O Governo revelou, esta quarta-feira, que o Estado está a somar prejuízos decorrentes da paralisação das actividades económicas pública e privada em quase todo o país, principalmente na capital do país. Sem precisar os montantes, o Ministro da Indústria e Comércio, Silvino Moreno, afirmou que, com a economia paralisada parcialmente, há impostos que não são canalizados aos cofres do Estado.
Contudo, como forma de minimizar os impactos das manifestações, Moreno disse que o Governo vai garantir segurança ao sector empresarial privado para que, mesmo com a greve de uma semana (que inicia hoje), os sectores público e privado continuem a trabalhar para o bem de toda a economia.
“Apelamos que as empresas se mantenham abertas. Que os trabalhadores e funcionários públicos também se façam aos locais de trabalho. O Governo vai fazer o seu melhor para garantir a segurança, pois não queremos que haja paragem no sector produtivo porque isso vai ter grandes consequências para a economia do país”, afirmou o Ministro.
O governante falava na cidade de Maputo, em conferência de imprensa depois de uma reunião entre o Ministério que dirige, dos Transportes e Comunicações, dos Recursos Minerais e Energia, do Mar, Águas Interiores e Pescas, e o da Cultura e Turismo com a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) para avaliar o impacto das manifestações na economia nacional, bem como encontrar soluções para minimizar os prejuízos.
Nesse contexto, Moreno apelou que as empresas se mantenham abertas e que os funcionários públicos e privados se dirijam aos seus postos de trabalho, mesmo com a manifestação de uma semana convocada pelo Candidato Presidencial, Venâncio Mondlane, a partir desta quinta-feira até ao dia sete de Novembro.
“Apelamos que as empresas se mantenham abertas. Que os trabalhadores e funcionários públicos também se façam aos locais de trabalho. O Governo vai fazer o seu melhor para garantir a segurança, pois não queremos que haja paragem no sector produtivo porque isso vai ter grandes consequências para a economia do país”, afirmou o Ministro.
Na ocasião, o sector empresarial privado representado pela CTA disse que os seus membros continuam a sofrer prejuízos nos seus negócios decorrente das manifestações. Depois dos 1.4 mil milhão (ou bilião) de Meticais contabilizados no dia 21 de Outubro último, os prejuízos das manifestações dos dias 24 e 25 de Outubro passados cresceram para três mil milhões de Meticais.
“Tivemos sabotagens, vandalizações e arrombamentos de 33 estabelecimentos privados comercias. Esses danos provocaram prejuízos financeiros estimados em cerca de três mil milhões de Meticais. Com a vandalização, alguns estabelecimentos não voltaram a operar. Em postos de trabalho, estamos a falar de 1200 trabalhadores afectados. Tendo em conta que cada trabalhador representa uma família de cinco pessoas, em média, podemos concluir que foram afectadas mais de seis mil pessoas”, afirmou o Presidente da CTA, Agostinho Vuma.
Aliado aos referidos prejuízos, Vuma disse que a paralisação de actividades naqueles dias, especificamente no sector financeiro, resultou na queda de transacções no mercado cambial, de uma média diária de 60 milhões de USD para 14 milhões de USD nos dois dias. Com vista a minimizar os prejuízos, a fonte disse que as empresas estão a implementar planos da crise pós-eleitoral em Moçambique.
Refira-se que, segundo o candidato presidencial, Venâncio Mondlane, a greve que inicia hoje e termina no próximo dia sete de Novembro enquadra-se na terceira fase de manifestações gerais que visam repudiar os resultados fraudulentos das últimas eleições gerais de 09 de Outubro último, bem como o assassinato de Elvino Dias e Paulo Guambe, ambos ligados ao partido Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS). No total, serão quatro fases e 25 dias de manifestações. (Evaristo Chilingue)
Vinte e um dias depois da realização das VII Eleições Gerais (Presidenciais e Legislativas) e IV Provinciais de 09 de Outubro, a Renamo, actual maior partido da oposição, diz ainda estar a contar os votos e que os resultados da sua contagem paralela serão conhecidos dentro de dias.
A informação foi avançada ontem pelo mandatário nacional do partido, Geraldo Carvalho, em conferência de imprensa, cujo objectivo era manifestar o distanciamento da Renamo do Presidente da Revolução Democrática, Vitano Singano, que alegadamente tem vindo a solicitar informações sobre o efectivo dos ex-guerrilheiros da Renamo, que se encontram nas antigas bases da Renamo, nas províncias de Tete, Zambézia, Sofala e Manica.
Segundo Geraldo Carvalho, a Renamo usou da sua experiência em processos eleitorais no país e “preferiu ter calma e fazer a contagem”, cujos resultados serão tornados públicos “dentro dos próximos dias”.
“Nos próximos dias, o partido Renamo vai se pronunciar, vai divulgar os resultados da sua contagem paralela”, afirmou Carvalho, reiterando: “não estamos a favor do que se tem veiculado como resultados do partido Renamo”.
A fonte garante que, em duas províncias, a Renamo lidera a contagem dos votos na eleição do governador e dos membros das Assembleias Provinciais. “Mas também continuamos a aguardar os resultados que serão deliberados no Acórdão do Conselho Constitucional”.
Carvalho assegurou ainda que será com base nesses resultados que irá decidir a entrada no grupo dos partidos da oposição que apoiam a luta de Venâncio Mondlane pela verdade eleitoral. “Tudo pode acontecer depois de termos, em mão, os resultados da contagem paralela da Renamo, pois, até ao momento, só se consome os resultados saídos dos outros”.
De acordo com a contagem oficial dos órgãos eleitorais, nas eleições legislativas, a Renamo conseguiu eleger 20 deputados, dos 250 possíveis, enquanto para as eleições presidenciais, Ossufo Momade obteve 5,81% dos votos.
Por sua vez, a contagem paralela do PODEMOS revela que Ossufo Momade obteve 6,04% do total dos votos válidos nas eleições presidenciais, enquanto a Renamo conquistou 12 lugares na Assembleia da República, nas eleições legislativas.
Numa conferência de imprensa pouco concorrida, Geraldo Carvalho negou que Ossufo Momade tenha colocado o lugar à disposição. “O Presidente da Renamo está a trabalhar normalmente”. Disse também que não constitui verdade que a sede da Renamo tenha sido tomada por ex-guerrilheiros, exigindo a destituição de Ossufo Momade.
“Houve o que houve e o que houve foi uma questão muito simples e foi mal-entendido, porque era um grupo de companheiros que estavam a conversar, procurando saber quais seriam os passos a seguir”. (Carta)
O partido Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), que apoia a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, submeteu, esta quarta-feira, à Comissão Nacional de Eleições (CNE), o segundo e último lote de actas e editais do apuramento parcial dos resultados eleitorais de 09 de Outubro, com intuito de sustentar a sua reivindicação de ter ganho o escrutínio.
O lote ontem entregue é composto por 17.196 actas e igual número de editais, provenientes das Mesas de Votação das províncias de Sofala, Nampula e Niassa, e junta-se ao primeiro, submetido no domingo, aquando da interposição do recurso de contencioso eleitoral, em protesto contra os resultados divulgados pela CNE.
Segundo a mandatária de Venâncio Mondlane, Judite Mahocha Simão, as actas e os editais entregues ontem são correspondentes a cerca de dois milhões de eleitores e integram o grupo de actas e editais recolhidos pelo partido em todo o país, equivalentes a 59,95% do total das actas e editais emitidos pelos Membros das Mesas de Voto.
“Foi preciso um trabalho aturado e, neste momento, trouxemos o que faltava”, afirmou Judite Mahocha Simão, sublinhando que o PODEMOS acredita, sim, “que há espaço para se declarar o partido e o seu candidato como vencedores do escrutínio, porque o povo votou”.
“Penso que as reacções que vêm de todos os cantos do país e da diáspora nos dão esse alento. Entendemos que a vitória será declarada pelo Conselho Constitucional. É a oportunidade que este tem para mostrar que a justiça, em Moçambique, existe”, sublinha a fonte.
Refira-se, aliás, que o Conselho Constitucional notificou, ontem, a CNE a apresentar, num prazo de oito dias, as actas e os editais do apuramento parcial (feito nas Mesas de Voto) e do apuramento intermédio, realizado nas comissões distritais e de cidade de eleições. (Carta)
Cerca de quarenta partidos políticos de oposição, sobretudo extraparlamentares, anunciaram ontem uma “aliança inédita” para contestação dos resultados da votação de 09 de outubro em Moçambique, prometendo liderar, nas bases, as manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.
“Este é um momento profético da vida dos moçambicanos, pela primeira vez, toda oposição está junta (…). Isto representa um senso de unidade para uma ação coletiva em que juntos estamos a rejeitar os resultados que foram divulgados e chamamos aqui a necessidade de uma auditoria forense para repor a vontade popular”, declarou Salomão Muchanga, presidente da Nova Democracia, momentos após o término da reunião que juntou cerca de 40 representantes, incluindo do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força parlamentar.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) anunciou, na quinta-feira passada, a vitória de Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder desde 1975, na eleição a Presidente da República de 09 de outubro, com 70,67% dos votos, e o reforço da representação parlamentar da Frelimo.
“Declaramos que, pelas contagens paralelas feitas pelos partidos, unitária e conjuntamente, (…) os partidos constroem a convicção de que o processo de contagem cerceou direitos de todos os partidos concorrentes, razão para se exigir a reposição da verdade eleitoral”, declarou Dinis Tivane, do Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), que apoia Venâncio Mondlane.
Por essa razão, os partidos signatários da declaração dizem rejeitar os resultados anunciados pela CNE “por estes não estarem em conformidade com as normas e procedimentos, assim como caracterizados por vários vícios e violações da lei”.
O grupo exige ainda uma auditoria forense ao processo a favor da verdade eleitoral e posterior responsabilização criminal pela violação da Constituição da República, Lei Eleitoral e pela fraude por parte dos principais dirigentes dos órgãos de administração eleitoral “por compreender que, se não foram os autores da fraude, foram cúmplices ao reconhecer e anunciar os resultados”.
Mondlane, candidato presidencial apontado pela CNE como o segundo mais votado (20,32%), foi o primeiro a rejeitar os números apresentados pelo órgão eleitoral, apelando a uma greve geral de uma semana a partir de hoje, manifestações nas sedes distritais e de cidade dos órgãos eleitorais e marchas para Maputo em 07 de novembro.
No documento produzido no final da reunião, os partidos políticos de oposição em Moçambique prometem “liderar o povo” nas contestações, considerando que se trata de um direito constitucional. “Nós estamos a convocar o povo para manifestações pacíficas, que estão dentro daquilo que é o ordenamento jurídico do país. Não há nada de ilegal”, frisou Augusto Mbazo, do MDM.
Mondlane, que atualmente se encontra no estrangeiro, tinha já convocado o povo para sair à rua por dois dias, na sequência do assassínio, a 18 de outubro, de Elvino Dias, seu advogado, e de Paulo Guambe, mandatário do partido PODEMOS, manifestações marcadas por confrontos com a Polícia em vários pontos do país, com mortos, feridos e detidos, além de lojas fechadas.
O Centro de Integridade Pública (CIP), uma organização não-governamental moçambicana que fiscaliza os processos eleitorais, estima que dez pessoas morreram, dezenas ficaram feridas e cerca de 500 foram detidas, no contexto dos protestos e confrontos durante a greve e manifestações de quinta e sexta-feira passadas, que se sucederam aos confrontos violentos de 21 de outubro, ações convocadas por Mondlane.
Embora os porta-vozes dos partidos políticos tenham assumido à imprensa que a Renamo é signatária do documento final, o principal partido de oposição não esteve na conferência de imprensa em que a união das forças políticas foi anunciada.
\Aliás, em conferência de imprensa concedida pela Renamo, momentos antes da declaração conjunta dos partidos da oposição, o mandatário nacional da “perdiz”, Geraldo Carvalho, disse que a decisão de se juntar aos outros partidos deve ser tomada por órgãos competentes daquela formação política. Acrescentou que a junção ao grupo poderá acontecer a qualquer momento, mas só depois de o partido ter concluído a sua contagem paralela. (Carta/Lusa)
O Comandante da Força de Defesa do Malawi (MDF, na sigla em inglês), General Paul Valentino Phiri, disse que a instituição está em alerta máximo devido à crescente tensão em Moçambique, na sequência das manifestações populares contra os resultados eleitorais, considerados os mais fraudulentos de sempre.
Phiri pediu às pessoas nos distritos fronteiriços com Moçambique para que não entrem em pânico, uma vez que a instituição militar está preparada para fazer face à situação. O chefe militar falava na segunda-feira, durante a Marcha Interunidades e Competição de Tiro no Campo de Choma Gally em Mzuzu, que juntou 13 quartéis e unidades de todo o país.
Liderando os soldados numa sessão de tiros ao alvo, Phiri disse que a MDF investiu fortemente no treino de soldados para garantir que estejam preparados para defender o Malawi, quando for necessário.
Ele também revelou que a MDF implementou uma série de reformas, incluindo a criação de novas unidades, a actualização de equipamentos militares e a priorização de treino prático. “Deixe-me assegurar aos malawianos que estamos em alerta em caso de qualquer ataque. Não estamos em conflito com os países vizinhos, mas se formos provocados, estamos prontos para nos defender”, disse Phiri.
Ele acrescentou que a MDF lançou mais uma campanha de recrutamento para jovens com qualificações elevadas, com planos de enviá-los ao exterior para educação, antes de treino específico em bases específicas. Os soldados chegaram a Choma na noite de domingo depois de caminhar aproximadamente 200 quilómetros de Luwalazi, em Nkhotakota.
Mais de 500 soldados participaram da competição, com mulheres entre as melhores colocadas. Lembre-se que, há dias, Malawi lançou um estado de alerta aos seus cidadãos em Moçambique face à crise pós-eleitoral.
Em nota, o Consulado do Malawi em Tete emitiu um alerta de viagem, avisando os utentes da estrada de Malawi para Moçambique para evitar a rota. O Cônsul-geral Happy Jonathan Sakah aconselhou os transportadores malawianos, incluindo os motoristas, para terem extrema cautela ao utilizar a rota Malawi-Zimbabwe, via Moçambique.
No passado, mais de um milhão de moçambicanos refugiou-se no Malawi durante o conflito de 16 anos entre o governo moçambicano e a Renamo. Malawi é um dos países mais estáveis da África e do mundo e desde a sua independência em 1964 nunca passou por uma guerra.
O seu exército, considerado disciplinado, foi saudado por vários quadrantes por proteger os manifestantes que apelavam à justiça eleitoral, na sequência da eleição presidencial de 2019.
Na altura, milhares de civis marcharam até aos escritórios da Comissão Eleitoral, onde trancaram a sua entrada com cadeados e entregaram as chaves a um oficial do exército, levando os militares a “correr” com a polícia que durante os confrontos lançou gás lacrimogéneo contra os manifestantes de forma indiscriminada, incluindo contra crianças.
O exército interveio para repor a ordem e proteger os manifestantes depois do presidente cessante Peter Mutharika ter ganho fraudulentamente a eleição presidencial para o seu segundo mandato. Posteriormente os resultados anunciados pela Comissão Eleitoral viriam a ser anulados pelo Tribunal Constitucional do Malawi que marcou uma nova eleição em Maio de 2020, ganha por Lazarus Chakwera do Malawi Congress Party. (Carta/Daily Times)
O Governo moçambicano, através do Ministro do Interior, promete esclarecer o mais novo caso de rapto, registado ontem na zona nobre da cidade de Maputo, onde a vítima foi um empresário português do ramo da construção civil.
Falando em conferência de imprensa destinada a anunciar a abertura de um processo-crime contra Venâncio Mondlane e seus apoiantes, no quadro das manifestações populares em curso no país, Pascoal Ronda afirmou que os serviços de investigação criminal já estão no terreno com vista a esclarecer o segundo caso de rapto a se registar na capital do país, após as eleições.
Segundo Pascoal Ronda, nos últimos tempos, as autoridades têm esclarecido os casos que se têm registado no país, buscando até os próprios mandantes. “Normalmente, nos últimos tempos, tal como repararam, todos casos que tiveram lugar foram, em grande parte, esclarecidos. Investimos bastante na entrega dos nossos agentes e foram buscar aqueles que eram mandantes. Para este caso, tudo está sendo feito para o seu esclarecimento”, garantiu.
O crime, sublinhe-se, aconteceu por volta das 14h20m, na Avenida Armando Tivane, zona nobre da capital do país. Um vídeo captado por uma câmara de segurança ilustra um grupo de quatro homens, transportados em uma viatura SUV e munidos de armas de fogo, tendo carregado a vítima, minutos depois de desembarcar da sua viatura.
No local, os criminosos efectuaram pelo menos três disparos para dispersar os cidadãos que se encontravam nas proximidades, incluindo um indivíduo que tentava prestar socorro à vítima. Testemunhas contam que, no local, o empresário deixou cair o seu telemóvel, que foi recolhido por agentes do SERNIC (Serviço Nacional de Investigação Criminal).
“É preocupante, já tínhamos estado a respirar um ar puro. Já vão bons dias em que não havia raptos e vem acontecer isto”, afirmou o Ministro do Interior. Refira-se que este foi o segundo caso de rapto a ocorrer na cidade de Maputo, em Outubro, desde Agosto. O primeiro caso aconteceu no dia 11 (dois dias após às eleições), sendo que a vítima foi prontamente restituída à liberdade, após perseguição da Polícia. (Carta)
As manifestações que ocorreram em Maputo e em diversas partes do país, durante os três dias da semana passada, resultaram na perda de 4,5 mil milhões de meticais em receitas para o Estado moçambicano, devido à interrupção do movimento migratório na Fronteira de Ressano Garcia, na província de Maputo.
Informações partilhadas pela Agência de Informação de Moçambique (AIM) indicam que a Fronteira de Ressano Garcia gera, em média, 1,5 mil milhões de meticais diariamente. Assim, o total de prejuízos acumulados durante os três dias de manifestações, que levaram à paralisação quase total das actividades em todo o país, soma cerca de 4,5 mil milhões de Meticais.
Segundo o porta-voz da Autoridade Tributária, Fernando Tinga, a paralisação do tráfego naquela fronteira afectou não apenas o comércio externo, mas também o comércio interno e diversos segmentos da sociedade. Ressano Garcia é a maior fronteira terrestre do país e a que regista diariamente o maior fluxo de movimentação de pessoas e bens entre Moçambique e a vizinha África do Sul.
Entretanto, a paralisação parcial das actividades foi registada nos dias 21, 24 e 25 da semana passada, ou seja, segunda, quinta e sexta-feira. As manifestações foram convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane para reivindicar a “reposição da verdade eleitoral”, na sequência do anúncio dos resultados do escrutínio de 9 de Outubro, que conferiram a vitória à FRELIMO, partido no poder.
Infelizmente, as manifestações culminaram em violência em vários pontos do país, resultando na destruição de bens públicos e privados, além da paralisação de diversos serviços públicos e privados. (AIM)
Um grupo não especificado de terroristas saqueou produtos alimentares e utensílios domésticos da população, na aldeia Namigure, que dista a menos de dez quilómetros da sede do distrito de Macomia, em Cabo Delgado.
Fontes confirmaram à "Carta" que o roubo ocorreu pela madrugada desta terça-feira (29), mas sem violência. “Os inimigos estavam aqui, chegaram muito cedo, mas não praticaram nenhuma acção violenta. Apenas levaram produtos alimentares como arroz e farinha de milho, para além de um balde, e depois foram-se embora”.
Outro residente admitiu que os terroristas podem não ter ido muito longe da aldeia e que poderão regressar para novos assaltos para a sua logística. "Não sei se voltam ou não [porque não têm comida], mas estão a passar mal com os ataques das FDS", contou.
As fontes anotaram que o roubo foi reportado às Forças de Defesa e Segurança, nomeadamente, as tropas moçambicanas e ruandesas. Além de Macomia, os terroristas protagonizaram, nos últimos dias, incursões no distrito de Mocímboa da Praia, onde há uma semana três pessoas foram mortas, após um ataque à localidade de Oasse.
Relatos na posse da "Carta" indicam que os terroristas também foram vistos em zonas baixas da aldeia Omba, no distrito de Mueda, onde foram reportadas algumas mortes. (Carta)
A última de segunda-feira foi de tensão na Renamo. Ex-guerrilheiros tomaram de assalto a sede nacional do, até ao momento, maior partido da Renamo, numa clara pressão ao demissionário Ossufo Momade, que já colocou o seu lugar à disposição durante a reunião da Comissão Política Nacional realizada no sábado passado, na cidade de Maputo.
Os ex-guerrilheiros da Renamo estão preocupados com o destino do seu partido e ainda não foram informados que Momade já colocou o lugar à disposição. Os homens, em número não especificado, só se retiram da sede nacional da Renamo após conversações, cujos termos não tivemos acesso.
O CIP Eleições sabe que os ex-guerrilheiros estão a pressionar Ossufo Momade para que aceite que se retorne às armas. Fonte sénior da Renamo disse que os ex-guerrilheiros estão dispostos a retornar às matas para retomar o conflito armado.
Ossufo Momade deverá convocar o Conselho Nacional da Renamo para anunciar a decisão e definirem-se os passos a serem seguidos até à realização do congresso electivo. O Conselho Nacional será convocado para o próximo ano, logo que terminar a crise eleitoral em curso.
Na sua primeira intervenção durante a sessão da Comissão Política Nacional, Ossufo Momade anunciou que colocava o seu lugar à disposição, porque percebeu que ele era o problema na Renamo. “Eu sou, neste momento, o problema desta organização”, foi nestes termos que justificou a colocação do lugar à disposição, reconhecendo as suas fraquezas.
A maioria dos membros concordou com o pedido de demissão do Presidente do partido, mas houve uma minoria de seis a sete membros que não concordou, de onde se destacaram Celeste Macote, ex-líder da Liga Feminina da Renamo, e Victor Mudivila Viandro.
No final, a Comissão Política aconselhou que o processo fosse avançado depois da contestação eleitoral, alegadamente porque todos estavam a agir “com cabeças quentes”. Mais do que isso, é que, se Ossufo deixar o partido imediatamente, a Renamo será dirigida temporariamente por José Manteigas, que preside a mesa do Conselho Nacional, uma figura bastante contestada dentro da Renamo.
Ossufo Momade deverá criar condição para uma transição que não aumente a divisão no seio da Renamo. O próximo sucessor da Renamo deverá ser uma figura mais consensual possível, que possa liderar o retorno dos membros da Renamo que abandonaram o partido, como Manuel Bissopo e os filhos de Afonso Dhlakama. Abre-se ainda a possibilidade de retorno de Venâncio Mondlane.
A Renamo irá rever os seus estatutos para que o presidente do partido não seja necessário e automaticamente candidato do partido às eleições. Isso permitirá que a Renamo possa ter um presidente e encontre um candidato do partido sem que haja conflitos.
Na verdade, esta ideia surge da traição havida no congresso da Renamo na medida em que havia consenso de que Ossufo Momade não seria candidato da Renamo. O Presidente da Renamo tinha aceite a proposta, mas após a eleição, aceitou a proposta dos membros de ser ele o candidato da Renamo.
Havia uma lista curta de possíveis candidatos da Renamo que incluía Manuel de Araújo, Ivone Soares e Venâncio Mondlane (passaria por um processo de pacificação interna). A Renamo tinha colocado também a possibilidade de avançar com Rosário Fernandes, mas precisaria da sua aceitação dada a sua ligação com o partido Frelimo e também a sua aceitação pelas alas radicais da Renamo. (CIP Eleições)
Atrasaram 24 horas, mas já são conhecidas as novas medidas a serem implementadas na terceira fase das manifestações populares, convocadas há duas semanas pelo candidato Venâncio Mondlane, em protesto contra os resultados eleitorais e o assassinato do advogado Elvino Dias e do mandatário do PODEMOS, Paulo Guambe. A nova fase, que inicia esta quinta-feira, 31 de Outubro de 2024, deverá durar uma semana e o objectivo final é a ocupação das ruas da capital do país, no dia 07 de Novembro.
Em mais uma comunicação virtual proferida na noite desta terça-feira, na sua página oficial do facebook, após “graves e profundos problemas técnicos” registados na segunda-feira, Mondlane afirmou que “o nosso lema [nesta fase] será a manifestação contra o assassinato do povo moçambicano”, em repúdio à violência policial assistida no distrito de Mecanhelas, no Niassa, no passado sábado, em que uma pessoa foi morta e outras cinco ficaram feridas com balas da Polícia, perante aplausos dos membros e simpatizantes do partido Frelimo.
Segundo Venâncio Mondlane, os moçambicanos devem unir-se para combater “o regime assassino da Frelimo” que, nas suas palavras, faz recordar o regime colonial português que, com recurso à força, tirou a vida de moçambicanos indefesos quando estes buscavam a sua liberdade. Aliás, Mondlane compara o que aconteceu em Mecanhelas com os massacres de Mueda e de Wiriyamu, ocorridos em 1960 e 1972, respectivamente.
Na sua comunicação virtual de quase 44 minutos, transmitida em directo no facebook, seu principal veículo de comunicação, Mondlane acusou o Presidente da República de estar a carimbar o assassinato de cidadãos indefesos ao não condenar as acções brutais da Polícia e o comportamento dos membros do seu partido, no Niassa.
“Significa que o próprio Presidente perdeu a noção de quais são as suas obrigações, enquanto Chefe de Estado. Veio carimbar que, de facto, é um regime de assassinos, de mafiosos, de criminosos”, atirou Mondlane, que continua a convocar as manifestações a partir da “parte incerta”.
Mondlane explica que a nova manifestação será dividida em dois grupos, sendo que um terá a responsabilidade de marchar em direcção à Cidade de Maputo (no caso dos que se encontram fora da capital do país), enquanto os que não puderem marchar, deverão se manifestar junto às Comissões Distritais de Eleições e junto às sedes distritais do partido Frelimo.
Em Maputo, Venâncio Mondlane espera ver perto de quatro milhões de pessoas, no dia 07 de Novembro, provenientes das diferentes províncias do país. “Chega de massacrar o nosso povo. Chega de insensíveis. (…) Chegou a hora de cada um fazer alguma coisa por Moçambique. (…) Não vão ser os estrangeiros que vão libertar a pátria”, disse, pedindo mais uma semana de sacrifício aos moçambicanos.
Refira-se que Venâncio António Bila Mondlane promete 25 dias de terror ao governo da Frelimo, em homenagem às 25 balas descarregadas sobre Elvino Dias e Paulo Guambe. Até ao momento, o país já esteve paralisado três dias, dos quais, dois consecutivos, com as consequências ainda a se fazer sentir até hoje.
Dos três dias de manifestações, pelo menos 10 pessoas foram assassinadas pela Polícia, de um total de 73 alvejadas, de acordo com os dados da Ordem dos Médicos de Moçambique. Diversas infra-estruturas públicas e privadas foram destruídas, incluindo sedes da Frelimo e esquadras da Polícia. Aliás, a Polícia disse ter aberto um processo criminal contra o político, devido aos actos verificados em Chalaua, em Nampula, onde seguidores do político incendiaram uma esquadra, viaturas e apoderaram-se de uma arma de fogo. (Carta)