista. Mas o problema é dos sul-africanos. Aqui também temos os nossos próprios problemas que não são poucos. Esta reflexão pode ser entendida por alguns como tendo um cunho racista, mas nada disso, estou aqui a reflectir sobre os possíveis impactos que podem advir dessa aliança que parece certa na vizinha África do Sul. Sem insultos, aceito debate aberto!
Adelino Buque