Humanamente falando, não é desejável que nenhum ser-humano deseje a morte de um ser semelhante. Mas em 2021, a morte de Mariano Nhongo, o então autoproclamado líder da Junta-Militar da Renamo, foi vista como um embuste para celebrar e declarar a paz na zona centro do país. Mas isto não agradou alguns senhores da guerra, amantes do sangue de inocentes e do enriquecimento rápido e fácil mediante as lágrimas do sofrido povo!
E quando se esperava que as Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM) tivessem um serviço de inteligência militar assertivo e pacificador, eis que demonstram que elas se guiam por conversas das barracas e que alguém que ganha dinheiro e responsabilidades com o sofrimento do povo podem criar um vagabundo qualquer, arranjar-lhe uma causa para lutar e minar a vida de inocentes nas províncias da zona centro para que o caos se instale!
Portanto, como liderar é proteger os liderados, é quando da boca do Ministro da Defesa Nacional (MDN), Cristóvão Chume, o povo viria a ouvir algo há bastante tempo suspeito - que um militar amplamente treinado estava a atender objectivos e interesses políticos de alguns grupos com pujança económica e que vivem do sangue do povo, criando mais um fantoche. Neste caso um novo Mariano Nhongo que ainda não se autoapresenta como foi com o primeiro!
Uma outra situação é que podemos estar aqui diante da síndrome do protagonismo que é um vírus agressivo que tem abalado as nossas lideranças no país, de tal sorte que temos tido constantemente dados e informações contraditórias sobre mesmos factos, quando o certo seria ter uma única voz falando em nome do grupo. Mas também a desorganização no sector castrense torna-se mais visível com este acto, quando se verifica no Teatro Operacional Norte (TON) terroristas aparecendo vestidos a rigor com fardamento e armamento das nossas forças oficiais e com relatos de emboscadas pré-programadas que servem como mecanismo de abastecimento aos terroristas!
- Não será surpresa nenhuma, se nos próximos dias ouvirmos ou vermos carros sendo atacados por militares infiltrados e trajados a verde ou a civil ao longo da Estrada Nacional (EN1, 6 e 7) - o homem que foi desmentido pode ter razão caso isto venha acontecer. Agora, se não for acontecer, o homem deve receber férias e no regresso perder as patentes e virar num praça afecto ao distrito do Zumbo, onde vai perceber como o sol nasce e dorme, porque aquilo que disse em público, em outras galáxias pode ser visto como uma actividade ou um acto de alta traição à pátria, porque colocou o país e a população pensando que os episódios bárbaros vividos em Manica e Sofala nos últimos anos não parariam tão já!
As declarações do Director das operações das FADM foram de um sujeito inconsequente e que não demonstra ter tido formação suficiente para chegar àquele posto, por isso deve ser afastado e mandado para a reciclagem. O país não pode ser um espaço de incendiários e pessoas que vivem no "DISSE/ NÃO DISSE".
Não podemos continuar a ter forças castrenses que vivem apalpado e acusam o invisível e criam conspirações contra a pátria amada que de época em época é fustigada por ataques e que tudo termina em amnistias e assassinatos dos justos!
Actos do género não podem ser publicitados. Pessoas que ocupam lugares fulcrais como nas FADM ou outro serviço público e estatal fundamental não devem viver e trabalhar a adivinhar, do ouvir dizer, devem investigar. Investir na inteligência humana, militar e social. Não faz sentido que em tempos de incerteza e intranquilidade, sejam as pessoas confiadas para nos transmitirem tranquilidade e esperança a espalharem boatos e desespero para o sofrido povo!
Deve haver consequências disciplinares e criminais para pessoas que emitem informações de género sem uma análise exaustiva e confirmada. Já dizia o pensador brasileiro Osvaldo Alves da Silva: "a língua mata mais do que a fome, a peste e a guerra".
Lendo esta frase, percebe-se que é de vital importância que se tenha cuidado com a língua porque esta mata mais que os fenómenos acima elencados, caso não, que o Director das operações das FADM tire o uniforme e use a camisa de um determinado partido e faça política, porque caso esteja errado, em tempos do presidente Samora Machel seria tratado como um reacionário. Agora, se o Ministro Cristóvão Chume estiver errado e o Director das operações certo, estaremos diante de um grande imbróglio e com a necessidade de fazer um restart do sistema!
Rezemos que não haja nenhum ataque ao longo das EN, distritos, vilas ou florestas nacionais - porque isto não é admissível - o povo quer a paz e união para o desenvolvimento!
Não hei-de morrer sem te ver, meu amor!
Sei que estás ao serviço da pátria pela qual juraste derramar o sangue defendendo a sua soberania. Sei que tens sofrido nas matas de Pundanhar combatendo terroristas, meu amor – James Germano! Meu capitão, o homem que eu escolhi.
Há mais de um ano que os nossos filhos esperam por ti. Rezamos para que não voltes num saco preto e irreconhecível!
Sabes, esposo! De tanto pensar, ler e ouvir o que tem acontecido nesta missão em que estás, comecei a sofrer de coração. Às vezes, choro quando oiço que houve mais um ataque dos terroristas – penso que foi a vossa base ou posição que foi atacada, mas acabo ficando tranquila quando no meio da noite ou pela madrugada recebo sua mensagem ou chamada, perguntando como estamos aqui em casa e que estavas bem – és um homem sortudo. Um combatente competente. Um verdadeiro anjo da guarda!
James, os teus filhos te esperam. O mais novo, o Nito, acorda chamando pelo teu nome. O Bito não se cansa de ver tuas fotos. E o Beto está sempre atento às notícias sobre a guerra em Cabo Delgado. A minha doença vem piorando, mas espero que me encontres viva! Quem sabe não serás a minha cura meu amor, embora os médicos tenham dito que dos seis meses não passarei!
A tua ausência James, embora seja em defesa dos mais de 30 milhões de moçambicanos e não só, tem sido uma outra guerra para nós aqui em casa! O peso da esperança e canto da dor têm sido difíceis de suportar. Vivemos sonhando e pensando em tudo, na verdade, a gente não vê a hora de tudo isso terminar.
Os nossos corações rebeldes não param de palpitar. Às vezes, quando entra uma chamada tua, temos medo de atender, mas quase sempre uma voz esquecida cochicha nos nossos ouvidos e diz: atenda, é o James Germano, o vosso herói – o nosso Marechal. O anjo da guerra em Cabo Delgado, ele quer ouvir as vossas vozes!
Espero viver até a tua chegada, meu amor! Espero caminharmos pelo jardim do amor e juntos subirmos à cabeça do velho para orar e agradecer ao senhor por sempre nos proteger. Quero andar de mãos dadas pela linda paisagem de Chimanimani. Molhar a tua boca de beijos e lágrimas! Promover o nosso amor como sempre fizemos desde que nos conhecemos há mais de 15 anos.
Espero que me encontre com vida e que juntos aproveitemos os últimos segundos deste mundo, meu amor!
- Aqui escreve a sua Maria, a mãe dos teus três filhos, a sua general!
- Em resposta:
Em breve estarei em casa, meu amor!
Enxugue as lágrimas meu amor que em breve eu estarei em casa. Sei que passaste noites sem dormir. Madrugadas frias sem a ternura do meu abraço e da minha respiração ofegante durante a libertação do milagroso creme do mangalho. Estou a caminho meu amor - para juntos conjugarmos o verbo "amar"! Para juntos sentirmos a emoção de ver os nossos filhos brincarem. Para juntos andarmos de mãos dadas pelas ruas e avenidas da nossa cidade amada - Chimoio.
Meu amor, travei um bom combate! Defendi inocentes de depravados. Homens sem alma. Pessoas que se alimentam de sangue humano e alegram-se com a dor e flagelo de crianças, mulheres e idosos sem protecção. Libertei a terra ocupada e devastada pela força das armas e a ignorância dos invasores.
Eu, seu esposo, James Germano, capitão e militar condecorado por bravura e abnegação, estou de volta meu amor! De volta para exercitar o nosso amor que tanto estremeceu com a distância e os horrores que são reportados pelos órgãos de comunicação social e as redes sociais - felizmente salvei vidas de companheiros de trincheira e civis. Em combate coloquei inimigos fora de combate. Agora que posso repousar e ver o sol nascer, os pássaros apitar e a lua brilhar, quero beijar os teus pés e fazer amor até a alma reclamar!
As saudades são tantas e a mente só canta. O coração já não aguenta. Os nossos corpos chamam-se de tanto suor e dor da distância. Em breve chegarei meu amor - para mergulharmos nas abcissas do amor. Para contar-te as minhas aventuras nas montanhas de Macomia e nas florestas fechadas de Nangade, Muidumbe, Palma, Quissanga e Mocímboa da Praia - foram dias intensos e de muito choro.
Mas eu sabia que não se vence um combate sem que não haja almas paridas e fugas inesperadas. As noites eram tenebrosas e passadas a seco. Ninguém conseguiu mergulhar no sono quando homens com espadas e facões decapitavam inocentes em nome de seitas que mesmo eles não entendiam, mas consegui e voltarei meu amor!
Quero que no aeroporto venhas com os nossos três filhos (Beto, Bito e Nito) quero abraçar-vos e libertar este coração cheio de saudades. Sei que não foi fácil, até porque do meu grupo apenas 10 conseguiram voltar, embora nem todos estejam como foram. Quero ver-te vestida no traje africano. Maquilhagem de casa - mussiro. Espero que prepares o meu prato predilecto - Chima, peixe kapenta assado e uma couve no estilo Maniquense. Quero esquecer as dores que senti e o sangue que vi. Quero estar em paz com a minha família e ver meus filhos a crescer - espere por amor, já, já estarei em casa!
Quero levar os meus filhos ao rio para pescar. Ir a Chimanimani ver a beleza da natureza. Subir o monte Cabeça de velho para agradecer os meus ancestrais pela protecção durante a defesa da nação. Pela defesa sempre que estivesse na linha do tiro. Quero rezar e honrar os grandes homens que tombaram aos meus olhos. Aos pais que jamais verão os filhos e esposas em defesa da pátria. Quero regar as flores do meu jardim e embelezar o meu quintal com rosas de paz e a beleza do mundo. Quero esquecer coisas ruins que vi, por isso estou a voltar meu amor!
Espere por mim meu amor! Espere por este homem que só viveu graças às vossas orações e a constante perseverança e pensamentos positivos. Espere por mim meu amor...
A música e as palavras que toda a mulher de um militar que vai a uma guerra quer ouvir e ler!
Em homenagem aos grandes homens - os heróis do nosso tempo!
Autor: Omardine Omar
Seis semanas atrás, o Governo queniano convidou o FBI americano para realizar uma faxina de intromissão estrangeira na sua soberania: combater o cibercrime. Nairobi baixou a bola, varreu fingimentos narcisistas e foi pedir socorro a quem tem competências, deixando de lado quaisquer considerandos de soberania de Estado.
O cibercrime no Quênia é um cancro, afectando sobretudo o sector financeiro e uma sociedade cada vez mais digitalizada. Sua indústria estava a crescer de forma assustadora, com gangues organizadas comandando a área sob visível impunidade, afugentado negócios e investimento.
O governo disse basta. Foram pedir ajuda à mão externa. Um pragmatismo de Estado que merece louvor. O governo de Nairobi mostrou liderança, colocando o dedo na ferida, sentindo a dimensão da sua dor e buscando a panaceia contra todos os anticorpos que impediam a capacidade do Estado em pôr ordem na casa.
Nosso Governo fez isso com Cabo Delgado. Quando a indústria da guerra se apercebeu de que o cancro estava corroendo até sua capacidade de sobrevivência, foi bater portas no estrangeiro, deixando de lado considerandos de soberania de Estado.
Não foi a primeira vez que Moçambique abraçou a mão externa numa área teoricamente sensível para os negócios do Estado e para a auto estima de nação soberana.
Em 1997, o governo contratou uma empresa privada estrangeira, a Crown Agents, para exercer a gestão operativa das Alfândegas. Entregamos o controle aduaneiro de bens, valores, mercadorias, meios de transporte, passageiros e bagagens a um gestor-delegado britânico, essa outra mão externa nos momentos inconvenientes.
Nossa arrecadação fiscal foi, pois, entregue a um estrangeiro, mas isso só foi possível porque o sector alfandegário estava mergulhado no enriquecimento ilícito, com gangues tomando liderança de um quadro perverso de delapidação do erário público, colocando em risco a sobrevivência do Estado. Há quem tapou o nariz! Crown Agents gerindo as alfândegas? Uns espiões do MI6?
Mas a limpeza era necessária. E a recuperação institucional um imperativo. O Governo de Chissano, é certo que pressionado pelo Banco Mundial, no quadro do ajustamento estrutural, abriu mão da famigerada soberania. Poucos anos depois e tínhamos uma nova Alfandega, quase modernizada, com nova postura ética e uma unidade de controle interno para controlar a corrupção.
Nosso país vive hoje um problema que exige baixar a bola como Nairobi fez em face do ciber-crime. Os raptos viraram uma indústria cancerosa, operando de dentro do SERNIC, das estruturas policiais, alimentando uma economia paralela, afugentando o negócio e o investimento.
Durante longos anos, o Estado vem fingindo que pode, sem apoio externo, melhorar a estrutura de resposta contra este crime. É mentira! Uma mentira sustentada por gente que tira proveito dessa indústria. Nesta área específica, nosso governo vai protelando a decisão de pedir apoio externo com vista a limpeza institucional do SERNIC, gerando a suspeita de que há sectores do Executivo que se alimentam na indústria.
Já chega de desgoverno! O SERNIC precisa de um abanão...nas suas raízes, de uma reforma por mimetismo institucional (tal como Nairobi fez ao convidar o FBI)...ou as elites políticas estão profundamente mergulhadas na criminalidade organizada que a melhor decisão é deixar o caos da impunidade vigorando. (Marcelo Mosse)
Antes da chegada dos 1000 homens de Kigali, o estratégico distrito municipal de Mocímboa da Praia estava infestado por homens sem alma e assumindo a capa de leões da floresta, enquanto não passavam de cães com raiva! Os verdadeiros leões e leopardos chegaram e assumiram as florestas mais perigosas - pergunte onde foram parar os terroristas que queriam instalar o caos no Niassa!?
Antes deles, a população havia evaporado da sua terra natal deixando para trás suas raízes e seus cordões umbilicais. Os terroristas que ficaram por lá por mais de um ano destruindo e derrubando dia e noite bens e casas dos nativos e vientes, viriam a fugir de Mocímboa da Praia depois de dias de combates, tendo os inimigos se colocado em fuga depois de provar o chumbo ruandês nos combates de Oasse e Mbau, corria o mês de Julho de 2021.
A bravura dos homens de Kagame deixou as nossas manas apaixonadas, mesmo sem verem os seus rostos, as coisas aconteceram e continuam a acontecer. Não é em vão que em Palma já se dorme em paz e em Mocímboa da Praia até já se dá espectáculo e há meses que os canhangulos do exército não são manipulados - mas não é isso que pretendo abordar.
A bravura dos soldados ruandeses, conforme testemunhos de combatentes das FDS, reside na capacidade de combate e na busca incansável pelo aniquilamento e captura do inimigo - os homens de Kigali reviraram as matas de Palma e Mocímboa da Praia que deixaram o inimigo sem patas.
O silêncio deles, quando estão em missão, deixa os companheiros gelados - pergunte aos jornalistas independentes que são levados certas vezes para testemunhar as conquistas das unidades militares, mas, entretanto, nestas viagens, enquanto os outros riam e conversavam, os homens de Kigali nem pestanejavam. Mantinham-se atentos e sem abrir nem uma vez a boca.
No terreno, enquanto os escribas farejavam informações não convenientes diante de alguns elementos das forças locais e nacionais, os ruandeses continuavam a fazer o seu trabalho que é de garantir a segurança territorial do local e só abriam a boca quando fossem autorizados. No campo de combate, quando os inimigos ouvem falar dos "kigalianos" colocam-se em debandada, outros entregam tudo que sabem só por ver os homens fardados e posicionados, mesmo sem serem interrogados!
Na cidade e em dias de repouso, as lindas "kigalianas" que em dias normais andam fardadas, abrilhantam os olhares de homens atentos e gulosos no prazer. Tê-las na cama é uma maratona nova iorquina em que o/a vencedor/a deve correr bastante - o facto é que são extraordinárias em tudo que fazem!
Os homens, estes, massageiam bem as bolsas nas nossas manas com notas de Euro e USD, por um acto rápido e eficaz! Nas matas estes deixam o inimigo em "parampas" e alucinado sem saber para onde vai e a informação de que só saem quando tudo terminar está a deixar os traidores e verdadeiros enriquecedores do sofrimento do povo com os nervos à flor da pele!
- Os homens são mesmos bravos soldados em tudo que fazem desde a disciplina à cultura militar e social, o resto, o tempo dará respostas (…)!
Ontem na hora da sobremesa até que a garçonete insistiu que eu optasse pelo Pudim da casa. Por alguma coincidência esta iguaria não me tem feito bem desde o dia 24 de Fevereiro do ano corrente, data da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Ainda que eu estivesse só nesta situação. Tenho acompanhado notícias preocupantes de algumas hospitalizações de automobilistas e temo que as próximas decorram das idas do pacato cidadão à padaria.
A garçonete, não se dando por vencida, ainda lançou, em vão, olhares que me fizessem mudar de ideias, mas eu estava implacavelmente irredutível: Pudim, não!
A pesar deste posicionamento, que fique claro que eu não tenho nada contra o Pudim ou quem goste desta pastosa iguaria. Mas desde que passara a ser uma ameaça a minha saúde, e da própria saúde pública mundial, fui forçado a tomar medidas à luz do que se tem feito pelo globo fora.
Também que fique claro de que este posicionamento não é nenhuma guerra, mas apenas uma “operação gastronómica especial” com o objetivo de alertar aos fanáticos do Pudim para a possibilidade de que esta iguaria já não ser feita de trigo, mas de sangue liquefeito.
- Assim o que gostarias para a sobremesa?
Insistia a garçonete. Por acaso ocorreu-me perguntar se a casa tinha Kyir, uma outra saborosa sobremesa, mas lembrei-me de que também era feito de trigo importado de Kyiv/Kiev, a capital ucraniana.
Cheguei por volta das 10, saído da ponte-cais de Inhambane, sem sequer imaginar que todo este esplendor que se estende entre Maxixe e Chicuque e Mucucune e Guidwane, poderia ser ofuscado temporariamente pelas nuvens de forma inesperada. E ser dominado pela chuva torrencial. Trazia comigo a predisposição de contemplar ao longo do trajecto, a liberdade das gaivotas poisadas em gamboas, outras ainda, por sobre o casco de barcos fundeados, à espera da maré cheia para voltarem a sulcar as águas com as velas enfunadas.
Não vi gaivota alguma durante toda a viagem, nem os pernilongos flamingos que têm aparecido por estes dias , em bandos maravilhosos que fazem lembrar os anjos aspergindo as bênçãos, agora diminuídas pelo Deus em Mucucune - península ora escolhida como maná do marisco, mas que nos tempos que correm, aquele arquipélago esvaziou. Os próprios filhos da terra demandaram outros lugares e não querem voltar mais para o berço que lhes trouxe à luz. Mucucune dá a sensação de abandono.
Mas eu estou no mar, viajando num barco à vela com um marinheiro que, apesar da sua vasta experiência, não foi capaz de prever o mau tempo que se abateria sobre nós, sem podermos fazer nada senão entregar os nossos corpos à chuva que vai cair em catadupa. Chove em todo a zona que vai de Inhambane à Linga-Linga e nós vamos para lá, impedidos de contemplar toda esta beleza. Os próprios pássaros do mar esconderam-se, deixando-nos à mercê de um horizonte imprevisível.
Depois de cerca de uma hora a velejarmos, continua a chover. Forte. Porém, eu pessoalmente mantenho a esperança de pisar a area branca de Linga-Linga, apesar de que vou chegar lá molhado. A roupa que trago na sacola também estará molhada, mas sempre fui guiado pela perespectiva de que depois da tempestade vem a bonaça. Então, sendo assim, tenho fé de que aparecerá uma camisa seca por lá, para me libertar do charco em que me constituí.
O que torna esta viagem muito pesada, não é a chuva. É a nossa incapacidade – dentro do barco – de dizermos qualquer coisa, nem que não seja exactamente para conversar, mas como sinal de que estamos vivos. Todavia, por outro lado, o nosso silêncio permitia a retumbância da música da chuva que entrava em consonância com a música do mar a ser rasgado pela quilha. Então, se somos capazes de ouvir esses sons, significa que estamos vivos. Isso é que importa!
Começamos a ouvir esta música toda tocada por duas orquestras em simultâneo, desde que a chuva decidiu cair sem avisar. Chove até agora. Continua a chover, e já chegamos a Linga-Linga, molhados até à profundeza dos ossos. Mas a minha alma está intacta, nunca vacilou. Pode levar o tempo que quiser, esta chuva, a verdade é que vai parar, e irá permitir-me passear pela orla, ouvindo as ondas cantar, e perscrutando todos os pássaros que habitam este paraíso. E liberdade!