Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Textos de Marcelo Mosse

O anúncio pelo Ministério Público da abertura de um processo contra o advogado Chivale é o exemplo dúbio de uma justiça supersónica. Na tenda da BO foram vertidas várias situações de eventual branqueamento de capitais, como é o caso do condomínio turco na Matola e de proprietários de casas de câmbios, mas nenhum processo autónomo foi anunciado. O Ministério Público devia evitar este registo persecutório, com cheiro a vingança contra um grupo que abraçara a narrativa de que o julgamento é político, vituperando a seu bel prazer contra a PGR, num jogo de gato e rato sem qualquer interesse para a justiça. Houve indícios de práticas criminais envolvendo muitas figuras. Então, que se actue contra todos.

domingo, 17 outubro 2021 10:11

Dr Bassith raptado pela segunda vez

O governo raptou nesta manhã o direito à indignação e o grito de socorro do Dr Bassith. É uma forma de proteger os raptores, porque reprime quem está contra eles. 

 

Um médico, o Dr Bassith, é raptado. O PR Filipe Nyusi se indigna e lança o recado do ultimato contra a gang raptora, que se move no seio da Polícia. Um comparsa policial é assassinado. A sociedade aprecia. O ultimato parecia ter funcionado. A voz do Presidente ouvida.

 

Entretanto, os dias passam e médico continua no cativeiro. Não se conhece o valor exigido para sua libertação. Os tectos vão baixando. Agora, não são magnatas. Uma filha de dono de pequeno restaurante...e, agora, um médico. Um médico que se multiplica em horas para ganhar a sua vida e salvar outras. Um simples profissional liberal. 

 

E se se confirmar o caso do filho do Salimo Abdula, eles vão se aproximando do poder político, dos filhos do poder. Imagina! E é esse poder que reprime quem busca solidariedade, abafando o grito de socorro da sociedade. Os médicos de Maputo foram proibidos de mostrar que condenam os raptos. Sua mensagem condenatória fere o governo, atinge as cúpulas e por isso não convém. E os raptores se sentem mais protegidos. Afinal, o governo "cagou" nos médicos.

 

Este país deve ser refundado. Este modo feudal de Estado basta. Democracia? Ora essa...

segunda-feira, 04 outubro 2021 10:37

O Governo não pode esconder mais um provável calote

segunda-feira, 30 agosto 2021 14:33

A psicologia da negação em Ndambi Guebuza

O primogénito de Armando Guebuza barricou-se na negação. Ele nega tudo, não explica nada. Mesmo diante de evidências documentadas. O significado é um: desvalorizar todo o processo de produção de prova, invalidar o Tribunal, profanar a PGR e evitar o máximo possível que seus episódios no calote (como a compra de carros de luxo) se tornem alvo da chacota pública, penetrando profusamente no húmus do nosso anedotário colectivo.

 

Diferentemente de Teófilo, que preferiu defender-se usando o recurso da intelectualização (e tornando-se o protagonista principal da cena), Ndambi optou pela negação, deixando cinicamente o palco para o juiz. A estratégia é tornar sua audição uma brevidade.

 

A negação é um mecanismo de defesa proposto por Anna Freud, que envolve a recusa em aceitar a realidade, bloqueando assim os eventos externos da consciência. É um mecanismo que as pessoas usam para lidar com situações altamente stressantes.

 

Um “negacionista”: recusa-se em aceitar o problema (Ndambi fugiu à maioria das questões mais problemáticas); encontra maneiras de justificar seu comportamento (o Ministério Público “manipulou” a investigação); culpa outras pessoas ou forças externas por causar o problema (o procurador Alberto Paulo mentiu; sua assinatura foi falsificada); mantém esse comportamento apesar das consequências negativas (Ndambi investiu no mutismo perante evidências arrasadoras); evita pensar no problema (ele fez tábua rasa sobre seus investimentos no segmento automóvel de luxo, de Ferraris e outros, e no imobiliário sul africanos através da famigerada Pam Golding)

 

Ndambi vive um dilema profundo. A difícil escolha entre admitir e negar. É uma questão de tomada de decisão. Em condições normais, ele devia escolher a opção que lhe garantisse a utilidade máxima da decisão (tal como Mutota fez, consciente, em certa medida, de ter prevaricado e aceitar os factos imputáveis até à medida suportável de uma eventual condenação).

 

Mas Ndambi mostra seu medo em relação ao poder incriminador da admissão (confissão). Nele, a utilidade de um resultado possível não influencia sua admissão. Este comportamento decorre da narrativa que a família Guebuza tem vindo a vender: a de que este julgamento é uma farsa política, a ideia de que mesmo que ele colabore, o resultado esperado de uma admissão seria inútil.

 

O silêncio de Ndambi remete para uma estratégia: ganhar tempo até chegar a altura de comprometer Filipe Nyusi, forçando uma saída política para o dilema. Ou seja, o desprezo de Ndambi pelo tribunal é o desprezo ao Estado e ao regime vigente, antevendo-se nos próximos dias o agudizar das tensões entre Guebuza e Filipe Nyusi. (Marcelo Mosse)

terça-feira, 24 agosto 2021 06:01

O julgamento da consolação

O julgamento do caso das “dívidas ocultas”, que começou ontem em Maputo, é o segundo de oito capítulos onde se tentará destapar o véu de uma novela trambiqueira que envolveu ganância, enriquecimento ilícito e depauperação de um povo. Uma quadrilha de políticos, governantes, lobistas de meia tijela e funcionários da secreta em conluio com magnatas e vendedores de barcos do eixo Beirute/Paris (apadrinhados por François Holland, que nunca foi tido nem achado), mais a banca suíça (o Credit Suisse com seus banqueiros) e a russa (o VTB), lucrou num processo de endividamento fraudulento, tramando a utopia dos moçambicanos e o sonho de credores que compraram gato por lebre.

 

Na semana passada, a União Postal Universal (UPU) reuniu-se em Abidjan, Costa do Marfim, para discutir os «Correios do Futuro», uma iniciativa do governo marfinense para apoiar a promoção da inclusão digital e a prestação de serviços postais e financeiros modernos e inovadores. A ideia central era debater “como posicionar a rede postal como um dos principais catalisadores do comércio eletrónico em África, com base num ecossistema integrado, inclusivo e inovador, composto por operadores postais designados”.

 

Os temas abordados para definir a futura Estratégia Postal Mundial em Abidjan incidiram sobre:o comércio eletrónico em todas as suas componentes; a logística global; a melhoria contínua da qualidade do serviço; os benefícios para os cidadãos através da inclusão global (social, financeira e digital).

 

No fundo, ficou claro que os países membros da UPU (não sei se Moçambique é membro) querem aprofundar a transformação dos serviços postais e reafirmar o importante papel que os Correios devem desempenhar na dinâmica da vida social, económica e digital do continente africano.

 

Em Moçambique, o “mindset” vigente não discute a transformação…cultiva o pensamento derrotista como desculpa para a apropriação do vasto e rico património dos Correios de Moçambique. A ideia é matar a empresa para gerar uma acumulação de renda não produtiva para perpetuar o enriquecimento de uma elite com seus bicos de abutre debicando no bem público. Quando outros africanos – e o mundo – debatem os Correios como plataforma para a inclusão digital, Moçambique já decidiu-se pela liquidação da empresa, sem qualquer discussão palpável. Isto é inaceitável. É uma agressão ao bom senso, à nossa inteligência. (M.M.)

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