Semana passada, este espaço foi dedicado ao nosso Movimento Democrático de Moçambique - versão portuguesa do Movement for Democratic Change!, que temos na vizinhança. Nada me tira da cabeça que o nosso não teve como inspiração aqueles. Nas nossas linhas, deixávamos grafada a nossa profunda decepção com o “galo” por não ter sido aquele “galo de que estávamos à espera”! A inspiração pelos “movimentos para as mudanças democráticas'' dos vizinhos não passaram disso mesmo, não serviram para um sério aprendizado sobre como organizar e gerir um partido político. A preocupação foi de tal sorte que acabamos não dando o devido tratamento a um outro aspecto muito importante na nossa vida em geral: a forma como elegemos os nossos dirigentes.
Voltemos ao MDM, a despeito de que não é somente com o MDM que assistimos a incoerências e incongruências. Tudo entre nós é farinha do mesmo saco! A forma como “aparecem” os nossos dirigentes dentro das formações políticas e não só são histórias e histórias de encher livros.
Como todos sabemos, muito proximamente, o Movimento Democrático de Moçambique vai a votos para eleger o sucessor de Daviz Simango. Sabemos igualmente que havia três candidatos, mas que um, o José Domingos, está em vias de ser excluído, alegadamente porque não conseguiu reunir a papelada necessária. A ser verdade que não conseguiu reunir o expediente suficiente, é caso para perguntar: como é que alguém que não consegue organizar papelada pode ser bom dirigente? Um bom dirigente é, necessariamente, uma pessoa organizada, bem planificada!
Mas… adiante. Um cenário ideal seria aquele em que os três candidatos apresentassem aos militantes do MDM os seus manifestos eleitorais; aquilo que outros chamam de “compromisso”! Um documento bem elaborado, no qual desenvolvem as suas ideias de governação partidária, de gestão e organização, o que pretendem fazer do e no partido, a estratégia que vão seguir e tudo mais alguma coisa para pôr a turma relevante. E os militantes do partido teriam a oportunidade de ler, conhecer, perceber e debater as ideias dos que pretendem ocupar a cadeira cimeira; e daí fazerem a escolha do que lhes parecer melhor! Seria muito bonito!
Nada! Puro romantismo. Não é isto que estamos a ver. Não sei se há algum documento de cada um dos concorrentes. O “manifesto”... que achei mais interessante é de Domingos, que diz que é o melhor candidato a suceder a Daviz porque trabalhou muito tempo com ele. Só e só isso. Ou seja, tudo quanto se propõe a fazer, se for eleito presidente, é copiar o que o falecido lider emedemista fazia… O que ele pensa, o que tem na cabeça, nheto! E o que é que Daviz Simango fazia?… é o que tentamos resumir na crônica passada! Portanto, com Domingos teremos “mais do mesmo”! Por outras palavras ainda, nada de significativo!
Mas esta não é apenas trafulhice do Movimento Democrático de Moçambique! É de todos. Grandes e pequenos! E é de quase todas as nossas instituições. Raramente ouvimos falar de manifestos dos candidatos à liderança dos partidos. Nalguns nem há ou deve haver candidatos, os candidatos são candidatados! Bom seria que nos nossos partidos políticos tivéssemos candidatos munidos dos seus manifestos, das suas ideias, das suas propostas de governação e que os militantes tivessem a oportunidade de, livremente, escolherem aquelas ideias que lhes parecerem melhor articuladas, bem conseguidas, adequadas ao momento e aos desafios que o país vive.
O partido Frelimo já começou, aquando da eleição de candidatos a edis. Um movimento bastante desusado, em que os candidatos tinham que apresentar ideias, tinham que dizer o que pretendem ir ali fazer. Mas precisa consolidar. Precisa de fazer deste procedimento um método próprio do partido e alargá-lo a todos os outros escalões, incluindo o mais alto. Esperemos é que todos os outros, incluindo a Renamo e outros, enveredem pelo mesmo caminho.
Enquanto as nossas instituições políticas e outras continuarem a candidatar os candidatos, teremos tudo menos democracia real e não nos devemos queixar quando os outros nos dizem que a nossa democracia está muitos passos atrás!
De cada vez que me debruço sobre a literatura moçambicana, de forma deliberada ou fortuitamente, parece impossível não mergulhar nesse imaginário de palavras e sons dos mais talentosos escritores moçambicanos e, claro, desse iconoclasta amigo Ungulani. Cultivo uma inqualificável empatia com a maior parte dos escritores da sua geração, também minha, porém, nutro especial e inquebrantável respeito e admiração pelas anteriores gerações de escribas.
Revisitando emblemáticos escritos na delícia do conforto de que proporcionam a alma, se tornou quase impossível escalonar as melhores obras, sob o risco de omissão de outras. São todos produto da emancipação deste país, do sonho azul da revolução e dessa esteira literária de combate. De um modo, ou de outro, devemos gratidão aos instauradores da literatura moçambicana, e que a transformaram num movimento único, assumido e memorável. Independente das épocas e períodos históricos, cada uma das gerações impregnou a manipulação da palavra e da imaginação, tatuou a resistência a escritos não panfletários e a renegação do seu próprio destino. Enfim, sem eles, não teríamos embarcado na sobriedade, credibilidade e honestidade. Na libertação do pensamento livre e descomprometido.
Cumpliciei com Francisco Cossa, Chico, nome mais familiar, ao longo de décadas. Por vezes, com mais proximidade, noutras, nem por isso. Nada que tenha beliscado esta amizade. Na panóplia de momentos pitorescos, nas tertúlias, no santuário de bebedores, guardamos inesquecíveis e insuperáveis momentos de inigualável convergência. Ele, como Mestre, e eu, como aprendiz. Uma amizade que se reconstruiu em irmandade, com esse implacável recurso à negação da fatalidade e do senso comum. Já nessa altura, ele demonstrava uma capacidade de imaginação e um poder efabulatório muito acima do normal. Estava escrito nas estrelas que ele terminaria escritor.
Não tardou que se agigantasse, e se transformasse em Ungulani. O Ba Ka Khossa. Esse trocadilho de nome, que representa um país e suas raízes literárias. Ungulani Ba Ka Khossa, esse talentoso homem de Inhaminga, região central de Moçambique, se assume como moçambicano de todas as províncias. Uma espécie de um gigantesco polvo, cujos tentáculos se confundem com as metástases da cultura de cada grupo étnico. Nesta convocação, o revejo como parte das minhas amizades iniciáticas. Formando como professor de história, com um substracto assente em obras literárias.
Ungulani foi céptico sobre os caminhos da literatura moçambicana num dado momento histórico. Sentia descaso com as autoridades, insensibilidade das escolas e instituições gestoras. Entendia que o rumo não seria a poesia fácil, despida de técnicas, rigor, e outros atributos convencionados. Fincava sua fé na prosa e na ficção. Mas, nunca perdeu as esperanças. Hoje, já fala da literatura moçambicana com paixão e optimismo. Poderia ser melhor, mas já sente um reviver do compromisso com o discurso sóbrio, com os escritos inspirados na tradição oral, com a exploração dessa originalidade Bantu e suas múltiplas línguas nacionais. Essas são as marcas que farão a identidade da nova vaga de escritores.
Eventualmente, nos conhecemos naquele invulgar movimento, anunciado por Samora Machel, a 8 de Março, que concentrou no Maputo jovens estudantes que se converteram em ousados professores circunstanciais. Anos mais tarde, reencontrei-o, assumindo postura burocrata no ministério da Educação e Cultura. Partilhava a sua sala com Ana Elisa Santana Afonso. Ela seguiu a carreira na UNESCO, Ungulani ficou-se por aqui e com seus livros. Na época, Ungulani e Ana Elisa ajudaram a resolver pepinos de colegas que não souberam ler e nem entender o sistema. A juventude não permitia outros entendimentos da revolução e nem imaginavam os riscos associados ao pensar e sonhar diferente.
Anos mais tarde, Ungulani já estava engravidado do consagrado Ualalapi. Esse livro se converteu num dos 100 melhores do século, no continente africano. Merecidamente. Esta foi a obra que exacerbou os entendimentos sobre as lanças dos guerreiros do Império de Gaza. Reavivou Gungunhane, sua astúcia e malícia, explorou o papel de suas esposas. Mas, foi o livro do apocalíptico império de Gaza com suas virtudes e defeitos e personagens que se imortalizaram.
Ainda nessa época, ele falava da sua paixão sobre o escritor colombiano Gabriel García Márquez. Essa apreciação pode ter ajudado a reafirmar um laço que estava escrito pelo destino. “Cem anos de solidão” é considerado o maior exemplo do género literário do designado realismo mágico. Gabriel Garcia Márquez retracta, no livro, eventos sobrenaturais, num tom objectivo e pragmático, enquanto, os normais e factos históricos, como pura fantasia.
Acredito, firmemente, que Francisco Khossa, o Chico, repensou no apelido Ungulani, como o próprio nome fictício do vilarejo Macondo, do livro de Márquez. Mas, a Agustina Bessa-Luís e Jorge Amado nunca saíram do seu vocabulário. Para Ungulani, qualquer grande escritor precisa de ser um bom leitor.
Ungulani nunca se preocupou em defender a investigação histórica, mas tem na essência o mérito de lhe conferir credibilidade e prazer de leitura dessa narrativa histórica. Como historiador e escritor, Ungulani coloca todo o seu saber naquilo que produz e pretende transmitir, tornando a história em verdadeira representação literária e, ao mesmo tempo, em arte de encenação. Esta é a conclusão de um amigo comum, o Marcelo Panguana. Mas, o Ungulani encerra, em si mesmo, várias facetas, estórias e personalidades. Um homem inspirado e, insofismavelmente, ligado às grandes leituras da sua época.
A crítica literária tem sido muito complacente e assertiva para com o Ungulani. Ba Ka Khossa foi consagrado como contista de reconhecido mérito, amadurecido pela diversidade e abordagem na sua inquestionável produção literária. Ele se transformou em alguém que recorre ao metaforismo e à magia na recriação de personagens. Ungulani fará parte do distinto grupo dos mais nobres escritores do seu tempo, com essa capacidade de reconstruir, como ninguém, a saga que têm sido os anos de conflito armado no país.
Ungulani, fazendo alguma justiça é, igualmente, um devoto e apaixonado fiel de Luís Bernardo Honwana. Ele o considera o Pai da literatura moçambicana. Tem as suas razões e não ousamos questionar esta distinção. Aliás, também defende que a charrua é a melhor revista literária do mundo. Assim tem sido Ungulani, um destemido provocador, um desarrumador de ideias e um iconoclasta, como o define Nelson Saúte. Ungulani, enfim, será sempre o símbolo-mor da nossa geração, um desalinhado; alguém que pauta pela sublevação, desapegado dos ditames desta e outras épocas. Permanece alheio às lides do aparelho ideológico e discordante das ideias que reprimem a liberdade de criação.
Temos uma particularidade. Amamos o Niassa, a Sibéria moçambicana. Ele, porque passou algum tempo para se auto-educar, e eu porque aprendi a amar a natureza e seus animais. Acreditamos na magia deste pedaço de terra. Um dia, Niassa se converterá no melhor espaço do mundo. Quando não existir mais água, o lago vai matar a sede de toda humanidade e saciar a sua ganância. Até lá, seremos gratos por ter convivido, desfrutado e beneficiado dessa veia literária tão mordaz quanto profícua. (X)
Sabe bem uma grande caneca de cerveja nesta manhã em que estou aqui, sentado na esplanada do Hotel Tofo-mar. Outra vez. À semelhança de todas as vezes que tenho vindo a este lugar que a vida oferece-me. De graça! É como se toda a existência fosse esta síntese, ou seja, como se tudo se circunscrevesse na praia e nas dunas e na música orquestrada pelas ondas que não páram de se esbater na terra. Em constante progressão lenta. Porém, irreversível.
O líquido que parece ouro, borbulha sem parar no interior da caneca, transmitindo a mensagem de que a cerveja está viva, e isso reconforta-me. Significa que eu também estou vivo. Como as gaivotas que voam em voo rasante por sobre o mar do Índico, ao encontro dos seus destinos, é lindo. Há uma combinação perfeita entre o oceano que está aqui mesmo, aos meus pés, as dunas violadas, os pássaros marinhos, o silêncio. E eu, que me entrego totalmente a liberdade.
Para além da minha, há uma outra mesa ocupada por dois casais de raça branca, entrados na idade. Falam tão baixo que não consigo perceber que língua falam, mas também estaria pouco me lixando com isso, não fosse o facto de estarem a beber cerveja como eu. Em grandes canecas. No mesmo lugar. Com a mesma protecção do Índico.
Estou na quinta caneca e já transpus a atmosfera. Levito no cosmos, onde as coisas não dependem de mim, mas da falta de gravidade. Sinto um grande prazer como se a minha alma, ela própria, tivesse asas de águia. Plano em toda a dimensão do espaço que vai sendo criado pela minha imaginação. Pelo efeito do álcocol que me vai entranhando. Sou um homem livre e, desde que estou aqui há mais de quatro horas, ainda não chegou mais ninguém. Os dois casais que partilhavam comigo a esplanada, bateram as asas como passarinhos cansados que agora carecem de repouso.
Pedi mais uma caneca, a sexta. Sem saber ao certo se seria a última ou não. Cada gole que viro goela abaixo, é um degrau que subo em direcção a libertação, e a memória abre-se como a luz do amanhecer que nos traz novas auroras. Sinto leveza no meu interior e descubro-me a repetir em surdina as músicas que aprendi a ouvir nos discos da Rádio Moçambique, nos tempos em que a locução era a minha jangada. Então quer dizer que estou em órbita.
Mas o dia está a entardecer sem contemplações, deixando-me todas as suas marcas para que eu possa recordar-me de tudo amanhã. O mar ensorberbece-se, meio furioso, em maré cheia, como que a dizer, vai para casa! Na verdade estou aqui desde o meio da manhã e já são 16.00 horas. Estou saciado. Pelo camarão que comi. Pelo ambiente do mar em harmonia com as dunas e as gaivotas. Pela cerveja bebida numa grande cabeca. Em paz e em liberdade.
A semana finda foi marcada por diversos acontecimentos que se despejavam nas páginas da história do nosso País. Em alguns cantos, ouviram-se gritos de socorro, por causa de surtos de raptos à luz do sol, destapados nas artérias da Cidade das Acácias e algumas vindas do exterior. Igualmente, assistiu-se ao interromper e à restrição da livre demonstração das liberdades fundamentais dos homens, uma clara evidência de atropelo à Constituição da República, bem como outros regulamentos jurídicos regionais e mundiais de defesa e celebração dos Direitos Humanos.
Ademais, além do empurrão de um dos mais ilustres causídicos das Dívidas Ocultas, Alexandre Chivale, que defendia o mais especial Agente Secreto da Pérola do Índico, sacudido pela batina e peruca da Magistrada Ana Sheila Marrengula, com o carimbo do martelo do Capitão de punk judicial, das paredes envelhecidas daquele edifício localizado ao longo da Avenida 24 de Julho, que esconde o tormento do povo, ouviam-se algumas vozes engravatadas, pintadas de leite e cremora, que, em plena Casa Magna, destilavam desnecessárias declarações de amor.
Não quero falar das suas atrocidades linguísticas, nem dos processos contrários à formação de palavras, das dissonâncias fonológicas e morfossintácticas do seu falar, ou do desvozeamento das sílabas solteiras que, a cada sessão parlamentar, ecoam dos seus movimentos bilabiais estranhos à oficina da língua. Até que poderíamos entender, se, no mínimo, usassem o seu pobre vocabulário para cozinhar ideias úteis destinadas ao bem do esquecido povo. Antes, quero falar de outros assuntos entornados no tapete especial da Casa Magna, a nossa Assembleia da República!
É verdade que a nossa diva da Literatura Moçambicana, a Paulina Chiziane, merece todo o nosso respeito, mas trocar os problemas do povo, a fome dos desempregados, a escassez dos cuidados hospitalares, a educação malnutrida que nos rodeia, as mortes, os deslocamentos das comunidades e a assistência desumanitária que se vive em Cabo Delgado, bem como as nossas filhas e irmãs Matalanizadas e Ndhlavelizadas, por salvas de palmas cheias de declarações de amor e elogios desprovidos de sensibilidades pelas causas de quem mais merece, é mesmo falta de vergonha!
Aliás, quando ela, e tantos outros nobres Escritores, escrevia os contos e romances a descrever a nossa triste realidade como País, nenhum daqueles Deputados defendia o reconhecimento dos seus escritos, que perfazem as páginas marginalizadas da nossa Literatura Moçambicana, nem do Ministério da Cultura e Turismo se ouviam sussurros de apelos virados para a promoção da cultura nacional representada, democraticamente, nos escritos daquela embondeira da escrita moçambicana, africana e mundialmente traduzida, e lida nos cantos dos quatro pontos cardeais.
Além disso, quando Paulina escrevia os seus rabiscos, aqueles Deputados se enchiam de regalias e saldos volumosos que engrossavam os seus corpos já cansados de desfrutar dos prazeres dos impostos do desgraçado povo, que também serviam para pagar os Escrivães que rabiscavam as páginas dos seus discursos saciados de elogios, porém, desprovidos de educação e sentido de responsabilidade face aos clamores dos corpos cujos dedos lhes colocaram naquelas bancadas.
Duvido, ainda, que aqueles Deputados, declamadores de frases de amor, se sentam, conscientes, em frente às páginas brancas do computador, simplesmente, para as encherem de adjectivos vazios de significados que o povo não as quer ouvir. Outros até chegam a falar de pecados, enquanto os seus discursos estão carregados de revelações pecaminosas, malandra e diabolicamente inspirados, com vista a empurrar, cada vez mais, o cidadão comum à margem da desnutrição educacional.
Aliás, não é que isso é, igualmente, resultado de falta de respeito e consideração pelo povo que os colocou naquelas bancadas de colchões volumosos que os enchem de conforto e sonolência, os quais, como seguimento, recebem respostas de mentes cansadas e desnutridas, que reflectem a sua incapacidade em defender aqueles que realmente precisam do seu apoio.
Ora, as declarações de amor dos Deputados, também, estenderam-se ao Informe do Provedor da Justiça, o Pai da Legalidade na Pérola do Índico. Contudo, como disse o Deputado Silvério Ronguane, de uma população de 30 milhões, em 1 ano, apenas 477 requerentes recorreram ao Gabinete do Provedor de Justiça (GPJ). Ou seja, o GPJ e os funcionários nele alocados receberam e deram seguimento a 1 processo por dia e, nos dias mais atarefados, 2 processos: “Que boa vida sua, Senhor Provedor da Justiça!” Apesar de esconderem outros detalhes, os números falam!
Por lei, o Provedor de Justiça, com a sua régua de justiça, deve intervir para o bom funcionamento e endireitar todos os arruamentos entorpecidos e manipulados da nossa Administração Pública, em todo o território nacional. Por dia, assistimos a muitos casos de ilegalidades que, desconhecendo os seus motivos, não pousaram nas páginas daquele informe repleto de imagens fotográficas.
Tal como o edifício que se encontra anexo à margem dos prédios da Avenida Julius Nyerere, na área nobre da Cidade das Acácias, o foco do Gabinete do Provedor de Justiça concentra-se na Cidade de Maputo. Assim, os demais Moçambicanos, espalhados pelo País, são deixados à sua sorte, na margem do esquecimento, sem gotas de justiça nem primeiros socorros diante das chagas de injustiça que, diariamente, visitam os seus corpos, sem apoio do órgão que lhes deveria defender. Por isso, o povo continua mergulhado em injustiças e pouco se faz para tirá-lo de lá!
Ademais, como referiu António Muchanga, Deputado que integra o grupo daqueles que são considerados a “ala dos sem amor à pátria” na Assembleia da República, além das fotos de edifícios e viagens pelo mundo, um martelanço de imagens, o informe do Provedor de Justiça, nas suas 63 páginas, é um álbum fotográfico… e, por isso, estava claro que ele veria navio na sua governação.
Além disso, quase tudo que se discute não apenas na Assembleia da República, mas também nas Assembleias Municipais e em diferentes órgãos e instituições deste nosso Estado, revela que nós estamos a brincar de governar. Assim, quando chega a hora de informar ao povo e ao mundo sobre os feitos da nossa governação, também, brincamos de informar. E vê-se, nessas brincadeiras, uma tendência de se recorrer ao temido Segredo de Estado para esconder informações úteis que ajudariam a resolver os caducados problemas que há muito atormentam o povo.
Já era de se esperar. Muitos daqueles senhores nunca foram depósitos de aplausos verdadeiros. Mesmo enquanto crianças, já deixavam transparecer o seu futuro conturbador. Quase todas as crianças da sua idade, na altura, reclamavam dos seus maus comportamentos intelectuais. Não se sabe ao certo, mas eles chegaram ao Parlamento, politicamente constitucional. Tudo por conta da política! E desta vez, eles não só lançavam areia nos olhos dos colegas da Casa Magna, mas, também, pelas suas artimanhas, comprometiam o futuro dos seus irmãos e das novas gerações.
A propósito, como falar da independência dos Tribunais, enquanto as dívidas ocultamente planeadas tiveram o carimbo visível daqueles Deputados, simplesmente, porque queriam defender interesses obscuros resumidos em aprovações de informes descabidos e propostas legislativas que apenas apadrinham as suas cozinhas, os seus bolsos, enchendo-os de prazeres, não apenas nas suas poucas horas de trabalho, mas, sobretudo nos seus abundantes momentos de lazer?
Será que devemos, sempre, produzir elogios aos nossos irmãos, mesmo quando fazem macaquices ao céu aberto, simplesmente porque em nós correm o mesmo líquido partidário? Será que aqueles Deputados escrevem os seus discursos conscientes ou no seu mais elevado estágio de desprezo às necessidades do já empobrecido povo esbofeteado pelos ataques da natureza, dos insurgentes no Cabo queimado e da Covid-19, que asfixia o mais básico direito à vida condiga do povo?
O anúncio pelo Ministério Público da abertura de um processo contra o advogado Chivale é o exemplo dúbio de uma justiça supersónica. Na tenda da BO foram vertidas várias situações de eventual branqueamento de capitais, como é o caso do condomínio turco na Matola e de proprietários de casas de câmbios, mas nenhum processo autónomo foi anunciado. O Ministério Público devia evitar este registo persecutório, com cheiro a vingança contra um grupo que abraçara a narrativa de que o julgamento é político, vituperando a seu bel prazer contra a PGR, num jogo de gato e rato sem qualquer interesse para a justiça. Houve indícios de práticas criminais envolvendo muitas figuras. Então, que se actue contra todos.