Tem sido assunto candente nos últimos dias, a avalanche crítica por parte de um segmento dos fazedores de difusores de opinião, o facto de alguns membros de organizações da sociedade civil figurarem nas listas de candidatos a deputados a Assembleia da República para a próxima legislatura.
Entre argumentos e contra-argumentos, vai se sedimentando uma tentativa de elitização da participação na política activa, uma posição e um espírito pouco dialogante e pouco tolerante por parte da ala castrense de fazedores da política de estômago. Na verdade, a luta para desacreditar as Organizações da Sociedade Civil em Moçambique não é de hoje. Há uma luta titânica para se provar que elas são organizações que defendem interesses externos e agendas ocultas.
As narrativas depreciadoras contra as organizações da sociedade civil, não são novas no país e são um fenómeno que tende a solidificar-se e a dominar certos debates de (des) informação. Elas consubstanciam-se na sua forma mais crua de fechamento do espaço cívico e de todas as liberdades a ele inerentes - (liberdade de associação, de expressão, de movimento, de imprensa, de religião, etc). Subentendo eu, que é um lugar propício para o florescimento de uma nova aurora social, política e intelectual fecunda. Fechar o espaço cívico é asfixiar e amputar o direito de sermos nós mesmos e realizar nossos desígnios enquanto cidadãos emprestados à polis.
Quando escolhas e opções político-partidárias diferentes tornam-se alvo de repúdio e combate, a nossa civilização decresce degraus qualitativos. O pensar diferente do ordinário e do comumente aceite, não deve ser visto como ultraje a ordem instituída, mas sim como mais um ingrediente para a evolução da interação humana dentro de um quadro social e político.
Tivemos num passado recente, alguns académicos e comentadores/ analistas políticos que decidiram emprestar seus conhecimentos à política activa, apresentando-se com cores e ideias de outros partidos e agremiações políticas, tentando dar seu contributo ao debate de ideias em prol de um Moçambique mais heterogéneo e pluralista. E se não constituiu problema o facto de académicos terem enveredado pelos pergaminhos da política, não deveria sê-lo agora; pelo menos não na dimensão que se pretende dar ao fenómeno que está ecoar a onda de activistas que decidiram emprestar seu saber e seu conhecimento a política activa.
Socorro-me da definição clássica de Aristóteles, segundo a qual o Homem é, por natureza, um animal político e social. Político porque vive inserido na polis e faz parte dos processos de discussão e tomada de decisão – passa de simples indivíduo e torna-se um cidadão, por inerência a vida dentro da polis. Social porque uma vez inserido numa sociedade, ele desenvolve laços naturais de socialiabilidade que por seu turno também a impingem a se distanciar da mesma. Mais tarde, esta dinâmica é mais desenvolvida e explicada por Immanuel Kant com a sua ideia de Insociável Sociabilidade - conceito que descreve a tensão entre o indivíduo e a sociedade. Por um lado, os seres humanos têm uma inclinação natural para a cooperação e a vida em comunidade. Por outro lado, também possuem características egoístas e competitivas. Essa tensão entre o desejo de se unir e a necessidade de se proteger cria um ambiente propício para o desenvolvimento cultural, tecnológico e social.
Com isto, quero deixar o meu entendimento e o meu contributo em torno do espaço político activo. Não nos enganemos nem tentemos equivocar-nos que o exercício político activo é apanágio de alguns, supostamente mais experimentados, capacitados e dotados. Tampouco, deixemos de sonhar a ideia de termos um debate político aberto, vibrante e profícuo, nem uma Assembleia da República mais pluralista, de discussão de ideias progressistas, e não apenas um lugar para apupos, assobios e palmas.
O espaço político pertence a todos nós sem excepção; abarca o activismo social e o exercício político activo; Ele existe em si, e é alimentado por indivíduos que se doam apaixonada ou desapaixonadamente, interessada ou desinteressadamente, e perseguem um ideal comum ou individual; uns por egoísmo e outros por altruísmo. É uma conquista secular para a humanidade e relativamente nova para nós enquanto país; deve ser cultivada, respeitada e preservada por todos e por cada um de nós.
Se académicos, podem emprestar-se a política e colocarem sua ciência a serviço da sociedade, entendo eu, que outros actores que possam agregar valor ao debate, a discussão e a construção de um Moçambique próspero e inclusivo sejam igualmente bem-vindos.
A política não pode nem deve ser elitista.
Disse!!!
Por: Hélio Guiliche
“Convocar uma Conferência de imprensa para anunciar que o Presidente da FMF paga o salário acima do salário do Presidente da República e seus Ministros é muita falta de respeito. Respeito que exige de outros! Chamar a imprensa para dizer que os jovens militares que defendem a pátria no norte de Moçambique são mal compensados, passou dos limites do aceitável.
Se a FIFA é que manda no Futebol em Moçambique e por isso as autoridades nacionais estão de “mãos atadas”, então porque se criam instituições moribundas como a Secretaria do Estado da Juventude e Desporto? Alguém se lembra de algo útil realizado por esta instituição? Por favor senhor Presidente da República, extingue essa secretaria por inoperância.”
AB
Existe a narrativa recorrente de que o estado não deve interferir nos assuntos de Futebol, sob pena de a Federação ser penalizada e não obter apoios da FIFA e muito menos participar das actividades organizadas por este órgão. Mas tudo isso é falácia, a FIFA – Federação Internacional de Futebol tem funções e atribuições específicas e, mais do que isso, a pessoa ou pessoas a ela associadas não podem estar acima do Estado, como parece acontecer em solo pátrio. Vejamos abaixo e de forma resumida, as funções da FIFA.
“Para além de promover competições entre os países, a FIFA tem diversas atribuições relacionadas ao futebol a nível internacional. A entidade é responsável por supervisionar as diversas associações, federações e confederações de futebol ao redor do mundo”, fim da citação.
As autoridades moçambicanas, muito em concreto a Secretaria do Estado da Juventude e Desporto, devem rever o seu papel no desenvolvimento do Desporto em Moçambique. Na minha opinião, se não pode intervir para casos tão periclitantes, como o que se vive hoje no País? Então, em que circunstâncias deverá intervir e qual é a utilidade dessa instituição? Serve para acomodar determinadas pessoas ou é mesmo para a regulação Desportiva? É que, se as instituições internacionais são as reguladoras internas das actividades desportivas, então, não vale a pena criar instituições que só irão gastar os parcos recursos existentes.
Por outro lado, é importante que haja regras para se dirigir determinados sectores no País. Este país é dos moçambicanos e não da FIFA. Ela pode ajudar-nos, já que em tudo precisamos de ajuda, mas a última decisão deve ser nossa. Mais do que isso, é preciso rever os estatutos da Federação Moçambicana de Futebol, o Futebol não pode continuar a ser dirigido por 11 Associações neste País, facilmente corrompíveis a troco do nada. Lembro-me que a polémica no futebol não é de hoje, no entanto, as pessoas renovam mandatos. O que isso significa?
No conceito, a Federação Moçambicana de Futebol é uma entidade colectiva e a FMF não é propriedade do seu presidente. É irritante que os restantes membros da FMF passem a vida no silêncio, como se fossem múmias. Se não querem viver os problemas do futebol, demitam-se por favor ou vocês são “empregados” do Presidente, ele vos paga quantos salários mínimos mensais?
Vejam as cinco regras de ouro para o Futebol e outras modalidades colectivas, estará o atual elenco Federativo em condições de cumprir com isto?
“1- Evite estrelismo
Evite direccionar os holofotes apenas para alguns. Na hora decisiva, você precisará contar com o esforço máximo de todos. Apenas um não ganhará o campeonato.
2- Reconheça e valorize cada esforço
Existem várias formas de motivar a sua equipe. Claro que um aumento no salário é sempre bem-vindo, mas já experimentou valorizar o seu pessoal? O reconhecimento tem um poder mágico, faz o profissional sentir-se vivo e, principalmente, parte integrante do projecto, sabendo que seu trabalho está sendo visto.
3- Ouça a todos
Um dos grandes trunfos de um líder é saber ouvir. Isso não quer dizer que a ideia ou opinião de todos será acatada e implantada, mas trará várias boas ideias que, juntas, se podem transformar em excelentes resultados.
4- Una conhecimento técnico e conhecimento prático
Não adianta ter a teoria, mas não saber como executá-la na prática. Unir o conhecimento teórico com o conhecimento prático é um dos grandes segredos para sua empresa se destacar e o seu projecto ter sucesso.
5- Comemore os resultados
Sabemos que uma das melhores formas de motivar as pessoas é através do reconhecimento. Sendo assim, comemorar os resultados é uma regra valiosa. Quando seu colaborador percebe que seu esforço valeu a pena e que isso foi reconhecido, tende a repetir o feito em outros projectos.
As pessoas são assim, precisam de ser estimuladas. Agora, imagine se você focar apenas no jogador principal, reconhecer, premiar, dar festas e viagens de prémio apenas para o principal. Como ficarão os outros? Lembre-se: o talento vence jogos, mas só o trabalho em equipa ganha campeonatos.”
In: Sandro Libardoni é palestrante e consultor especialista em motivação humana, analista comportamental e Coach.
Definitivamente, a conferência de imprensa convocada pela FMF, em que o seu Presidente falou e insultou a tudo e todos, inclusive falou da Guerra em Cabo-Delgado, mostra a pertinência de intervenção do Estado no Desporto nacional ou então teremos de concluir que são todos empregados do Presidente e recebem, eventualmente, mais que o Presidente da República e seus ministros. Chega!
Adelino Buque
Pode ser que a espada anunciada já esteja a operar, é verdade. Estamos a ser conduzidos por demónios nos nossos caminhos tornados íngremes e ninguém percebe os sinais. No princípio era o bairro Chalambe o ponto principal da esbórnia dos desgraçados, aqueles que não terão onde ir, nem a quem chorar. Aqui paira vivamente, de dia e de noite e nas madrugadas, o cheiro catalizador da cannabis e o despudor. Ninguém se assusta com isso, nem com os homens rebentados pelo álcool.
Já o dissemos várias vezes mas não nos cansamos de repetir. Hoje, Chalambe não é mais o único lugar da gravitação das grutas, há outros pontos nos bairros onde se bebe aguardente de cana-de-açúcucar ou jambalau e ainda a sura, com mulheres jovens destacando-se na linha da frente, sem preconceitos. Bebem e fumam tudo, desde o cigarro normal até à “cosa nostra”, e já ninguém vê problema nesse gesto que vai se tornando hábito. Um vício mortal.
Não precisa que seja noite, as raparigas e também mulheres maduras, podem ser encontradas nesses esconderijos imundos a consumir tais coisas sem olharem para trás. Outras ainda, fogem temporariamente das suas bancas no mercado e vão beber um trago como forma de afugentarem a dor do tédio criado por um negócio que não anda. Já se descomplexaram, e no seu desespero jamais vão se importar com o que a sociedade fala sobre ela. Aliás, a sociedade tem outras preocupações: o dinheiro que não existe e, consequentemente, o pão que não chega à mesa.
Não precisamos mecionar o nome dos bairros onde em cada esquina há uma toca onde se vende thonthonto (aguardente de cana ou jambalau) e sura, existem em todo o lado, e em algumas delas tem lá mulheres bebendo e fumando, e as conversas que se ouvem não têm futuro. Nem passado. Muitas delas mostram-se com sinais de desitração, facilmente notável por via do rosto. Tumefacto.
Mas de onde é que vem este fenómeno novo, de mulheres jovens e maduras na cidade de Inhambane bebendo cachaça e essas porcarias industrializadas que levam nomes inconsebíveis nos rótulos, como por exemplo “Dinamite”? Se calhar a sociedade está atrasada numa pergunta que não vai fazer sentido, pois se estas jovens estão muito perto do abismo, então todos nós estamos lá. No fundo.
Ninguém as repreende, nunca foram. Jamais tiveram alguém para o fazer, ou seja, os pais quando descobrirem a fossa em que suas filhas se meteram, poderá ser tarde demais para qualquer reparação. O tempo que as move funciona como o relógio da morte, cujas horas correm com tontura em direcção à fornalha do diabo, onde já estão a ser queimadas na ilusão do prazer. Mas a cachaça e o fumo de todos os tipos que consomem e libertam no vazio, é apenas para desfarçar a dor. Elas estão no inferno e não conseguem fugir dalí. E se elas não conseguem fugir, nós também estaremos com elas.
Os últimos anos de Governação, tem sido marcado por um conjunto de desafios de natureza Económica, Política e Social, que geraram um conjunto de impactos negativos na reputação do Governo de Moçambique a nível interno e externo e na relação com seus principais stackholders institucionais.
Os sucessos alcançados por Moçambique no período entre 2004 e 2014, no que diz respeito a consolidação Paz e do crescimento económico, derivados essencialmente pela descoberta e exploração de recursos minerais, colocaram o País no mapa internacional, como um caso de sucesso.
Nos últimos anos, um conjunto de temas, relacionados com os danos causados pelas inundações, secas, as Dividas Ocultas, a tensão político militar no teatro operacional norte, o TSU, a greve dos médicos, dos profissionais de saúde, os raptos e outros assuntos, tem gerado sucessivas crises na Governação, criando danos a imagem e reputação do Governo de Moçambique, tanto ao nível interno, como a nível externo.
Apesar dos esforços do Governo, para manter processos de comunicação com os seus stackholders, identificamos áreas específicas com oportunidades significativas para avanço, onde, o Governo de Moçambique pode melhorar as suas capacidades de comunicação.
É meu entender que as sucessivas crises governamentais e as dificuldades que o Governo tem encontrado para contar a sua narrativa e mitigar o impacto das crises sobre a sua reputação, destacam a necessidade de uma reflexão profunda sobre o papel e a contribuição da comunicação no sucesso da governação.
O actual modelo de comunicação do Governo, com foco na informação, nos órgãos de informação, e em modelos unidirecionais de comunicação, não mais atende as actuais necessidades de comunicação do Governo e de seus principais stackholders.
O cenário actual é caracterizado por uma multiplicidade de públicos, que apresentam características novas e distintas, que demandam informação sobre as actividades do governo e sobre os quais a sua acção governativa pode gerar impactos sociais, económicos e tecnológicos, geradores de tensões.
Este novo cenário, demanda ou requer do Governo, a adopção de uma nova abordagem de comunicação fundada na construção de relacionamentos sólidos entre o Estado, a População e a esfera mediática.
Para que este novo paradigma de comunicação seja efectivo, é importante que a comunicação governamental, seja entendida como uma ferramenta estratégica para consolidação do estado de direito e democrático, através da promoção de um diálogo construtivo entre os cidadãos e os órgãos do poder do Estado, e entre os cidadãos entre si, sustentada pelos princípios do direito à informação e pelo dever dos governantes de informar, conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Para concretização destes objectivos e desenvolver um novo paradigma de comunicação governamental, penso ser fundamental adoptar as seguintes acções estratégicas:
É importante que os profissionais das relações públicas sejam capazes de inserir a comunicação governamental num processo produtivo, com a implementação de programas inovadores e eficazes de comunicação, tendo em vista um entendimento cordial entre a classe política e os públicos-alvo, colocando desta forma, as relações públicas como o motor de toda a máquina de comunicação ao nível da GOVERNAMENTAL, pois as suas práticas imprimem dinamismo institucional, funcionando como principal indicador do posicionamento de imagem e de ideologia, numa altura em que as disputas políticas pelo poder são cada vez mais acirradas.
Por: Victor Nhatitima
Consultor I Gestor de Comunicação e Relações Públicas
Especialista em Gestão de Projectos Socias
Membro Fundador da APRPM – Associação de Profissionais de Relações Publicas de Moçambique
Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
Por estes dias uma corrente nacional da opinião pública desportiva, e não só, está a pressionar para que a Federação Moçambicana de Futebol (FMF) renove o contrato com o actual selecionador nacional, alegando que a selecção moçambicana está a conseguir bons resultados. O próprio selecionador assim procede e acusa a FMF de tudo fazer para que ele não continue.
Isto lembra-me as eleições autárquicas de 2008 quando o então edil de Maputo e candidato a candidato pela FRELIMO, Eneas Comiche, e o seu então homólogo da Beira, também um candidato a candidato pela RENAMO, Deviz Simango, foram preteridos nos respectivos partidos. Na altura os dois partilhavam bons resultados na gestão dos respectivos municípios e gozavam de pleno apoio popular e que até extrapolava as fronteiras partidárias e municipais de cada um.
Neste final de semana, no intervalo de um dos jogos do Euro 2024, contava a um amigo este e outros exemplos de situações similares, incluindo a do super ganhador e ora ex-presidente do FC Porto, quando ele, o amigo, no mesmo diapasão, acrescentou que provavelmente acontecerá o mesmo com o ora seleccionador dos Mambas. Ou seja: ele será mais um exemplo de que bons resultados não garantem inamovibilidade.
Se assim for, a não renovação, creio que o mundo não vai desabar como não desabou quando Comiche e Simango foram preteridos. E tal como Comiche, que 10 anos depois voltou a merecer confiança, regressando ao cargo de edil de Maputo, o actual selecionador poderá também um dia regressar ou ainda apostar em novos desafios, tal como Simango que continuou a sua veia ganhadora na Beira e num outro partido.
De toda a maneira, o selecionador nacional, que diante do silêncio da FMF que reclama, devia aproveitar a boa maré dos seus bons resultados e da corrente popular de apoio e apresentasse à FMF as condições necessárias para a renovação do seu contrato, acautelando que a FMF não contasse com ele depois do dia 31 de Julho de 2024, a data do términus do contrato, sem as tais condições e as garantias para o devido cumprimento.
PS: o interessante neste enredo é o facto de o selecionador nacional reclamar que está a ser sabotado, mas, em simultâneo, e olhando para os bons resultados da selecção e que são chamados para suportar a renovação, depreende-se que a tal sabotagem não tem surtido efeito. Havendo efeitos, será que ela é que é a culpada por não se ter ganho ou feito muito melhor prestação nos últimos CHAN e CAN? Competições que a selecção não se qualificava nos últimos dez anos. Ou ainda, que por estas alturas, a selecção estaria muito melhor classificada no seu grupo de qualificação para o Mundial 2026, estando até em risco a própria qualificação.